PvPzin da rapeize

Não precisava ser um vidente ou possuir quaisquer habilidades psíquicas para saber que não era bem-vinda ali. Claro, meu mau humor e irritabilidade causadas pelo cansaço fizeram com que o ambiente não fosse amigável... Mas, sinceramente? Pouco me importa. Forina já havia tirado demais de mim e não era como se eu estivesse tentando fazer amigos. Só queria entregar uma encomenda e sair dessa maldita cidade.

Só.

Percebi que chamara a atenção da garota ao mencionar quase que sob minha respiração o nome de Nicholas. Como ela escutou eu não sei, mas parece que seus ouvidos estavam afiados para qualquer menção ao jovem, sabe-se lá o porquê. Respirei fundo e coloquei Wynaut no chão, retirando minha bolsa do ombro esquerdo logo em seguida.

— É bom finalmente dar um rosto ao nome. — comentei, tentando criar algum assunto e diminuir a tensão desnecessária — Ele só me deixou um bilhete, dizendo que deveria entregar isto a você. — busquei dentro da bolsa a característica pelúcia da Dama da Água — Não disse se era presente ou algo assim, então, nem me dei ao trabalho de embrulhar. — estendi a boneca na direção de Winnie — Me chamo Karinna, inclusive. — olhei de relance para o loiro mau humorado — Desculpe a má introdução, esse lugar drenou tudo que havia de bom em mim.

Não era do meu feitio pedir desculpas, mas a garota de olhos rosados parecia ter mudado da água pro vinho. Somente o nome citado fez com que seu comportamento mudasse: antes distante, agora parecia preocupada, curiosa, irritada, um mix de emoções que nem se eu quisesse conseguiria imaginar o motivo. Sequer é problema meu, mas é no mínimo enigmático.

— Ele é o líder, dono de um anel ou algo assim da sociedade que entrei... — revirei os olhos, dando um tímido sorriso logo em seguida, um tanto quanto desconfortada — Não queria decepcioná-lo com uma tarefa tão simples. — prendi minhas bagunçadas madeixas em um rabo-de-cavalo — Então, estou buscando por você há horas só pra isso. — relaxei os ombros, bufando em seguida — Nem acredito que finalmente posso sair desse terror de cidade.

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O clima parecia melhorar, principalmente após derrubarmos a fachada que construímos devido nossas recentes experiências. Não reclamei, de fato era melhor ter uma conversa saudável que somente reclamar o dia inteiro. Abri um sorriso, dessa vez sincero, ao assistir Winnie brincar com a boneca por um segundo.

— Não sei o que tem de tão especial nisso, mas por algum motivo ele quis te dar. — observei a jovem oferecer alguns TMs logo em seguida — Bom, aceito e agradeço, meu time precisa de uns ajustes.

Escolhi alguns e percebi a pressa da garota de sair o mais rápido possível dali. Bom, com isso eu não poderia concordar mais. Queria deixar o mais rápido possível daquela cidade e seguir para o famoso Mt. Pyre.

— Obrigada, Winnie. — agradeci com um sorriso terno estampado no rosto, dando alguns tchauzinhos enquanto fitava-a alçar vôo em seu Fearow.

Antes de sair, fitei o loiro de longe e bufei: todas essas características me mostravam exatamente o que ele talvez fosse. Não poderia ser mais clichê um Rocket com um temperamento frio, distante e mau humorado. Claro, não ia gritar isso aos quatro ventos, mas por que não brincar com ele? Afinal, não só fazemos parte da CV como também da Equipe Rocket. Precisamos ao menos nos dar bem e, bom, implicar é minha forma de ser amigável.

— Sabe, o conceito da nossa organização é não mostrar para todo mundo que fazemos parte dela. — disse bem baixinho, escondendo a boca com a mão direita —  Dê um sorrisinho de vez em quando e não viva sempre com essa cara amarrada desconfiada. — pisquei, dando uma risada simpática logo em seguida — Qual seu nome?

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— Hm. — fitei-o com certa desconfiança — Sabe que se eu fosse um Ranger você estaria frito, né? — dei uma risada — Tem uns meses, logo após ter um encontro com o terrível Maxima. — bufei enquanto as memórias assombraram minha mente mais uma vez — Sabe que ele mata qualquer Rocket que cruza seu caminho, né? — meu tom de voz mudara, bem como minha expressão, agora séria — Nunca abaixe sua guarda quando estiver viajando. Sério. — balancei a cabeça negativamente, tentando afastar as terríveis lembranças — Um garoto novo e magrinho igual você não duraria um minuto contra aquele maluco.

Abri outro sorriso para justificar a brincadeira, mas minha mente já estava em outro lugar. Não sei porque insisto em trazer essa história à tona, primeiro com Lysander, agora com Seth; parece que meu subconsciente precisa desabafar, mas minha fachada de pedra não deixa. Não que alguém se importe comigo, afinal, não sei o que é isso desde que perdi meus pais, mas sinto como se ainda vivenciasse o sangue percorrendo meu corpo enquanto lutava pela minha vida na fatídica rota 121.

Observei o loiro mais uma vez.

Seth lembrava muito a mim mesma alguns anos atrás: reservada, quieta, sempre desconfiada. Longe de mim dizer que essas são características ruins uma vez que as possuo, mas o tanto de oportunidade que perdi por ser assim quando mais nova não está no gibi. As vezes até mesmo por medo. Medo de ficar eternamente sozinha, de não agradar as pessoas. Não conheço a história do treinador, mas pelo menos comigo fora uma sucessão de coisas: a morte da minha família, o abandono da única pessoa que confiei após isso, aprender a viver sozinha sem um tostão e por aí vai. Demorou e muito para perceber que não deveria me limitar por simplesmente sentir pavor de contato humano. Por sentir medo de me abrir, das pessoas verem a Karinna de verdade e simplesmente irem embora... Nem todo mundo é igual a Natalie. E hoje, anos e mais anos depois, eu sei disso.

Tudo que eu precisava era de uma pessoa ao meu lado pra me guiar ou simplesmente para poder jogar conversa fora, me distrair, desabafar. Hoje convivo com diversos gatilhos e traumas que não existiriam se esse alguém tivesse existido na minha vida. Mas isso não significa que eu não possa ser essa pessoa, certo?

— Bom, é isso! — baguncei o cabelo de Seth, pretendendo fazê-lo reagir com raiva — Você será meu irmãozinho, quer você queira ou NÃO! — enfasei a última palavra, batendo o pé direito no chão logo em seguida em repreensão — Mas, sério. — dei um meio sorriso, ajeitando a postura — Fazemos parte das mesmas sociedades, nada melhor do que termos um ao outro, né? — retirei a bolsa dos ombros, bem como a case do violino das costas — Preciso treinar uns TMs... podemos fazer isso juntos. — coloquei os objetos no chão, liberando Kadabra, Eevee e Probopass, o mais novo membro da equipe.

Me virei para falar com Kadabra:

— Filho, preciso que você demonstre sua Shadow Ball para que Manju possa seguir seus passos, ok? Em seguida treine seu Psychic, você manda bem em ataques psíquicos, vai ser bem rapidinho! — acariciei sua cicatriz na cabeça — Tente arrancar galhos de alguma árvore. — sorri — Assim que dominar isso, tente enviar um pulso psíquico nos que derrubar.

Respirei fundo, buscando forças dentre meu cansaço para continuar as diligências:

— Manju, obedeça seu irmão mais velho. — peguei-a no colo, dando um beijinho no rosto — Se você quer ser tão forte quanto ele, é assim que se aprende. — deixei que pulasse do meu colo e acompanhasse o veterano psíquico para outro lado do campo — Aproveita e dá uma olhadinha nos ataques dele, você já já aprenderá a usá-los quando evoluir!

Agachei outra vez, agora para falar com Yasai:

— Ei, agora é sua hora de treinar também. — não resisti e peguei-a no colo, apertando aquela bolinha azul com toda força do mundo — É sua primeira vez, mas não precisa ter medo. O que você tem que aprender é bem simples: com a força da mente, tente criar uma barreira invisível ao seu redor! — bati duas palminhas — Viu como é simples? Pode ficar treinando aqui do meu lado.

Por último, mas não menos importante, voltei meu foco para Probopass. O Pokémon estava longe do que um dia imaginei possuir comigo, mas não deixava de ser um membro da família.

— Oi, rapazinho. Me chamo Karinna e Nicholas mandou você para ficar comigo. — abri um sorriso simpático — Não sou tão forte quanto ele, mas aqui na nossa família damos nosso máximo em tudo que fazemos! — me aproximei aos poucos, até repousar minha mão em seu braço de pedra — Sei que tem alguns golpes para treinar, o que acha de tentarmos agora? Podemos começar com Stone Edge? — apontei para algumas pedrinhas de cascalho que repousavam nos limites do campo — Tente criar algumas como aquelas, sei que é difícil, mas tenho certeza que se sairá bem.

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