Capítulo 7 - Resgate nas trevas!

O mais legal de ouvir perguntas complicadas era poder responde-las com clareza. O homem estufou o peito para responder todas as questões que Blake levantou momentos antes, isso por que é sempre bom mostrar-se um homem esclarecido. Coçou a garganta com o ar e certificou-se de que sua voz seria clara e alta, para combinar com sua explicação:
- Inicialmente, vivemos em um mundo antropocentrista, já reparou que Pokemons são como crias nossas? Você pode tratar bem seus pokemons, mas nada te impede a não tratar, não existem leis, além do senso dos Rangers, e ainda assim, o senhor não vai preso e nem sofre penalidade caso faça isso, nada é sofrido além de ter seu pokemon detido. Isso é revoltante, mas não se importam em jogar radiação em pokemons, amigo, essa é a maior torre do continente, funciona como uma espécie de tálamo cerebral, transfere as informações para o local certo, para nossa evolução, ela teria que existir em algum lugar, que seja na floresta então. Essa é a lógica, por isso não nos assustamos com o comportamento anormal das aranhas de construírem redes, posso estar errado, mas radiação exagerada também propicia mutação, não? Os pokemons daqui as vezes agem de forma bizarra. Juntando os pontos, existe um experimento chamado gaiola de faraday, este seria a solução para o corte do sinal de celular das prisões, na teoria, se você fechar um campo com carga nula com um material que conduza eletricidade, ele retém e não permite a geração de um campo eletro-magnético, simplesmente isola o local. Jovem, sabe-se lá as consistências dessa teia, mas eu acho mais que possível essa mutação de substância nela, não? - Suspirou, avaliou tudo que disse antes e resolveu que tudo estava esclarecido, pulando para a terceira questão- Bem, podemos tentar, mas teremos que tomar muito cuidado para não incinerar a torre. Tem algum pokemon de água também?

Sem esperar a resposta, Adelimar começou a descer da árvore em direção a teia, em sua cabeça existia um medo gritante e uma coragem confrontante. O homem fez o nome do pai e rezou por um instante, queria muito que sua corda estivesse ali nesse momento, mas não a teria por conta de acidentes passados com mochilas. Respirou fundo, se agachou por um momento, ficando apenas em um galho, agarrou-o com as mãos, como um quadrúpede, e depois, como um bicho preguiça, se pendurou com os braços e pôs os pés para baixo, um encostou na rede primeiro, depois o outro, e por fim, soltou o galho, confiando na consistência daquilo, ali, duas coisas poderiam acontecer, apenas duas, ele cair no chão com tudo e ir aos céus, ou ele manter-se de pé naquela rede, por sorte, a segunda aconteceu, o homem abriu o olho que estava fortemente cerrado e andou mais um pouco a frente. Respirou fundo e soltou todo o ar pela boca, mostrando, acidentalmente, o alivio que queria esconder. Mesmo com lábios brancos, pressão baixa, pernas tremendo, tentou voltar a pose de corajoso e destemido, declamando:
- Bem que dizem que teias de aranhas são extremamente fortes - comentou, tentando fazer piada - Sua vez, vamos fazer essa caminhada até a torre.

Adelimar comentou algo sobre o que o cientista havia falado, parabenizou-o pelo cargo e essas coisas que sempre fazemos por educação, porém o garoto estava distraído demais para prestar atenção, nada que foi dito realmente importou ou foi absorvido, tanto que, até a pergunta tão importante de Lohan foi ignorada no primeiro momento. Repetiu e ouviu a resposta. Por sorte de Blake, realmente não teve nada mais importante nesse meio tempo.
O homem então suspirou e se pôs a pensar, Blake tinha razão, botar fogo em algo assim poderia causar uma explosão e um problema sem tamanho, se ele estivesse com sua bolsa agora, poderia pegar equipamentos úteis, sua faca Butterfly é sempre a melhor companheira em aventuras que o guarda se meteu, sem contar seu canivete na bolsa de fácil acesso, eram ferramentas pequenas, mas seriam menos perigosas do que um lança-chama, por exemplo. O homem assentiu com a cabeça e respondeu:
- Bom, ele precisara mais de tempo do que habilidade, mas acho que tempo nós temos, não é? - perguntou ao garoto, talvez ele tivesse uma coisa muito importante, durante a madrugada, que o impeça de salvar sua amada, mas provavelmente não - De qualquer forma, teremos que cortar essa teia ai, você tem razão, se ela for inflamável e aquele for o eixo principal da rede, vamos para o céu, seja incinerados ou por queda.

O mais jovem começou a descer, provavelmente mais tranquilo que Adelimar, já sabia que aquilo aguentaria ele, provavelmente, os dois personagens tinham o físico quase que idêntico, só seria necessário distribuir o peso direito, melhor não arriscar deixar os dois no mesmo nó ou no mesmo feixe, e foi pensando nisso que o guarda se afastou, foi para o outro polo,, apoiou seu peso em outro ponto e o distribuiu se ajoelhando, isso tornaria mais seguro do que deixar noventa quilos apenas nos pontos que os pés tocam. Ao se ajoelhar, viu que seria mais fácil andar como quadrúpede do que ajoelhado, engatinhando, encarou Blake para fazer o mesmo, ele estava bem a frente do garoto já, isso se dava pela distância que pegou para separar os núcleos do peso, por isso, olhar pra trás era uma tarefa complicada, dizem que quando se está envelhecendo, os primeiros que sofrem são o pescoço e a coluna, por isso manter-se encarando o cientista foi um problema e o mais velho não aguentou muito mais que alguns segundos. Espero que Blake entenda que é melhor distribuir o peso. Pensou o homem, evitando gritar para o garoto, visto que estavam passando entre árvores que habitavam pokemons de vida diurna, estes provavelmente estavam dormindo. Respirou fundo e manteve-se no caminho, Adelimar Lohan, o velho guarda experiente e astuto, teria que suportar sua coluna e engatinhar cerca de um quilometro até a antena. Nessa hora ele deu graças da deus por ter perdido sua mochila. Falar nisso, onde será Blake enfiou a dele? Melhor ele não ficar sem suas pokebolas, se bem que arrastar a bolsa amarrando-a na perna, é uma ideia com um bom nível de reciclagem no momento.

Acima da longa caminhada, reforçada pelo silêncio, dor nas costas, posição desconfortável e  medo, havia um céu livre de nuvens e uma lua cheia, que devo dizer a vocês, leitores, esses dois aventureiros deveriam agradecer a deus pela sua existência, se fosse noite de lua nova, seriam como cegos, provavelmente não enxergariam mais que um palmo a frente, e para melhorar, os espaçamentos entre árvores estavam muito maiores, o que significava um campo mais aberto e mais iluminação proveniente do satélite. Por um breve momento o mais velho resolveu parar, deitar de barriga para cima, aproveitar o vento e a visão privilegiada do céu estrelado, mas no segundo momento disponível, percebeu que se fizesse isso, não iria mais querer sair dali até amanhecer, e bem, certamente não seria seguro fazer aquilo de manhã.

A caminhada longa e demorada fora mais calma do que parecia, mesmo que no final dela, já não existia mais nenhum vestígio do repelente, eles chegaram até bem perto da torre sem nenhum problema com pokemons encrenqueiros, mosquitos irritantes e, muito menos, calor infernal, ali estava uma brisa suave, e provavelmente por ser moradia de aranhas, mosquitos quase não ousavam entrar e, por último, mas mais importante, os tais "pokemons de Halloween" ou estavam dormindo, ou tinham medo de altura. Ufa! Pensou Lohan, ele que jurou que seria mil vezes mais complicado do que estava sendo, ele também agradecia mentalmente por Blake ser um menino esperto, levemente desastrado, mas esperto, e entender todo o recado que tentou passar.

Estavam nem 10 metros da torre quando o biólogo resolveu soltar seus dois voadores, juntos, porém a rápida Butterfree foi a primeira a mostrar-se presente, fazendo um bater de assas rápido, que emitia leves brisas e um som de fundo. Correu para uma árvore, atrás de Néctar, jurando a si mesma que não faria barulho algum no processo, estava com saudades, a quanto tempo não sentia aquele aroma delicioso? A árvore escolhida pela pequena borboleta fora uma das duas que cercavam a torre, ela nem deu conta da situação de teias, por sorte, a busca pelo néctar tão cheiroso, que Lohan só foi perceber agora por sinal, funcionara como uma ronda, se ela não havia entendido a situação minutos atrás, reparou agora, Carter pode ver uma coisa que, aparentemente, nenhum havia visto ainda, entre as folhas e galhos que cercavam o ponto de comunicação, haviam cerca de 3 ariados, dois de tamanho normal e um muito maior, parecia ter cerca de trinta centímetros a mais, além de muito mais forte que os outros dois, ele estava em um sono que o fazia parecer uma estátua, ou como morto, o cálculo do pokemon-borboleta fora preciso, por que tal aproximação e barulho com as asas não acordara por muito pouco, enquanto os outros dois menores, que estavam em outro galho mais distante, não pareceram nem se movimentar, a pequena então tentou avisar de alguma forma, voando para mais perto e tentando mostrar que ali havia algo, Adelimar não entendeu a mensagem a princípio, Pidgeotto sim, por sorte entendia o que a pequena dizia, mesmo que tentasse ser mais silenciosa que uma planta.
- As duas árvores são seguras? Temos que sair dessas teias - perguntou e afirmou o guarda, que recebeu uma resposta negativa dos dois pokemons - Alguma das duas são? - perguntou novamente.

Sem saber como responder isso, o inseto aliado agora voou para a segunda árvore, tentando descobrir se havia algum perigo por ali, deu uma volta silenciosa e olhou o perímetro, além de tentar visualizar entre galhos e perto das flores, por mais que tivesse uma visão periférica ótima, não tinha visão de raio-x, então não pode ver completamente o local, mas do que conseguia ver, não havia nada além de brotos e buracos de cupim, então voltou e assentiu com a cabeça, dando uma resposta positiva a pergunta e guiando o resto do grupo até a árvore da esquerda, ali engatinharam mais os dez metros que faltavam e tentaram subir, se apoiando no tronco e nos galhos permitidos, saindo da maré de horror que é estar dependendo do sustento de teias. Adelimar teve, novamente, rapidez para o exercício físico, mas sentira que não ia aguentar muito mais, já estava cansado, não era mais tão fácil, e se continuasse assim, o velhinho ia acabar falhando em algum ponto, ou seu corpo ia simplesmente negar prosseguir.

Chegaram vivos, inteiros e sem danos na árvore, Blake agradeceu e deu a ótima ideia de descansar, aceita docemente por Adelimar, que ao terminar de ouvir a frase, já deitava de barriga para cima e deixava-se engolir pelas folhas, fora nesse momento que o cientista acabou por pegar a PokeDex e investigar melhor o que tinha ali, um apito pode ser ouvido por todo o canto daquela floresta extremamente mórbida, e quando terminou de ecoar o barulho, ela parecia ter continuado extremamente silenciosa e irritante. Os olhos de Lohan de arregalaram, foi instantâneo, assim que o apito ecoou o velho guarda virara uma espécie de rabugento:
- Desliga isso! - Ordenou, sem se preocupara com a educação - Oh, desculpe, abaixa o som, se puder tirá-lo, melhor - Tentou reconstruir seu pedido, tentando reaver o discurso anterior

Sentindo que aquele apito quase que acordara a população de Illex inteira, o guarda suou frio durante um bom tempo, teve que esperar a adrenalina baixar para interpretar, pensar e relaxar, qualquer um desses três estava impossível no momento. Assim que conseguiu, interpretou o voar e euforismo de Butterfree como um aviso, eram Ariados ali, o que era bem óbvio por sinal, porém ela assentiu o pressentimento do velho experiente: Estamos jogando no nível mais difícil. O homem agora voltou a se esparramar pelas folhas, querendo que aquela árvore vire uma cama, e seu corpo se una com o colchão. Após ouvir o que tinha para ouvir, ficar por minutos em suas folhas e formular uma resposta, Lohan finalmente voltou a falar, bem confiante no que tinha a dizer:
- Só precisamos deixa-las dormindo, assim, não teremos companhia - afirmou - Acho que está na hora de irmos até lá e procurar o ponto fraco da teia, certamente tem um elo, um nó, ou um ponto que ta prendendo elas ali, não são um material grudento, vai ser como cortar fechos de corda, eu acho.

Ah como eu queria minhas facas! Pensava Lohan, agora se sentia como o assassino Dexter, clamando pela necessidade de te-las por perto, mas óbvio que não para matar ou destroçar pessoas, a única coisa que pensava em exterminar, nesse momento, eram essas aranhas que estão lhe causando tanta dor de cabeça e tamanha nas costas. Bufou ao lembrar do seu quite de facões guardado dentro do armário da área de serviço, isso tudo podia fazer Blake se assustar com o homem, por isso nem mencionou, mas este guarda, em específico, adora um passatempo que envolva caça de animais selvagens, pode normalmente parecer desumano, porém, para Adelimar, a adrenalina da perseguição, o alívio do fim, a vitória do mais forte, essas são coisas que certificam a posição do humano como espécie mais poderosa no sistema inteiro, além de fazer o pequeno guarda se sentir mais poderoso. É estranho pensar em um protetor da floresta que pratica a caça, mas vamos lá, quem nunca pareceu ser o Sr. Hipocrisia, nem sequer uma vez na vida?
O pensamento em suas ferramentas foi embora com um balançar de troncos, algo balançara aquela árvore e o guarda não tinha noção do que, mas seja o que for, o fizera levantar em um pulo, agora que sabia que a teia o aguentava, era mais fácil se jogar de uma árvore por impulso.

Assim que já estava de pé na rede novamente, com medo do que podia existir ali, o homem resolveu, finalmente, responder a proposta do garoto, este já estava demorando demais para falar ou dar respostas, e parecia evitar dar ajudas, isso provavelmente acontecia por conta da cabeça que latejava de dor, já estava complicado pensar espontaneamente:
- Acho que Sleep Pownder não vai funcionar em aracnídeos que já estão adormecidos, mas podemos usar por segurança, vai que alguns não dormiram ainda - comentou - A gente poderia fazer essa limpa com os dois pós agora, antes de começar a destruir a teia, o que acha? Melhor do que esperar encontrar algo, isso evitaria batalhas, além do que, só precisamos jogar nas duas árvores, vai que depois eles se posicionam de forma mais complicada para acertar?
Dessa vez, a fala do velho fora uma pergunta, não pretendia ordenar nada, queria a opinião do menino antes de agir, isso é o que uma equipe faz, não?Além do que, com a dor de cabeça que tinha, seu inconsciente quase que gritava em seu comportamento, "alergia, alergia, alergia", porém, além de não perceber que já estava ficando muito mal com aquela situação, o guarda não poderia negar uma medida de segurança por conta de um pouco de escorrimento nasal e uma garganta arranhada.