To recap: Sem rumo.

Meu saltitar virara uma caminha da passos pesados, minha postura modificou, mostrando claramente que, com a ida do ambiente agradável, meu humor foi embora, meu peito já não estava estufado, nem meu nariz empinado e muito menos meu sorriso de orelha a orelha. Mas o que aconteceu aqui? Eu acharia que esse garoto não cuida bem dos jardins desse lado, mas vendo a reação dele ao ser guiado pelas gramíneas e o fascínio que ele tem por essas plantas, acho que não é a opção mais viável a se pensar. Algo aconteceu aqui, mas o que? Pensei em perguntar, mas não acho que eu obteria resposta assim, preferi continuar andando, talvez eu descobriria uma hora. Mantive o passo pesado e os pensamentos ruins, me distrai no desespero do cenário destruído, não posso julgar o garoto por ser tão atraído por essas plantas, eu também sou, e acho que estou tão triste quanto ele vendo isso.

Olhando para os lados, vendo que, a medida que aumentava o passo, os canteiros ficavam em pior estado, as flores rosas que tanto me agradavam viraram secas, sem vida, com um tom de marrom-mórbido. Por um segundo fiquei enauseada, não queria mais estar ali, porém a vontade de ajudar e curiosidade eram mais forte. Perdida nos meus pensamentos, fui parar de caminhar apenas quando tropecei no garoto loiro, desequilibrei por alguns segundos, mas não foi nada além de um susto para mim, e bem, para ele, pareceu não ter sido nada além de nada, como esperado, ele ignorou a colisão e continuou com seu ar de preocupação, esperando que ele continuasse ignorando todos os meus atos, dei a volta na multidão e tentei enxergar por cima das Bollossons, Gloons e Oddishs, se precisasse, me meteria no meio para ver o por que que eles pararam. Sendo culpa do garoto ou não, eu tentaria ajudar a consertar aquilo, então, agora tentando falar com as pequeninas e não com o garoto, tentei proclamar em alto e claro som:
- Eu posso ajudar vocês a resolver esse problema? Tenho alguns pokemons que podem ser úteis para reparar o estrago, um Meganium, um Poliwag.

Dessa vez, eu realmente queria ser respondida e vista, mas pelos pokemons dali, e não pelo garoto. Era importante para mim consertar aquilo tudo, fazia parte da minha personalidade altruísta e minha paixão por Bellossons. Tentei voltar a sorrir, talvez assim seria aceita melhor no grupo.

Como esperado, fui ignorada na minha aproximação, dessa vez, até pelas plantas que não me deixaram ver o que era, e ficaram se amontoando. Cheguei a pensar que elas, assim como o menino, iam ignorar minha presença por completo, porém ainda assim ofereci minha ajuda, e para minha surpresa e deliciosa quebra de expectativa, elas se viraram para mim imediatamente, não apenas me dando atenção, mas me possibilitando ver qual era o problema, e bem, assim que vi, meus lábios embranqueceram, senti um calafrio dos pés a cabeça, uma tontura repentina e, por muito pouco, não cai em um desmaio, útima vez que vi um pokemon próximo daquele estado, fora quando Balder apanhara para aquele Infernape idiota. Ainda assim, naquele momento eu tinha toda a adrenalina e stress suficiente para aguentar a cena, desta vez, eu estava cheia de pensamentos ruins e tristeza, não desceria tão rápido os fatos assim. Desequilibrei por um segundo, voltei a ficar de pé e esperei voltar a consciência e saúde plena, respirei fundo uma ou duas vezes para facilitar o processo, e assim que o oxigênio voltou para meu cérebro, pude falar com força de vontade:
- Poderiamos correr para o centro pokemon, mas não acho que vá funcionar - comentei - Bem, eu provavelmente não posso salva-la, mas posso correr atrás de quem fez isso para evitar outros ataques, o que acham? Vocês tem alguma ideia de quem foi?
Era uma proposta perigosa, provavelmente o pokemon que fizera aquilo era extremamente forte e me causaria problemas, mas eu tinha, no mínimo, que tentar.

Todos recuaram, apenas um se manteve de pé, provavelmente por ser o único que realmente sabia do que se tratava. Suspirei, me senti mal por falar aquilo, não tive certeza de por que o exército recuou, primeiramente pensei que tinha dito algo errado, assustado, pareci malvada, porém, em segundo momento, quando vi que o garoto loiro pensou em fazer o mesmo, conclui que não era por isso, provavelmente era por eu aceitar o desafiou, pelo poder do inimigo ou simplesmente por não saberem quem é o autor. Mesmo não entendendo bem o comportamento reativo deles, não desisti de proteger a aldeia de gramíneos, muito pelo contrário, saber que um Oddish, chamado Gim, poderia me ajudar com isso, só me deu mais vontade. Estufei o peito para falar, porém nada saiu, antes de falar qualquer coisa, fui enxotada pela milésima vez. Soltei todo o ar que tinha prendido no pulmão, abaixei a cabeça e falei, agora em um tom bem mais baixo e submisso:
- Me desculpa moço, se te irritei - falei, tentando ser o mais sincera o possível - Mas eu quero ajudar, prometo que tenho capacidade de lutar, não sou tão fraca quanto pareço, eu posso ajudar, eu me redimo assim, ok? Eu prometo não atrapalhar, o que tem a perder me levando junto? Me deixa tentar.

Supliquei, era bem da minha personalidade não ser orgulhosa e altamente altruísta, isso me fazia completamente submissa ao garoto, por um momento achei errado ajudar uma pessoa que só fizera me maltratar desde que cheguei, mas afirmo uma coisa: É por um bem maior. Se for por essas pequeninas, eu fico, além de que, não sou a mais certa aqui. Estufei meu peito de novo, dessa vez mostrando a auto-estima que joguei no chão para falar a última frase e a última súplica, seria realmente a última, eu não faria novamente, espero que o garoto seja esperto ao ponto de aceitar, se não, podem escrever, não tento mais ser aceita aqui. Dei cerca de dois passos para trás, tentando dar distância entre eu e o irritante, podendo assim olhar diretamente nos seus olhos, eu ainda tinha mais uma chance de convence-lo, antes que minha paciência se esvair, abri um sorriso doce, fingindo que não tinha magoa nenhuma no coração e voltei a fazer um comentário:
- Só lembre de uma coisa, é por elas que estará me deixando aqui, além disso, pelo comportamento deles e pelo destroço do corpo da Lara, nosso inimigo não é tão fraco, vamos lá, podemos derrota-los juntos, talvez separados não, mas juntos provavelmente. Aceite minha ajuda! Para que fazer sozinho?

Meus olhos arregalaram e meu sorriso voltou a ser sincero, e também, de orelha a orelha, exclamei um alto "Yes!", com a boca completamente aberta, mostrando os dentes, é, amigos, finalmente consegui, realmente deu certo minha tentativa, mas ainda assim, isso não garantiria minha participação, só meu ingresso de entrada no show, o garoto parecia confiante demais para me deixar entrar com ele em algum ponto da caçada, bom, pelo menos, ele já me permitiu estar aqui, não precisarei mais de passar por um processo jurídico e ficar pobre. Respirei fundo e andei, seguindo Gin também, agora tentando ficar lado a lado com o menino loiro, aquele que ainda não se apresentou.

Demorou um tempo para minha euforia passar, eu só ficaria ali, andando, até achar o alvo provável, imaginei quem eu iria usar, peguei minha pokedex na bolsa e revirei a pequena variedade que eu tenho dentro dela, de lá, pensei em algum padrão de arranhados e o único pokemon que me viera a cabeça era um Meowth, mas sinceramente, não acho que este seria o em questão, gatos não costumam dedicar-se a estragar e predar plantas, e claramente temos um problema com a horta também, não só com a Lara. Continuei descendo e subindo a barra da minha pokedex tentando pensar em quem seria o alvo e o pokemon que usaria, eu estava extremamente ansiosa para usar Vili e Frillish, também Poliwag, que está a um fio de evoluir, mas eu provavelmente não poderei usar os três juntos, e talvez, nem um deles, o que me deixaria bem triste, mas não há nada de mal em usar o meu amado Tyr, visto que, mesmo não sendo uma ocasião especial, eu o amo muito, o que o torna sempre agradável de se ver. Na realidade, essa regra se aplica a todos, não só a ele, mas provavelmente, mais a ele.

Guardei a Pokedex na bolsa, olhei o ambiente por onde passávamos, tentei identificar a cor e o estado dos jardins agora, além de também tentar reparar algo importante no comportamento das gramíneas que me rodeavam e andavam sempre em bandos. Como tenho um senso de direção horrível, tendo como referencial o corpo da Lara, não tinha certeza se estávamos continuando a frente, voltando para entrada ou andado para os lados, estava literalmente sem ideia de para onde estão me levando.

Prossegui perdida até finalmente ver a entrada do estabelecimento que invadi, ali finalmente me localizei, estava saindo por onde entrei, mas esse ponto de clareza não durara muito, logo mais estaríamos saindo da trilha e encontrando uma floresta que nunca ouvi falar. Mas o que é isso? Esse lugar não era para ser um caminho para treinadores? Não precisei nem externar essa dúvida, muito menos ficar com ela na cabeça, pela primeira vez na vida, o garoto fora gentil e esclarecera a situação para mim, nunca me importei muito em entender bem as coisas, apenas me certificar de que não estou fazendo nada que me arrependa no final, era o que bastava para mim, mas tenho que admitir, depois de vários nós cegos em minha mente, desatar pelo menos um, afrouxou muito mais meus pensamentos, além de me sentir melhor sabendo onde estou, podia entender com o que iria lidar. Assobiei rápido, sem pensar que poderia incomodar alguém, aquele era um gesto comum para mim, um assopro da alívio, como se a pressão em minha cabeça precisasse sair pela boca, mentalizei os problemas futuros e as raras incógnitas que eu poderia me envolver, estas sim me interessavam, não por eu gostar de problema, mas sim por amar diversão. Abracei a ideia e entrei no que parecia ser o início da floresta, encarei o menino e pensei até em agradecer pela explicação, mas depois achei melhor não, minha única resposta em relação a fala do garoto, fora assentir com a cabeça quando ele perguntou se eu havia entendido, após prometer que não ia atrapalhar mais, eu havia internalizado uma proposta de não falar mais nada que possa aborrece-lo, e acho que tudo que eu falo o aborrece, isso faria eu não me estressar com um corte e, provavelmente, nem ele.

Agora o local se tratava de árvores bem maiores, mais volumosas e diferentes entre si, eu podia não entender muito de árvores, mas fora nas minhas aulas de geografia que descobri que, pinheiros são de florestas temperadas secas, e carvalho de úmidas, era relativamente estranho vê-los juntos, isso poderia ser um sinal, o carvalho, que troca folhas no outono, podia indicar a distância que eu estava do pântano, até por que, quanto mais árvores úmidas, mais umidade, quanto mais perto de um pântano, mais umidade. Voilá! Mesmo que seja uma correlação por uma terceira variável que pode não ter nada haver, eu podia usar isso de alguma forma para localização, tudo bem, Gin conhece o caminho, mas mesmo assim, me sinto bem sabendo se estou chegando sem precisar perguntar a ninguém nesse grupo, e nem parecer uma criança de dez anos viajando e se espelhando no burro protagonista de Shrek.