Lyris não podia ver mas, embaixo da água, um pouco ao longe, havia um "cardume" de Wailmers. Geralmente Wailmers possuem o hábito de migrar temporariamente pra áreas de mar fechado, como uma espécie de ritual ocasional. Kip já estava ciente da presença deles enquanto mergulhava na água com destreza, usando suas barbatanas e bracinhos. Depois de alguns segundos de espera, Lyris apenas vê a cabeça de seu Mudkip saindo da água. Ele a encarava com seus olhos totalmente pretos e piscava algumas vezes. Depois, apontava pra uma direção mais ao fundo.

Aparentemente não havia nada ali, a princípio. Não havia um Wailmer sequer na superfície da água. Bem, aí é que está. Não havia. No passado. Passando-se mais alguns segundos, começou um show particular para ambos os treinadores. As baleias começaram a saltar para fora da água, quase como se estivessem tentando voar, tentando atingir o ponto mais alto no céu que conseguiam. Ao cair, splashes enormes de água iam ao ar, criando uma camada fina de umidade que, recebendo a luz do sol, começava a brilhar fortemente em pequenas partículas. Era até que bonito de se ver. Um pouco engraçado também, já que as baleias eram um pouco descoordenadas e, as vezes, se chocavam uma com a outra enquanto no ar. Era uma algazarra só.

No entanto, Lyris conseguiu perceber uma coisa diferente. Longe do cardume, mas relativamente perto do casal de treinadores, havia um único Wailmer, sozinho. Ele não pulava como os outros, apenas ficava observando o mesmo show que vocês. Ele estava um pouco à direita, teriam que circundar um pouquinho a margem da água pra chegar mais perto. Ele também não estava num local muito raso, mas também não muito fundo. Metade do corpo dele estava pra fora da água.

Enquanto tudo isso acontecia, Hope apenas havia se deitado, próximo a uma palmeira, sentindo a brisa geladinha e suave dos ares marítimos. Ao olhar para o céu, via um belo azulão, limpo, quase sem nuvens. O som que os Wailmers faziam ao longe era, de certa forma, relaxante. Como se fossem várias ondas se quebrando ao mesmo tempo. Um pouco caótico, sim, mas ainda relaxante. Seu Mudkip apenas pulou no seu colo e ali ficou. Já o Electrike ficou sentado, aparentemente apreciando o show de "aquatecnia" que as baleias faziam mais ao fundo. Não dava pra saber exatamente pois o canino elétrico ficou de costas para o treinador e de frente pro mar.

No momento que Hope cutucava o Mudkip, o Pokémon fazia como um gato e esfregava a cabeça, inicialmente no dedo mas depois por toda a mão. Uma forma de dar carinho, é claro. Ao ouvir que deveria proteger Lyris, ele imediatamente saltou de seu colo e andou perto do outro Mudkip, como se fossem irmãos gêmeos. A garota agora estava duplamente protegida por dois azulados de barbatanas. Já a Electrike observava o garoto de canto de olho. Ao perceber que também estava sendo observada, desviava o olhar e volta a olhar diretamente a frente, visando a paisagem. Que elétrica mais tsundere...

Conforme Lyris foi se aproximando da baleia, percebeu que ela não estava exatamente na borda da praia. Metade de seu corpo estava dentro da água. Considerando o tamanho de um Wailmer, a garota teria que entrar na água até sua cintura, um pouco abaixo dos seios, pra que ela pudesse ficar lado a lado com a baleia. Sendo assim, consideraremos que a garota elevou um pouco o tom de voz pra falar com a baleia, ao menos inicialmente.

Ao ouvir a garota, Wailmer se virou pra ela, olhando-a nos olhos. Quando ele finalmente mostrou seu rosto pra garota, ela percebeu imediatamente: Ele estava bem triste. Não apenas a impressão de estar triste por estar sozinho, mas a expressão facial dele demonstrava isso sem nenhuma dúvida. A bocona cheia de dentes dele que geralmente parece um sorriso, estava cabisbaixa. O olhar em si, meio abatido. Bem, o Wailmer não podia falar, então seria difícil de interpretar o motivo dele estar tristonho. Ouvindo suas palavras, a baleia foi se aproximando lentamente. Se aproximou tanto que quase saiu da água, mas ainda permaneceu a mais ou menos meio metro da garota. Ele agora sorria. No entanto, era aquele sorriso ainda cabisbaixo, sem muita força. Não era exatamente uma felicidade genuína, era mais algo como "Obrigado por falar isso. Me animou um pouco, mas ainda estou triste."

Lyris se lembrava que aquela espécie de ritual que os Wailmers estavam fazendo de saltar pra fora da água era uma espécie de competição entre eles. Dizem, também, que o Wailmer que saltar mais alto geralmente é o que irá evoluir primeiro, dentre todos do bando. Talvez o motivo daquela baleia estar triste tivesse algo a ver com isso?