Cold Shield - O campeão, a sacerdotisa e o patrulheiro

Ainda bem que Ayzen não estava prestando tanta atenção assim nas coisas à sua volta; mais preocupado em fazer as sinapses corretas para guardar na memória aquele pequeno rancor/ranço de Steven. Isso me permite pular as descrições fantásticas do novo caminho que fizeram naquelas galerias congeladas, com a garota liderando o caminho e Stone resmungando coisas sobre os artefatos que tinha em mãos. Ele até chegou a elencar algumas possibilidades, julgando só pelos padrões das pedras: Blastoise, Gardevoir, Sharpedo - um desses já foi encontrado?. Obviamente, não era nada conclusivo ainda.

Enfim, seriam os sons do ambiente que trariam as atenções de volta a este plano, assim que chegassem onde estavam indo. Ah, o vento frio e cortante também faria Ayzinho "acordar" de seus devaneios sentimentais sobre Steven. Isso é porque estavam mais uma vez do lado de fora da caverna. A vista podia enganar, pois aquele ambiente era essencialmente muito parecido com o anterior, onde tinha encontrado o sexteto de sacerdotisas pela primeira vez. O que diferenciava este aqui era o aspecto de acampamento que tinha, com várias tendinhas dispostas em círculo, ao redor de uma grande pira. em chamas.


Pela primeira vez em horas o Ranger sentiria algum conforto em meio a tanto frio. Havia vida ali, e calor humano! Digo, não era um grande povoado obviamente, mas tinha pelo menos uma meia dúzia de mulheres em suas atividades de rotina, além de Pokémon participando das coisas, ou simplesmente circulando por lá com notória tranquilidade.

Por falar em Pokémon e humanos interagindo. Logo que saíram da caverna, bem ao lado da saída/entrada, uma mulher se debruçava sobre uma grande Jynx. A Pokémon gélida parecia moribunda, atirada no chão, encostada na parede da montanha, enquanto a sacerdotisa lhe sussurrava coisas numa voz suave e delicada, tocando nos ombros e cabelos loiros de Jynx com certo carinho.

– Obrigado, mocinha. – Steven agradecia à criança que os tinha guiado até aquele lugar – Oh, senhora Luara, lhe encontrei novamente, mais cedo do que esperava, heh. Bem, vou fazer umas coisas ali com meu material. Se puder ajudá-la em algo, já sabe: só chamar. – disse para a mulher que cuidava da Pokémon, se retirando em seguida. Luara apenas revirou os olhos e suspirou, dando de ombros para a presença e palavras de Steven.

O pesquisador não iria longe, porém. Só entraria na barraca mais próxima. Essa era muito diferente das outras, pois pertencia ao próprio Steven e era, então, dessas comuns que se leva para acampar por aí. Era espaçosa, porém, o suficiente para que o homem pudesse guardar suas coisas e fazer seus estudos. A "porta" ficaria aberta, caso Ayzen quisesse dar uma espiada lá dentro, onde Steven tiraria uma parafernália para analisar as pedras. Nos fundos da tenda, o ronco metálico do Magnezone do Campeão dava indícios de que o Pokémon era multifuncional, aqui dando energia para alguns eletrônicos funcionarem.

Ice Path – Tarde | -15ºC – Ayzen

Por uma fração de segundos, Luara olhou para Ayzen com o cenho franzido, claramente maquinando alguma coisa em sua cabeça. Devia ser o fato dele abordá-la diretamente pelo nome, mas ela então lembrou-se que Steven acabara de mencioná-lo. Ou então era o fato de o rapazote não ter se apresentado num primeiro momento, ou feito alguma cordialidade para chamar a atenção dela. Ou ainda, não seria nenhum desses motivos, apenas o fato dele ser um homem estranho naquele lugar.

O que quer que fosse, a expressão da mulher se suavizou assim que ela se pôs de pé. Luara era quase tão alta quanto Ayzen, tinha um porte imponente, com os ombros bem alinhados. Ela podia ter pertencido à realeza em outra época e isso lhe caberia como uma luva perfeita, enfim. Agora vendo-a por completo e de frente, Ayzen notaria a familiaridade no rosto da mulher que trazia muitíssimos traços similares ao de Luna, incluindo o longo cabelo de um louro reluzente, quase dourado. A única coisa que a diferenciava da filha era o olhar. Enquanto Luna tinha grandes olhos azuis carregados de ingenuidade e gentileza, os de Luara eram mais distantes, mais negros, muito menos brilhantes. O sensível Lucario notaria só de vê-la que algo faltava no interior daquela pessoa; um pouco de vida... [imagem ilustrativa]

– Sem problema, querido. Podemos... – sua voz foi esvaindo a medida que pousou os olhos no artefato azul e redondo que Ayzen carregava no pescoço – ... Podemos conversar, logo mais. Só preciso de mais alguns minutos. Com licença... – após mais uma olhada demorada sobre a orbe azul, Luara deu meia volta e caminhou na direção da grande tenda lá adiante, propriedade das sacerdotisas. Agora que ela se misturava com as demais mulheres, ficava nítido que ela tinha algo de muito diferente das outras, tanto que era a única e se vestir inteiramente de branco, ao invés do tradicional azul.

– Ou! Hey! Moço, venha, venha. – era Steven, chamando da entrada de sua tenda para que Ayzen entrasse (ou tentasse) – Sabe do que isso se trata, não é? Digo, das pedras... O que fazem. Como. Em que situação... Não é?! – apontava para as bolinhas depositadas numa placa, dentro de um equipamento esquisito, cheio de luzes e botões.

Ice Path – Tarde | -15ºC – Ayzen

O semblante de Steven não escondia sua surpresa em encontrar uma pessoa que conhecia as respostas para suas perguntas básicas sobre as Mega Stones. De fato, a maioria vinha com mais dúvidas do que só um par de pedras para serem pesquisadas.

– Oh, fez o dever de casa, ótimo! – comentou, descruzando depressa os braços e se debruçando sobre o maquinário, apontando para Ayzen a primeira das esferas – Bem, é o seguinte, essa primeira pedra, até onde pude ver, apresenta padrões muito semelhantes ao que conhecemos como as Stones de Banette, Lopunny Mawile e Beedrill, com essa combinação de preto e amarelo, principalmente. – apontou então para um painel onde três sequências de números eram mostrados numa coluna e outras três sequências, em linhas respectivas, ficavam mudando na coluna ao lado – Mas, bem, a de Beedrill é majoritariamente uma esfera azulada. Na de Lopunny, na verdade, o amarelo não está no núcleo, então... – Steven procurava pelo entorno até encontrar, onde estivera sentado antes, um tablet, onde um documento estava aberto e mostrava algumas das Mega Stones em grande aumento (por foto) com uma breve descrição de seus padrões ao lado – Estou aguardando a máquina reconhecer o terceiro padrão, o do globo. Porque entre uma Banettite e uma Mawilite a diferença não é tão perceptível aos meus olhos, ainda.

Steven mostrava no tablet as respectivas fotos do que tinha vinha dizendo tanto. Ora, aquelas coisinhas feito bolas de gude tinham mesmo alguns padrões a serem observados. Nas de Ayzen, sobretudo, estava mais fácil de ver graças ao trabalho feito pela tal pesquisadora amiga de Steven, em algum momento de sua jornada. Em outras palavras, sua pedra estava mais limpa para que tanto fosse notado.

– Basicamente, a mesma dúvida cai sobre sua segunda Mega Stone, com o núcleo claramente vermelho e azul. Nesse caso... – seus olhos pousaram em Lucario. Na máquina, outra dupla de colunas numeradas corresponderia à segunda pedra – Pode ser seu dia de sorte com uma Lucarionite, ou uma Gyaradosite, no máximo.

Nesse repentino fluxo de fala de Steven - provavelmente desencadeado por estarem tratando de um assunto que ele dominava –, o rapaz só entregou seu tablet nas mãos de Ayzen, para que o Ranger pudesse dar uma olhada no tal arquivo que o auxiliava a identificar padrões, e então Stone saía vasculhando uma grande e pesada mochila que se encontrava no canto da tenda.

– Presumo que você não tenha uma dessas... Então, tome. Não será uma sorte completa se não puder fazer uso da sua Mega Stone, não é?! – estendia para Ayzen o objeto familiar, uma das partes essenciais para se ter uma Mega Evolução: a Key Stone – Ah! Veja só, Mawilite, parabéns! – uma das luzinhas tinha ficado verde no equipamento do pesquisador, ao passo que duas colunas numeradas se estabilizavam, as duas células de uma linha mostrando o mesmo valor. Na sequência, os números da outra coluna começavam a se estabilizar, até pararem e a luz verde acender – E aqui... Bem, minha máquina não errou, até hoje. Você tem uma Gyaradosite. É legal, também. – é óbvio que um quase-mestre de Pokémon Steel Type ficaria mais animado em ter duas revelações da sua tipagem favorita numa única tacada. Mas, nem sempre tudo conspira a favor disso e, óbvio, as pedras não eram dele para torcer por algo.

Enfim, com os devidos comandos dados ao equipamento e os botões certos apertados, Steven pôde retirar as bolinhas de cima da placa. Colocando-as na palma de uma das mãos, onde cabiam bem, estendeu para Ayzen.

– Mawilite e Gyaradosite. Os padrões não mentem. – esboçou um sorriso tímido, pela primeira vez – Se mentirem, me procure, pois teremos o primeiro caso de pedras iguais com funções diferentes, heh!

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Oferta aceita. Gyarados abaixou a cabeça e estendeu o pescoço para que Ayzen pudesse encaixar a pequena Mega Stone entre suas escamas. Daí em diante, o treinador sabia exatamente o que fazer, enquanto sua Pokémon apenas aguardava a mágica que logo aconteceria... Energias mágicas e multicoloridas vindas de todos os lados, centralizando em Gyarados. Aquele brilho intenso que lembrava vagamente uma evolução - e de certo modo o era. Uma pequena explosão em partículas numa mistura de roxo e vermelho. Zás. Vrum. Boom!


– Impressionante! E uma feliz, feliz coincidência, devo dizer... – comentou um surpreso Steven, mesmo que sua voz fosse quase completamente abafada pelo grito intimidador da poderosa Gyarados.

– O que está acontecendo aqui? – era Luara quem vinha ver também, seguida por praticamente todos os outros habitantes daquela pequena aldeia.

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– Heh, imaginei que fosse algo assim. – comentou Luara, com um meio sorriso no rosto e indo dar uma analisada em Mega Gyarados antes da transformação se desfazer.

– Lembrou de quando você mesma passou por isso, hein, senhorita?! – Steven comentou num tom humorado; os dois se entreolharam com certa cumplicidade e trocaram sorrisos de saudosismo – Eu me lembro de quase todas as revelações que ajudei a fazer, principalmente as primeiras.

Há de se lembrar que Luara um dia foi uma pesquisadora também, e que tinha alguma proximidade com o excêntrico Dr. "Coelho Branco", lá nos laboratórios da calorosa Cinnabar - inclusive, no meio desse frio, dá certa saudade. Enfim, talvez a mulher também fosse uma treinadora nata antes do sacerdócio. Se é que não continua sendo. Uma sacerdotisa deixa de ser uma treinadora? Acho que nem sempre.

– É. Me parece um passado bastante distante, agora. – seu sorriso esmoreceu até que ela assumisse aquele ar mais sereno e sério novamente, depois de lembrar do passado.

– Bem... Uhm. Ah, claro. Me dê uma licencinha, por favor, tenho que arrumar coisas pra este rapaz empolgado aqui... – de fato, Steven não era muito o tipo empático, pelo menos não fora das câmeras. Por isso, não tardou em arrumar um motivo para sair de cena quando Luara deu aquela desanimada.

– Fique tranquilo, rapaz. – ela se dirigia à Ayzen em sua breve explicação – Nós só nos alertamos porque esse não é um evento que acontece com frequência por aqui. Achamos que pudessem ser os Totens de Ice Path. A propósito. O que o traz a minha procura? – o fato do Ranger ter recém feito a descoberta de sua Mega deixava subentendido para a mulher que, definitivamente, Steven não era o único motivo de Ayzen ter ido parar ali.

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