CAN U SAY ~COCAINE~ MEWTWO?

OFF: Olá narrador(e)(a), tudo bem?! Essa vai ser uma rota de passagem para a Cerulean Cave, a Dungeon. Sendo assim, estaremos juntos por pelo menos 45 posts. Não sei se usarei a Relíquia ou não, vai depender de alguns fatores, o principal deles é tempo. Preciso também negociar com a Shianny se usaremos minha Relíquia em outra Dungeon ou não. A priori, não pretendo usar mas em breve terei essa resposta. Espero que seja divertido e que comece esta nova Run do PokeRogue.

As vezes procuramos caminhos obscuros e tortuosos para alcançar desejos simples. O meu? Me matar. Não literalmente ou diretamente, como se espera de um suicida. Quero me matar como quem fuma um maço de cigarro por dia, ou quiçá como àquele que cutuca sempre um machucado que tem na pele e o rearranja e reabre, na esperança que um dia (quiçá) infeccione.

Hoje, talvez, seja aquele dia que o fumante decide que um maço só não basta; terá que ser dois. O passo mais largo em direção a morte, que acelera a roda-viva viva que Chico Buarque um dia narrou. Pisei na rota 13 com um pequeno cartão de acesso nas mãos e uma pokémon ao lado. Jellicent. A água-morta me encarava com um meio sorriso, como quem dizia que "é hoje que vou almoçar suas entranhas.

De retorno, dei um sorriso gelado e um arrepio. Talvez toda essa caminhada só tenha me deixado na boca do abismo por culpa dela. Pendi a cabeça, observando o balançar de seus tentáculos e pensei no quão ruim é estar emaranhada com essa terrível pokémon. Ela, como quem sabia ler pensamentos, se aproximou com o lábio bem desenhado e me deu um beijo terno na testa; passou um de seus tentáculos ao redor dos meus ombros e, como quem abraça uma companhia, foi caminhando comigo em direção à (minha) morte.

Os passos lentos se tornaram ansiosos e em pouco tempo eu já estava sem visão de Cerulean nas minhas costas. O rio que cortava a trilha já podia ser ouvido e o sol - que quando eu cheguei estava a pino - começava a se deitar. Freya não largou meu ombro e sinto que seu tentáculo fará uma marcar branca que contratará com o vermelho das costas queimadas de sol.

OFF: MEU DEUS QUE HONRA, QUE HOMEM!!! Eu já tinha comentado contigo que vou escrever a personalidade de Bragui e de Sleipnir no decorrer da rota, mas fica aqui o aviso (pra mim mesma).

"Essas pontes são para se jogar?", questionei-me assim que vi as tantas passagens possíveis. Não posso negar que, desde a Força Tarefa Tohjo, as grandes cidades e landmarks se tornaram irreconhecíveis a mim. Nunca fui de visitá-los quando pequena; meus pais nunca me levaram muito longe para um pique-nique ou uma visitação. Ainda assim, eu estudei em escolas particulares de Violet, que tinham como política de redução de danos, o estudo minucioso daquilo que não se tem numa cidade-pequenininha. Sendo assim, precisei memorizar biomas, museus, estátuas, mirantes, rochas e pontos históricos desnecessariamente, o que me fazia montar - numa bricolagem - o imaginário destes tantos lugares que nunca fui.

Isso tudo para dizer: apesar de nunca ter pisado aqui, eu jurava que conhecia o lugar. Não é bem assim, como tudo que vivi na vida, a realidade me da um belo soco na imaginação.

Só que dessa vez, minha imaginação não havia excedido; ela não tinha sido suficiente. Os detalhes em ouro eram demais pra mim; uma ostentação que beirava o absurdo. A estátua, a minha frente, me deixou encabulada. Como alguém, no século XXI, se deixa ser transformado em barroco. Isso, é claro, se o rapaz ainda estiver vivo.

Desci o olho na placa, procurando essa informação - ou qualquer outra - nas palavras embaixo do nome oficial. A li com cuidado, mais por curiosidade do que por uma nostalgia aos meus tempos de escola, onde eu precisava memorizar isso. Ainda me era muito estranho vê-la lá. Depois de um tempo, desencanei e decidi segui rumo, subindo um pouco os olhos e procurando resposta à pergunta: "por onde devo começar?".

E aqui, meus queridos, uma pergunta puxou outra: "por que não vim de moto?!". Apesar da pista rodoviária estar uma bagunça, eu poderia muito bem acelerar o motor e mandar todos os pedestres saírem da frente nesta via de abastecimento. Botava uma mochila de Moto-Girl nas costas e ai de quem me questionasse. Ia ser per-fei-to. Pena que seria "rápido demais".

Na angústia de passar muito rápido pelas pontes, consegui compreender a resposta das duas perguntas. Eu poderia até lhe dizer que não a trouxe pelo risco de destruir um veículo que não é meu, mas não era bem esse o motivo; havia uma sombra que nenhuma shining pearl ou Nugget Bridge poderia ofuscar, que era justamente a sensação de estar caminhando para a morte.

O "caminhar" não era metafórico, era importante que aquilo fosse uma caminhada, quase como uma penitência. Eu iria para meu destino devagar, torcendo para que uma intervenção divina (ou humana) me parasse e me impedisse de seguir. Algum milagre, alguma salvação, algum perdão. Tinha algo bastante católico nos meus passos, ou seja lá que nome eu possa dar a isso. Pela falta de metáfora melhor, chamaremos de via sacra.

E tal qual o sacrifício de Jesus, era de se esperar que eu precisasse ser imolada - lentamente - para me redimir. Talvez me faltasse um pouco de coragem de cometer um absurdo, para que alguma voz divina venha e faça como fez com Abraão (ao aceitar sacrificar seu filho Isaque) e o livre de findar um ato que irá estabelecer um sofrimento eterno.

Olhei para o lado, Freya ainda estava lá. Inerte, esperando que eu decidisse. Seu tentáculo já não estava mais tão frio, havia se adequado a temperatura de minha pele. De forma ambivalente, minha pele havia se adequado a viscosidade de seu tentáculo e, como num passe de mágica, foi possível esquecer que ela estava ali, grudada em mim.

Engoli a seco e ela me imitou. Com ela, decidi fazer justamente a escolha mais absurda possível: ir até o caminho dos Rangers. Vai que alguém me prende e me impede de continuar, né?!

Se o nome em Kanji não me dizia nada, o nome no "abecedário" me dizia tanto quanto. Por sorte, uma pequena explicação me fizera recorrer aos olhos imagens de desastres seguidos de desastres.

Primeiro, a minha participação na reconstrução de Tohjo, em Goldenrod. Faziam bons anos do acontecido, mas não havia como esquecer a dificuldade abismal que foi "organizar" e "limpar" aquela torre de rádio para que viesse a reforma e o progresso. Lembro que, nesta ocasião, tive minha primeira interação com os Rockets e foi por ali que comecei a desconfiar que Nicholas "não prestava". Não rememoro muito bem porque, mas a gente achou alguma passagem secreta que ele já conhecia.

Isso importa? Muito provavelmente não, mas a memória me veio, então decidi registrá-la.

A segunda imagem que tomou toda minha imaginação - inclusive a projeção da memória anterior - fora o possível desespero dos familiares de Mitsuo frente ao seu desaparecimento. Pensei em tudo que já ouvi sobre familiares de luto que não podem enterrar seus filhos; rememorei o desespero de relatos de relatos de famílias que procuram filhos e irmãos há 20, 30, 40 anos. Tudo aquilo me fez olhar praquela estátua com mais calma, rememorar o rosto do heroi e pensar em voz alta:
- Se eu te encontrar, te retorno pra casa - Com um meio sorriso, baixei a cabeça e saí. Ainda pensando em voz alta, murmurei - "Desaparecido"... acho que colocar uma estátua enorme de ouro é a melhor forma de chamar atenção pra alguém que sumiu. Melhor que internet, que televisão, que tudo... - "Porque a história fica, não é efêmero como na mídia, mais cedo ou mais tarde vão achar", completei com pensamentos mudos.

Segui caminho mais pensando nisso do que qualquer outra coisa. Desviei dos possíveis desvios de rota e prossegui dentro da floresta mais densa, que continuava completamente lotada de Rangers. Os Oddishs eram as únicas coisas que me faziam parar de remoer pensamentos tenebrosos sobre a possível morte de Mitsuo Tamura.

Sei que conheci o menino a minutos atrás, mas perceba que minha fixação com a ideia de morte e desaparecimento está um bocado grande. Meus pensamentos oscilavam em três vertentes principais: (1) o desespero dos familiares; (2) o desespero do próprio garoto que pode ainda estar por lá perdido; (3) as possíveis mortes, tranquilas ou agoniantes, que ele pôde ter tido. Ou seja? Nenhum pensamento agradável.

Por sorte, vamos focar nos Oddishs por enquanto. Olhei-os com o nariz; tive vontade de vê-los com as mãos. A quantidade exagerada me lembrou meu Bellossom, que viera de um pomar de Oddishs, quando ainda era um Gloom. Sempre achei curioso como o cheiro dos gramíneos é muito agradável quando broto, porém quando começa a ganhar flor e suculência, começa a feder como gambá morto. Este cheiro de capim-molhado, baba-de-Oddish e Sweet Scene me encantava e me tirava - momentaneamente - da escuridão.

Fiquei encarando-os enquanto andava, ignorando por completo o fato de que os Rangers não pareciam confortáveis com isso. Freya, por outro lado, tinha tremeliques suspeitos o tempo todo, o que me fazia virar o rosto várias vezes - quase num tique esquizofrênico - e emitir um "xiu" para que ela quietasse. Não adiantou; assim como nenhuma ordem comportamental minha à Freya funciona muito bem.

Mais cedo ou mais tarde iria acontecer. Por sorte, aconteceu mais cedo: talvez o policial tenha me achado realmente esquizofrênica ao mandar um fantasma (silencioso) ficar quieto várias vezes; como quem manda vozes da cabeça pararem de falar. Levantei a cabeça e perdi meu meio sorriso, simbolizando o fato de que - infelizmente - eu teria que parar de olhar para aqueles pequeninos Oddishs. Com um tom mais desanimado, lhe ouvi e esperei que ele completasse toda a fala até o silêncio. No silêncio, percebi que era meu momento de responder.
- Sou Winfred Freda, treinadora pokémon. Ace Trainer 4 - Entreguei o Trainer Card físico, para dar mais credibilidade. Peguei o Rotom Phone para caso ele queira ver também alguma versão digital ou algum QR Code - Estou indo para a Cerulean Cave procurar Mitsuo Tamura e devolvê-lo para a casa dele.

Esta última resposta em especial não foi difícil de dar; talvez até mais fácil que a primeira. Havia bons minutos que eu estava pensando nisso então, quando perguntada, meu objetivo estava na ponta da língua; eu era tão sincera que até mesmo eu acreditava naquilo que tinha dito. Aquela história realmente me incomodou...

... e Freya percebeu isso, tanto é que me lançou um olhar indefinido, que eu não sei bem o que queria dizer, mas que sem dúvidas queria dizer alguma coisa.

Eu cogitei esboçar uma pequena defesa que pudesse sustentar minha ida e vinda daquela caverna, mas quando me toquei que o Ace Trainer IV não bastou, comecei a cogitar que eles sabiam daquilo que eu já sabia desde o início: sustentar uma IDA é até viável, mas uma VINDA? Não há como ser tão coerente assim.

Dei um suspiro e a única coisa que consegui "redigir" na voz foi:
- Por quê?! - Afinal de contas, qual a justificativa que eles davam aos transeuntes? "O Mewtwo ta lá"?, claro que não.

Depois disso, um santo Coronel intercedeu por mim e um falatório perpetuou minha entrada. Enquanto eles falavam eu só conseguia pensar numa coisinha só, que até cochichei para Freya. "Vicent sentiria vergonha do fato de eu não saber qual a hierarquia maior entre Comandante e Coronal". Dei uma risadinha no fim e completei, "Quer dizer, Comandante é uma patente ou um pronome de tratamento?". Enfim, questões, né?! Freya respondeu com um levitar ordinário e a expressão de sempre.

Aqui importa-se dizer uma coisa: não fui mal-educada (e nem podia ser) como estes dois rapazes. Apesar de cochichar com minha Jellicent, não fiz num tom baixíssimo de segredo, simplesmente abaixei a voz para dar ênfase de que não estava perguntando a eles e também não desejava atrapalhar o cochicho deles.

Apesar de julgá-los por essa exclusividade ao debater sobre mim, respeitei a onipotência da lei (eu sou Rocket, mas não sou uma Rocket tão Rocket assim) e não os perturbei, até porque o veredito fora ao meu favor. Dei um sorriso sincero, assenti com a cabeça e falei:
- Obrigada! - O tom era realmente educado e decoroso, eu não usaria formalidades mas estava agradecida por ao menos dessa encrenca eu ter passado - Pode deixar, não farei nada de errado conscientemente.

E então, me coloquei a andar. Apesar do tom submisso, não esperei que o Coronel fosse uma espécie de Guia, quer dizer, talvez fosse, mas seria um guia que vai atrás. Deixei-o para trás um pouco, seguindo a trilha de outros Rangers em direção à Cerulean Cave. Acreditava que, com o Coronel do meu lado, eles iam ao menos parar de me lançar maus-olhados.
- Você wakaba de resolver metade dos meus problemas - Disse, numa piadinha idiota. Não sei se isso pioraria ou melhoraria minha situação, mas o Coronel não parecia do tipo chato.

Ao ouvir o coronel, eu preciso admitir que eu comecei a ficar com medo, acarretando numa pequena taquicardia tomou meu corpo e umas gotículas de suor começaram a ser produzidas nas minhas mãos. Singelo? Singelo, mas o suficiente para eu me perguntar se eu devia mesmo continuar. Por outro lado, algo me deu um pequeno start de felicidade: se outrora eu pensei que ir até os Rangers seria a pior opção, eu provavelmente estava errada. Eles protegem o caminho certo até a Cerulean Cave, o que fez com que eu escrevesse torto por linhas retas, no "avesso de Deus".

Isso foi quase como um aviso divido de aval, como se algo - completamente ao acaso - estivesse sinalizando certo em minha cabeça. Eu, neurótica e supersticiosa como sou, não costumo ignorar os sinais (que me convém). Ouvi-lo com bastante dúvida, sem saber se todos aqueles exemplos cabiam a minha pessoa ou não, mas independente disto, precisei fazer uma pergunta de extrema importância àquele homem:
- Por que minha vida vale tanto pra você? - Era isso que me inquietava. Começava a ter a sensação de que ele não estava tentando me proteger, mas sim proteger algo a mais.

No mais, segui o homem até onde ele iria me levar. Freya estava agitada e aquilo me incomodava MUITO. Veja bem, eu NUNCA a vi assim, e como bem disse lá em cima, eu não ignoro os sinais QUE ME CONVÉM. Este, em específico, não me convém nem um pouco. Olhei-a com um certo repreendimento, mas nada adiantou, a fantasma continuava assim. Quando o homem citou o comportamento dela, ela pareceu se excitar, como quem dizia "SIM, POR FAVOR, ME NOTE". Eu, em desacordo, respondi prontamente:
- Essa é a desvantagem de ser um fantasma - O tom era um pouco ríspido - As vezes se confunde mundo dos mortos com realidade e acha que tudo que tem vida já morreu.

Apesar de eu dizer isso, não acreditava em minha própria justificativa. Eu, definitivamente, não achava que Freya estava agitada pela possibilidade da minha morte; ela não é vidente, nunca foi. Além disso, ela nunca pareceu temer pela minha morte, nem mesmo quando passei muito perto disso, porque diabos temeria agora?! Há algo nisso, sem dúvidas, mas não me parece ser sobre mim; sinto que é muito mais sobre ela.

Isso, em específico, me aquietava e me pacificava. Com esse tom dúbio eu só coadunava minha neurose fantástica: se até Jellicent está inquieta, é porque estou no caminho certo. Por fim, para não dizer que não fiz nada, virei-me para ela e perguntei:
- Você quer ficar dentro da esfera?