Hell Kaiser
A mulher afrente de Johan caminhava demasiada rápido, mas numa velocidade que ele mesmo conseguia acompanhar sem muitas dificuldades. Continuava andando, enquanto Johan se concentrava no caminho, atento às ruas, prestando atenção ao seu campo de visão, a procura de alguém que pudesse estar observando-os. Era importante, afinal, nunca se sabia se poderia haver algum sentinela ou espião andando por algum beco, espiando por alguma janela... Johan estava mais do que distraído com sua tarefa atual, a ponto de deixar que suas reais perturbações que vinham a mente realmente o deixassem de lado, por um tempo ou até que ele conseguisse pensar em algo para mudar as perguntas. Afinal, haveria de ser realmente aquilo que parecia ser? Era curioso como o treinador parecia se comportar. Continuava caminhando, calado, junto das tortuosas estradas do que chamam de "vida", e, mesmo que sua mente estivesse em cacos sujos e imundos, sem transparência alguma, ainda assim não parecia se preocupar de forma alguma com sua mente ou com o que quer que viesse. Convicto e confiante de si mesmo, não havia problema algum em ter uma cabeça totalmente desequilibrada e continuar agindo normalmente, em meio às pessoas, como se nada acontecesse.
A concentração e o foco de Johan em relação aos seus afazeres — no que se diz, caminhar — foi interrompida pela conversa fiada de sua cliente acompanhante. Começou a falar alguma ladainha moralista, alguma análise contundente e desinteressante sobre o treinador. Ele mesmo não se importava muito com o que quer que viesse a falar sobre ele, ou o que quer que adivinhassem sobre sua vida, etc. e tudo mais. Mas não via sentido algum em uma ladainha para discorrer sobre o assunto, ainda mais com uma mulher que havia contratados os seus serviços, e ainda ali estava acompanhando. Johan pensava um pouco sobre como ela poderia lhe atrapalhar de alguma maneira, mas logo se desprendia de tais pensamentos. Ele conseguia se cuidar por si só, e não estava tão preocupado no sucesso ou fracasso de uma missão ou serviço naquele momento, reforçando esse sentimento dadas as circunstâncias atuais e os motivos pelo qual havia aceitado algum serviço quebra-galho. Queria continuar vivendo, encontrar alguma coisa que lhe fizesse sentido, e estava aberto pra isso. Não ligava nem um pouco para o dinheiro, mas já considerava pedir um aumento para a mulher que lhe dirigia a palavra. Aquela c-
— Você fala muito, não é, senhorita? Será que não pode fechar esse inferno e focar mais no que tem pra fazer? Está me acompanhando, mas veio pra me encher com essa baboseira vidente e qualquer merda? — Disse Johan, quando ela terminou com aquele falatório sobre ele mesmo — Achei que você quisesse resgatar seu filho ou coisa assim, senhorita, então faça sua parte que eu faço a minha.
Ela falou alguma coisa sobre seu nome. Maryanne, como a donzela se chamava. Belíssimo nome, belíssimo rosto, delicado andar... e parecia uma mulher forte, segura. Johan tinha opiniões sobre seus aspectos, mas achava que seria melhor se ela não tivesse uma língua. Tanta falação a troco de nada, uma interrupção de pensamentos. Não fazia diferença. O treinador já havia dado sua voz, e continuaria seguindo o que acreditasse ser o melhor. Não sabia se para si ou para outros, mas faria o que lhe desse na telha. Mas estava atento ao mundo à sua volta. Tão atento que parecia estar esquecendo do por que estava fazendo tudo aquilo, antes de se lembrar novamente. Só uma caminhada para aumentar as percepções.
Estavam agora soltos por aquele porto de Slateport. Os vários navios se espalhavam pelo cais, descansando. Contêineres, mercadorias e o nada preenchiam os deques dos navios. A questão, agora, era por onde eles dois deveriam começar. Maryanne deu uma informação à Johan, que não parecia muito útil, somente o suficiente para saberem o motivo de estarem ali. Ótimo, pensava Johan, agora só precisavam perder tempo. Essa p-
— Que bom que pelo menos sabe onde é. Mas não vamos perder muito tempo procurando por nós mesmos. — Diria Johan, pegando a Poké Ball tradicional que carregava, portando Gastly, libera-lo-ia logo em seguida — Gastly, estamos em serviço. Por favor, verifique quantos navios e o quanto puder por focos de gangues, atividades ilícitas atuais, pessoas montando guarda ou mesmo, e mais importante, por algum moleque encarcerado ou que não devesse estar em algum lugar. Faça isso o mais rápido possível, o quanto antes, e retorne para cá assim que houver achado alguma pista ou algo que devia checar. Vou dar um prazo, não faça movimentos desnecessários.
Johan daria instruções para Gastly sobre o que deveria ser feito para que conseguisse encontrar e resgatar o filho daquela cliente. A intangibilidade, leveza e velocidade de Gastly o tornavam um Pokémon sorrateiro, e devido a sua natureza observadora, certamente conseguiria encontrar alguma pista do alvo em questão de pouco tempo. O inteligente Pokémon era mais eficiente em buscar o que queriam do que se os dois tentasse procurar algo por si próprios. Além de correrem mais risco de entrarem em emboscadas e confundirem navios e locais, perderiam muito tempo checando navio por navio. Gastly, por outro lado, dispunha de um corpo etéreo, discreto, intangível, e dada as circunstâncias, camuflado pela noite. Poderia fazer uma observação geral do local e reportar para Johan assim que conseguisse alguma coisa. E o treinador, confiante em seu Pokémon, acreditava que ele era o melhor para exercer uma tarefa tão meticulosa e importante. Aguardaria algum tempo pelo retorno de seu Pokémon, e tomaria as próximas decisões baseadas em suas informações. Era essa a ideia que havia dito para contornar a situação naquele momento. Prática, rápida, e sem muitos riscos. Não haveria outro motivo para não adotá-la, a menos que fosse interrompido por algum v-
— E então, Marie, prefere que eu faça a parte técnica e depois me você me ajuda como pode ou tem algum truque na manga? — Dirigiria a palavra para sua acompanhante, na esperança de que pudessem se comunicar melhor.
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