[Recrutamento de Aprendiz] Gaulvi T. Silva

Deep Sky

O Ginásio de Fortree, construído na torre mais alta da cidade, era uma estrutura capaz de tirar, literalmente, o fôlego de qualquer um. Ele combinava perfeitamente com Winona. A líder de Ginásio era conhecida por vários de seus atributos, principalmente pelas suas habilidades estratégicas que dificultavam a vida dos desafiantes mais experientes.

Devia ser por isso que não havia movimentação por ali. Ou talvez isso também fosse culpa do Evento em Mu Island, já que boa parte dos treinadores de Hoenn resolveu participar ou assistir ao Battle Tower.

A recepcionista era uma jovem de cabelos negros, sendo que algumas  das suas mechas estavam tingidas de verde. Ela olhava indiferente para o moreno, até que ele se aproximou o suficiente para fazê-la retirar os fones de ouvido e prestar atenção. Pela expressão que surgiu em seu rosto, as coisas ficariam um pouco intensas para Gaulvi.

- Olá. Pode me acompanhar, Winona já deve estar voltando. – Com um gesto de mão, ela guiou o treinador para um local ainda mais distante do chão. Provavelmente onde estaria a arena do ginásio.

Off:

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O material predominante na infraestrutura interna do Ginásio era madeira, o que combinava bastante com a arquitetura da cidade. Apesar de rústico, haviam acabamentos perfeitos e nada aparentava fragilidade. Uma brisa forte soprou contra eles, afinal estavam há mais de vinte metros acima do restante da cidade, que, por sinal, também possuía várias estruturas altas.

Assim que chegaram na arena, Gaulvi sentiu o vento em sua completa totalidade. Não estava violento a ponto de derruba-lo lá de cima, mas fazia o seu coração bater mais rápido e a sensação de adrenalina surgir. O semblante entediado finalmente saiu do rosto da atendente, que respondeu a pergunta do treinador quase como se fosse um aviso.

- Muitos não tem nem a coragem necessária para chegar até aqui em cima. Dos que chegam, boa parte desiste. Eu mesma sou uma aprendiz, mas nós não somos numerosos. – A atenção da adolescente foi desviada quando um vento forte soprou em suas direções.

Há poucos metros de distância uma figura saurópode se aproximava da arena e uma mulher, vestida com roupas de aviação. O capacete estilizado era a sua marca registrada. Montada em cima de Tropius, Winona se preparava para uma aterrissagem perfeita.

O gramíneo executou a manobra sem o menor dos problemas, deixando a sua treinadora ainda mais orgulhosa. A mulher desceu da sela e olhou para a recepcionista e Gaulvi como se estivesse esperando uma resposta.

-É um candidato à aprendiz, senhorita. – Foi breve, gesto apreciado pela líder.

- Obrigada, Jade. Pode voltar à recepção. – Ela terminou de retirar os equipamentos e retornou o seu Pokémon. Em seguida, escorou-se no parapeito mais próximo. – Olá. Nossa conversa vai ser aqui mesmo. Apresente-se e conte para mim o porquê de querer ser o meu aprendiz. Qual a sua relação com o tipo voador?

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Poucos tinham a coragem, e a paciência, necessária para conversar com Winona sobre algo que não fosse relacionado ao Ginásio, com a sua profissão e passatempo de aviadora ou sobre qualquer assunto que não parecesse de seu interesse. A mulher era conhecida por ser pragmática, nitidamente convencida e, as vezes, egoísta.

- Sem dúvidas uma resposta bastante subjetiva, mas se ela representa os seus verdadeiros motivos, continua válida. – Respondeu. Os olhos da moça fitavam o horizonte, mas sem nenhum brilho especial, ela apenas estava apreciando a paisagem e o vento que incidia sobre eles. – O Flying Type é conhecido pela sua mobilidade, ou seja, por nunca estar parado no mesmo lugar. Isso deve se aplicar aos meus aprendizes, não admito pessoas conformistas, ou estagnadas, em minha equipe.

As palavras da líder poderiam soar ríspidas, mas expressavam sinceridade. Era melhor que ela fosse direta em suas intenções, não que tivesse problemas em aceitar iniciantes, mas eles deveriam provar o seu valor e dar o máximo de si em cada treinamento. Quando escutou a pergunta do rapaz, ela apenas exibiu um sorriso, antes de dar a sua resposta.

- Os meus Pokémon são preciosos para mim, os trato com respeito, amor e dedicação. Porém, eu separo essa esfera de relacionamento das outras, mas não se preocupe, é apenas a minha forma de lidar com os meus sentimentos. Funcionando para você desse jeito, ótimo. – Os olhos de Winona fitaram os de Gaulvi. Ela não era do tipo emotiva, mas compreendia o ponto de vista do jovem. – Você não é um monotreinador, certo? Por quê está a procura de aprendizagem sobre esse tipo e não dos outros?

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As sobrancelhas de Winona se arqueavam assim que o rapaz começava a falar. O jovem não sabia dizer ao certo se ela estava apenas intrigada, ou questionando o seu ponto de vista. Conversas casuais sempre ficavam intensas quando se tratava da líder.

Ela balançou a cabeça, pensativamente. Em seguida, fitou as nuvens que pairavam pelo céu de Fortree. O vento estava forte, carregando os focos de nebulosidade para longe com uma velocidade considerável. Outra rajada se fez presente durante o diálogo, resultando em um frio na espinha, pelo menos para o moreno.

- Você se identifica com o elemento, então. – As palavras firmes resumiram, de modo objetivo, o que o treinador estava querendo dizer. – Tudo bem. Reconheço isso. Quais as suas pretensões, Gaulvi? – Perguntou. – O que planeja fazer com o conhecimento que, talvez, eu possa te passar? – Os olhos violetas o fitaram, aguardando uma resposta.

Então ela se virou para frente, ficando de costas para o parapeito e apoiando os seus braços despreocupadamente, completamente segura do que estava fazendo. De repente, tomou impulso e ergueu o seu corpo, sentando-se sobre a estrutura, com absolutamente nenhuma cautela.

- É engraçado diferentes objetos são afetados pela gravidade, não é? Uma bola de boliche, jogada daqui de cima, causaria um belo estrago. Plumas e pétalas, entretanto, caíriam com graciosidade e leveza. – Um sorriso tomou forma em sua expressão firme, no que ela estava pensando?

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Durante o pouco tempo de conversa que teve com o candidato à aprendizagem, Winona concluiu que ele estava com a cabeça nas nuvens. Uma coisa era se deixar levar por reflexões, pequenos trechos subjetivos e filosofias, mas por um curto período de tempo, mas Gaulvi simplesmente não estava sendo direto nas respostas e isso estava a deixando incomodada.

- E o que isso quer dizer? – Perguntou descaradamente, não dando muita importância para a educação. – Eu não me importo que a sua cabeça fique nas nuvens, mas eu preciso de um aprendiz que saiba o valor de ter os pés no chão. Não há voo eterno, então aterrisse. Antes que despenque lá de cima. – Calou-se, por alguns segundos. – Pragmatismo é a chave pra sair de uma tempestade, quem fica avoado é soprado pra longe.

Óbvio que a líder de ginásio não perderia uma oportunidade de jogar água fria no moreno, além do próprio balde junto. Quando se tratava da moça tudo precisava de início, meio e fim. Respostas objetivas economizariam tempo para os dois e, é claro, cicatrizes emocionais para Gaulvi.

- Faça o que bem entender, mas eu tenho os meus afazeres também. Essa conversa é para ser rápida. – Sem pensar duas vezes, ela cortou a ideia do rapaz. – Por acaso está com outros voadores?