Noah Castillo e o começo conturbado

Um garoto e seu Pokémon. A premissa dessa história parece tão batida e até mesmo banal para o mundo Pokémon que este feito nem é mesmo comemorado, atualmente. Se um jovem garoto vai até a padaria comprar pão ou sair para sua jornada, a reação dos pais e da sociedade é a mesma. Mas cada um desses inícios repetidos ad eternum carrega consigo sua própria contradição. Isso porque nenhuma jornada é igual a outra. Podem ser semelhantes, mas jamais iguais. As pessoas, os caminhos, os encontros e desencontros, os sonhos e desencantos, nenhuma dessas coisas são sentidas ou sequer percebidas igualmente por todos. Alguns podem passar dias na mesmice da rotina, já outros podem ter uma experiência incrível a cada dia que passar. E é exatamente essa imprevisibilidade que tornava a estrada tão convidativa e assustadora.

Um menino e sua Phanpy. A vida de aventuras do jovem Noah poderia ter começado tardiamente com relação às demais crianças, que geralmente tem seu primeiro Pokémon aos 10 ou 11 anos. Porém isso não diminui seu estímulo ou sua determinação. Munido dos passos de seus pais, o pequeno caderno de capa verde não continha só um mapa da região, mas também era um mapa de escolhas e rotas que eles tomaram em seus dias de juventude. Mas o caderno também possuía perguntas sem respostas. A principal deles é o motivo deles nunca terem tido Pokémon em casa, mesmo tendo tido algumas aventuras. E também era atrás disso que o jovem iria atrás.

Porém sair em viagem não era exatamente a coisa mais simples ou fácil. E Noah percebia isso ao analisar a sua mochila. Ele iria para o primeiro ponto de interesse marcado no caderno de capa verde, a grande cidade de Goldenrod. Mas antes disso, era preciso estar minimamente preparado! Então ali estava Noah e sua Phanpy, com uma mochila cheia de tralhas e um mundo de escolhas as quais o jovem talvez não tenha noção de como tomá-las! Diante de si, ele podia ver a fachada do Centro Pokémon local, ponto de visita obrigatório no mundo de viagens. Perto da entrada, ele avistava duas garotas em roupas de colegial, possivelmente estudantes da escola Pokémon local. E ainda na mesma rua, é possível ver um grande supermercado, com várias pessoas entrando e saindo com suas compras.    

Lutando contra seus próprios demônios internos, Noah concentrava-se em manter-se ali, centrado, e não se perder em seu mundo interno e fechado. As garotas olhavam para seus celulares, tiravam algumas selfies e riam, tranquilas, aproveitando um tempo entre uma aula e outra. Pessoas saiam do Centro Pokémon com pokébolas em mãos, um ou outro com algum Pokémon fora da esfera. Pidgeys voavam ao redor, Rattatas se escondiam nos arbustos. A vida acontecia ao redor do jovem, apenas isso. Interiorizando esse pensamento, o rapaz respirou fundo e seguiu na direção do mercado, ainda não sabendo muito bem o que queria fazer. Ele apenas seguiu na direção do estabelecimento.

O entra e sai de pessoas era constante, praticamente todos os caixas do lugar estavam operantes. As grandes portas automáticas de vidro praticamente não paravam fechadas. Uma mulher parada logo na entrada dá um bom dia para Noah, mas não espera resposta. Sua roupa denunciava que trabalhava como segurança no local, então a saudação era apenas uma formalidade praticamente automatizada. Um senhor com o carrinho abarrotado de coisas passa por Noah, ignorando completamente a presença do rapaz. Uma mulher de mãos dadas com uma criança enquanto fala ao celular entra depois do jovem, tendo que puxar com força o braço da menina que se distraiu com a presença da Phanpy. Enquanto a vida comercial também acontecia por ali, Phanpy percebeu a aproximação de uma criaturinha estranha.


Era um tipo de roedor elétrico, pequeno, azul e um tanto fofo. Sua orelha direita era mais caída com relação à esquerda, sendo esta adornada por um ladinho lilás. Ela correu atrás de uma lata rolante, que foi parar perto do pé de Noah. Depois de pegar o item que estava perseguindo, a pequena ergueu a cabeça e olhou para o jovem, tombando a cabeça para o lado. Sim, ela era muito fofa.

Noah juntava todos as suas forças para efetuar aquela interação com a pequena coisinha fofa que parou diante de si. Phanpy não estava nem um pouco contente com aquela presença, mas a reação da Minun foi a mais inusitada possível: ela começou a saltitar e a sorrir! Achando graça ou só se sentindo feliz com aquilo tudo, a roedora ainda mantinha a lata em suas mãos enquanto pulava de um lado para o outro. O jovem se abaixou para acalentar sua terrestre, que pareceu aceitar melhor a presença daquela, talvez rival da atenção do jovem. Mas para Minum, aquilo era só festa!


- Marie! Achou a lata? - uma voz feminina, então, se destaca em meio à cacofonia do estabelecimento. Ao levantar os olhos, Noah teria à sua vista uma menina poucos anos mais velha que ele. Usava uma calça jeans mais folgada e um tênis de cano alto reforçado, bom para longas caminhadas em terrenos mais difíceis. O torso era coberto por uma blusa de mangas longas e um corpete sobre o mesmo. Os cabelos loiros presos em um coque simples adornavam o belo rosto de pele muito clara. - Oh, me perdoa, a Marie as vezes sai de perto de mim sem dizer nada! - ela já se aproxima pedindo desculpas, pelo visto aquele comportamento da pequena Marie era recorrente! Agora Noah tinha um desafio ainda maior: lidar com uma pessoa desconhecida! Mas algo chama a atenção do jovem: anexado na alça da bolsa lateral da moça havia um bottom, um “pin” como se costuma dizer. E este estampava a figura de um Rockruff!

   

A cena poderia parecer corriqueira para a maior parte das pessoas. Um Pokémon perdido encontra uma pessoa aleatória, a dona do Pokémon corre para atrás dele para se desculpar de alguma eventualidade, e a coisa aos poucos se resolve. Mas aquele caso era um tanto mais complexo. Isso porque a presença da garota de cabelos loiros era um tanto quanto intimidadora para Noah. Ela o fazia se lembrar de sua tia, em momentos de interação não muito amigáveis, e como consequência, o garoto entrou em parafuso! Phanpy estava ali para protegê-lo, mas talvez o ímpeto da terrestre talvez gerasse uma situação ainda mais constrangedora e complexa! Agora Noah estava no chão, lutando tanto contra seus medos enraizados quanto contra o temperamento de sua Phanpy!

Marie tombava novamente a cabeça para o lado, confusa com a reação. Já a garota, esta parecia preocupada. - Oh, por favor! Não precisa pedir desculpas! Você está bem? - ela se aproxima de Noah ainda mais, e em um gesto inesperado, se abaixa e fica de joelhos diante do garoto - Eu tenho que pedir desculpas por te assustar! - e ela faz uma reverência com a cabeça. As pessoas ao redor estranharam a cena, outras ficaram irritadas por aquilo tudo estar acontecendo bem no meio do supermercado, atrapalhando a ida e vinda das pessoas. Mas a garota, pelo visto, não se incomodava com isso.

Para tentar aliviar o clima entre eles, a loira abre um sorriso e tenta puxar algum assunto - Sua Phanpy é uma gracinha! E muito determinada, devo dizer! - ela se volta para Phanpy, tentando alguma aproximação com a mesma - Meu nome é Cindy! E qual é o seu? Gosta de Pokémon terrestres? - aparentemente, a garota era daquele estilo free talker, que gosta de conversar com qualquer pessoa a todo instante, já que desandou a fazer perguntas para Noah! Mas pelo visto, era uma presença mais amigável que intimidadora… mas isso fica por conta do rapaz decidir!    

Ao menos as coisas pareciam estar se ajeitando. Noah estava mais calmo, ao passo que sua Phanpy também estava. O rapaz se levanta com dificuldade, ainda muito trêmulo devido à sua natureza tímida e pacífica, enquanto as pessoas tomavam o rumo de suas vidas. Cindy abria um sorriso e aceitava a mão estendida para se colocar de pé. - Obrigada! - ela bate as mãos nas próprias pernas e na parte de trás para limpar qualquer poeira que tenha ficado presa em suas calças - Eu também adoro terrestres! Olha! - ela então libera um de seus Pokémon em uma pokébola, um simpático Sandshrew! - Este é Topaz! Topaz, estes são Noah e Phanpy! - a garota faz as apresentações, mas assim que o tatu de areia vê aquelas pessoas olhando para si, balança a cabeça rapidamente e corre para se esconder atrás das pernas de sua mestra! - Haha! Ele é meio tímido, desculpa!

Depois de toda essa cena complicada, ao menos na superfície dava para ver algum tipo de amizade começando a surgir por ali, talvez. O broche que a garota usava chamava a atenção de Noah, mas o que poderia ser? - Então, Noah, está começando sua jornada? Cheguei em Johto hoje mesmo, estou indo para Lavender! - a loira novamente desanda a falar, talvez esse seja o seu jeito de deixar as coisas mais leves, já que o rapaz estava visivelmente nervoso com aquela interação!