[Meghan Castellano] Cineasta

Tudo bem, cheirar não era a melhor coisa a se fazer quando não identificamos alguma coisa. Mas instinto é instinto, acontece assim. Quem nunca cheirou um suco para saber do que é? Coisas assim acontecem nas melhores histórias.  

Em virtude disso, temos uma cena muito exótica em andamento. O narrador não pôde descrever, mas podemos repassar esse take. Nada parecia ter acontecido, apenas sentia uma sensação um pouco estranha sobre tudo ao seu redor. Uma queimação nas narinas e também a adrenalina do momento. Uma beautifly passou voando em sua frente. O que parecia improvável visto a região que estava, mas ninguém se apega a detalhes em um momento desses. Esse monstrinho tomou a atenção da garota. Meghan a via partindo em direção à luz. Mas, não muito tempo depois de sumir no horizonte iluminado, um enorme tornado engoliu e arrancou tudo à sua volta. Inclusive a treinadora. Tudo aconteceu muito rápido, não deu para entender muito bem. Apenas tudo escureceu.

O ambiente estava mais frio, a luz que antes era mínima agora era muito menos. Uma corrente de vento passeava pela floresta, qualquer um ficaria com calafrios. A garota acordava sem entender nada, e só via basicamente a escuridão ao seu redor. Todo o cenário que se encontrava parecia devastado. Como se houvesse acontecido algum furdúncio muito estranho. Paris estava meio estranha também, por algum tipo de acontecimento desconhecido. A única certeza era que a cabeça da garota explodia, estava sentindo a dor  do que não lembrava ter acontecido. Fora o fato do que realmente aconteceu.

– Ooooh, meu senhor… – dizia, levando a mão à cabeça. Realmente era um pouco complicado saber o que aconteceu. Mas todos temos nossos achismos.

Para sua sorte, ironicamente, não teria nem tempo para processar. Alguma coisa ou alguém estava se aproximando. A garota apenas retornou o coelho à sua respectiva esfera e se escondeu em algum lugar próximo. No intuito de saber o que era e se seria seguro aparecer, por exemplo.

Certo, agora entendemos o que aconteceu. Os velocinos como carga e muita farinha da amizade. Logicamente, o homem estava traficando farinha. Jogar farinha em pedaços de lã não parecia muito higiênico, mas quem sou eu para questionar? Eu não sou o consumidor final.

Meghan ainda estava escondida em um arbusto próximo, escutou tudo que o homem tagarelava sobre sua logística. Informações valiosas, mas valeria a pena se envolver nisso? Visto que o homem claramente tinha uma espingarda em suas mãos, seria no mínimo desproporcional o poder de fogo, se compararmos. E digo mais, que cena um tanto familiar não? Tráfico, farinha e armas. A garota estaria em outro pesadelo?

Agora, o melhor de tudo isso é: a garota estava com sua câmera gravando tudo. Confissão, você disse? NÓS TEMOS! Contudo, não sei se seria inteligente se envolver nisso, mas temos provas caso fosse necessário. Veja bem, pensando racionalmente, não tem motivo para corrermos esse risco, certo? É uma questão um tanto delicada.

No fim, não seria muito interessante, tendo em vista a realidade, dar uma de herói em um caso desses. Era Meghan contra um fucking espingarda, não temos o que discutir. Esperaria o homem terminar de abastecer a caminhonete com os pedaços e sairia de sua vista assim que possível.

"Meu senhor, eu não quero passar por isso novamente não, faz ele ir embora logo." – pensou a  garota, com receio de toda a situação que desenvolvia ao seu redor.

Nessa altura, bastava sair correndo quando fosse o melhor momento para tal.

Oi

O que fazer? Meghan não tinha muito o que fazer, aceitar que estava encurralada seria menos complicado. Mas isso seria se dar por vencido, e não vemos esse tipo de espírito nessa história.

Então, vamos revisar os pontos nessa situação de merda.

Primeiro: nossa treinadora pode ficar quieta e não fazer nenhum movimento brusco por horas e esperar que o idoso vá embora. Ficar seria aceitar. Essa maneira seria mais prudente, vendo em primeiro momento, mas quanto tempo poderia aguentar? No fim de tudo, ainda estaria escondida e o idoso poderia simplesmente perceber. E também não tem prudência nessa história não, então essa opção descartamos.

Segundo: esperar o idoso embarcar os produtos na caminhonete. Ele parecia demorar um pouco nessa atividade, poderia aproveitar e sair o mais rápido possível. Mas com certeza ele notaria o movimento. Seria imprudente demais. Então, talvez precisemos descartar também.

Terceiro: se rastejar para fora do alcance do idoso. Seria trabalhoso e nenhum pouco higiênico, mas acreditamos ser uma maneira decente. Sem mais discussões, temos um veredito.

“Como diz aquele ditado: se ficar o bicho pega, se correr o bicho come, então eu vou rastejar até ficar longe da vista desse velho. É o jeito, né?”

Então, devagar e devagarinho, Meghan iniciava seus movimentos cautelosos. Sujaria suas roupas e seu precioso tênis, que convenhamos, como se já não estivesse encardido só com a corrida com aqueles “algodão de eletricidade”.

“OOOHH MY GOOOSH! E lá vamos nós, um  pouco de cada vez.”

Longe dos perigos noturnos, a garota agora poderia clamar por um momento de paz. Não diria que saiu ilesa, visto que seria mais uma cena entre pesadelos que se formavam. Não é todo dia que se vê em uma situação arriscada como esta. Qualquer coisa poderia acontecer, e por ser a segunda situação arriscada em tão pouco tempo, nem se fala.

As vestes da aventureira, assim como a si própria, estava um horror. Um lamaceiro e um cheiro que eu diria não muito agradável. Contudo, é o preço por escapar intacta. O mais importante era que estava em um lugar mais distante e seguro do que anteriormente, ao menos era o que esperava.

Por perto, uma outra pessoa estava presente. A voz exclamava sobre ser uma má ideia ficar perambulando até mais tarde, e também para que deixasse algo para trás, pois precisavam ir. A misteriosa garota que apareceu quebrando todo o silêncio que perpetuava o ambiente, poderia ser apenas mais um aventureiro, como a mesma. Porém, nossa protagonista ainda não teria sequer notado que não era a única naquele terreno.

Meghan se levantou caminhando poucos passos a frente, sentia a brisa passar e todo o aroma que circulava com o vento. Passava uma sensação bem gostosa, até.

– ...minha cabeça ainda tá girando um pouco… – comentou para si, em baixo tom, enquanto levava uma das mãos à testa.

Em movimentos lentos retirou um lenço de um bolso de fácil acesso em sua mochila, passando na face, buscando limpar um pouco da sujeira que ainda a impregnava. Por incrível que possa parecer, ainda não tinha notado a presença de outra pessoa, não sei se poderia dizer o mesmo do outro indivíduo ali, poderia? Contudo, ao terminar sua limpeza, movendo-se para guardar o lenço… Ora bolas, uma pessoa desconhecida na sua frente.

– Ué? – confusa, inclinou sua cabeça, com uma enorme interrogação na face. – Tá tudo bem aí?

pô, que isso,  merece todos os cumprimentos do mundo. o word comeu meu quote. errei, fui mlk, dito isso, OIIIIIIIIIIIIIIII

A garota parecia um pouco assustada, aparentemente tinha passado por maus momentos. Mas assim, uma pessoa toda esculhambada e cheia de lama aparece em seu caminho, eu também ficaria assustado.

– Se eu sou uma ladra? – repetiu o questionamento, fazendo uma pausa – Depende, o que você tem de valor? – seguido de mais uma pequena pausa, deu uma risada, claramente uma brincadeira. Claramente uma brincadeira.

– Não. Eu não sou uma ladra. – afirmou, para que a garota ficasse mais sossegada – Mas vem cá, tentaram te assaltar? Que merda em. – de fato, não era uma felicidade sofrer uma tentativa de assalto.

– Eu me chamo Meghan. – se apresentou, estendendo a mão para retribuir o cumprimento – Oi, Ava e Chouriço!

Ava perguntou sobre o que fazia perdida nas redondezas, e que parecia ter sofrido um assalto também. Parecia mesmo. Não era bem assim, mas um perrengue aconteceu.

– Nossa, parece que eu tava num chiqueiro, né? – comentou, sorrindo – Apenas maus momentos de um aventureiro… – dito isso, toda aventura tem seus riscos – Mas e você, o que faz aqui tarde da noite? Perdeu o horário?