003 - Companhia Inesperada: Um Novo Norte!

O caminho que havia escolhido era de longe o mais difícil que eu já havia seguido na vida. Não sou uma espécie de atleta, ou alguém que gosta de exercícios físicos. O mais próximo de uma atividade saudável na minha vida eram definitivamente as máquinas de Pump It Up, que haviam ficado na longínqua Nimbasa, Tirando isso, eu só costumo exercitar os dedos nos fliperamas mesmo e agora nem isso. Digamos que apenas leves caminhadas e fortes emoções de vez em quando... Mas enfim! Eu precisava trilhar essa subida se eu quisesse realmente realizar essa meta auto-imposta de capturar um Pokémon de fogo e foi pensando nessa conclusão que passei a escalar (ou tentar escalar) os rochedos que me dariam acesso a uma região mais plana, porém mais alta.

Enquanto eu dava tudo de mim para conseguir escalar aquele pequeno percurso, Meo-Mey percorria a mesma distância em poucos segundos, fazendo parecer que aquilo ali era muito fácil... Apesar de estar acostumado com essas acrobacias da Meowth, desde que escalava minha casa em Verdanturf, não conseguia evitar me preocupar em imaginar ela caindo e eu não podendo fazer nada para ajudar. Felizmente ela era muito melhor do que minhas expectativas podiam prever e quando notei que já estava em segurança no destino final, tratei de dar um gás e comecei a escalar. As pedras, pela proximidade com o vulcão, eram muito quentes e a cada nova subida parecia que deixaria um pedaço de pele das palmas por ali. Felizmente essa dor me dava mais impulso e vontade de chegar logo onde queria e foi com esse pensamento que eu finalmente joguei meu corpo para a parte plana, usando agora só as pernas para finalmente subir.

Mey me recebeu com um sorriso que só eu conseguia decifrar, usando suas garras retráteis para cortar o ar em um sinal de aprovação. Retribuí o sorriso para a Meowth e fiz um sinal de positivo, acabando por deixar em evidência as bolhas formadas nas mãos. A Pokémon parecia sentida pela minha dor, pois logo tratou de subir em mim e lamber minhas mãos, num belo ato de carinho... — Não se preocupe... Vai ficar bem logo. Mas primeiro, vamos achar esse Pokémon, depois teremos muito tempo para nos cuidar!  — Comentei, alisando o seu pescoço com as costas do dedo, do jeito que ela gostava, até que ronronasse de alegria. — Em frente, Mey!

Após minha frase, a Meowth confirmou o entendimento com a cabeça e desceu do meu ombro, caminhando em estado de alerta alguns passos a frente. O percurso que deveríamos fazer agora era uma espécie de trilha comum de rotas, mas com etapas um pouco íngremes. Em uma destas, após subirmos lentamente, a figura de uma árvore bem exótica começava a surgir do "horizonte". Haviam vários pontos a serem destacados em sua anatomia, mas o que mais impressionava era coloração de suas folhas. Por alguns segundos eu realmente havia pensado ter descoberto uma espécie vegetal nova, mas quando entendi o que havia, um estalo se fez em minha cabeça — Mas é... fogo? Sim... FOGO! Mey, fique atenta, tem algum Pokémon de fogo por perto, só pode ser isso...  — Alertei a Meowth, enquanto também assumia uma postura e atitude de maior foco e observação.

— Como você tem passos mais leves, acho melhor se misturar ao ambiente e ficar de olho se algum Pokémon vai surgir...  — Comecei a sussurrar para Mey, enquanto me aproximava dela cautelosamente, abaixando. Tentava dizer ao pé do ouvido da Meowth para não alertar nossa "presa". Os passos silenciosos da felina certamente não atrairiam a atenção do Pokémon de fogo, se ele estivesse ali. Enquanto isso, eu mesmo serviria de isca, fazendo mais barulho e fingindo que estou ali atrás de algo na árvore. — Preste atenção Mey, é bem importante. Assim que avistar o Pokémon e ele se aproximar de mim, quero que o surpreenda com um golpe Fake Out, bem na testa! Assim ele vai ficar desorientado e poderemos finalizar com isso da melhor forma. Ok?  — Terminei de me explicar com a Meowth e deixe que ela seguisse o plano. Enquanto isso, aproximei-me da árvore em chamas, como se estivesse procurando algo entre suas folhas? Algum fruto carbonizado ou um bom para salvar? Talvez... Mas meus olhos buscavam mesmo a presença de alguma criatura por perto. O que será que acharíamos ali?

Havia traçado uma boa estratégia para surpreender o suposto Pokémon de fogo, pedindo que Mey o perseguisse, enquanto eu serviria de isca. Entretanto, ao caminhar para mais próximo daquela árvore em chamas, acabei sendo eu o surpreendido. Não havia qualquer Pokémon por ali, o que já estava se tornando uma constante em minha vida. Porém, havia algo quase tão interessante. No meio de todo o fogo ainda haviam duas frutas isoladas, possivelmente as únicas que haviam resisto às chamas e que também pegariam fogo se eu não agisse rápido — O que não fazemos por recursos, não é mesmo?  — E indo contra qualquer ideia que fizesse sentido, enfiei a mão dentro da copa da árvore, no meio das chamas e do intenso calor para pegar as duas frutas, abraçando-as junto ao corpo, enquanto as segurava com a blusa. Elas estavam quentes e já começavam a se desidratar. Uma delas tinha até mesmo umas queimaduras laterais que deixariam o sabor certamente amargo, mas na melhor das hipóteses não destruiriam o seu valor nutricional.

Ei não sabia realmente do que se tratavam aquelas frutas, mas considerando que não eram nenhuma das berries com as quais estão acostumado, deveria ter um bom valor de mercado ou efeito positivo para meus Pokémon. Certamente eu não iria dar elas para algum dos meus companheiros sem antes saber do que realmente se tratavam, afinal poderiam ser venenosas, mas guardaria com carinho dentro da bolsa para investigar melhor depois quando tivesse alguma oportunidade. Afastei-me mais da árvore para evitar o calor que fazia minha pele arder e usei as duas mãos para limpar o suor, quando ouvi um miado de alerta vindo de Meo-Mey. A Meowth devia ter achado algum Pokémon e era isso mesmo que eu queria.

Apressei-me na direção do som e encontrei Mey no chão, escavando um pouco a terra seca e escura com suas unhas. Ali havia algumas pegadas que não me davam informação concreta sobre seu dono, mas que era uma das únicas boas pistas que havia encontrado desde que fiquei sozinho — Muito bom, Mey! Acho que agora estamos na cola desse fujão. Ele deve ser de fogo ou pedra ou terra, mas é tão escorregadio que poderia ser do tipo sabão.  — Comentei de forma ofegante, sentindo os efeitos mais pesados do calor do vulcão sobre mim. Apoiei as mãos no joelho, abaixando um pouco a cabeça e respirei fundo. Assim que levantei novamente, fiquei com os olhos fechados por um tempo, até me sentir bem para seguir — Ok, eu estou bem, mas não podemos ficar mais muito tempo aqui. Vamos seguir essas pegadas e ver onde dá. Estou confiante de que vamos achar o que procuramos!  — E fazendo exatamente como disse, segui as pegadas ao lado de Mey, estando sempre atento com qualquer movimentação suspeita por perto.

Assim que notamos as pegadas de um suposto Pokémon, começamos uma caminhada cautelosa atrás dele. Como o clima era difícil, sendo seco e quente demais, as pegadas secavam-se rapidamente e ficava difícil prever a quanto tempo tinham sido feitas. Não que eu fosse um especialista em rastrear Pokémon, mas certamente entendia o básico e conseguia não passar tanta vergonha em momentos assim. Mas enfim... No início desse trajeto as coisas pareciam fáceis, porém depois de algum tempo o terreno foi ficando igual ao anterior, com muito mais rochas em uma descida íngreme. Hesitei um pouco em descer, pois minhas mãos estavam reclamando em uma constante pulsação de dor. Observando dali de cima não havia qualquer sinal de Pokémon por perto, principalmente pela presença de muitos gases e fumos que são exalados do vulcão. Não haveria jeito... Eu teria que descer para ver o que encontrava.

— É isso aí, Mey. Prometo que em breve vamos poder dormir muito no Centro Pokémon, mas agora... Um novo trabalho... — E com cuidado, fui pondo pé por pé entre rochas e buracos mais estreitos. Inicialmente devagar e depois com mais velocidade e dinamismo, para alcançarmos o nível mais baixo. Com certa tensão nos meus movimentos e uma sensação de que cairia de cara a qualquer momento, alcancei uma rocha maior e plana, no meio do caminho até o "fundo" daquele breve precipício. Agora sem tanta fumaça ao meu redor era possível ver o que tinha que descer ainda e mais! Também conseguia ver uma criatura amarelada, com uma corcunda verde. Sem sombra de dúvidas era um Pokémon, mas seria do tipo que eu tanto procurava? — É um Pokémon bastante... lento... Bem. Vamos descer com calma um pouco mais que eu preciso descobrir mais sobre ele — Comentei com a Meowth, enquanto pegava minha Pokédex e descia mais alguns metros, apontando a câmera do aparelho para ele.

"Beep! Numel! Pokémon Dormente! Numel é extremamente lerdo - Ele nem ao menos nota quando é golpeado! Muito embora, ele não consiga passar fome por nem ao menos um segundo! O corpo desse Pokémon, principalmente a corcunda, é como um borbulhante caldeirão estocando magma fervente a aproximadamente 1200 ºC. Quando este Pokémon é molhado, a lava que compõe o seu corpo endurece e ele se torna extremamente pesado e ainda mais lento que o normal. Ele é bastante forte, podendo carregar uma carga de até 100 quilos e por isso, tem servido a humanos em trabalhos pesados por muitos anos. Quando usa golpes de fogo, o tamanho de suas costas acaba sendo reduzido pelo uso da lava que o preenche. Beep! Boop!"

— Que demais Mey! É exatamente o que procurávamos! Precisamos alcançá-lo quando ele chegar numa área mais... plana. Não é mesmo? — Dizia para a Meowth, com um sorriso de canto a canto do meu rosto. Olhei ao redor e notei onde chegaríamos se continuássemos descendo. Era melhor estar num lugar mais estável quando lutássemos, até porque não conseguiria ter mobilidade para desviar de baforadas de fogo me equilibrando em rochas tão irregulares. — Assim que estivermos em um lugar seguro e ele também, quero que o surpreenda com um golpe Fake Out. Que nem faríamos antes. Não acho que teremos problemas com isso, afinal ele é lerdo. Mas todo cuidado é pouco, não é mesmo? — E enquanto falava, terminava o percurso da melhor foram possível para evitar acidentes. Quando fosse possível, executaríamos o plano.

Depois de descermos uma grande distância nesse terreno pedregoso, notei que não teríamos um espaço plano tão cedo nesse cenário devastador. Respirei fundo, sem saber o que fazer para evitar acidentes e conseguir batalhar, quando acabei escorregando um pouco sobre a rocha em que eu estava, derrubando algumas pedrinhas e poeira precipício abaixo e acertando o tal Numel. Pensei que ele acabaria fugindo, mas parece que a descrição da Pokédex era bastante acurada, pois ele demonstrou nem ter sentido. Menos mal...

— O que vamos fazer Mey? Não acredito que um Pokémon tão lento vai escapar da gente sem nem uma chance de batalha... — Resmunguei com a Meowth, que simplesmente deu de ombros por não ter uma solução. Enquanto eu conversava com Meo-Mey entretanto, o Pokémon de fogo simplesmente havia desaparecido de nossa vista. não havia nem como ele passar despercebido por ter uma cor tão diferente do cenário monocolor. Também não havia mais fumos e poeira que tirasse nossa visão. — Por favor, Mey! Procure-o, é nossa última chance! Eu estou logo atrás de você...

A Meowth disparou na frente, olhando em cada reentrância das rochas, procurando qualquer mínimo sinal do nosso alvo. Segui ela por ali, saltando de pedras em pedras, sem nem pensar no que aconteceria comigo. De repente, Mey também sumiu enquanto eu tentava me equilibrar e o desespero bateu. Continuei seguindo em frente, até ouvir um miado atrás de mim. Ao virar-me, notei que a Meowth estava dentro de uma caverna semi-oculta e parecia ter encontrado nosso Pokémon de fogo. Assim que a segui, notei que o ambiente era plano e perfeito para batalha. Então esse era um momento decisivo — Agora sim Meo-Mey, pela terceira vez, FAKE OUT! E em seguida um FURY SWIPES! Vai com tudo!

Quando estava dando os comandos para Meo-Mey iniciar a batalha, fui surpreendido pela forma que a Meowth já executava o movimento ordenado quase que simultaneamente. Depois de ouvir tantas vezes a minha ordem de ataque, era esperado que ela já estivesse "adestrada" a fazer isso assim que encontrasse nosso alvo. De qualquer modo, a execução do golpe foi perfeita, acertando com tudo a testa da criaturinha. Numel não esboçou muita reação além de fazer uma cara de incômodo, hesitando em realizar qualquer outro movimento. Já Mey, não perdeu tempo e uniu o primeiro golpe ao segundo, atacando-o com uma boa sequência de golpes com as unhas afiadas — Ele vai cair antes mesmo de entender o que aconteceu! Vamos continuar Meo-Mey! — Comentei com a felina.

Eu realmente achei que o Pokémon de fogo não faria absolutamente nada nessa rodada. Ao menos era o que a cara tão inexpressiva dele dizia. Contudo, assim que Meowth parou de frente para Numel ele reagiu de uma forma inesperada, abrindo bem a boca e bocejando na frente do rosto de Mey, que acabou contagiada pela ação, bocejando também. Até eu mesmo acabei bocejando. Algo natural nessas situações. Inicialmente nada parecia ter acontecido, talvez fosse apenas tédio do Pokémon diante da batalha. Porém, após alguns instantes, pude notar que a felina estava com os olhos mais pesados e tendendo a fechar. Seria cansaço ou algo mais? — Não vamos abaixar a guarda! Mey, quero que use dois golpes FURY SWIPES! — Comandei Meowth com mais alguns movimentos.

Nesse instante, passaram pela minha cabeça muitas dúvidas sobre o que aconteceria com essa sonolência da felina. Se ela apagasse de repente poderia ser a ocasião perfeita para Numel escapar e eu não poderia me dar a esse luxo. Peguei então uma Pokébola dentro de minha bolsa e segurei em mãos, pensando se valeria a pena lançá-la. Por fim, escolhi que a melhor opção era trazer reforços e por isso lancei a cápsula em campo — Lira! Vamos fazer a mesma jogada de antes. Distraia o Pokémon de fogo e se por acaso Mey dormir, acerte-a com sua cauda usando SPLASH para tentar acordá-la — Ordenei à Magikarp, esperando que o melhor acontecesse com as duas. Principalmente com a Carpa, que já não estava nada bem.