[Missão de Sociedade(s)] ... Once upon a tima in Ilex Forest

Com os olhos embaçados e a mente também em turbulências, esbarrar em galhos baixos e tropeçar seria comum, agora rolar um barraco? Essa é nova. Mais uma desgraça pro currículo. Nota mental: não correr desesperadamente floresta encantada adentro! Acho que os filmes de princesa mentiram para mim.

Ou talvez não.

Antes que alguma (outra) desgraça ocorresse alguém surgia e saltava entre a personagem e uma construção de pedras. Puermina. A Rapidash Galariana retribuía a gentileza de salvar minha vida. Thito realmente tinha uma relação especial com suas fadas. Jogado no meio de lugar nenhum, ele se entregava ao choro em um abraço apertado com a égua de um corno só.

— Estraguei tudo Puermina... Era pra ter sido um encontro perfeito, mas agora eu estou preso nessa maldita forma e provavelmente Winnie deve terminar comigo depois de ter ouvido tudo aquilo da cigana.. - As lágrima só rolavam as faces enrugadas enquanto Thito se lastimava, recostado na equina. - Desculpa por te preocupar. Não era minha intenção. Nada disso foi.

Ele finalmente respirava fundo e limpava aquela umidade toda do rosto, procurando ver onde estava e o que tinha ao redor. Reparava que a construção de pedra era um poço artesanal e que havia um casebre bem ao lado, que parecia inabitado.

— O piquenique já era... Vem, vamos nos trocar. Deve ter água corrente em algum lugar dessa cabana. - Disse enquanto tentava se por de pé.

Claro que bateria antes de entrar, pedindo licença. Bons modos ao invadir!

OFF: sem neura, a gente ta curtindo ^^

Tudo o que estávamos fazendo ficou para trás. Bem ali na cabana largada as traças, uma criança loira dormia frente a lareira acesa... Ele acordou quando entramos e por um breve momento esqueci que o guri estava vendo Thito com aquele corpo velho. Deveria ser apavorante estar dormindo e encontrar um senhor sujo e com algumas feridas do nada lhe olhando. Muito provavelmente ele não era o dono do lugar. Seria A criança perdida?

— Pode me chamar de sr. Monclar. Qual seu nome, meu jovem? - Dizia se sentando na mesma distância em que se encontrava para não assustar ainda mais o pequeno. A Rapidash fazia o mesmo, impedindo a fuga pela porta de entrada com seu tamanho, mas com sua alma pura, ela não botava medo. - Seus pais devem estar preocupados... Não?

Ele deveria estar com sede e fome. Por sorte ainda tinha as coisas do piquenique que não rolou e agora não tinha mais feeling para isso. Poderiam estar um pouco revirados na cesta, mas ainda eram comida e bebida! Por isso tirava a cesta do dorso da égua e colocava diante do menino.

— Aqui tem água, suco, frutas e alguns sanduíches. Deve estar com fome. Eu fiz pra mim e pra minha namorada, mas acho que a gente não vai mais comer isso. Desculpa se tiver alguma coisa amassada. Eu e Puermina caímos no morro antes de chegar aqui.

Seria esse menino o filho do casal Rocket que fugiu? Queria saber como identificar ele sem expor os pais. Tudo o que sabemos é que ele não sabe que os pais fazem parte da organização criminosa, muito menos que são Rockets de Elite, então também não poderia revelar que Matte era um. O restante dizia que ouviu histórias encantadas da floresta, entrou e se perdeu. Talvez devesse começar por aí quando ele me dissesse ao menos o nome e se alimentasse um pouco. Meninos geralmente são conquistados pelo estômago, principalmente os perdidos a muito tempo.

Acontece que Puermina sentiu alguma coisa do lado de fora. Muitas coisas se passam na mente de alguém quando se está no meio de uma floresta. Primeiro, os donos da casa, depois algum selvagem, e por último aquela pessoa de quem você fugia e deveria ser a última que deveria querer ver já que fugiu como covarde ao invés de tomar uma atitude. Argh, que príncipe! Olha que surpresa. Instantes depois Winnie surgia batendo na porta. Não queria nem imaginar se o menino teria algum tipo de preconceito vendo um senhor de idade com uma novinha. Preferia não dar espaço para perguntas, já chamando outra companhia para ele enquanto os adultos resolviam seus problemas.

— Eros, pode fazer companhia e cuidar dele? ... Tenho que conversar com Winnie. Vou ficar bem... eu acho. É. Acho que sim. - Ele abraçava o eeveelution, que o fazia se sentir menos ansioso o envolvendo em seus laços de afeto. - Jovemzinho, meu Sylveon vai ficar te fazendo companhia enquanto eu vou lá fora conversar com a minha namorada, ta bem? O nome dele é Eros. Já volto.

Vamos respirar fundo e mudar a narração para primeira pessoa do singular para capturar as perspectivas de Thito e as vezes do plural, falando pelos três.

"Lá fora" - Apontei para Winnie se afastar da porta, caso contrário levaria um coice da equina que estava com o popozão virado pra entrada/saída do lugar. Assim que ela dava espaço, finalmente saía das sombras e aquela forma deplorável era iluminada pelas frestas das copas das árvores que deixavam alguns raios solares daquele dia infernalmente quente passar. A pele ressequida e flácida. Os cabelos grisalhos e cheios de pontas duplas. As rugas e marcas de expressão na face... Mas os olhos azuis ainda era os mesmos, tanto quanto o interior confuso e complexo, como sempre.

— Não tem como fingir que não tenho mentido para você durante algum tempo e não tem maneira certa de dizer o que ta se passando agora...

Não tinha. Isso foi consequência das ações de um ninja ambicioso durante uma missão que não poderia ser mencionada, o que deixava as coisas ainda mais difíceis.

— Eu queria te contar depois de uma manhã tranquila, curtindo como dois adolescentes bobos sem problemas ou boletos pra pagar, mas a porra do Destino fodeu com meus planos. - Sim, já voltava a chorar, mas limpava as lágrimas com as costas das mãos. Eram lágrimas de ódio. Por tudo! - Eu--eu to TÃO cansado de ter que fingir ser forte o tempo TODO! ... Eu to com medo. E com raiva daquela cigana. Eu... eu não sei nem por onde começar.

Com os olhos ardendo, ainda procurava as palavras que vinham aos montes e nenhuma fazia o favor de sair corretamente. Olhava pra cima pedindo orientação. Será que se invocasse o tal guardião ele surgia pra me ajudar aqui? Vai saber? Fazia uma breve prece "me ajuda aqui parceiro"... É. Não tinha como saber se foi por ele ou por ter dado um tempo, mas uma palavra vinha a mente. Perdão. Baixava a cabeça, voltando a encarar Winnie e dizia: — Me desculpa por ter fugido? - Era um bom começo, pensar no não-desfecho.

Ai como é difícil ser um homem branco cis e rico. Ninguém acredita na sua dor. Winnie não se comoveu nem consolou Thito!! Não sei, não achei verídico. Podemos voltar no tempo e refazer essa cena produção? Não? Certeza? Logo em frente ao Templo do Tempo? Hmm kk

Acontece que Thito estava perdido em seu papel. Metade do drama não foi "ele" quem criou, só estava lidando com o problema, já que a solução era... bem, o amor. E beijo de mainha não deu certo, então... Winnie era sua única opção já que os sentimentos (até alguns minutos atrás) eram mútuos.

Bom. Respirei fundo. "De preferência, não esconda nada" - Ela disse. Quando se pede, quer dizer que está disposto a ouvir. Confiança. Matthew não estava lá para impedir e Matte não se importava o bastante. O julgamento agora cabia a mim. Bom... seja o que O Guardião e o Destino quiserem.

— Fui amaldiçoado por uma bruxa mal amada quando estive em Hoenn a negócios. Parece que ela achou que ninguém me amaria nessas condições. - Apontava pro corpo idoso, começando pelo mais lógico, mas também o final da história. - E já que pediu franqueza, Matthew não está bem...

Daria um tempo para ela processar as palavras. Matthew - não - está - bem. A partir daqui não dava para voltar atrás.

— Acho que ele nunca te contou de papai. Ele foi dado como desaparecido há quase 10 anos e tudo que a polícia de Goldenrod encontrou foi um R rubro. Um treinador experiente sabe do que se trata. Bem. Um Rocket mexeu com a nossas memórias e foi um gatilho enorme, dando vida a mais uma persona. O nome dele é Matte e normalmente nos protege de perigos ligados a traumas e não é muito de se importar com as relações intrapessoais. Depois disso voltamos pra casa em Johto, passamos uma temporada com mainha e foi quando encontrei os diários de pesquisa de papai. Ele estava estudando a Lenda de Lugia, mas nunca conseguiu finalizar os estudos. Imaginamos que fosse uma boa ideia continuar as pesquisas e ir mais afundo... O problema foi que encontramos mais agentes Rockets em uma das Ilhas Redemoinho. Matte nos protegeu. No processo... Ele acidentalmente matou os criminosos que tentavam explodir a ilha, mas por conta dos assuntos não resolvidos e reavivados... não sentimos remorso. Enfim, Daisuke estava nos acompanhando, mas nunca soube e nem precisa saber disso. Só que houve um massacre de nativos de outra ilha que tentavam nos proteger de uma ameaça. Fomos indiretamente responsáveis. Não pedimos para que nos protegessem, mas eles fizeram mesmo assim. Encontramos com Lugia, mas não foi um encontro amigável e prazeroso como Matthew imaginava. Foi denso e repleto de remorso. Lugia nunca superou Ecruteak e ainda guarda rancor dos humanos. Matthew não aceitou isso muito bem. Depois teve um encontro com Kyogre ao descobrir que a Equipe Aqua foi responsável pelas inundações em Tohjo... Ah, isso é assunto confidencial. Apenas 3 pessoas sabem disso. Enfim, fomos encontrar Kyogre com objetivos maiores da Avengers de impedir que a mesma coisa ocorresse duas vezes. O encontro não foi muito bom. Terminamos com sequelas físicas e emocionais.

Tirava a camisa. Debaixo das pelancas um buraco no peito. A marca do poder de Kyogre que nos nocauteou e lançou para fora de seus domínio.

— Veja bem. Mentimos por motivos que pareciam que maiores um relacionamento, porque envolvia outras pessoas e outras instâncias. Acontece que Matthew não te contou tudo porque é um fardo grande demais para compartilhar e jogar nas costas de alguém. Imagina uma mãe preocupada com a mente instável do filho a todo momento longe de casa? Uma associação que depende de você 24/7 para funcionar não botar fé por causa dos conflitos internos? Nós mexemos com as finanças e a parte social da empresa... Tudo o que ele menos queria era que você olhasse diferente, tratasse diferente ou se desencantasse por essas outras partes. Isso por que... ele te ama. - Aquilo soou estranho em terceira pessoa, então corrigia. - Nós te amamos. E eu entendo se for demais, mas EU preciso saber se mesmo depois de TUDO isso, você ainda sente algo que não seja repulsa por esse corpo que não nos pertence.

Demais, como disse. Demais... O risco de o amor não ser mais correspondido não era menor que o último encontro quando ele contou sobre mim, Thito. Que não apenas era uma "máscara" que usava em concursos, mas uma personalidade com ideias e interesses próprios. Com VIDA própria, mesmo que girasse em torno da do primário.

Suspirava e dava o tempo que ela precisava. Se desta vez Winnie quisesse fugir, não sabia se correria atrás ou deixaria ela ir...

Ela não riu. Não correu. Não nos bateu. Apesar disso ainda parecia descrente, mas tentava entender a explicação. Eu sei, muitas palavras jogadas de forma desordenada, mas num discurso apressado e pressionado, fora de qualquer plano traçado previamente não poderia ser muito diferente do que foi. O conto de fadas se transformava numa fábula com uma moral deturpada e já não fazia mais sentido florear a conversa que ela tanto insistia para ter. Fora isso, os múltiplos sentimentos de Thito saíam naquelas palavras de uma só vez, como uma torrente de emoções.

Acontece que ainda era difícil de acreditar que ela pensou ser alguma mania de palco ou algo do gênero. Já fazia mais de um ano que compartilhávamos aquele contexto difícil de explicar sem parecer insanidade. Bom, Matthew também custou a entender o que se passava em sua própria mente e até aceitar foi um processo longe e complicado. Com Winnie, as coisas não se resolveriam em 5 minutos de palavras jogadas contra si junto de um eu te amo no final. Só queria pontuar que foi a primeiro vez que dissemos isso em voz alta para alguém. Obrigado por notar.

— No nosso último encontro, Matthew pediu permissão pra te contar. Só achamos que você não estava preparada pro Matte. E parece que tem outro... mais perigoso se formando. Ainda não sei explicar, mas a gente ta mantendo ele "lá no fundo". É como se fosse uma raiva crescente e cruel do mundo. Nada com o que se preocupar por enquanto, mas com a ausência do Matthew, Matte é a personalidade mais forte pra nos proteger. Eu sou... meio perdido com sentimentos demais. Por isso sinto muito, mesmo, por tudo o que aconteceu hoje. Era pra gente sentar, comer algo caseiro, aproveitar a manhã e depois conversar com calma. Eu tinha um roteiro pronto, começando do início até chegar... nisso.

Isso era a aparência de idoso causada pela maldição. E pelo rumo da conversa não fazia ideia de onde isso ia parar. Ao menos estávamos conversando ainda.

Quando ela perguntou sobre Matte, imediatamente o ninja negou qualquer tipo de interação. De novo. Relações intrapessoais não eram com ele. Pouco se importava com o mundo exterior. Apenas as questões internas dos desejos de Matthew e a proteção do nosso templo, que era o corpo, que importavam. Os custos? Ele não media esforços, independente das consequências.

Por isso demorei para responder. Tentava convencer ele, mas nada. Devo ter ficado uns segundos ausente.

— ... Não. Ele não gosta de drama e prefere não se envolver na discussão do relacionamento, sinto muito. - Queria tocar na mão dela. Até olhei para baixo, mas senti repulsa pensando em meu próprio estado físico, então não o fiz, desviando o olhar. - Mas ele se importa o suficiente pra não me impedir de expor ele pra você. De novo. Nem mamãe sabe disso. Daisuke descobrir por conta do massacre na Ilha de Lugia, mas isso custou nossa amizade. Tem algumas semanas que não temos notícias dele. Bom. Pode acontecer de termos que enfrentar os caçadores ilegais e... bem, você vai saber quando não for "eu", Thito, batalhando. Já nos enfrentamos antes durante o concurso em Slateport e meu estilo é mais ordenado e preocupado. Matte é... direto. Lógico. E gosta de usar as mãos, quando é possível.

Estava disposto a concertar aquilo. A maldita cigana devia estar contente agora. Se meteu nos meus planos, bagunçou tudo com suas cartas só para ter o gostinho de falar que o Destino também esperava que o que quer que aconteça, acontecesse no final.

— Tem alguns detalhes que não mencionei durante muitos desses acúmulos de traumas e gatilhos que foram disparadores pro que ta acontecendo agora. Tem algo em específico que sente necessidade de saber?