Harvesting Art
Para alguns, sal e pimenta eram essenciais para tornar qualquer prato gostoso. Entretanto, a fome era de longe o melhor tempero. Tudo fica tão bom quando se está faminto. Após eu cumprimentar Luch outra vez após ele se sentar, não abri a boca para mais nada além de comer.
Tomei cuidado redobrado para manter a minha compostura durante a refeição, não falei de boca aberta, usei os talheres de maneira adequada e até mantive um guardanapo por perto, o usando cada vez que sujava os meus lábios ou as regiões próximas a ele. Notei a aproximação do garçom e pedi uma limonada, da forma mais educada que consegui no momento. Ainda bem que eu saciei a minha fome antes de Rivian chegar no colo de um dos funcionários, antes de se jogar no meu, pois eu não conseguia resolver nada de estômago vazio.
- Não se preocupe, ele tem poucas horas de nascimento, acho que ainda está bastante apegado. – Deixei os talheres no meu prato para aconchegar o filhote em meu colo. – Muito obrigado. Ainda não peguei o jeito com as espécies mamíferas. – Então caiu a ficha que nenhum dos bebês que eu tomei conta, antes do Riolu, tinha esse traço. – Está com fome, Riv? – Ofereci a solução preparada pelo rapaz para o lutador, o deitando sobre o meu colo e aproximando a mamadeira perto de sua boca.
Mantive o contato visual com o cachorrinho, pois, caso fosse como os humanos, o momento da amamentação era crucial para a formação do vínculo entre o cuidador principal e o bebê. Embora eu ainda não tivesse terminado a minha comida, Rivian havia se tornado a minha prioridade.
Uma vez que ele estivesse cheio, o deixaria deitado no meu colo para descansar e voltaria a me alimentar. A comida estava muito boa, mas não recebia toda a minha atenção, afinal eu tinha que verificar se o Riolu estava bem e conversar com Luch. Eu definitivamente não sabia como as mulheres tinham tanta habilidade em ser multi-tarefa.
- Nessa maré alcalina eu com certeza me afogo. – Admiti, prevendo os efeitos do sono em meu organismo. – Contanto que a gente continue dentro do tema do Festival da Colheita, não acho que eles serão muito críticos à nossas decisões, ou não teriam deixado tudo para nós. – Por mais que soasse como uma alfinetada, era a mais pura verdade. – Precisamos agradar o público, antes de mais nada. Podemos fazer algumas entrevistas com os moradores daqui. Os adultos e os idosos podem nos dar informações importantes para entender a tradição, mas se perguntarmos sobre as expectativas de cada habitante, saberemos o que eles querem ver nesse festival, independente da faixa etária, e é a partir daí que faremos a mágica acontecer. – Explanei a minha ideia, antes de voltar a me deliciar com o almoço.
(C) soph