Operação Amonguss

Não.

Não, não, NANANANANÃO.

Não vou mentir pra você: Não digo que estava lá com muita fé que ia levar esse Scyther embora. Provavelmente só pretendia deixar o coitado ali, sendo BEM sincera - MAS, mas, você tem que entender uma coisa. Se ELA não pretendia levar o inseto, NINGUÉM MAIS podia também (ou pelo menos não enquanto estivesse presente, mas aí é um detalhe completamente diferente).

PRINCIPALMENTE UM LADRÃO DE GALINHA SEM VERGONHA.

Enfim, é compreensível que não tenha reagido de imediato quando a esfera veio, até porque não era algo que estava extremamente preparada para ver acontecer. Quer dizer; A surpresa era inevitável a partir do momento que a pegavam de guarda baixa pois, ora, qual era a probabilidade de que aparecesse algum miserável pra pegar o bendito do voador quando quem tinha dado cabo dele provavelmente já tinha ido embora há um bom tempo?

Acho que existem poucas coisas mais ILEGAIS do que um roubo de captura feito daquela maneira.
...acho que poucas coisas fazem acender tão rápido o ódio na alma como uma atitude daquelas.

Passado o susto inicial, então, digo que foi por um único segundo que ficou sem reação. As pálpebras caíram, devagar, quase que semicerrando - uma expressão física de quem realmente não chega a se importar, que poderia até enganar qualquer singelo transeunte que poderia chegar a cruzar seu caminho nas vísceras daquela floresta, que poderia até convencer de que as entranhas não se retorciam em um sentimento extremamente desagradável naquele exato segundo.

Os dedos retiraram, então, uma de suas esferas do cinto, e permitiu liberar o agitadíssimo eletrodoméstico que pulsou para fora de sua prisão em uma luminosidade cerúlea confortável, a expressão vítrea e o sorriso congelado no rosto escondendo quaisquer emoções tão bem quanto sua própria treinadora; Que, num simples gesto de cabeça, virou na direção dos passos pesados que se denunciavam com o barulho de folhas e gravetos quebrando, uma tentativa estúpida de se afastar depois de cometer um CRIME IMENSURÁVEL.

— ...Pegue. — Ordenou ao fantasma, o timbre da voz se chocando contra a monotonia da expressão para evidenciar a frustração que se acumulava entalada na garganta. — E se certifique de que não vai mais conseguir se mexer. — Acrescentou - o que não seria difícil, levando em consideração a fácil manipulação de correntes elétricas do animal. Num volver rápido e de destreza invejável, a máquina de lavar volveu na direção que sua (agora) presa tentava escapar, disparando em uma velocidade tão sombria quanto sua própria tipagem original.

Não são todos os pokémons que conseguem lidar com esse tipo de velocidade, senhor...
Infelizmente, para você, nenhum humano consegue.

— ...Você acredita nessa falta de vergonha? — Ranzinzou para o Lucario, finalmente movendo as pernas para acompanhar a direção seguida pelo eletrodoméstico que, repentinamente, assumira papel de caçador. — Eu vou quebrar esse filho da... — Engoliu o xingamento na garganta. Não entenda mal: Não era só a ideia de que houvessem abordado DAQUELE jeito para tentar se sair com um belíssimo exemplar de Scyther... Mas, também já tinha lidado com esse tipo de situação - onde haviam levado sua própria inicial - e, sinceramente, não tinha lá coisa que mais DETESTASSE do que aquele tipo de vigarice vulpina.

Não é o seu dia de sorte, não, senhor oportunista.
Não com um trem ruivo furioso bem ao seu encalço.

"Smokescreen?", foi a primeira coisa que passou pela cabeça da treinadora ao que a amaldiçoada cortina de fumaça entrou em seu campo de visão. Balthazar havia tido experiências o suficiente para ter consciência de que não poderia se jogar às cegas assim, sem mais nem menos, e o fato de que o eletrodoméstico esperava nas proximidades do limiar daquela área obscura era prova suficiente de tal afirmação.

Os orbes acinzentados se volveram com suavidade na direção de seu canídeo bípede, buscando uma resposta que o animal infelizmente não parecia ter - e um encolher de ombros inquieto serviu para que informasse à moça de tal infortúnio, o que também fez com que o cenho da ruiva se franzisse com certa inquietação, principalmente quando enxergou as múltiplas sombras que começavam a aparecer na escuridão da névoa negra que se impunha diante do grupo. Os pés finalmente puderam frear quando chegou mais próximo daquele terreno oculto, a cabeça se inclinando para o lado, um brilho duvidoso escapando pelo olhar...

...e então, um riso rouco que também deslizou pela garganta.

— ...Patético. — Murmurou, balançando a cabeça com suavidade. as mãos se enfiando nos bolsos do moletom e o polegar acariciando devagar o material prateado do anel que acomodava sua Key Stone; E não foi à toa que a pedra preciosa que Lawrence carregava também cintilou, o carmim de seus olhos se espalhando pelas patas, a pelagem crescendo de maneira incrivelmente vistosa e, claro, também os caninos, que o animal fez questão de expor com um rosnado gutural quieto, meio irritadiço.

Ora, se seu querido lutador não podia detectar com precisão onde e quantos diabos estavam por ali, em sua forma primária...
Uma fácil solução seria simplesmente conceder um boost explosivo àquela capacidade, certo?

— Você realmente vai querer ficar fazendo a gente perder todo esse tempo? — Reclamou, revirando os olhos com suavidade. Não, não acreditava por um único momento na existência de mais que dois; Se fosse toda uma equipe que estivesse ali, com toda a certeza já teriam os cercado ao invés de simplesmente sair correndo até um ponto específico da floresta. Podia apostar todas as suas malditas fichas que aquela porcaria ou era um jogo de sombras muito bem feito... Ou era nada mais, nada menos, que o bendito de um Double Team.

E, considerando todo o suspense em torno da situação...

— Vai querer bater de frente ou vai querer ficar brincando de cirandinha com esse seu projeto tosco de sapo, tampinha? — Jogou o blefe na mesa. Se aquilo não fosse um Greninja, pelo menos podia evitar colocar suas suspeitas de uma vez só; Ele não podia simplesmente adivinhar o que estava querendo dizer com aquilo se não colocasse todos os pingos nos "i", então o melhor a fazer era aproveitar qualquer hesitação que conseguisse arrancar ao tentar se impor contra uma "armadilha" tãaaaao bem arquitetada. — ...Balt, vê se você se livra de pelo menos parte dessa fumaça com um Hydro Pump. — Pediu à máquina de lavar, um olhar cansado na direção das sombras.

Podia deixar pra lá?
Podia, claro!

Ia?
Claro que não.

+1

...E, de repente, tudo ficou pior.

Sabe que quando a esmola é demais, o santo desconfia? Era exatamente o que acontecia naquela belíssima situação, as pálpebras se estreitando com discrição e os pés recuando um único passo para que pudesse se manter atrás do canídeo mega evoluído - tanto que sequer havia tido tempo de processar realmente as palavras do ruivo que os seguia em silêncio até então. E não digo isso exclusivamente pelo fato de que o desconhecido exibia uma calmaria invejável, pela esfera estendida daquele jeito despretensioso e tampouco pelas claras habilidades furtivas que o rapaz fazia questão de demonstrar. Acima de tudo, pontuo essa desconfiança pois não foi preciso muito para que os orbes cinzentos se pregassem no "R" estampado com certa displicência sobre o tecido escuro e monocromático do restante das vestimentas, um arrepio inquieto correndo pela espinha como que um sexto sentido tomando para si o papel de reportar a estranheza da situação.

...Aquilo não ia acabar bem, ia?

— Melhor perguntando... — Foi o rebate das palavras do moreno. — O que você faz por aqui? — Um questionamento cauteloso, ainda que tivesse certeza de que ele não se daria ao luxo de responder com qualquer tipo de sinceridade. — Tentar atrair algum novato me parece o tipo de coisa que seria perda de tempo o suficiente pra um tipinho como você. — Acrescentou, o polegar girando cuidadosamente o anel acomodado no dedo, dentro do bolso do moletom. Quase como uma réplica esquisita, o próprio eletrodoméstico também o fazia, movimentando sua mangueirinha em sentido circular enquanto mantinha a mira travada em uma direção geral da dupla ladina.

Era...
...era muita ousadia expor um emblema da organização criminosa daquele jeito, entende?
Não era o tipo de detalhe que podia simplesmente ignorar.