Capítulo 23 - Desbravando a Tormenta

Eu havia feito uma aproximação errada. Tortinha era definitivamente mais resistente do que seu companheiro Tortuga e isso só aumentava minha admiração pelo Shuckle. Mesmo com quatro golpes vindo de Yuffie e Ume, além das condições passivas de dano que sofria por todos os lados, a criaturinha continuava de pé e aparentemente bem — Hmm.. Já que estávamos comentando sobre essas técnicas punitivas, como o Toxic e Leech Seed, imagine algo parecido vindo de um desses Shuckles, ainda mais em uma estratégia de proteção total. Um treinador paciente com as técnicas certas e um Shuckle desses poderia fazer realmente um estrago em uma batalha, para o desespero dos adversários...  — Comentei, rindo em seguida, mas de fato imaginando a situação e ME imaginando na pele deste tal treinador — Eu acho que agora não tem mais como prolongar o combate... Preciso continuar minha busca, chegar no Pyre... Tentar conseguir sinal... É hora de vir conosco amiguinho! Ume! Mais dois Giga Drain no Tortinha! — Comentei primeiramente com Blake e em seguida com o Pokémon, que se tudo desse certo iria para meu Storage muito em breve e seria um excelente adição ao time. Para tal, preparava minhas Premier Balls, mesmo que precisasse utilizar mais de uma para a tal captura.

desbravando a tormenta

 Não demoraria muito para que tudo tivesse seu fim. Yuffie criava rochas do ar que transformavam suas manchas em tons amarronzados, e demoliam sobre o Shuckle restante; Ume então seguia com seu Giga Drain, que apesar de não muito efetivo, era suficiente para finalizar o pobre inseto e assim, declarar a vitória da dupla de criadores. Ambos já estavam preparados para aquilo, calculando previamente o que deveria acontecer, dava para se saber que agora era seria a hora em que pokébolas voariam, e assim se cumpriu. Num balançar de mãos, as esferas foram devidamente direcionadas para os alvos, prendendo-os com uma energia avermelhada, que os sugava e fazia a bicolor se fechar abruptamente; enfim, era hora da tensão. O primeiro mover foi tranquilo, mas o espaço de tempo entre ele e o segundo fora torturante (isso para os dois, ao mesmo tempo); o pior fora ter de aguentar o coração quando o terceiro balançar demorou ainda mais, mas finalmente se veio e eles puderam comemorar a captura com um sorriso nos lábios.

Qualquer que fosse o próximo passo dos jovens teria de ser logo, os outros garotos que antes estavam presentes ali pareciam estar prestes a voltar; algumas vozes podiam ser ouvidas cada vez mais próximas, da direção de onde todos foram anteriormente e agora ensaiavam o retorno. Era uma situação difícil, eles teriam de lidar com a multidão enganada e furiosa pela captura de seus dois atalantes que lutavam bravamente para entreter toda a gama de rapazes que assistia a rinha com furor. Contudo, se eles fossem rápidos, poderiam desviar de tamanha manada, e assim garantir que saíssem ilesos, tanto em questão emocional quanto física. Afinal, não dava para saber o quanto eles realmente ligariam para tudo que havia acontecido, não é?

Campo: Campo inundado com chuva torrencial e um pequeno bosque na parte lateral. Campo de combate improvisado com Rain Dance ativo permanentemente.

O impacto do mini-deslizamento produzido por Yuffie, juntamente da última absorção de energia por parte de Ume, foram o ponto final na história dos Shuckle. Finalmente, o último deles - de alcunha Tortinha - havia sido nocauteado e não demorou muito para que minha bola fosse lançada ao ar, ao mesmo tempo que a rubra e brilhante bola de Blake também agitou-se na direção dos insetos. Chocando-se entre si, as esferas caminharam uma para cada Pokémon, capturando-os após uma longa espera pelo sacolejar das cápsulas. Não era nem preciso dizer o quão aliviado fiquei com o som característico de uma captura bem sucedida, apoiando uma das minhas mãos no ombro de Blake e sorrindo para o rapaz — Mais uma batalha bem sucedida! Nós dois fazemos uma ótima dupla, não é mesmo?  — Expressei-me, rindo ao final e observando ao redor para ver se mais alguma criatura poderia estar por ali, pronta para nos surpreender. Como não era o caso, relaxei e recolhi Ume para sua Poké Bola — Como sempre excelente Ume! Agora um descanso... — Logo em seguida, peguei o PokéNav Plus para conferir o sinal. Como esperado, apenas uma pequena "barra" de sinal era encontrada, incapaz de enviar mensagens... Fui então para o Aplicativo do DayCare e tentei realizar um procedimento necessário, uma simples troca. Retiraria a Skrelp do Treinamento - pagando o que me fosse devido - e colocaria Lira no lugar. Em seguida, recolhi o aparelho.

— Bem, não quero ser chato e nem apressar você, mas acho que podemos realmente dar o fora daqui antes que alguém volte! — Disse em um tom de preocupação, mas sem perder o bom humor, alguns segundos antes de realmente ouvir o burburinho de um grupo de treinadores retornando para lá. Se mesmo com a chuva era possível ouvi-los, então de fato deveriam estar próximos e exaltados. Eu não sabia o que havia na direção do estrondo que os fizemos ir, mas pelo visto não havia sido nada interessante, ou talvez nem retornassem para cá. — Ok, momento de retirada REAL! Que tal irmos nesta direção aqui... Tem uma cobertura boa esse já não me perdi, eu acho que vai dar no mar. De lá a gente tem uma visão de como chegar no Pyre... Acho que não vou mais encontrar Natalie por aqui, já passou muito tempo. Ela deve ter seguido em frente — Desabafei, olhando sempre para todos os cantos, tentando prever por onde os garotos chegariam. Se Blake concordasse em partir naquela direção, já me apressaria para lá.

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A situação entre os dois parecia estar bem tranquila, Luch e Blake eram realmente uma ótima dupla que tinha muito mais em comum do que eles poderiam imaginar. Batalhar juntos, criar juntos e se aventurar juntos, talvez esse fosse o projeto do destino para os dois, para que eles pudessem ter realmente se encontrado ali, com Valassa sem Natalie e Blake sem pressa para perseguir algum objetivo doido (mais ou menos essa parte, mas ainda assim). Fosse o que fosse, eles tinham grandes planos pela frente e isso poderia de fato ser algo bom para ambos, seguir com força e rapidez até o Pyre agora era o foco principal e eles deveriam fazer rápido, levando em conta que a monstruosa multidão de pessoas que antes assistia a batalha das duas tartarugas com avidez e assim, com certeza brigariam com a dupla por levarem suas atrações; mas Drac era astuto e notava isso com mais facilidade que seu parceiro, avisando-o e garantindo sua segurança por mais tempo.

McBride era mais tenso, mas rígido consigo e passara tempo analisando seu próprio desempenho em batalha para depois de avisado pelo moreno ele finalmente se tocar que era hora de ir, e seguindo por um caminho sugerido pelo próprio, conseguiram escapar da multidão furiosa e ainda encurtaram seu caminho até a montanha em pleno mar. Ainda havia certo caminho a ser seguido, tanto em terra quanto em mar, e eles sabiam bem disso. O Mt. Pyre ficava no meio do oceano, cercado de água em todos os seus arredores e diversos perigos que inundavam os treinadores antes mesmo que eles conseguissem chegar nos pés do grande cemitério; contudo, isso não assustava nossos protagonistas. A ideia de encontrar um Pokémon lendário perdurava em suas mentes e isso com certeza seria a real motivação de ambos; por mais que Luch tentasse acreditar que ele só estava ali para procurar por sua companheira, ele no fundo deveria aceitar que seu maior numerador era o de querer ter a experiência de ficar cara a cara com o mítico monstro, e não havia nada de errado nisso.

Depois de caminhar por alguns minutos a dupla poderia se encontrar bem próxima ao mar, mesmo que não houvesse sol para saudá-los ali, a areia já entrava em contato com as solas de seus sapatos e a brisa de maresia chocava-se contra seu rosto de forma a trazer consigo o cheiro marítimo. Agora, a próxima etapa estava bem clara, liberar seus Pokémon que fossem ajuda-los em sua viagem pelo oceano em busca de uma lendária aventura; bem clichê, mas isso era previsível de dois criadores como eles, huh? Com a ameaça de chuva eminente, eles deveriam ser rápidos e efetivos na maneira em que seguiriam adiante, isso se quisessem chegar lá sem outras distrações e sem tantas perdas para ambos. Afinal quem sabe o que eles poderiam encontrar no abismo do desconhecido?

Felizmente nós conseguimos escapar da possível fúria dos treinadores que retornavam. Além do mais, minha intuição - forte ultimamente - me guiou com perfeição na direção que queríamos. Em pouco tempo estávamos de frente para o mar que dava acesso ao Mt. Pyre. Era possível inclusive ver o próprio monte à distância, mas afastado por quilômetros de água turbulenta e nada segura. Infelizmente eu não havia trago qualquer Pokémon que me facilitasse a travessia aquática e não acreditava que Lenora teria muitas chances de me atravessar ilesa com a grande quantidade de raios que caiam no lugar — Eu realmente não sei como atravessar... Digo. Eu não trouxe a minha Gyarados, que seria a companheira ideal para a travessia... Eu fiquei com medo dela sofrer com os raios dessa tempestade... Também não sei se a Honchkrow consegue suportar uma viagem com esse clima... Pelo menos você tem a Yuffie, né? — Comentei com o rapaz, despretensiosamente, observando ao redor algum sinal de barco ou qualquer coisa que me pudesse ajudar a atravessar aquele obstáculo natural — Se não tiver outra escolha, acho que vou andar pela margem a procura de algum barco.... — Comentei com Blake, dando de ombros e rindo da minhas poucas possibilidades.

Não sei se havia sido pelo meu discurso de "sofrido" ou minha expressão de desespero, mas a verdade é que Blake, como sempre muito atencioso, começou a despir-se diante de mim com algum plano em mente para me auxiliar. Ele mantinha-se em silêncio e eu só observava, bastante enrubescido pela situação, até que comecei a entender o que estava ocorrendo... Ele iria nadar! Primeiro, o Criador retirou algo enorme de seus pertences, arregalei os olhos, pois realmente não conseguia imaginar como aquele... objeto... enorme conseguiria caber em um espaço tão pequeno. Depois, tocou em uma de suas bolas, deixando algo ainda maior surgir. Imediatamente fiquei boquiaberto pela imponência daquela criatura. Eu já havia visto em muitos lugares sua imagem, mas observar os canhões de perto e assim tão de repente era muito diferente. Nada poderia me preparar para tal.

— Wow! Um Blastoise! — Comentei, aproximando-me quase como instintivamente e já levando minha mão até próximo do Pokémon para tocá-lo. Entretanto, um pouco antes, recuei por estar sendo atrevido demais e esperei uma confirmação do rapaz para tocar. — Blastoise e Venusaur são definitivamente os Iniciais Pokémon de Kanto mais legais! — Desabafei, quase como uma criança. E minha alegria e surpresa só aumentaram quando Blake me disse que eu poderia "surfar" sobre a criatura até o outro lado. Confirmei com a cabeça rapidamente e inclusive tive uma ideia bastante interessante para complementar essa "viagem" perigosa...

— Será uma honra viajar nas costas de um Pokémon tão querido! Mas se não se importa, eu vou reforçar a segurança... — E enquanto falava, retirei as presilhas da Jaqueta de Voo que mantinha por debaixo da roupa. Em seguida, retirei Lenora de dentro da Poké Bola, amarrando o equipamento na Pokémon, como se fosse voar — Lenora ficará atada a mim, nas costas, enquanto ficamos em cima de Sheldon. Se algo acontecer, alguma onda me lançar para fora eu posso usar a Honchkrow como uma espécie de para-quedas, para emergência é claro... Mas tenho certeza que nada de ruim vai acontecer... Só precisará manter as asas fechadas para não nos jogar para trás, ok Lenora? — Expliquei meu plano de contingência e então esperei Blastoise entrar na água para subir em suas costas e podermos partir.

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"Mas tenho certeza que nada ruim irá acontecer". Era com esse pensamento que os dois criadores se preparavam para cruzar o mar entre a terra e um cemitério mal assombrado em vertical, no meio de uma das maiores tempestades que Hoenn já vira. De fato era bastante confiante da parte de Luch acreditar que realmente nada aconteceria enquanto eles estivessem em alto mar, principalmente da parte de Blake que não contava com tanta proteção como o mais novo. McBride deixara o outro completamente protegido e isso fora o suficiente para... bem, deixa-lo desprotegido, mas isso seria contado mais adiante. A principio, tirar todas suas roupas poderia ser tratado com um certo desprezado, ainda mais na frente de um semi desconhecido, mas Valassa sequer pareceu se importar com os poucos músculos marcados do garoto pelo material, e isso era quase impossível de não se notar. Ainda assim, o ruivo deixaria de se preocupar com isso assim que seu Pokémon fosse liberado.

Sheldon, a grande tartaruga com canhões acoplados a suas costas, inicial de Kanto que era também o escolhido pelo mais velho no inicio de sua jornada, lá atrás, na cidade de Pallet. O rapaz perseguira um grande caminho de fato, e tudo parecia culminar no topo do monte; seria ali onde eles dois encontrariam seu destino? De que maneira se sairiam perante os perigos que a grande montanha poderia oferece-los? Isso seria descoberto num futuro próximo, e as respostas seriam dadas sem que eles tivessem de pedir muito. Preparando-se finalmente para enfrentar o mar, a dupla pôs-se diante a fúria oceânica muito bem armada. Quer dizer, Luch estava bem armado, mas Blake sequer possuía algum Pokémon fora da pokébola consigo, o que poderia ser um problema. Ignorando isso por mais um momento, eles caíram no mar e começaram a travessia, de modo que o mais protegido pudesse seguir calmamente nas costas de Blastoise, até mesmo o ajudando a se equilibrar com o paraglide que agora era Lenora. O outro, surfista nato, conseguia se manter equilibrado mas, por pouco tempo.

Um poderosa onda vinha na direção do grupo, agora em quatro. Atrás da onda eles poderiam ver, um incrível cardume de... Magikarps? Sim, eram cerca de 18 carpas laranjas que nadavam de maneira desengonçada e se batiam conforme progrediam junto com a crista. Ora, tais Pokémon tão chulos conseguiam surfar melhor do que McBride? Parece que sim. Agora, eles tinham de desviar da grande onda de Splash, ou poderiam simplesmente derrotar um por um para seguir a frente; era claro que a onda se desfaria quando passasse por eles, mas os monstrinhos ficariam por ali já que sequer tinham grande capacidade natatória (mesmo ainda sendo melhores do que o Superius). Ambos os criadores não tinham interesses nos Magikarps, já que Luch possuía sua Gyarados e bem, o outro já tinha uma grande gama de Pokémon aquáticos né? Não que uma serpente gigante fosse adição ruim, mas ele arriscaria se perder de seu parceiro por ganância? Quem sabe.