Grupo E - Winnie vs Keishin

Se Matthew me visse aqui, sendo apresentada como "Especialista Ghost", ele certamente me mataria. Pra ser sincera, eu estava dando GRAÇAS A DEUS que o líder de ginásio é um enorme fanfarrão (alguém usa esse termo ainda?) e nunca pisaria num estádio desses.

Ele abre a boca, fala, fala e fala, mas é um antissocial fudido que não viria pra um evento cheio de gente e glamour dar as caras. Só faz isso com capacete; tenho certeza que sim.

Só que como em muitas coisas na vida, medo e desejo se misturavam. Uma vez mais olhei para a plateia, tentando achar meu líder de ginásio; numa expectativa de que ele tivesse ido até Sinnoh me ver lutar e quiçá dar um belíssimo esporro na minha pessoa logo em seguida. Queria? Sim e não. Tanto quanto desejava, repulsava a ideia.

E quando o Keishin entrou montando um Ciclyzar, eu já estava no pé da arena. Por um instante, olhei-o intrigada e interessada, como se estivesse ali o motoqueiro que estava procurando. Era como se... como se a versão que eu estava procurando fosse respondida numa estranhíssima esquete. Olhei um pouco mais aquela cena, piscando os olhos e tentando ter certeza se era real; quando a gente procura, acha pegadinhas do destino em todo o canto, né?!

Sua "moto" se tornou bípede, como o Optimus Prime e seus amigos fazem. Ele tirou seu capacete (ou não, não sei se ele usava capacete), olhou para mim e mostrou-se realmente surpreendido. Eu também. Um "o" bastante grande formara da minha boca; enquanto ele não sabia quem eu era, eu não sabia o quê ele era.

Quando Keishin abriu a boca, percebi que ele não fazia ideia de quem havia lhe dado o dinheiro; não associara nem o nome de sua adversária a sua doadora. Isso era, no mínimo, cômico: um deslize ridículo da minha parte. Como achei que ele me pagaria se ele sequer fez esforço para saber quem eu era? Bom, vamos lá, não lhe paguei achando que teria esse dinheiro de volta; paguei-lhe no intuito de qualquer outra coisa, talvez até de fazer-lhe calar a boca e ir embora.

E agora, cogito que talvez, inconscientemente, lhe paguei para que perdesse mais rápido para mim. Vai funcionar? Não sei, mas caso eu ganhe, ficarei com essa dúvida ética no meu âmago para o resto da vida. Talvez perder não fosse de todo ruim...

... Enfim, já lhes disse o porque de Keishin ter ficado surpreso por quem eu sou, agora não sei se fui muito clara no porque de minha surpresa.
- Você também anda de moto? - Perguntei, fazendo o "também" ser sobre Matthew e sobre mim - A minha ta estacionada no Centro. Bem que a gente podia bater um racha depois pra decidir quem é o verdadeiro vencedor, em?

Foi uma piada que tinha um certo "quê" de verdade. Pra quem não sabe, meu líder de ginásio tinha essa paixão por motos no currículo dele.

Bati minhas unhas-Jellicents no corrimão, olhei em volta, fixei o olhar num quadro assombrado e, sem olhar para o adversário, falei para Pearl entrar em campo. A fantasma era como todas as outras: quieta, brincalhona e narcisista. Tendia a roubar coisitas para si quando não tinha ninguém olhando, por isso desviei o olhar. Rosemary, nesse momento, já estava na esfera muito bem guardada, junto de todas as outras. Ela, infelizmente, não era uma montaria tão incrível quanto Ciclyzar, mas o ato de ficar invisível me dera um pequeno charme.
- Ta bom, Kelly Key, boa sorte pra gente - Segui zombando, fingindo que a figura de K não me intrigava - Pearl, Reflect e volta. Dê o lugar para Men.

E joguei a segunda esfera em campo.

Tudo aconteceu rápido demais; tão rápido que não houve muito tempo para Keishin responder minhas provocações antes de eu precisar dar uma nova onda de golpes. Fora só o tempo de jogar a esfera de Man no campo que Ciclyzar rapidamente (ele é bem rápido) lhe ultrapassou.

Foi nesse instante que duas coisas passaram pela minha cabeça: a primeira era que se eu competisse com aquele Choice Scarf, eu não ganharia o racha; a segunda era de que hoje (talvez) fosse meu dia de sorte.

Meu pokémon, na mesma sintonia que eu, dei um riso animado e bateu com um dos punhos no próprio peito, fazendo um barulho oco, deixando claro que ele era um fantasma e, por isso, um corpo sem órgãos; raramente um corpo com materalidade.
- Man, duplo Drain Punch! - Ordenei, sem pensar duas vezes.

Day Care: 02 (Pincurchin e Staryu)

É óbvio que ele era Ranger: dificilmente um homem entra na minha vida e não é. Sendo bem sincera, eu começo a ter a sensação estranha de que Rocket é coisa de menina e Ranger é coisa de menino; não que essas divisões de gênero sejam universais e estáticas, mas há algo semelhante a isso no meu pequeno universo.
- Tu é Ranger? - Perguntei, nada incrédula. Normalmente essas coincidências ocorrem muito na minha vida - Não tem problema, é só a gente não fazer no trânsito, assim não vamos estar cometendo infração alguma.

Dei um sorriso de lado, fingindo não ter visto o sinal que ele fez com a mão. Depois de alguns minutos lhe respondi com um "joia" bem exposto, deixando claro que capitei. Com a boca, ainda esbocei um "capiche" bem caricato. Depois disso, tive a oportunidade de ver Men destroçando Ciclyzar sem nenhum resquício de pena, ainda recuperando os machucados causados pelo crítico da rodada anterior.

Mordi os lábios um pouco estressada: era de bom tom vencer assim?! A dracônica estava no chão, um pouquinho desajeitada, depois de ter sofrido um pouco demais. Devo admitir que não entendi muito bem as escolhas de Keishin: um Choice Scarf num pokémon que já era, naturalmente, mais rápido que todos os meus? Isto me parece mais um auto-nerf do que uma escolha inteligente. Se outrora pudesse abusar do U-Turn ou Shed Tail para alterar o turno de seu Slaking, agora não podia mais...

... e esse Slaking, em?! O que falar dele.

Vê-lo depois de tantos anos foi como renascer um soco no estômago esquecido. Para quem não sabe, a anos atrás, fui até o Norman tentar ser sua aprendiz. Até aquele momento, meu vínculo com pokémons normais eram altíssimos e eu fazia questão de ministrar Loki, Skoll e Vili com bastante maestria. Antes de ir ao "vamo-ver", pedi a Norman um confronto e ele me usou um Slaking.

Achei uma escolha ridícula e vi que ganharia fácil, porém num susto, meu Togepi recém chocado entrou em campo. Ele? Achou um imenso desrespeito eu jogar um baby contra um Slaking. Começou a proferir ofensas "polidas", como um ser disciplinado faz quando está estressado. Foi deselegante, grosseiro, rude e, principalmente: homem. Fiquei com tanto ódio que deixei Togekiss ali. A batalha durou horas, usei o Protect e o Toxic para levá-lo apenas com um bebê: não era pela experiência, não era pela estratégia, era uma simples birra.

Perdi a vontade de ser sua aprendiz... ou melhor, tive que perder: Norman me expulsou do ginásio aos xingos e eu nunca mais voltei. Dizem que, desde então, ele nunca mais usou o Slaking; ao menos algo eu ensinei para ele. Acho que ele deveria ter enfrentado a consequência de suas próprias escolhas; um mon tão ruim não deveria ser escolhido como cartada final.

Claro, isso me custou saúde mental e, de quebra, uma personalidade extremamente narcisista em Bragui, que até hoje acha que é um super-ultra-pokémon, que derrotou um Slaking level 100 enquanto estava apenas level 1. O imaginário de um bebê já não é lá muito elaborado; quando cresce, resta mais memória falsa do que verdadeira. Hoje o Togekiss é convencido até demais, mas fazer o que, né?! Eu teria que enfrentar outra bomba dessa, e eu já via o "Ranger" começar a comer pelas beiradas, me chamando para simplesmente atacar.

Ao vê-lo apelar para isso, deixei o ombro cair um pouco e dei um suspiro atuado. Sem olhá-lo nos olhos, pontuei:
- Já ta com pressa? - Choraminguei - Achei que tinha gostado de mim.

O tom era um pouco irônico, mas não de todo. Eu não vou dizer que aquele bom-humor de K. não me apetecia, mas tal qual o K. de Franz Kafka, ele era encantador e problemático. Se ele não estava com pressa, eu estava um tiquinho; queria ver o resquício da batalha dos outros. O problema é que a sorte parece estar bem ao lado dessa batalha, como um anjo da guarda: já tivemos "miss" com 80% de acerto e um crítico repentino. Se essa sorte se orquestrasse mais uma vez, eu poderia ter uma sequência de flinchs e de críticos, o que poderia fazer Annihilape cair.

Isso me faria perder? Não, Sableye ganharia essa batalha até mesmo com um pé só, mas ele seria muito lento. Se estou com pressa, não me parece muito prudente colocar Men em risco... então, o que fazer?!
- Duplo Drain Punch - Ordenei, pensando que meu pokémon poderia aguentar um azar nesta primeira rodada.

Day Care: 03 (Pincurchin e Staryu)