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001!

6:53pm

Com mais uma malfeitora incapacitada, era hora de encararem o desafio final. Julie observava Aiko terminar de borrifar os frascos medicinais e respirava fundo, inspirando e expirando lentamente, se preparando emocionalmente para o que estaria por vir.

— Bom, se já sabem que estamos aqui, por que não fazermos uma entrada triunfal? — Julie riu, tentando aliviar o nervosismo iminente que sentia.

Vaporeon e Charmeleon tomavam a frente novamente e com um único chute, a mulher escancarava a porta do estábulo. O local era enorme, com algumas divisórias para equinos enfeitando o lado esquerdo e direito do ambiente. Seu chão era de folhiço seco e o teto bem alto.  Ao norte, o inesperado: um homem alto, na casa dos vinte anos, loiro, de belíssima aparência e muito bem vestido as aguardava com um sorriso no rosto. Em sua frente, um Porygon e um Luxio fitavam as quatro figuras femininas. Os Pokémons pareciam mal cuidados e mal tratados, o Normal tinha algumas cicatrizes distribuídas por todo seu corpo artificial e o elétrico seus pelos eram ralos e foscos.

— Parece que chegaram na hora certa! — a voz grossa do homem se destacava — Deixe eu lhe mostrar o que vieram buscar.

O homem chegava para o lado e atrás estava Luke. De joelhos e amarrado com os braços para trás em uma tora de madeira, o corpo do garoto estava coberto de sangue: seu rosto era completamente rubro, tanto de pancadas quanto do próprio sangue que jorrava de seu nariz e saía por sua boca. O jovem parecia fraco, sua cabeça pendulava de um lado para o outro e o folhiço abaixo de suas pernas formava uma poça vermelha. Ao ver sua mãe e Aiko, surpreendentemente sorriu.

— Nã... — tentava tirar forças para falar — Não disse que... — cuspiu um pouco de sangue — Que nos veríamos de novo, gatinha? — sorriu novamente, tossindo logo em seguida — Oi, mãe. Desculpa.

Lágrimas imediatamente escorriam dos olhos de Julie, que sequer tentava disfarçar sua tristeza. Seu queixo tremia e sua mão direita agora estava posicionada acima de seu coração, apertando seu vestido contra a pele. Vaporeon olhava para sua treinadora em preocupação, já que até agora nenhuma palavra havia saído de sua expressiva boca. Talvez estivesse em choque?

— Pelo visto você é a mamãe dele, certo? — o homem debochava, andando de um lado para o outro — Devo dizer que seu filho aguentou bastante, hein? — se aproximou de Luke, pegando-o pelo cabelo — Para um mauricinho, esperava que ele fosse falar seu número nos primeiros cinco minutos de tortura, né? — desferiu mais um soco no rapaz, que por sua vez cuspiu o sangue de sua boca nas vestes do homem — E ainda é abusado...

Vaporeon deu um único passo para a frente, mas fora repreendida por Luxio, que rosnou assim que ela se movimentou. Todas as quatro estavam impedidas de passarem ao menos que derrotassem os dois Pokémons ali presentes. Porygon olhava firme para frente, às vezes olhando para o que seu treinador fazia e ficava agoniado: seus pequeninos pés flutuantes balançavam mais rápido e sua expressão era triste, talvez não concordando com o que seu treinador fazia.

— Eu te juro. — Julie finalmente acordava do choque — Vou derrotar seus Pokémons muito rápido. — cerrou os punhos e mudou sua expressão de tristeza para o puro ódio — E então eu vou te matar com as minhas próprias mãos, seu filho da puta.

O homem parava o que estava fazendo com Luke e ria. Ajeitava seus cabelos loiros e caminhava de volta para onde estava inicialmente.

— Tá aí, gostei de vocês. E aparentemente possuem Pokémons fortes, explica como passaram tão facilmente por meus empregados.  — apontou para Aiko e Julie — Geralmente quando faço isso as pessoas só choram e se desesperam... Quem diria que nessa cidadezinha de merda teriam pessoas assim. — riu mais uma vez — Por gostar de vocês, nem vou machucá-las depois de roubá-las, podem ficar tranquilas! Faz tempo mesmo que não me divirto.  — ajeitou seu moletom folgado bege e sua calça skinny preta — Vamos começar! Porygon, duplo Psybeam em Charmeleon! Luxio, duplo Spark em Vaporeon!

001!

6:55pm

A batalha final para salvar Luke se iniciava. O rapaz mal conseguia permanecer acordado devido a quantidade de ferimentos, mas sinalizava com a cabeça para que focassem Porygon... Talvez o rapaz soubesse de algo que as mulheres não. Julie reparava nos sinais de seu filho e assim o fazia.

— Vaporeon, duplo Scald no Porygon, vamos! — Julie não tirava seu olhar furioso de cima do malfeitor — Você vai se arrepender tanto, garoto.

A primeira a agir era Charmeleon. Graças a sua evolução, Mandy agora era a mais rápida e isso era visível na forma que se deslocava em campo. A salamandra saltou quase na altura do teto do estábulo e abriu sua enorme boca: com grande velocidade, um grande bola de fogo arroxeada foi criada e enviada na direção de Luxio, que mal teve tempo de reação, sendo atingido em cheio pelo poderoso ataque do tipo dragão.  Em seguida, Vaporeon seguia: sem sequer mover um músculo, apenas lançou um poderoso jato de água escaldante em cima do Pokémon do tipo normal, que por sua vez parecia ficar... triste? Talvez as palavras de Aiko tenham tocado o coração de Porygon, que agora se perguntava se o que estava fazendo era correto.

Luxio seguia e enchia seu corpo de faíscas azuladas, que após um período de tempo eram desferidas na direção de Vaporeon, incomodando a canídea até o efeito elétrico do ataque passar. Por fim, era a vez de Porygon; mesmo em dúvida, lançava um poderoso raio psíquico rosa na direção de Mandy, mas acabava acertando o chão ao lado da salamandra... Será que errou de propósito? O Pokémon Programado — como a Pokédex o descreveu — talvez sentisse mais emoções que muitos seres humanos.

— Seu imprestável! — o ladrão chutou a cauda azulada do Pokémon, que por sua vez, só faltou chorar com o ataque de seu treinador, caindo de cara no chão — Você só me decepciona! É um inútil!

Mandy cerrava seu punho direito de raiva. Olhou para Aiko com seus olhos heterocromáticos cheios de água; para ela, como era possível alguém tratar assim seus Pokémons? Sendo que sempre fora amada e bem cuidada por sua fiel escudeira? A batalha agora não era somente pela vitória, mas também pelo bem estar desses monstrinhos adversários.

— Aiko... — Julie cochichou — Continue falando com eles, especialmente o Porygon — piscou — Vai ser mais fácil do que imaginamos.

Outro round se iniciava e Charmeleon repetia seu movimento anterior, atingindo Luxio com outro poderoso Dragon Rage. Vaporeon olhava imediatamente para Mandy e ambas consentiam com a cabeça. As duas davam dois passos para frente e começavam a falar em seu idioma Pokémon ininteligível.

— O que estão esperando? Ataquem! — o ladrão gritava, socando uma das pilastras de madeira do estábulo — Seus merdinhas, já que vão ouvir esses imbecis, não vou precisar de vocês pra porra nenhuma!

O belo malfeitor mais uma vez ia desferir um chute em Porygon, só que agora Luxio lançava uma descarga elétrica sobre seu treinador. Em choque, o homem se enfurecia e sacava duas de suas Pokéballs e as soltava no chão. Com os pés, pisava em ambas e as destruía: aparentemente, havia se livrado de Porygon e Luxio. O Pokémon Normal parecia devastado; o elétrico parecia não se importar muito, mas ligava para seu companheiro em tristeza. Talvez o fato não de perder aquele homem como treinador mas sim por ser abandonado que estava magoando o Pokémon programado.

Mandy sinalizou com as mãos para que os dois fossem para seu lado e assim os mesmos o fizeram: Luxio sinalizou com a cabeça uma vez e aos poucos ambos adversários se encaminharam para lá. Luxio parou ao lado de Vaporeon e Porygon ao lado de Charmeleon. Imediatamente os canídeos começaram a conversar e Mandy abraçou o Pokémon Normal com toda força que tinha dentro de si, tentando reconfortá-lo pelo abandono.

— Era só o que faltava mesmo! — o homem gargalhava já com uma expressão alucinada em seu rosto — Esse aqui eu sei que não vai virar as costas pra mim e vai derrotar cada um de vocês! — sacou uma Ultra Ball e lançou-a em campo, liberando uma enorme árvore fantasma com coloração diferente da comum — Trevenant, Shadow Claw em Vaporeon e Charmeleon!

Julie rapidamente cochichava mais uma vez:

— Aiko, você comanda o Porygon e eu o Luxio, ok? — apontou para frente — Vaporeon, duplo Ice Beam! Luxio, duplo Spark!

A batalha se tornava 4x1, mas o novo Pokémon do espancador parecia extremamente forte. O que fazer?

001!

6:56pm

A determinação dos Pokémons abandonados parecia de ferro. Mesmo cansados dos golpes que sofreram dos agora companheiros de batalha, Porygon e Luxio faziam o máximo para se manterem de pé e lutarem contra seu antigo treinador.

— Era melhor ter continuado só vocês duas, esses dois — se referia a ambos — São lixos. Péssimos. Inúteis.

Porygon parecia sentir todas as palavras que o jovem desferia, correndo para trás de Aiko e se retirando da batalha extremamente triste. Ao ver o Pokémon se retirar, Luxio rosnava sem parar para o malfeitor, indicando que o faria sofrer pelas palavras que dissera. Vaporeon tentava acalmar o felídeo, porém sem muito sucesso.

A primeira rodada do desafio final começava, Mandy, por ser mais rápida, continuava estática com seus pulsos fechados e lançava uma forte chama na direção da árvore, que era atingida em cheio pelo ataque super-efetivo. Vaporeon seguia, fazendo o mesmo que sua companheira, só que lançando um raio de gelo também super-efetivo. Trevenant parecia receber os ataques com tranquilidade, mesmo disfarçando um incômodo, principalmente após o ataque da aquática.

Luxio seguia as ordens de Julie e lançava uma forte descarga elétrica no adversário, que por sua vez mal esperava receber o golpe para se movimentar rapidamente e atingir um crítico Shadow Claw em Vaporeon, que com o impacto do ataque, era arremessada contra a parede do estábulo.

— Desgraçado... — Julie falava enquanto fitava sua Pokémon se levantar com dificuldade — Vamos, Vaporeon! Precisamos vencer isso!

A canídea voltava para o mesmo lugar e Mandy corria para checar como sua amiga estava. Vaporeon reclamava um pouco, mas nada demais, balançando sua cabeça algumas vezes para voltar a focar na batalha. Charmeleon imediatamente se virava e lançava mais uma forte chama no fantasma, que começava a sentir o impacto de estar em uma batalha de três contra um. Vaporeon, mesmo com dificuldades, conjurava outro Ice Beam, atingindo em cheio o rosto da árvore, que ficava um pouco desnorteada com a sequência de ataques. Luxio terminava com mais um Spark, que, por pura sorte, paralisou o oponente. Trevenant, mesmo em maus lençóis, conseguia desferir outra garra fantasma, só que dessa vez atingindo Mandy, que também fora arremessada na direção da parede, mas assim que seu corpo entraria em contato com a superfície, a salamandra se ajeitava mid-air e amortecia o impacto com os pés.

— Essa... — Luke tentava falar aos pouco — Essa Charmander cresceu rápido... — riu enquanto tossia sangue — Imagina levar um arranhão agora. — respirou fundo, fazendo força para olhar para as quatro figuras femininas — Boa, garota!

001!

6:58pm

A batalha estava cada mais eletrizante e mesmo com Porygon agora extremamente magoado e deixando de batalhar, três contra um ainda parecia uma boa vantagem. A exaustão do fantasma adversário era evidente, com suas folhas alaranjadas dos braços já caindo aos poucos e desaparecendo antes mesmo de tocarem o chão, afinal, se tratava de uma árvore mágica.

Ao assistir seu Pokémon já em seu máximo, o malfeitor começava a se desesperar. Seus pés batiam no chão com impaciência e seus punhos estavam cerrados de raiva. Era possível vê-lo já olhando em volta procurando um local para escapar daquela situação após a derrota iminente. E não deu outra: Mandy começava a rodada com mais uma poderosa brasa de fogo, que crítica, derrotou de vez Trevenant.

— Cadelas! — o homem proferiu um único xingamento e retornou seu fantasma para a esfera metálica, na mesma velocidade sacando outra e arremessando-a para o alto — Se acham que isso será suficiente para me pegar estão enganadas!

No mesmo segundo, a Pokéball se abriu e revelou um bravo Torkoal.

Mandy, Vaporeon e Luxio já se preparavam para a batalha, mas algo estava estranho: o Pokémon de fogo imediatamente virou de costas para nossas heroínas e liberou uma forte cortina de fumaça negra, SmokeScreen. O gás tomou conta de todo estábulo e dificultou completamente a vista de todos aliados, sem falar em Julie e Aiko que não conseguiam ver um palmo à sua frente. Seria a perfeita oportunidade para o homem desaparecer.

O que fazer?

001!

7pm

Nada acontecia enquanto a fumaça terminava de se distribuir em meio aquele enorme estábulo. Com a visão dificultada, Aiko conseguia sentir Porygon praticamente em meio suas pernas amedrontado, enquanto Mandy parava estagnada tentando sentir pelas narinas o que estava acontecendo. Luxio fazia o mesmo que Charmeleon, mas o cheiro ruim da fumaça parecia atrapalhar ambos farejadores. Vaporeon, nervosa, saltava para o alto, em um pequeno ponto onde SmokeScreen não havia chegado. Sem sucesso, a aquática não conseguia ver nada embaixo.

Julie se agoniava e não sabia o que fazer. Tentava tatear o ar e encontrar Aiko mas não conseguia. Em frente, um clarão começava a iluminar parte da negra fumaça. Por sorte, Vaporeon conseguia com rapidez saltar na frente e usar Protect, revelando uma poderosa rajada de fogo, que era absorvida graças a barreira.

— Nos vemos depois! — a voz do malfeitor ja estava mais distante e diminuía conforme a frase era dita.

Um curto grito estridente de dor ecoava por todo o local. Só podia ser Luke. Julie começava a gritar chamando por ele enquanto tateava o ar seguindo em frente. Ela nem sequer queria saber mais do sequestrador, mas sim de como seu filho estava. Mandy, nervosa com toda aquela situação, tinha uma ideia genial.

Com bastante força, felizmente potencializada graças sua evolução, a salamandra abria ambas as portas com uma forte investida, o que fazia com que a fumaça desaparecesse rapidamente. A visão de Aiko deixava de ser limitada e revelava algo terrível: Luke continuava amarrado, porém agora com uma adaga enfiada em seu peito, com uma poça rubra de sangue ainda maior repousada sobre seus joelhos. Julie estava alguns centímetros à frente da nossa treinadora e mesmo sem poder ver a expressão da mulher, Aiko conseguiria, sem dúvidas, sentir a aura de dor e tristeza que emanava da mãe ao ver seu filho naquele estado. Sem dizer uma única palavra, Julie corria e caía de joelhos ao lado de Luke, chorando com sua cabeça encostada na de Luke. Vaporeon e Luxio sentavam e abaixavam suas orelhas ao ver nitidamente aquela cena, enquanto Porygon se escondia ainda mais entre as pernas de nossa heroína. Mandy engolia seco e se aproximava lentamente de Aiko, abraçando sua treinadora na cintura e repousando sua cabeça de olhos fechados no ílio da jovem treinadora.