003 - Companhia Inesperada: Um Novo Norte!

O clima na caverna havia mudado repentinamente de alegria pelas capturas, para luto pelos Pokémon levados. Yuri e Luci estavam bastante impactados, além de super tensos e conversavam entre si um pouco afastados. Já Ben, mais próximo de mim, parecia que iria explodir a qualquer momento, não de tristeza, mas sim de uma extrema raiva, que poderia incendiar toda a Rota 111. De algum modo esse ódio não era direcionado apenas a quem fazia tão mal àqueles Pokémon, mas ao próprio rapaz que culpava-se por isso — Não, não se culpe! Você fez mais do que podia para ajudar esses Pokémon, mas é difícil, não é fácil protegê-los sozinho de uma família como essa aí, eles tem recursos que você não tem. Mas agora você tem amigos de verdade e isso é a coisa mais forte que você pode ter! Nós vamos resolver isso de uma vez por todas!

Ben, ao me ouvir, começou a revelar mais algumas informações sobre esses tais Taillfeller, o que me fez pensar pela primeira vez em como ele sabia tanto sobre tudo isso. Seria ele um dos trabalhadores da família que se sentiu tocado pela maldade cometida e resolveu fazer alguma coisa para mudar toda essa situação? De qualquer modo qualquer informação era bem-vinda e essa última era sensacional para resolvermos o caso. Ao que parece, o Koffing que nos deixou às cegas pertence a um dos capangas dessa família. Uma vez sabendo disso, era de se esperar que ele estivesse indo o mais rápido possível de volta para a casa dos Taillfeller, e segundo Ben a residência deles ficava em Lavardige. Era bem provável que se o capanga conseguisse chegar ao seu destino, ficaria muito difícil impedir os planos do taxidermista, então precisávamos fazer algo ainda na Rota 111.

Luci e Yuri ouviram as palavras de Ben e tinham chegado a mesma conclusão que eu. Luci ainda por cima parecia mais motivada do que nunca, afirmando que deveríamos sim ir atrás deles, pois já teríamos que seguir mesmo até a cidade próxima ao vulcão. Seria unir o útil ao extremamente agradável e justo. — Está decidido então, vamos cercá-lo antes que chegue a Lavardige! Ninguém vai tirar esses Pokémon dessa Rota ou não me chamo Luch! Vamos! Não temos tempo a perder! — Comentei, como uma afirmação e confirmação a tudo que foi dito. Recolhi todos os meus Pokémon para dentro das suas respectivas cápsulas e comecei a seguir Ben, enquanto esperava que os Macchiato nos seguisse também.

Acreditava que ainda era muito cedo para tirar conclusões sobre o envolvimento de Ben com os Taillfeller no passado, mas que isso era algo bastante provável  algum contato mais próximo a esta família, Ah isso é! Enfim... Quando houvesse um bom momento para tal, eu certamente perguntaria ao próprio rapaz sobre isso, ao invés de especular. Mas independente da relação de Ben com a família ou o tal taxidermista, o que importava agora era salvar os Pokémon de Unova que haviam sido levados e certamente acharíamos os sequestradores se procurássemos por Koffing. Sendo assim, seguimos o rapaz pelo caminho indicado, torcendo pelo melhor. Em certo ponto, tomamos uma bifurcação, escolhendo o caminho da esquerda... Como tudo ali naquela rota parecia muito igual para mim, resolvi perguntar se estávamos indo pelo lado certo mesmo.

— Então é por aqui que vamos para Lavaridge? Eu juro que teria me perdido se você não estivesse aqui... — Comentei para o garoto, enquanto tentava decifrar aquele caminho e notar algo de diferente na paisagem, caso eu precise em algum momento vir por aqui completamente sozinho. Respondendo a minha pergunta, o garoto indicou que realmente estávamos seguindo para a cidade vulcânica, mas antes precisávamos entrar na Rota 112, que era a melhor estrada para ir até Lavaridge. — Entendi! Ben... Eu não vejo a hora de resolvermos isso e podermos ir em paz para essa cidade de Lavardige. Eu realmente estou interessado em um Pokémon de fogo e vou tentar conseguir um no caminho até lá... — Fui desabafando com Ben conforme prosseguíamos pelo caminho.

Assim que nos aprofundamos pelo local decidido por Ben, nos demos de cara com Koffing e mais dois Pokémon, fazendo a escolta de dois rapazes, que carregavam duas pesadas gaiolas. Esperava que eles fossem os sequestradores que estávamos atrás, então adiantei-me em tentar traçar um plano, antes mesmo de interceptá-los — Ok, parecem eles! Não podemos dar as caras tão de repente assim ou ele nos veriam de longe, precisamos nos dissipar e disfarçar! Ou eles podem fazer mal às criaturas, de fato. Que tal Luci e eu usarmos nossos Pokémon de Unova para atrair a atenção deles, então é só nossos demais Pokémon surgirem e atacarem os treinadores e seus Pokémon, colocando-os para dormir de preferência ou algo parecido.  — Expliquei, esperando uma decisão dos demais para agir.

Agora que havíamos encontrado eles não poderíamos perder tempo com qualquer mínimo errinho. Era necessário planejar muito bem cada uma de nossas ações antes de executá-las, pois um erro poderia ser o último para os Pokémon sequestrados. Sendo assim, paramos de uma distância razoável apenas para observá-los e traçar uma estratégia. Antes de discutir sobre isso, entretanto, conversamos um pouco entre nós e nos preparamos para debater algumas estratégias. Quem veio primeiro a mim foi Yuri... O garoto se sentia extremamente culpado pela forma que Dwebble havia sido levado de sua companhia e não parecia conseguir conviver com isso. Seria interessante que eu o acalmasse antes de tudo!

— Pare! Não... Você não tem culpa de nada Yuri... Eles são os capangas do verdadeiro vilão. O cara que quer essas criaturas custe o que custar. Até mesmo vidas. Você só o defendeu, o verdadeiro erro está no motivo de você ter tentado defender ele. Ok? — Comentei para o garoto, mexendo em seu cabelo e esboçando um sorriso logo em seguida, como eu acho que um irmão mais velho faria... Como ele só possuía uma irmã, acreditava que ser uma figura mais velha masculina era de grande ajuda para complementar a formação do menino, então tentava ser bem presente nesse sentido — Chega mais todo mundo, vamos discutir sobre isso agora... Alguma ideia? — Perguntei aos demais, esperando que alguém se solicitasse a começar.

Quem começou expondo sua opinião foi o próprio Ben. Ele sugeriu que nos dividissemos em dois grupos. Um ficaria responsável por agir de "isca" junto dos outros insetos de Unova e os demais escalariam os rochedos que ladeavam a incursão entre rotas para cercar os adversários mais a frente. Um plano ousado, mas efetivo se desse certo. Restava agora saber quem faria tal coisa, um passo importantíssimo — Excelente Ben! Eu acho realmente que vai dar certo... Acredito que você e Luci poderiam ficar distraindo eles. Deixaria Shelmet com vocês por enquanto... Então Yuri e eu cercaríamos eles e eu poderia usar todos meus Pokés contra os capangas de lá... Se não houve problema para você, claro. — Comentava para todos, mas me dirigindo mais a Ben, que havia dado o plano.

Assim que o rapaz me respondesse, entregaria a Pokébola de Shelmet para Luci e seguiria com Yuri pelo caminho mais difícil visando contornar a passagem e surpreender os sequestradores. Apesar de ser arriscado levar Yuri comigo, acredito que ele ficará melhor ao meu lado, caso algo dê errado e o menino acabe surtando com culpa e medo. De qualquer forma confiava nele, assim como na capacidade de Luci em cuidar bem de Shelmet e também de si, além de Ben que agia a nosso favor. Restava agora aguardar as execuções de todos nossos planos. Entretanto, eu começaria imediatamente a por em prática meu lado de tudo isso, juntamente de Yuri.

Assim que iniciamos o plano era possível sentir a tensão no ar, tão densa que poderíamos cortar com um Slash... Como havíamos decidido anteriormente, Yuri e eu nos dirigimos até a encosta dos rochedos e começamos uma lenta e cautelosa escalada, enquanto Luci e Ben discutiam a melhor forma de chamar a atenção dos capangas e ganhar mais tempo para nós. Daqui, era possível ver quando Shelmet saiu da Pokébola e se juntava a Joltik para fazer sua parte no plano, assim como podíamos acompanhar a lenta caminhada dos funcionários dos Taillfeller, que não pareciam ter saído do lugar esse tempo todo.

Yuri demonstrava estar muito feliz em me acompanhar, o que realmente me alegrava, pois esse tempo que passava com os Macchiato estavam se mostrando uma fonte inesgotável e rica de aprendizado para a vida. Nós atravessamos quase toda a primeira metade do caminho, mas agora nos deparávamos com uma rocha alta e escorregadia, que certamente seria um empecilho perigoso à missão. Uma das opções era eu servir de suporte para Yuri subir, depois eu tentaria também escalar por conta própria. Era uma opção arriscadíssima, ainda mais por estarmos tentando passar despercebidos. De certo modo eu havia congelado ali em dúvidas, sem ir para lugar algum e nem tomar uma decisão, mas foi o jovem Macchiato que me fez despertar, apontando uma segunda opção.

O menino havia encontrado uma caverna meio escondida que adentrava o rochedo. Não havia forma alguma de saber aonde ela daria e se daria em algum lugar de fato. Era tão perigoso entrar ali quanto tentar escalar, mas a diferença é que ali dentro não nos veriam a distância e isso protegeria o plano. Escolhas eram sempre complicadas e novamente a decisão estava nas minhas mãos... Foi então que tive um estalo e compreendi, por que eu precisaria escolher se podia fazer as duas coisas?  — Vamos sim pela caverna, mas precisamos de alguém aqui fora para nos guiar... Então... Meo-Mey, venha! — Chamei a Meowth para fora de sua cápsula, fazendo-a surgir sobre uma das rochas mais planas do rochedo. — Mey, quero que suba naquela rocha e fique bem atenta, vamos fazer barulho da caverna e quando fizermos, você dá algumas arranhadas na rocha e vai descendo o rochedo mais um pouco, vamos fazer isso até estarmos todos lá embaixo, ok? — Pedi para Mey, esperando que ela entendesse e me ajudasse com isso.

Definida a continuidade do plano, descemos pela gruta, mas ainda antes dei uma última conferida nos capangas e nos Pokémon de Unova. Torcia para que tivesse tempo suficiente de explorar a caverna e sair do outro lado na hora certa de libertar Dwebble e Venipede. Sabia que se algo acontecesse, Ben e Luci certamente pensariam em alguma forma de ganhar tempo, mas jamais me perdoaria se algo acontecesse com eles por minha causa ou simplesmente por uma decisão mal pensada — Então, é isso... Vamos Yuri, precisamos correr. Cuidado por onde anda! Vamos em frente o mais rápido possível para descermos... — Comentei com o jovem, finalmente avançando pela caverna.

Surpreendentemente a minha estratégia havia dado muito certo. Eu tinha apostado alto ali, mas o destino resolveu me dar esta "colher de chá". Yuri e eu seguimos por todo o trajeto escuro nos comunicando com Meo-Mey através de batidas e sons não tão fortes. Ao que parecia, Meowth servia muito bem como guia pois não foi nada muito desafiante chegar até a saída. Já estávamos avistando o final da caverna em poucos minutos de caminhada e só não atravessamos porque a felina começou a emitir alguns sons diferenciados que só poderiam significar perigo. Imediatamente temi pela integridade de Mey, mas resolvi dar um voto de confiança nela. Aquela criaturinha não seria pega tão fácil...

Aproximei-me cautelosamente da saída fortemente iluminada após os miados cessarem e o que pude ouvir foram os capangas bem próximos, falando em alto e bom som entre si. Quem começou a conversar foi o capanga homem. Ele se dirigia a possível parceira, Jéssica, pedindo que ela se resolvesse com os novos Pokémon exóticos que apareceram, possivelmente Joltik e Shelmet, enquanto ele levava os outros dois até o chefe deles, indo na frente. Uma tática interessante, pois se tudo desse errado atrás dele, ainda assim teria sucesso na sua missão. Pensando nisso, eu desenhei bem claro em minha mente o que eu deveria fazer... Bastava por o plano em prática.

— Yuri, precisamos impedir esses capangas, mas eles vão se separar. Como só nós sabemos disso, teremos que deixar Ben e Luci cuidando dessa tal Jéssica enquanto perseguimos o outro para salvar Venipede e Dwebble. Tudo bem? Se você quiser ficar aqui com Mey e ajudar os outros eu entenderei, mas caso prefira continuar comigo, será ótimo! — Comentei para o jovem Macchiato, já me levantando e bisbilhotando o lado de fora da caverna. Precisava passar despercebido pela tal Jéssica e ir atrás do outro. Para não ser visto eu não podia chamar Mey de volta... Contaria com o destino novamente, se ela notasse o que estava rolando, me seguiria com certeza, caso contrário poderia ficar e dar cobertura para Ben e Lira — É agora, vamos! — Disse para Yuri, andando abaixado por trás de algumas rochas para seguir o capanga que se afastava.