[Mirror's Echo] – Route 121/Mt.Pyre –

Diante da atitude inicial de Brooklyn, a ruiva não esboçou reação imediata. O olhar pairou pela parte do rosto exposta da moça, e passeou vagarosamente pelos traços de seu sorriso banhado de malícia, como quem estuda um artefato completamente sem sentido; Os pensamentos bailaram em significativas questões do tipo - se ela pretendesse dar o golpe, por qual motivo a "presentearia" assim que se conheceram? Mas, em verdade, não poderia ser apenas uma estratégia de 'boa vizinhança" antes de revelar seu verdadeiro objetivo, agora com ele em mão? Não obstante, por qual motivo deveria confiar em uma completa estranha que encontrou por acaso, independente do que ela havia oferecido razão para estar por ali? - e algumas mais pipocaram aqui e ali, entretanto, o olhar se manteve fixo na imagem da treinadora. À todas as dúvidas que surgiam, ofereceu uma singela resolução: Dispersá-las sem necessidade de refletir muito mais a respeito. Criar teorias não a levariam a lugar algum e, sinceramente, não estava na melhor forma para se demorar muito em algum assunto; Se mente vazia é uma oficina diabólica, imagine então o que não é capaz de fazer uma que mergulha na paranoia?

Respondeu, então, com um brevíssimo sorriso afetado. Liberou um pigarro divertido, e os dedos trabalharam por um instante para ocultar a curvatura labial com a borda do cachecol ao puxar um pequeno pedaço do tecido à altura do pescoço. Balançou a cabeça com sutileza, e um brilho rápido transpassou pelo olhar antes que a moça largasse o acessório e relaxasse as mãos soltas nas laterais do corpo.

— Bem, nesse caso... — Começou, movimentando o pescoço com sutileza. — ...eu teria que arrancá-lo de você. Mas, acho que já sabia dessa resposta. — Concluiu, um sorriso breve. Não sabia se por sentir o coração bagunçado em consequência aos estímulos externos remexendo um baú de memórias que se associavam umas com as outras, mas não se sentiu ameaçada - e tampouco abalada - com um roubo que poderia ser iminente. Talvez fosse um costume esquecido se envolver naquele tipo de situação que a "blindara", nem que parcialmente, para esse tipo de confronto?

De qualquer jeito, não precisou pensar muito mais, visto que a negativa da própria provocação logo partiu da moça. Os reflexos agiram de maneira veloz quando a ruiva percebeu o objeto abandonando as mãos alheias e traçando trajetória em sua direção; Provavelmente seria o instinto o culpado, mas felizmente foi capaz de agarrar a pokéball no ar e, tendo-a entre os dedos, verificou se não haviam sido causados quaisquer danos à esfera de Ariel. Não acreditava nessa teoria, mas de qualquer jeito não machucaria verificar. Quando pôde guardar a "casa" da fera aquática, observou então a maneira como Brooklyn rodeava Minccino em uma inspeção cuidadosa, para logo após comentar da marcação sobre a qual Chase se referira.

O cenho se franziu com sutileza diante de afirmação tão convicta da "caçadora de rattatas". Não se lembrava de qualquer marcação do tipo ao ficar próxima de pokémons de criminosos, mas não tinha embasamento suficiente para discutir - de acordo com o que ela dizia, apenas o iniciais eram marcados daquela maneira e, bem, nunca havia prestado atenção o suficiente, para ser sincera. Já quando ouviu sobre a relação que a monotreinadora mantivera com um rocket uma vez, sua reação se resumiu a um breve balanço indiferente de ombros; Seria hipócrita se a condenasse. Ela mesma, à sua maneira, não tinha uma aproximação relativa com um bandido que, mesmo que não chegasse a ser íntima ou de "maiores amigos", nunca escapara de seu conhecimento para que formalizasse uma denúncia?

— Bem, quem sou eu pra dizer alguma coisa? — Comentou, até meio displicente. Talvez ambas as figuras houvessem, cada qual em seu íntimo, exoticidades suficientes para que se tornasse importante pontuar. Uma pessoa normal não permitia que aquele tipo de informação passasse batido daquela maneira. Ou será que sim? Porque, bem, tecnicamente nada impedia que um civil apenas não mantivesse desejo nenhum de se envolver com aquele tipo de problema, principalmente por ter sido uma informação vinda de uma estranha, o que era bem inteligente por si só...

— Hm, será? — Questionou, em discreto tom reflexivo, o olhar se voltando ao pokémon que, no fim das contas, acabava por ser selvagem, se fosse considerar o que a outra lhe dizia. — Mas, por qual motivo ele seria abandonado? Já parece bom o suficiente no que faz... — Comentou, analisando em silêncio as expressões e reações da chinchila com a menção do "abandono". — Ou foi só um pouco irritante e começou a passar a mão em coisas que não devia, também... — Alfinetou o pokémon, com um breve sorriso malvado que se dissipou rapidamente. Se abaixou, porém, para observá-lo com mais cuidado. Um brilho sutil de interesse passeava pelo olhar, independente das ações até então protagonizadas pelo roedor. — Não sei, não sei... Ele me parecia bem confortável na floresta, sabe como é... Talvez nem goste de companhia. — Acrescentou, num discreto jogo de palavras. Não tinha certeza da reação do animal, mas não parecia que ganharia alguma coisa (além de se ferrar) com um "você vem comigo".

Uma nova abordagem nunca é de todo ruim, ou será que poderia ser?
Aliás, se parasse para pensar em "sozinho", por qual raios de motivo o animal fizera questão de brotar do inferno e "ficar por perto", por assim dizer? Afinal, naquele passo discreto que ele tinha de se soltar e sumir, já poderia ter ido embora faz muito tempo...

...
Ele estava proposital e especificamente a provocando?
Huh.

Ainda que se esforçasse ao máximo para fingir que não, era impossível que a ruiva não fosse capaz de perceber o repentino olhar penetrante que Brooklyn começara a manter em sua direção - de um jeito quase desconfortável, era como se os olhos púrpura tentassem enxergar através de si por um motivo que não era capaz de desvendar em rápido instante, tão "aleatório" era o evento que provavelmente tragara toda a atenção da treinadora para si. A moça se movimentou com discrição, encolhendo os ombros de maneira sutil e apertando os dedos de uma mão com delicadeza no próprio cachecol, para o arrumar em silêncio no pescoço. Não tinha certeza se o causador era algo que tinha dito, ou simplesmente alguma expressão corporal que denunciava o que não devia, mas aquele momento se tratava de um onde não podia evitar de manter a guarda alta. Independente de quão tranquilas as coisas corriam desde então, não possuía dados o suficiente para prever o padrão de comportamento de uma estranha, por assim dizer.

— ...Talvez... — Comentou, a atenção tentando se equilibrar entre garota e pokémon (isso sem contar dos seus próprios, que a acompanhavam até então!). — Mas, não sei, não. — Respondeu. De canto de olho, reparou a maneira como Minccino, mesmo emburrado, a espiava de canto, mas simplesmente fingiu que não. — Me parece muito complicado tentar jogar com psicologia reversa e bancar o difícil quando se quer alguma coisa... Não, acho que não. — Balançou a cabeça. Não tinha certeza se a treinadora entendia o pequeno joguinho que tentava levar com a chinchila mas, bem, tecnicamente as palavras eram mais para ele do que para ela...

— ... ...Meu cachecol? — Perguntou, o cenho se franzindo com sutileza após uma breve expressão surpresa. Por algum motivo, alguma coisa dentro de si gritava que não era exatamente aquele assunto que ela desejava começar, mas não se sentia capaz de desvendar o que se ocultava por trás das palavras; Vagarosamente, os dedos se movimentaram novamente para o tecido bicolor, apertando-o com sutileza entre o médio, o polegar e o indicador. — ... ...Eu não saberia te dizer. O meu foi um presente. — E o "por quê?", engoliu na garganta.

Quem sabe se não poderia descobrir sem questionar?

Independente do planejamento inicial para bancar como se a atitude do felpudo selvagem lhe passasse despercebida, foi incapaz de manter o pequeno teatro diante da reação - mais uma vez - emburrada da chinchila. Até mesmo a coloração do rosto do animal pareceu se alterar diante de suas palavras e, ainda que sua intenção com elas fosse alfinetar o selvagem, não imaginou que o atingiria com tanta profundidade, fato que acabou riscando um sorriso breve em seu rosto, tranquilo; Querendo ou não, tinha de admitir que o jeito do pequenino tinha lá sua graça, ainda que fosse um tanto quanto desaforado e, bem, mão leve. Mesmo com a consciência de que eram características que talvez não tivesse condições de mudar (afinal, quão intrínsecos estariam elas em sua personalidade?), não pôde deixar de pensar que a situação do roedor era, para dizer o mínimo, complicada. Se a hipótese de seu abandono era realmente verdadeira (o que tudo indicava que sim, no momento), não queria saber como estaria o coração do pequenino - raios, ela mesma tinha seus próprios demônios no que dizia respeito à esse assunto!

Então, levando todos esses pontos em consideração, a ruiva se aproximou um pouco mais quando o acinzentado ocultou parte do rosto por trás de suas patas macias, sem pressa, e se abaixou à frente do exótico espécime ao bioma. Com delicadeza, apoiou a mão sobre a cabeça do animal, e bagunçou de leve suas pelagens antes de afagá-las com suavidade; Talvez fosse um pouquinho arriscado manter aquele nível de proximidade mas, bem, se estava dando uma chance até mesmo ao narigudo, por qual motivo não poderia fazer alguma tentativa com o orelhudo?

...

— Mas, se quiser vir... — Disse, finalmente se dirigindo diretamente ao animal. — ...você pode. — Concluiu. Poderia ter dito mais alguma coisa, mas a atenção foi atraída diante das estranhas palavras da outra treinadora, fato que fez seu cenho se franzir com sutileza. — ...Responde o quê? — Questionou, não se dando ao trabalho de evitar a dúvida daquela vez. Toda a atitude acerca do cachecol vinda da exótica mulher era esquisita se fosse parar para pensar - e será que o olhar fixo em si era justamente por causa do acessório? Embora, ainda não fosse capaz de encontrar uma justificativa plausível para tal.

Foi Nosepass, entretanto, quem afastou seus pensamentos da crescente desconfiança que crescia no plano de fundo. O brilho emitido por seu nariz foi algo que a atraiu devidamente por meio da visão periférica, e a moça se ergueu e endireitou para observar melhor o estado de seu companheiro, e não precisou pensar muito antes de compreender o que estava acontecendo - de qualquer jeito, não teria chances de fazê-lo, já que vagarosamente o pokémon era arrastado na direção que o campo magnético o atraía.

— O Monte Pyre é pra lá? — Perguntou, indicando a direção que a estatueta caminhava. — Se for, podemos ir andando. Mas, senão, vou acabar dando uma volta aqui mais um pedaço, até pra procurar algum outro pokémon, sabe? — Comentou, já se preparando para seguir o pedregulho. — Você vem? — Questionou para Minccino. Não poderia perder muito tempo ali, principalmente que o azulado não... conseguiria... fazê-lo. Era hora de seguir em frente.

Se estivessem em uma competição sobre quem teria a melhor lábia para "dar a volta" na outra, a última resposta da treinadora seria exatamente a que, para ela, colocaria tudo a perder. A curta reação da moça para aqueles gaguejos e palavras atrapalhadas se tratou de um mero erguer de sobrancelha, gesto que logo foi abandonado para que tornasse à expressão usual, quase apática; Já era mais que óbvio a existência de algum interesse oculto por trás do cachecol, e quem sabe até história, mas não parecia que seria capaz de arrancá-la da exótica moça de madeixas neon. Naquele momento, achou inteligente deixar o assunto de lado, nem que fosse por um única instante - não sabia se pressionar a enfureceria, e não queria descobrir que tipo de faceta a desconhecida exporia em caso de ira, principalmente se fosse considerar que estava à sua mercê, afinal, era ela quem possuía conhecimento de território naquele lugar, com a vantagem de alguns dias, inclusive.

Deixou de lado os pensamentos, então, para prestar atenção nas reações que a chinchila oferecia para si. Divertiu-se enquanto observava os gestos que flutuavam entre birra e manha do felpudo animal e, ainda que não fosse possível ouvir palavra alguma do acinzentado, tinha quase certeza de que ele aceitaria seguir consigo, pelo menos por enquanto; Por algum motivo, não achava certo e duvidava que seria simples se tentasse capturá-lo de imediato para pôr fim à história, então, não o fez. Permitiria que o bípede seguisse junto a si e seus monstrinhos por mais um tempo, e depois decidia o que podia fazer: Com essa decisão, o foco se voltou para as explicações de Brooklyn a respeito dos caminhos que poderiam seguir mas, bem, não era exatamente somente dela que dependia.

— Nosepass... — Chamou, se aproximando do pedregulho e interrompendo o insistente caminho do rochoso. — Você acha que consegue contornar o caminho ao invés de ir direto? — Foi o que perguntou à estatueta. Não queria retirá-lo de campo, e não tinha certeza de quão forte era a atração magnética sofrida pelo espécime. Caso ele pudesse, seguiria com a sugestão de Brooklyn, do contrário, teria de dar um jeito de analisar a tal "queda vertical" mencionada pela moça, afinal, ainda que fosse difícil, ela não dissera em momento algum ser impossível.

Então... Quem sabe?

Foi uma felicidade interna o balançar afirmativo do pokémon pedregulho diante de sua questão sobre se ele seria ou não capaz de desviar a direção na qual, até pouquíssimos segundos, era arrastado. A moça demorou algum tempinho a mais antes de perceber que o corpo do rochoso não parecia mais "atraído" - na verdade, só o fez quando ele próprio demonstrou que estaria tudo bem em seguirem pelo trajeto dito por Brooklyn, que inclusive haviam visto do topo do morro há algum tempo - por seja lá o que impunha tamanha força magnética nas células de Nosepass, mas o fato em si não era tão importante: O detalhe essencial para que pudessem prosseguir era que, bem, ele era capaz de fazê-lo! Não tinha muito tempo para pensar a respeito, considerando que a treinadora ao lado já tomava dianteira e se encaminhava para o caminho anteriormente sugerido, então a ruiva se limitou a seguir junto de seus pokémons... E um certo felpudo que não bem era seu mas, bem, quem sabe, né?

— Talvez ir pelas árvores queimadas seja melhor? — Foi o que disse, observando as costas da mulher de cabelos neon. — Deve ser mais tranquilo de atravessar, se for parar pra pensar. Mas, é você quem mais sabe como tá a situação por aqui, esses dias... — Comentou, encolhendo brevemente os ombros. Durante essas palavras, aproveitou para pescar casualmente (e mais uma vez) o aparelho alaranjado da mochila, checando as barrinhas de sinal - e quão alegre foi o momento ao perceber que estava pegando!

Foi com velocidade que abriu a conversa mantida até então entre si mesma e Drac. Não tinha certeza quanto tempo poderia se aproveitar do breve momento em que a conexão funcionaria, mas tinha a sensação de que não seria por muito tempo - mas a importância do momento ia além de simplesmente avisar que estava viva, ou simplesmente jogar papo fora. Tinha a sensação de que a moça à sua frente guardava sim um segredo, e não era algum tipo de amor ou fetiche esquisito pro cachecóis tricotados. Na verdade, era uma certeza palpitante em seu coração que a estranha reação da treinadora era algo ligado diretamente ao antigo dono do acessório, e receava um encontro repentino entre ambos sem que sequer pudesse alertar o moreno a respeito de sua presença no meio daquela bendita tormenta.

[Para Luch] escreveu:"Brooklyn"

"?" [ERRO: MENSAGEM NÃO ENVIADA]

...Infelizmente, estava certa. O suspiro pesado foi segurado na garganta diante da nova perda de sinal - antes mesmo que pudesse enviar a segunda mensagem apenas, oh, raios -, mas sua reação se resumiu simplesmente em bloquear o aparelho e guardá-lo outra vez. Quem sabe se não poderia tentar mais tarde um novo contato ou, melhor, se não receberia alguma mensagem que pudesse clarear suas ideias a respeito de quem era Brooklyn realmente e, mais importante, o motivo por trás de suas atitudes estranhas ao perceber o cachecol que se enrolava em seu pescoço.

...
Enfim, muitas perguntas.
Deixemo-as para depois.