Caça aos invasores!

Estava ali, com um braço envolvia a garota, com o outro tentava envolver Bahlok. Todos estavam ao nosso redor, sofrendo com as chamas, um filme passava pela minha cabeça. Então Bahlok começou a se debater, dava pra sentir as movimentações dos músculos debaixo da carapaça. Ventos bem fortes começavam a se formar e vir em nossa direção, o epicentro parecia ser Bahlok! E então, a luz azulada ofuscante! - Bah… lok… - olhei, pasmo, para meu dragãozinho sendo envolvido por aquela luz, com ele ainda se mexendo muito, urrando também. Coloquei a garota atrás de mim e tentava ver através da luz para ter alguma visão dele.

Mas não tinha com o que se preocupar, pelo jeito. Um par de asas vermelhas sugiu do ponto que ele estava. E num rugido, forte como o estalo de um trovão, a imagem de um imponente Salamence apareceu! - BAHLOK! - gritei, chamando a sua atenção, e ele devolveu um forte urro. Não me pergunte como, mas dentro de minha mente, consegui ouvir três palavras: “Bah”, “Lok” e “Kest”. As duas formavam seu nome, Bahlok, mesmo não tendo certeza de onde tirei esse nome, agora “Kest”... essa palavra não me trás nada, nem recordações, nostalgia, conhecimento, nada. É uma palavra totalmente nova, mas ainda assim me é estranhamente familiar.

O céu se fechou sob nossas cabeças, o fogo dançava com a ventania e uma chuva leve começou a cair. Aos poucos o fogo foi cedendo, a temperatura diminuindo, a vida tendo uma segunda chance. E no meio disso tudo, um poderoso dragão, SIM, não mais uma crisálida ou um dragãozinho, mas um dragão! Um filme começou a passar pela minha mente. Quando conheci Bahlok, a forma com que imprudentemente encarei aquele outro Salamence na caverna, como conseguimos sair de lá sem maiores danos, o susto que levei quando ele engoliu a Pokébola! Sua evolução para Shelgon, todas as aventuras que vivenciamos juntos. Mas a cena que mais se fez presente foi o olhar brilhante de Bahlok enquanto olhava Paarthurnax voar no Mt. Pyre. Aquele brilho olhando o gigante de rocha bater suas asas e tomar os céus, era o olhar de uma criança vendo um adulto em uma profissão que admira, ou fazendo algo que admira. E esse mesmo olhar talvez fosse o meu, agora diante de Bahlok… com suas asas! - Bahlok… - minha voz estava embargada, estiquei a mão na direção dele, ainda sem saber se teria uma reação amistosa ou não…

A quem estava enganando? Era Bahlok ali, apesar de tudo! Assim que dei os primeiros passos e toquei em seu rosto escamado, ele soltou um ronronar forte e veio pra cima de mim, me lambendo e se esfregando como uma filhote! - Haha! Você conseguiu, garoto! Conseguiu! Agora você pode voar! Haha! Eu tô… eu tô muito feliz por você! - sim, agora não tinha mais dúvidas. Havia lágrimas misturando com a água da chuva escorrendo pelo meu rosto. Kinney saltou de imediato nas costas de Bahlok, ela estava muito empolgada! Leona se aproximou do companheiro, fazendo a maior festa com Cassidy e Bahemoth. Mirana circundava seu agora companheiro alado, ansiosa para poder voar com ele. Eu? Estava sem palavras. Depois de tantas experiências ruins, tantos incidentes, mortes, derramamento de sangue… era bom poder ver uma coisa boa acontecendo, uma promessa sendo cumprida, um sonho sendo realizado. O corajoso dragão cabeça dura agora tinha suas asas!

Mas é o que dizem, não dá pra ficar só na parte boa, principalmente quando se tem trabalho a fazer. Claro que o casal de Rockets haviam fugido, mas agora que meu time ganhou esse reforço de peso do alto, eles definitivamente não tinham chances! Ao menos o meu prisioneiro ainda estava lá, e espero que meus resgatados também estivessem, e bem! - Isso foi realmente incrível! - enxuguei as lágrimas de meus olhos e olhei para todos - Mas temos trabalho a fazer. Eu deveria estar irritado com todos vocês por terem me desobedecido! Quando mandar vocês voltarem para as esferas, vocês voltam para suas esferas! - olhei para todos do meu time com uma expressão séria, mas depois soltei os ombros e preenchi a carranca com doçura - Mas claro, vocês são minha equipe, e nós não deixamos ninguém para trás. Ótimo trabalho, todos vocês! - era isso. Às vezes precisamos quebrar algumas regras para fazermos o que é certo, mas não dá pra tirar o fato que devemos seguir uma hierarquia. Bom, há mais tons de cinza nessa história, então é bom deixar com a intuição.

Era hora de voltar para a missão e resolver tudo a partir dali. Voltei todos para suas pokébolas, exceto Bahlok e Kinney. - Quanto a você… - respirei fundo e olhei para a garota, cruzei os braços e a encarei. Ela usava uma fantasia PokéFurrie de Pancham, devia ter no máximo 12 anos, mas com aquela roupa parecia ter 9. E o mais perturbador: a pulseira de lobo. - Eu acho que tinha deixado claro para Gaulvi e todos os líderes que essa missão seria perigosa, do tipo que não é bom ter civis por perto. Desde quando é uma loba? Não me lembro de ter ver na última reunião… - bom, eu não sou a pessoa mais presente na base, devido minhas viagens e afins, mas tinha estado por lá recentemente na recepção de Shiro. e a única loira por perto era Cindy, minha namorada. - Bom, de qualquer forma tenho que te agradecer, seria bem mais complicado sem a sua ajuda. A questão é: estou em missão pelos Rangers e talvez eles não gostam da presença de uma civil, principalmente vestida como Pokémon. Então assim que chegarmos no acampamento, comporte-se. Tudo bem? - inclinei meu corpo para frente e olhei nos olhos dela. - Meu nome é Galvenis, e o seu? - estendi a mão, enfim, para iniciar uma relação mais amigável. Acho que não teria problemas com ela, afinal era da Alcatéia. Agora era a hora de levar aqueles cativos, acidentados e prisioneiro, para onde estavam os Rangers. Com uma toalha, envolvi o corpo do Metapod e fiz um tipo de ‘canguru wrap” para levá-lo junto comigo. Segurei Spinarak com um braço e pedi para a garota, Kimi, me ajudar com o Noctowl, já que pelo visto ela não é muito fã de insetos. A última parte era o RR caído. Usei outra corda para prendê-lo em Bahlok, e então, OBVIAMENTE, subi no mesmo. - Então, garoto, pronto para seu primeiro voo? - claro que ele estava ansioso, eu também estava! - Vamos voar a partir daqui e encontrar os Rangers então pelo alto. Não deve ser muito longe daqui. - Kinney também subiu no Bahlok e, enfim, poderíamos voar no nosso companheiro dracônico!

Não demorou muito para encontrarmos o local onde havia a base Ranger e bem… base não era o nome mais indicado, no caso. Esperava um acampamento com mais tropas, um aparato de rastreio e coleta de dados, forças tarefa indo e vindo com informações. Mas à primeira vista, eu era a principal fonte de dados que aquela equipe teria, já que levava comigo um Rocket cativo e três Pokémon feridos à tira colo. É, essa conclusão era tirada após ver que o local indicado no Ranger Pad era uma simples cabana na floresta. Queria muito pagar a língua e ver todo um aparato instalado dentro da mesma, porque não estamos lidando com meros bandidos de estrada aqui.

Assim que chegamos, dois agentes uniformizados, uma mulher com seus 20 e poucos anos e um garoto de mais ou menos 15 nos recebia. Ele usava uniformes, mas não dava para ter certeza, então continuei sobre Bahlok e, discretamente, usei uma Super Potion em seus ferimentos. - Cadete Galvanis Vitale. Essa é minha parceira Kimi. - dei as primeiras informações e esperei que eles se identificassem também - Recebi essa localização pelo Ranger Pad, seriam vocês dois o contato? - aquelas eram instruções básicas de identificação, e o pedido indicava “uma” cientista e “um” comandante. Bom, se esse fosse o caso, eu seria comandado por um prodígio na organização, pelo visto. Bom, chega de julgamentos, vamos à coleta de dados.

E, aquela dupla é bem inusitada, por assim dizer. Tive a impressão que a mulher já ia dizer a designação de capitão para referenciar o garoto. Alguém tão jovem com uma patente alta assim… de fato um prodígio, mas um prodígio um tanto deslocado. Apenas balancei a cabeça negativamente quando ele mencionou uma batalha contra Bahlok, não havia tempo para isso, como a mulher bem indicou. - É um prazer conhecê-la, agente Rangiko! E o senhor, como se chama? - me direcionei ao garoto, que por mais que tenha me ignorado deveria ao menos saber seu nome, já que vamos trabalhar em conjunto. Aparentemente eu era o menor em termos de patente ali, fora claro Kimi, que era civil. E logo este detalhe veio à tona e não poderia fazer muito quanto a esse pequeno-grande problema.

Ao entrarmos na cabana, mais frustração. Era só um bangalô de caçador, bem parecido com o que tive que invadir logo no começo de minha jornada. Só um notebook e uma caixa estranha no canto. Rengiko mencionou algo sobre escoltar Kimi de volta para a cidade, já que ela era civil. Era completamente compreensivo, porém… - Permissão para falar. - solicitei e levantei a mão, como o garoto fez mais cedo - Com todo respeito, agente especial... - retirei a jaqueta do uniforme Ranger e mostrei as costas e os braços chamuscados - Kimi é uma civil, sim, mas sem o apoio dela, eu não estaria aqui. Os RR incendiaram uma sessão da floresta, tentando matar a mim e meus parceiros. Ela pode parecer jovem, mas é mais do que preparada e é membro valoroso da sociedade a qual faço parte, a The Wolves. Eu assumo qualquer responsabilidade sobre suas ações. E, sinceramente, pelo visto, tendo ela aqui nosso contingente aumenta consideravelmente. - era uma apelação e um voto ENORME de confiança para alguém que sequer conhecia. Mas se Gaulvi a enviou, ela tem a confiança de nosso líder, e eu tenho total confiança com ele. Talvez essa parceria seja benéfica para ambos os lados.

Bom, ao menos os Pokémon de Rengiko davam uma noção melhor do que estamos enfrentando. Bem, diria que saímos do completo escuro para uma densa penumbra. Minha missão era clara, instalar os dispositivos e fazer a triangulação do espaço. - Certo, entendido. Bom, então acho que é hora de trazer meus presentes. - disse, enquanto me levantava e me dirigia a Kimi. - Ei, lembra do que combinamos? De você obedecer minhas ordens? Preciso que você espere lá fora. - baguncei um pouco a touca de Pancham da menina e também segui para o lado de fora, indo atrás do Rocket que havia capturado. Antes disso, usei duas Ranger Ball, uma no Noctowl e uma no Metapod, para enviá-los para a base a fim de receberem cuidados, mas o Spinarak parecia ter se afeiçoado a mim, então ofereci a ele uma pokébola convencional e perguntei se ele gostaria de seguir viagem comigo. Independente da resposta dele, agarraria o sujeito, ainda preso em cordas, e levaria para a cabana. - Consegui pegar esse aqui, era o parceiro do Rocket que tentou me matar no incêndio, que virou carvão com o próprio fogo. - joguei o sujeito em um canto da sala e, sem pudor algum, dei-lhe um belo tabefe na cara. - Acorda, vagabundo. Temos que ter uma conversinha. - caso ele não tenha acordado com o primeiro, trataria de dar um segundo, só pra igualar a quentura no rosto.