003 - Companhia Inesperada: Um Novo Norte!

Como dizem por aí: "Todo sofrimento é pouco". Uma frase solta e bastante conhecida, mas que passa despercebida para a maioria das pessoas em suas vidas comuns. Entretanto, para treinadores Pokémon, esse ditado muitas vezes se tornava assustadoramente real! Pois bem, eu não tinha dúvidas, ele era... Depois de todo o percalço enfrentado por mim na acidentada região do pé do vulcão Mt. Chimney, a última coisa que eu esperaria e gostaria de encontrar eram três figuras desalmadas e extremamente irritantes (apesar de um tanto engraçadas), guiadas por um debochado e reclamão Pikachu falante. Era realmente a Equipe Roquete! Não podia acreditar... Felizmente eles não haviam me visto, pois se não certamente teriam vindo para cima de mim tentar "ganhar a sorte". Eu poderia abordá-los e enfrentá-los mais uma vez, porém só teria a perder. Meus Pokémon estavam cansados e desanimados, alguns até mesmo desmaiados. Mesmo que eles também estivessem na mesma situação, eles eram dois humanos e um Pokémon contra apenas eu. Por isso, fiquei na minha.

Comecei a seguir o trio disfarçadamente por três bons motivos: Primeiramente, ao segui-los eles ficariam sempre na minha frente, ou seja, não me veriam. Em segundo lugar, eu saberia se eles acabassem esbarrando com Ben, Yuri ou Luci e poderia ajudá-los da melhor forma possível em caso de enfrentamentos. E por último, se eles estivessem indo para algum lugar escondido e especial encontrar algum membro da família Tailfeller, eu descobrira e poderia fazer alguma coisa, mesmo tão debilitado. Como estávamos em um terreno um tanto monocolor, deixei eles tomarem uma distância bem maior para poder me esconder em algumas rochas quando desconfiassem de algo. De resto, não tinha muito o que fazer além de prestar o máximo de atenção na conversa deles.

Fazer esse papel de fofoqueiro, caminhando atrás da Equipe Roquete e ouvindo seus murmúrios e lamentos era até divertido! Eles falavam bastante e às vezes soltavam uns absurdos que eu precisava me segurar para não rir e entregar minha posição de bobeira... Por uma longa distância de caminhada eu tive que me contentar em ouvir sobre a inveja que o Pikachu falante tinha de sua forma evoluída, do lamento de Jairo em não ter capturado os insetos e completado sua missão para receber a recompensa e o quanto o cabelo de Jéssica estava precisando de um reparo urgente (principalmente depois de decolar de novo). Entretanto, a parte mais recompensadora de ouvir o papo desse trio foi ao final, quando o rapaz teve um pingo de empatia para com os insetos e disse que era triste o fato do chefe querer transformar eles em bichos de palha. Bingo! Era isso algo em cima da qual poderia trabalhar... Se pelo menos Jairo tinha uma certa empatia pelos bichos eu poderia despertar isso nos outros dois, tendo assim mais aliados na resolução desse problema. Aliados que conheciam tão bem o Tailfeller como o próprio irmão Ben.

Eu matutava um plano em minha cabeça para abordá-los e conseguir suas ajudas e quando dei por mim já tinha abandonado a selvageria da rota e entrava aos poucos no ambiente urbano da cidade mais próxima, que deveria ser Lavaridge. Um turbilhão de informações então golpeou meu cérebro, informação demais para raciocinar tão rápido. Ben, Yuri e Luci já deveriam ter aparecido... O que será que havia acontecido com eles? Eu deixei as crianças sozinhas e agora o pior poderia ter acontecido? Olhei por cima do ombro para a Rota novamente e a vontade de voltar para investigar bateu forte. Entretanto, não poderia deixar os Roquete escaparem sem poder conversar um pouco com eles sobre o taxidermista.

Respirei fundo para me acalmar e deixei um pouco os pensamentos sobre os Machiattos de lado, apressando o passo e simplesmente surgindo entre os Roquetes com um sorriso teatralmente montado no rosto — Que surpresa agradável, amigos! É um prazer reencontrá-los por aqui... — Comentei despretensiosamente e aguardei um pouco pela reação deles antes de continuar falando, dessa vez com as mãos erguidas  — Calma lá! Calma má! Não vi aqui batalhar ou qualquer coisa do tipo. Eu vim sozinho, vê? Na verdade vim alertá-los... — E agora tentaria uma estratégia interessante. Acredito que todos gostem de um pouco de admiração e portanto não custava nada investir nisso — Admiro muito vocês como... Equipe... E sei que vocês não fizeram aqueles ataques por mal aos insetos... Na verdade, acho que sofrem em ter que fazer isso. Ver alguém tão importante agir de forma absurda e ter que se calar. Pior! Ter que se sujeitar a isso para sua própria sobrevivência. Eu tenho pena de vocês... —
Dizia enquanto fazia uma expressão triste, levando a mão ao peito.

— E seu Pikachu falante... — Comecei a dizer, observando o rato elétrico — Imagine o momento que o Tailfeller resolver empalhar o pobre amigo de vocês só por ele ser exótico o suficiente em falar. Não poderão fazer nada também, não é mesmo? — Dizia tentando plantar a semente da desconfiança e discórdia entre  Equipe e seu chefe, apesar de ser um tanto absurdo a ideia de empalhar um Pikachu falante e tirar sua única coisa que o torna diferente. A fala. Enfim, eu precisava arriscar e esperar para ver quais seriam as reações deles.

Podemos dizer que eu "nocauteei dois bunnelby com um bone club só", pois assim que abordei os membros da Equipe Roquete na estrada, eles fugiram apressados e me levaram diretamente para perto de Yuri, Luci e Ben. No início ficou um clima bem estranho entre nós, afinal não tinha tido tempo de explicar para os três sobre o meu plano de trazer os Roquete para nosso lado. Contudo, conforme fui colocando o plano em prática, foi ficando bem mais evidente o que eu pretendia e Ben até veio ao meu auxílio, explicando que na verdade o irmão dele tratava muito bem o trio, diferente de como agia com os demais serviçais — Hmm, verdade. Acho que tu já tinha me dito antes e eu esqueci... Deve ter sido o calor do vulcão. — Confirmei, rindo logo em seguida. Mas enfim... Isso não mudaria meu plano, que tinha como cartada final apelar para o perigo que o Pikachu falante estava passando com o Tailfeller tendo esse tipo de hobby.

Enquanto a Equipe Roquete aos poucos se convencia de que isso não era certo e que o Pikachu poderia acabar recheado de palha, passei a conversar apenas com Yuri e Luci, deixando Ben a cuidar deles. Os irmãos Machiatto logo se preocuparam com as minhas mãos, mas tratei de confortá-los e mostrar que estava bem, só cansado — Estou exausto, mas consegui o que pretendia! Eu capturei aquele Pokémon de fogo que tanto queria... Assim que chegarmos ao Centro Pokémon eu trato de tirá-la da Storage para conhecer todos vocês! — Expliquei de forma bastante animada, fazendo um certo "auto-carinho" nas minhas mãos, que repuxavam de uma leve fisgada pelas bolhas estouradas.

Depois de um tempo nessas conversas, o trio de Roquetes veio até mim com uma proposta de aliança. Pelo bem dos Pokémon, mas principalmente de Pikachu pelo visto, eles iriam trabalhar conosco para mudar a cabeça do irmão Tailfeller. Não pude conter de abrir um sorriso no rosto e parti para cima dos três, abraçando-os em conjunto — Sabia que não nos decepcionaria! Acredito e confio em vocês! Vamos fazer o mundo um lugar melhor e ajudar o próprio rapaz, que está apenas se prejudicando com um comportamento desses... Ben também certamente fica feliz e agradecido pela ajuda, não é Ben? — Comentei e depois perguntei com um sorriso. Enfim... Alianças feitas, restava agirmos. Mas antes... Yuri nos trouxe uma opção perfeita, ir até o Centro Pokémon! Eu jamais recusaria isso, pois estava precisando, principalmente de um banho gelado. — É pra já! Vamos! — E assim que terminei de falar, já apressei-me a sair na frente do grupo em direção ao nosso próximo destino.

Como uma grande equipe bastante improvável, mas de certa forma complementar, nós sete fomos até o Centro Pokémon mais próximo, na cidade vulcânica de Lavaridge. Era incrível como o calor era forte aqui também, mas pelo menos havia uma corrente de vento fresco que trazia uma renovação de ares para a população, uma boa sacada na hora da construção das casas certamente. Apesar de estar curioso sobre o local e suas histórias e aventuras, meu foco no momento era cuidar de mim mesmo no Centro Pokémon e por um fim nessa história complexa de uma vez por todas, por isso acabei ignorando muitos detalhes da cidade, ficando até calado e sério. Meu único sorriso veio apenas com a visão da Enfermeira Joy e sua companheira Chansey nos recepcionando — Olá Joy! Bem, certamente não nos conhecemos, mas vocês todas são tão parecidas que me sinto estranhamente familiarizado. Mas enfim, somos muitos e precisamos de um descanso e cuidados médicos, certo? — Conversei um pouco com a enfermeira, que prontamente nos recepcionou e cuidou dos Pokémon de todos nós, um a um.

Eu havia sido o primeiro da fila para curar os Pokémon e assim que retornaram para mim já revitalizados, acabei recebendo também um tratamento nas feridas das minhas mãos, por parte de uma Chansey muito atenciosa. Sorri para a Pokémon rosada, tentando segurar as reações de ardência ao toque da pomada nas bolhas estouradas e meus olhos chegaram a lacrimejar. Aproveitei então para descobrir mais sobre essa criaturinha tão habilidosa, utilizando a minha Pokédex, algo que ainda não tinha feito, mesmo já tendo passado pelo Centro Pokémon de Mauville e visto uma em ação:

"Beep! Chansey! Pokémon Ovo! Chansey é um Pokémon bastanta raro e esquivo, que é conhecido por trazer felicidade àqueles que o capturam. São encontrados em pequenos números atualmente devido a super-exploração de seus ovos no passado. Gentil e de bom coração, este Pokémon compartilha seus nutritivos ovos com outros Pokémon que se encontrem feridos. Chansey põe muitos desses suculentos ovos todos os dias e se o Pokémon for tratado com bastante amor e carinho por seu treinador, é dito que a qualidade desses ovos é ainda maior. Chansey costumam caminhar calmamente para evitar quebrar seus ovos, mas também podem correr velozmente se necessitarem fugir. Beep! Boop!"

Enquanto recebia os últimos atendimentos, a Enfermeira Joy aproximou-se e comentou sobre o meu tempo de recuperação, que seria de uma semana. Confirmei que havia compreendido e aproveitei o momento para questionar a Joy sobre as frutas que eu havia encontrado na minha caminhada pelo vulcão. Com um sorriso e muita paciência, ela me informou tudo o que eu precisava saber, O nome era "Pe-Ta-Ya" e era bastante recomendada para Pokémon cujo seu forte seja o Ataque Especial. Agradeci a ajuda e finalmente me afastei, sentando no sofá circular que havia em frente a recepção, ao redor de uma mesa, onde Luci, Yuri e Ben se encontravam. Eles mal viram minha aproximação, pois estavam vidrados na TV próxima, que anunciava algo bastante curioso.

De acordo com a reportagem, um treinador havia perdido sua licença após abandonar diversos filhotes em alguns lugares marcantes de Hoenn. A repórter estava na frente de um deles, curiosamente próximo de minha casa, o Rusturf Tunnel, que ligava Rustboro a Verdanturf. Contudo, haviam outras localidades onde diversos treinadores já estavam indo em busca desses filhotes abandonados, mas eu realmente não conhecia essas localidades. Fiquei em choque, como alguém poderia fazer algo assim tão frio? Era difícil compreender o que havia acontecido, mas eu só tinha certeza de uma coisa. Iria atrás desses filhotes para ajudá-los, nem que fosse apenas um deles. — Ben! Assim que terminar isso quero muito ir atrás desses filhotes. Você sabe me dizer quais dessas localidades anunciadas é a mais acessível a partir daqui? — Questionei o rapaz, que me informou sobre um lugar chamado Meteor Falls, nas proximidades da cidade de Mountrock.

Enquanto discutia meus passos futuros, juntamente dos empolgados Yuri e Luci, Pikachu aproximou-se e explicou o que tinham pensado sobre o plano. Ao que tudo indicava, eles iriam na frente falar com o chefe deles e no dia seguinte, pela manhã, viriam explicar como nós agiríamos segundo o plano. Era uma jogada arriscada, afinal eles poderiam não voltar ou voltar renovados e com reforços para uma grande armadilha. Entretanto, eu confiaria que seguiriam com nossa aliança, apenas ficando atento para qualquer sinal de que estaríamos sendo traídos. Enfim... Quando tudo foi resolvido, nos separamos. Yuri e Luci foram para nosso quarto tomar banho e trocar de roupa e logo logo eu subiria também. Fui até um dos computadores próximo do balcão de atendimentos e resolvi realizar algumas trocas na minha equipe. Porém antes, precisava decidir um nome para Dustox.

— Ok Dustox... Venha para fora! — Disse, lançando sua cápsula para o ar e deixando a mariposa sair e esticar as asas — Não tivemos tempo para muita conversa, mas gostaria de agradecer tudo que fez por mim nessas últimas aventuras. Aceite esse presente! — E com isso, lancei o último pedaço de chocolate para o Pokémon, que o agarrou no ar esbanjando alegria — Vou lhe chamar de... Mothkin. Certo? Acho um nome bem legal e nos deixa mais próximos! — E ao terminar de nomeá-lo, sorri e me despedi, trazendo-o de volta para a esfera. Com tudo pronto, fiz finalmente as alterações, depositando Délia, a Skitty, e Mothkin. Por fim, retirei Numel, já fazendo-a sair da Pokébola — Bem-vinda menina! Você é incrível hein! — Ri ao abaixar e fazer um carinho com a ponta dos dedos no seu "topete" entre as orelhas. — Eu vou lhe chamá-la de Melany, ok? Mas não estranhe se de vez em quando chamá-la de Mel, é apenas um apelido. Creio que seremos bons amigos! Em breve lhe apresento o resto da equipe, apesar de já terem até se enfrentado— Finalizei, sorrindo e me levantando, pois Ben já se aproximava de mim para conversar.

Fiquei de frente para o rapaz que chegava segurando uma Pokéball que, segundo sua explicação, continha Dwebble. Eu realmente havia pedido para levar o Pokémon comigo, já que a criaturinha havia criado um certo laço com Yuri na nossa tentativa de captura. Quanto mais companhia Pokémon o garoto tivesse, mais próximo de se tornar um treinador ele estaria. Felizmente Ben concordava em que eu seguisse viagem com a criaturinha e me pedia para prometer que cuidaria bem dele. — Mais um companheiro de Unova! Certamente cuidarei muito bem dele Ben, eu prometo! Ele e Shelmet eram tão próximos... Acredito que vão ficar felizes de seguir viagem juntos! — Expliquei, finalizando a conversa com um bocejo. —Agora vou subir até o quarto e ver o que as crianças estão aprontando, depois tomar um banho e apagar. Amanhã será um dia longo e desafiador. Esteja preparado Ben! Durma bem também! — Me despedi do garoto, apertando sua mão e finalmente subindo para o quarto onde cuidaria da minha higiene e finalmente do meu sono.