OFF: Usei meus dois Zincs no Charjabug.
Me sinto na obrigação de dizer que não ignorei Cadu, mas, como o garoto bem havia entendido, eu não estava muito para conversa. Não queria muito falar sobre aquilo, então simplesmente agradeci a atenção enquanto estava no chuveiro.
- Tô sim. Não é como se eu nunca tivesse levado um soco na vida. - Falava, forçando um tom de brincadeira. Eu tentava me manter da mesma forma de sempre, brincalhão e sorridente... Mesmo que não me sentisse daquela forma sempre. - É... Não avaliei direito as opções. Obrigado... Pelas palavras. Mais tarde a gente se fala. - Dizia ainda no boxe.
E, bem, depois de toda a contextualização da narradora, finalmente estava no pátio, na ligação com Lisanna. Eu não tinha certeza do que dizer, mas as coisas eram muito mais fáceis com ela por perto. As palavras... Simplesmente saíam. Eu não tinha que pensar em como dizer ou como me comunicar. E acho que era exatamente daquilo que eu precisava.
- ... Dai? - Ela atendia do outro lado, a voz suave não conseguia esconder o peso do cansaço, ela, provavelmente, estava perto de ir dormir. Além do mais, geralmente, não me chamava pela abreviação, pelo menos, não em público.
- Ei... Tudo bem? - Eu perguntava do meu lado da linha, a voz já em tom mais ameno, esboçando nítida tristeza.
- Sim. Eu estou, apesar do dia ter sido cheio. - Falava em tom de queixa. Eu não sabia o que vinha acontecendo com ela, mas Lisanna havia ficado em Lilycove, até onde eu saiba. Será que eles estavam em isolamento lá também? Eu queria perguntar, mas antes disso, ela já me interrompia. - Mas você não, né? O que aconteceu? Tomou um toco da loirinha? - Dizia em tom provocativo e dava umas risadas.
- A Kath é só uma amiga. Sossega. - Dizia meio sem graça, caindo totalmente em sua provocação. - Mas quem me dera se fosse isso... Aconteceu muita merda hoje. - Dizia, com nítido pesar na voz.
- Sou toda ouvidos. - Dizia, sinalizando a maior paciência do mundo, e, enquanto eu falava, me aproximava de um banco e pegava dois frascos de Zinc da minha mochila, limpava-os com álcool em gel e os deixava aberto em cima do banco, em seguida, liberava Hope no banco e pedia para que ele bebesse, tapando momentaneamente o auto-falante para falar com ele. - Ainda não tinha te recompensado pela Battle Tower. Esse são meus parabéns, vai te deixar mais forte! - Dizia para ele, que, em resposta, sorria e tomava as vitaminas lentamente enquanto ele sorria como uma criança. Em seguida, tirava a mão do alto-falante e tornava a falar normalmente no telefone.
- Então... Vou começar do início. Você viu no noticiário quando eu e a Kathryne fomos gravados naquela manifestação, né? Acontece que a gente simplesmente tava parado na frente do Centro Pokémon e não queria ser filmado naquela hora. Então fomos até um advogado para processar a emissora...
- Oh, bem, eu tenho certeza que teria sido mais simples quebrar a câmera e seguir com sua vida. - Disse ela levantando um ponto bom. - Ou não, né. Eles tinham sua imagem. As coisas podiam ficar... Complicadas.
- E ficaram, vai por mim. Quando a gente chegou para falar com o dono da emissora, descobrimos que o cara era um mão de vaca do caralho, e ai meu estressei com ele e o ameacei. Quase perdi o acordo, mas espera, fica melhor. A gente conseguiu o acordo e logo depois descobriu que tinha um vírus por aqui, o...
- Corsola Vírus. - Dizia ela completando minha frase. - Eu vi no noticiário. Quer dizer que agora você ta em quarentena? Não ta contaminado, não... Né? - Perguntava ela, em tom de preocupação.
- O exame só sai em 24 horas... Até lá eu tô preso aqui. Mas não tô com nenhum sintoma. E, bem, o isolamento foi tranquilo. Teve até um torneio Pokémon por aqui, com batalhas em dupla e tal. Foi divertido. - Dizia, com um sorriso de canto. - Mas aí... Num certo momento a gente viu uma médica entrando num quarto com um Beldum e achou aquilo esquisito. Depois fomos pesquisar um pouco na internet e descobrimos que estamos no CesarTC, e eles usam o Beldum aqui para auxiliar no tratamento de câncer. E, bem...
- Foi aí que a merda começou, não é? Você estranhou o Beldum entrar na sala, principalmente sabendo que ele é usado para tratar câncer e foi dar uma olhada. O que aconteceu em seguida? - Dizia, já conseguindo supor meu comportamento. Eu sempre achei bizarro esse tipo de coisa nas Lis, mas acho que estava sentindo falta, já que eu não achei aquilo irritante... Quer dizer, não tanto.
- É. Bem, a gente fez umas perguntas para uma médica estressada que não fez questão nenhuma de nos responder. Então, achei que ela tinha ido para uma sala de estoque e mandei o Brave cuspir... No chão da sala... Que era uma enfermaria. Um cara saiu de lá, chutou o Brave e me socou no rosto. Eu quis reagir, mas fiquei indefeso quando o Gloom começou a tossir... Ele ta contaminado... - E dava um suspiro. Eu não tinha nem ideia de como continuar aquilo, mas não precisei, Lis já estava preparada.
- Você realmente não achou que essa ideia ia prestar de algum jeito, não é? Caramba, Fernandez. Essa coisa é capaz fazer as pessoas desmaiarem. Imagina o que ela faria com os doentes? - Dava um puxão de orelha.
- Eu não tenho nem ideia, e não quero saber o que faria também. Eu queria respost-
- Vai bancar a Mirajane agora? - Me cortava antes que eu pudesse terminar. - Vai lá, cara. Você é livre para fazer o que quiser, e para conseguir as coisas da forma que acha melhor, não é? Por que não aproveita e começa a andar com uma espada pra lá e pra cá? Por que não aproveitou e usou a maldita faca que ela te deu pra arrancar o pescoço do cara que te esmurrou? - Ela suspirava. Em seguida, fazia uma pausa e voltava a falar. - Dai. Você querer respostas não é justificativa. Existem formas melhores. Queria usar os Pokémon? Tudo bem, os usasse. Mas de outro jeito. As ações que você toma podem fazer a diferença, tanto pra melhor, quanto pra pior. O que cê ia fazer se aquela coisa apagasse os médicos dentro da enfermaria? Provavelmente os pacientes morreriam, e eles também!
- Eu dispenso o-
- Se dispensasse o sermão, não teria me ligado. - Me cortava de novo. A voz impaciente agora. - Além do mais, já chega de se comportar como criança, né? Você mesmo quem disse. Já chega de ter dezesseis anos. Não da pra ficar simplesmente esperando que as coisas se resolvam.
- ... Você ta certa, desculpa. - Dizia meio cabisbaixo. Eu não tinha muito o que falar naquela situação. Eu realmente só...
Eu só não estava esperando por aquilo. Não esperava um tapa daqueles. Não esperava que fosse jogar as coisas daquele jeito.
- ... Não vai dizer nada, Fernandez?
- Eu... Não achei que estivesse parecendo a Mirajane. Só achei que estava indo atrás do que importava. Mas você ta certa. Preciso pensar sobre outras perspectivas antes de tomar uma atitude daquelas.
[b]- Bem. Não é o que eu esperava. Mas já é um início. - Falava mais aliviada. - E vem cá. Aquela garota, ela não ficou no meio de tudo isso não, né? - Perguntava agora, curiosa.
- Erm... Talvez... Só talvez. Ela tenha visto o Gloom começar a cuspir e entrou em choque e começou a chorar sentada num degrau. - Falava meio sem graça enquanto observava de Hope havia terminado de tomar as vitaminas. Em seguida, o recolheria para sua Pokéball.
- Boa sorte. Eu pediria desculpas. Em especial, por ela ter ficado naquele estado. - Dizia ela.
- Que desculpas o que. Se eu tô bem sabendo, ela ficou o tempo todo reclamando que podia ser presa e o caramba. Mano, quem ia dizer que ela era cúmplice minha? Dava mais para falar que eu a arrastei para lá contra a vontade dela, e qualquer um poderia ver nas câmeras que ela não estava no momento em que eu comecei a... Burrada. - Falava meio indignado.
- Bem, aí é com você. - Dizia agora aparentando estar tranquila. - Boa sorte, Dai. Depois veja o que te enviei nas mensagens. Não se chateie com isso agora, tenta... Sei lá. Focar no que ta aí. Nos falamos depois. - E desligou.
Bem... Depois de todo aquele extenso diálogo no telefone. Eu fui até o banheiro e percebi que minha roupa estava bem molhada ainda, o que queria dizer que eu teria de esperar mais um pouco longe do colchão até dormir. Eu só tive ideias geniais hoje, credo. Nem para achar a toalha eu servi. E, me aproximando do espelho, podia ver que meu olho estava inchado, provavelmente ficaria roxo. Eu devia ir atrás de um pouco de gelo? Bem... Não custava nada, né? E comecei a procurar por ali mesmo, no primeiro andar, algo que eu pudesse colocar no olho e reduzir o inchaço.