#006 - New grounds, new adventures!

O menino então suspirou e revirou os olhos, como qualquer ser humano faria caso precisasse ouvir ou contar uma história chata, logo ele anunciava; senta que lá vem história! Aceitando a ajuda, visto que provavelmente não conseguiria sozinho, pegou a mão que Shion botou no ombro dele, retirou dali e a puxou para o meio do mato sem mais nada dizer, apenas andou em direção as árvores que viera e adentrou no arvoredo. Passado quatro ou cinco árvores de tronco grosso, o menino então parou, olhando para cima e em um pulo sobre-humano, alcançou o galho firme mais baixo, se jogando para cima e facilmente escalando os outros. Em pouquíssimo tempo saíra da vista dos meninos.

Depois de quase cinco minutos de espera, onde o casal provavelmente pensou que foram enganados e estavam perdendo tempo ali; quase poderiam desistir, a criança da floresta lhes trouxe algo. Mais um Pidgey. O que tem de mais nisso? Inicialmente, nada, a diferença era que este estava não só com a asa quebrada, como também com muitas feridas e sinais de espancamento. Ainda sem abrir a boca, tentou apontar a dupla os ferimentos, porém a cada vez que tocava no pássaro machucado, ele berrava de dor. Depois de muito tentar apontar, finalmente voltou ao plano da fala para então tentar contextualizar:
- Ele precisa de comida e cuidado - afirmou - Não consegue fazer nada sozinho desde que se machucou.
Dito isso, largou o machucado pássaro no chão e se aproximou dos dois garotos com um olhar de criança pidona, como quem quisesse que eles arranjassem uma solução.

OFF: Desculpa a demora, esqueci meu netbook em outra casa e não tinha como busca-lo :<

Ouvindo a proposta de Shíon, a criança mais uma vez fechou o semblante, mas não como quem estava raivoso ou se defendendo, mas sim como que se entristecia. Seu sorriso caiu, suas sobrancelhas, seu olhar. Não tinha mais cor; era expressivo demais e a cada sentimento que tinha, todos em volta podiam não só reparar com também serem contagiados pela sensação. Pidgey mais uma vez gritou de dor:
- Ninguém gosta de Pidgeys na cidade grande - Disse - Pelos gritos, todos já devem saber da situação mas ninguém liga.
Falando isso, aconchegou o pássaro nos braços e com a outra mão o acariciou pela cabeça, como quem queria demonstrar amor. Não parecia ser só um Pidgey que o menino vira machucado, e sim mais que isso, talvez um amigo, como todos os outros que sobrevoavam aquela área:

- Já pedi comida, mas não dão se for pra pidgey, só me dão comida de gente - afirmou - Se ele comer comida de gente, deve morrer mais cedo. Essas coisas fazem muito mal, precisamos de grãos. Como você tem roupas bonitas talvez te dão.

Se traçarmos um paralelo linguístico entre termos derivados da moral, poderíamos confirmar o quanto era anti-ético e moralista a atitude dos cidadãos de Littleroot, todos o rechaçavam o pequeno garoto e este era o motivo numero um para que o menino preferisse não sair dali. Vamos? Vamos não! Ele pensava, lá fora é extremamente perigoso com esse tanto de gente que odeia Pidgeys e meninos de rua. Ele não quer ser chutado e agredido mais uma vez.
- Eu e Pidgey não sairemos daqui! - afirmou, tentado não demonstrar o medo em sua fala, mas potencializar uma relação de poder - Nada nessa cidade é boa.

Dito isso, abraçou pidgey forte e subiu na árvore com uma velocidade incrível, sussurrando algo como "não vou deixar que te machuquem de novo", de lá, chamou pássaro maior e murmurou algo por bastante tempo.

Aliviado com o aceitar de Shion e a companhia de Eliza, a criança ficou em cima da árvore com Pidgey em seus braços, bastante aconchegada, confortável e relaxada por não precisar enfrentar seu medo mais uma vez. Finalmente alguém resolvera ajudar a pobre criança de rua; eis aqui a esperança dos atos bons. Sem muito o que falar, se emudeceu, apenas confirmando a sobrevida com alguns ares forçados e remelexos; não respondera mais que isso a presença da moça mais velha e nem se submeteu, apenas prezou pelo bom e velho silêncio.

Paralelo a isso Shion ia não só de volta a cidade, como de volta a cidade; andou bastante, percebendo que o tanto que percorreu outrora era muito maior que percebera. Como foi que chegou tão rápido ali mesmo? Não sei, talvez um corte de tempo da narradora assujeitada à pressa. Ainda assim, uma hora, como o previsto, o garoto chegou e, no primeiro olhar já vira o raivoso clima local; literalmente todos os pidgeys obedeceram o garoto e voltaram aos seus postos, criando quase uma guerra entre o ambulante e os pombos. Nenhum conseguira nada além de boas bofetadas do comerciante, porém este também não conseguira nada além de espantar seus clientes. O ambiente estava um verdadeiro caos e dali havia potencial para estourar qualquer acontecimento; desde a verdadeira paz mundial, quanto uma guerra infeliz entre os presentes.

Não aguentou ouvir o que o garoto tinha a dizer; já não bastava o tanto de problemas que naturalmente sua loja já lhe dava; há pássaros e um menino que aparecera com outro "plano infalível" que, aos olhos do homem, não daria certo. Já bastante enfurecido, Shíon conseguiu não só ser o estopim, como também o alvo da maior explosão que já viu. O homem começou a ficar vermelho, seus ombros se levantaram ao máximo, junto com suas sobrancelhas e cenho; sua barriga murchava, a coluna ficava cada vez mais ereta e, completamente travado, o vendedor ia ao encontro do menino e, sem economizar saliva, gritava a um metro de distância:
- Mas você ficou louco? Você é um incompetente, já não basta desperdiçar minha mercadoria, agora quer pegar durante semanas? - gritava, jogando ódio e saliva em Shíon - De jeito nenhum, é melhor que saia daqui agora se não vai ver do que sou capaz. Não quero mais ver você por essa praça, entendeu? Eu me viro, você só atrapalha.

Dito isso, deu meia volta, ainda muito vermelho e pegou sua bolsa, nela mexeu, remexeu, chacoalhou e retirou algumas coisas que ninguém conseguira ver. No mais, o recado fora dado, só a consequência que não.