A garota ainda tentava entender. Para ela, era simplesmente incompreensível o fato de quê havia realmente passado para a final. Na verdade, algo que a deixava mais confusa ainda era saber que apenas estava ali por sua oponente ter simplesmente largado a batalha no meio. Um suspiro pesado e inconformado escapou de seus lábios, enquanto cruzava o branco e longo corredor em direção à arena. Sinceramente, não achava justo. Incomodava a jovem ter a consciência de quê apenas estava ali por não ter tido alguém que levasse a batalha até o fim. Estava bem óbvio para si que seu Spinda possuía dificuldades para manter o ritmo com Pidove. Ou melhor, não, não era culpa dele. A culpa era sua. Se duvidar, de modo inconsciente havia subjugado sua oponente e aquilo destruíra qualquer chance que pudesse realmente ter por próprio mérito. Isso a deixava meio magoada, também. Era infeliz ver que, se dependesse de si, nunca conseguiriam avançar para patamares maiores. Qualquer um que presenciara a batalha poderia ter a certeza disso.
As lágrimas ameaçavam cair a todo instante, porém, sua mente centrava-se em não deixar que tal coisa ocorresse ou, ao menos, conseguia segurar a demonstração física de tristeza e dor. Ao menos por enquanto, ela pensava. Seu olhar encontrava o chão e fazia de tudo para tentar esquecer que provavelmente milhares de pessoas estariam assistindo aquilo. Sem contar o fato de quê, como sua oponente anterior jogara toda a batalha por água abaixo, seus companheiros não tiveram a chance de ter um patamar de força maior. Isso era um grande problema, pois, até onde sabia, o outro finalista possuía uma vantagem de até mesmo cinco níveis. Estava simplesmente caminhando rumo ao massacre.
No entanto, alguma coisa dentro de seu peito não lhe permitia que jogasse tudo no lixo por um simples obstáculo. ...Certo, não era nada simples, porém o melhor a fazer era não ficar pensando nisso o tempo todo. Tinha consciência de quê deveria dar o máximo de si para ao menos tentar manter as coisas equilibradas e, caso algum milagre acontecesse, teria uma mínima chance de conquistar o primeiro lugar. Se bem que, nas atuais circunstâncias, até mesmo o segundo já estava de bom tamanho.
Ouviu um ruído inicial, seguido de um chamado forte em busca do garoto que competiria contra si. Gabriel... Quanta coincidência, não? O nome era idêntico a um de seus melhores amigos que, só por acaso, havia sido lembrado inúmeras vezes durante aquela curta jornada que já pudera percorrer. Até Zorua atentara tal coisa ao transformar-se no jovem loiro que conquistara simpatia, animação e confiança da normalmente envergonhada ruivinha. Tal nome ecoou diversas vezes na mente da garota, enquanto um raio de esperança rasgava sua alma ao meio. Poderia ali acontecer algum reencontro? Adoraria rever seu amigo de infância que, tornando a frisar, era o preferido da garota.
Não esperou muito mais. Seus passos hesitantes e com sutil recuo aos poucos se transformavam em avanços rápidos, antes de trocar o andar pelo correr. Mal sentia seus pés tocarem o chão abaixo de si. Uma rápida e singela sensação de voo dominava sua mente, trazendo a calmaria para todo seu complexo mental. No entanto, estancou a poucos passos do portão pela simples vergonha que a atingia ao lembrar-se de quantas pessoas assistiriam àquilo.
Mordendo fracamente os lábios, segurou ambas suas esferas bicolores em mãos, de Spinda e Bulbasaur, respectivamente. Seu maior temor era pela visão de quais pokémons deveria enfrentar. Suas estratégias precisariam ser defensivas e ofensivas de modo simultâneo, afinal, estava em uma desvantagem terrível. Além dos níveis, havia os tipos e ainda por cima as boas ordens do treinador.
De todo modo, não era hora para recuar. Principalmente após acabar de ter seu nome chamado.
Com hesitação, adentrou a arena, sentindo a visão ser meio ofuscada pelo Sol abruptamente revelado após a passagem de dentro da construção de luz opaca dos locais de preparação para o combate para o campo aberto. Balançando a cabeça, precisou piscar algumas vezes antes de finalmente conseguir focar as coisas, assim como seu adversário.
Gabriel.
Uma torrente de sentimentos percorreram cada mínima célula da jovem ao reconhecê-lo, no entanto, a vergonha não lhe permitia chamar atenção. Encolhendo-se um pouco, caminhou até a devida posição que ficaria, respirando fundo quando mirou ambos os centros circulares dos objetos para o chão, ao passo que um raio esbranquiçado rasgava o ar, provindo das esferas partidas ao meio. Bulbo e grandes orelhas eram as duas principais características que atentavam a jovem ruivinha, que jazia observando calmamente as formas de seus companheiros tomarem a devida opacidade.
Ignorando tudo e todos ao redor, abaixou-se na frente deles, engolindo em seco e acabando por deixar um suave sorriso escapar quando seu pequeno pandinha dobrou o tronco e a fitou de ponta-cabeça em um ângulo quase impossível e, se não conhecesse a elasticidade do animal, sem dúvida ficaria assustada.
- Escutem, os dois – Ela deu um fraco suspiro enquanto permanecia com a voz baixa. Mesmo que provavelmente aquilo acabasse por gerar comentários do lado de fora, Natalie não se importava. Sinceramente, um curto momento de monólogo a ajudaria na batalha toda... Mordendo fracamente os lábios, desviou rapidamente o olhar para ambas as espécies que enfrentaria, um pouco hesitante ao notar o tipo dragão de fogo parado próximo de seu treinador, assim como o pequeno rato de coloração meio alaranjada. A fofura dele, céus, era imensa... Enfim. Tornou a olhar para seus pequeninos – Sei que provavelmente o farão e é até tolice pedir mas, quero que permaneçam o máximo de tempo possível em campo. – Balançando fracamente a cabeça, tornava a repetir mentalmente que aquele seria o único momento que realmente não colocaria suas estratégias estampadas para todos verem. Se é que aquilo poderia ser dito de estratégia, mas tudo bem... – Spinda, sei que parece loucura, mas quero que, toda vez que Ryo não conseguir desviar dos golpes daquele Charmeleon, tome a dianteira e receba os danos por ela. Você não tem tanta fraqueza assim contra ele e provavelmente durará mais. Certo? – Pediu baixinho, observando o animal ficar meio reto e assentir com a cabeça de um jeito meio bizarro – Ryo, foque-se principalmente em acertar aquele... – Qual era o nome mesmo? – Bem, aquele ratinho, acho. Evite ao máximo o Pokémon de fogo – Reafirmou, sorrindo fracamente. Não, nunca havia conferido o animal com a pokédex, no entanto, tinha a consciência de sua espécie por ser justamente a evolução de um inicial. E, bem, sendo sincera, também havia assistido a batalha. Apenas não tinha prestado atenção nos competidores... – Ambos tem noção de como trabalhar em equipe por terem assistido e até mesmo participado da batalha que Tyse e Zuby participaram. Estou contando com vocês, meus queridos – Um último sorriso tomou seus lábios antes de se reerguer.
Seus olhos enevoados encontraram com tranquilidade o trio em frente. Aquilo seria extremamente complicado, porém, sabia que daria o máximo de si, assim como seus pequenos companheiros. Após um curto tempo perdida em pensamentos, optou por retirar seu velho e conhecido aparelho avermelhado do bolso, mirando sua lente eletrônica em ambos os oponentes ativos da batalha, se atentando por um tempo na voz robótica e conhecida que, por meio desta, o objeto emitia as informações dos espécimes. Esperou pacientemente até o visor focar totalmente os animais e indicar tudo o quê precisava saber sobre estes.
Por fim, optou por guarda-lo no bolso novamente, ajeitando com suavidade uma mecha de cabelos atrás da orelha, colocando as mãos atrás das costas e as segurando, meio nervosa.
Como sempre é dito em Jogos Vorazes...
Que a sorte esteja sempre com você.
E que os Jogos comecem!
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O amanhã é efeito de seus atos. Se você se arrepender de tudo que fez hoje, como viverá o amanhã?