[Mahogany] Memórias

The yesterday is today

Mahogany Town

Sinceramente? Thomas às vezes conseguia ser um belo de um sonso. Bem, era fofo até. De qualquer forma, em meio à toda sua densidade, o treinador foi capaz de analisar a situação e formular — e posteriormente, apresentar — uma opinião. Seus ditos fizeram a mono treinadora sorrir.

— É, acho que assim pode ser mais seguro, mesmo. Obrigada, Thomas! — ela disse, fazendo um sinal de positivo. Aparentemente, ela esperaria o rapaz buscar a tal ajuda ali mesmo. Não demorou muito, e logo o treinador tinha alguns outros voluntários, tal como os pokémon dos que não puderam ir eles mesmos, para ajudá-los. Aparentemente, aquele caminhão já estava sendo uma dor de cabeça há algum tempo, e eles ficariam contentes em retirá-lo.

Cerca de três pessoas, cada qual com um pokémon, além do Phantump que fora visto no dia anterior, e um dos Machokes. Juntos, eles conseguiram fazer tudo com bastante facilidade, na medida do possível. Precisavam tomar cuidado para que ninguém se machucasse, mas no fim, tudo deu certo. Após alguns bons minutos suados, depois de discutirem o melhor modo de realizar a tarefa, conseguiram compactar o caminhão.

Como eu disse, os Grimers e Muks teriam muito trabalho para fazer, depois que as cidades de ambas as regiões fossem restauradas. De qualquer forma, depois disso, os treinadores comemoram o sucesso e foram terminar de fazer suas coisas, todos com um sorriso no rosto. A própria Illíada parecia feliz por ter seu plano efetuado com excelência, e logo pegou a mão do treinador, arrastando-o para fazer mais alguns serviços.

Estranho que, juntamente à mono treinadora, as coisas não pareciam serem tão cansativas assim. Imagino o por quê.

Os dias continuaram assim. Thomas acordava, fazia o que precisava, ia ajudar na reconstrução com sua amiga amante de psíquicos. Curiosamente, a moça tentava fazer o máximo de atividades que conseguia ao lado do rapaz. Às vezes, conseguiam passar algum tempo juntos também, mas imagino que nada como aquele no Lake of Rage.

Tudo ia perfeitamente bem. Perfeito até demais. E é claro que tudo teve que ser estragado em uma madrugada tempestuosa. Sinceramente, qual o problema dessas tempestades, sempre pressagiando coisas ruins?! Enquanto dormia, a porta do quarto de Thomas fora aberta com força. Por trás dela, uma Illíada desesperada, como o treinador provavelmente nunca nem ao menos sonhara com.

— Th-Thomas! Me ajude!!! — ela gritou. Seus cabelos e roupas estavam molhados, e seu rosto, estranhamente inchado e avermelhado, como se ela estivera chorando. Ao seu lado, Bronzor tremeluzia exasperadamente. — É Ralts... Ela... Ela sumiu! — e com essa terrível proclamação, a mono treinadora caiu no chão, aos prantos.

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Engenhoso, não posso negar. Usar das habilidades natas de Bonnie para conseguir alcançar um alvo repleto de sentimentalismos. Bem, e não era apenas Ralts que provavelmente estava sentimental. Thomas estava passando um bom tempo em sua cidade natal, junto de sua nova amiga, com seus respectivos companheiros de viagem. E claro, o sumiço da fadinha parecia ter afetado todo mundo.

Illíada estava extremamente instável. Era como se metade do mundo havia desabado. Bronzor também não parecia lá muito melhor. Ainda assim, a presença do treinador pareceu acalmá-los. Pareceu dar certo, em partes. A jovem respirou profundamente, tentando acalmar-se. — Eu... Nós estávamos andando por perto do Lake of Rage.

Ela corou brevemente antes de continuar. — Então, começou a chover, e viemos correndo. Mas, quando eu fui ver... — sua voz falhou, pensando na alegre psíquica. — Ralts não estava mais conosco. Eu e Bronzor procuramos por tudo que é lugar, mas não vimos nem sinais. Eu... Eu não sei o que fazer, Thomas!

Depois de um tempo, Bonnie voltou ao quarto, aparentemente, não muito satisfeita com seus resultados. Os únicos sentimentos negativos que sentira fora de alguns dos pokémon que estavam na base de operações, com medo da tempestade. Também, nenhum sinal de Ralts. Parecia que o próprio treinador precisaria arriscar-se lá fora...

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Thomas decidiu, após ver todas suas outras alternativas eram vazias, ir atrás de Ralts por si mesmo. Não era a ideia mais reconfortante, mas aparentemente, era a única cogitável. — Tho-Thomas, espere! — a mono treinadora disse, subitamente. — Obrigada... Leve Bronzor consigo também. Ele pode ajudar iluminando o caminho.

Parecia que ela não aceitaria um não como resposta. O tempo lá fora não estava muito legal lá fora, com ventos intensos e raios caindo constantemente. O treinador e seus pokémon saíram, enfrentando a tormenta, cada qual em suas respectivas capas amarelas, que apesar de surradas, eram capaz de chuva. Bronzor não se importava muito com a chuva.

Ao Lake of Rage, então. Mas bem... Ralts estava perdida acerca do lago. Era uma área bastante extensa, e poderiam demorar a encontrá-la, ainda mais se a pequenina ficasse andando por aí, em meio às árvores. Bonnie parecia não estar sentindo nenhuma sensação negativa, também. Era preocupante.

Mas bem, talvez o brilho rosa no meio de uma madrugada chuvosa, dentro da floresta, pudesse significar algo.

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De fato, uma luminescência rósea no meio de uma floresta, durante uma tempestade que acontecia na madrugada de uma cidade recém-destruída não parecia muito normal, por assim dizer. Então é claro que foi para lá que Thomas e seus pokémon dirigiram-se. Se havia algo de normal no mundo pokémon era a não-normalidade.

Não tenho certeza se Sadie conseguiria fazer tanta diferença. A mata era relativamente densa, e logo, um pouco complicada para se voar, e mais ainda para enxergar. Ainda assim, o brilho era bastante nítido, tanto em terra quanto em céu. Um som peculiar podia ser ouvido naquela mesma direção, era quase como se alguém estivesse... Cantando?

Era confuso. Enquanto seguiam até o brilho, parecia até que Thomas conseguia ver algo pelo canto de seus olhos, como se algo estivesse vigiando-lhe, atento. Assustador, realmente. Ainda mais quando o treinador parava para olhar atentamente e não via nada, apesar de sentir-se observado. De uma forma não muito boa.

Por fim, chegaram. Não era apenas um brilho. Parecia um tipo de névoa, neblina, que reluzia intensamente. Pôde-se distingui-la de alguns metros, notando o movimento e forma com a qual era levada pelo vento, tal como uma verdadeira névoa. A única diferença era que ela era rosa, e de alguma forma, parecia ser um pouco mística.

Antes que pudessem adentrar a neblina, no entanto, um raio caiu ali perto. Por um instante, e apenas um instante, uma forma surgiu na "entrada" do nevoeiro. Foi tão rápido, apenas o tempo de a luz do relâmpago propagar-se, mas deu para distingui-la. Humanoide, ligeiramente baixa, com o que parecia ser um vestido de balé branco. Os cabelos esverdeados em estilo chanel era bastante característicos também.

E claro, o mais perturbador: o apetrecho cor-de-rosa que a forma segurava na barriga (como chamam? Pochete? Isso aí.), em tom bastante intenso, além das notórias olheiras que manchavam a pele branca. Mas como eu disse, foi por apenas uma fração de milésimo, e antes mesmo de pensar em piscar, a figura havia sumido do campo de visão de Thomas. Nenhum dos pokémon parecia ter notado aquilo.

De qualquer forma, a névoa agora estava mais próxima que nunca, e a cantoria também. Caso seguisse em diante, Thomas encontraria no centro da neblina uma forma bastante conhecida: Ralts. A psíquica estava cantando, alegremente, como que entretida por algo ou alguém. Não parecia assustada ou nada do tipo. Aliás, sua expressão parecia até mesmo ser de transe.

O que a pequenina estava fazendo em um lugar tão peculiar, àquele horário? Que estranho... Parecia até mesmo que uma força superior apenas inventou tudo isso para que Thomas pudesse encontrar-se com alguma coisa em particular, que eu definitivamente não faço ideia de que seja... De qualquer forma, talvez ele conseguisse fazer Ralts "acordar" e resolver tudo.

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Loucura, loucura, loucura. Era a única palavra capaz de descrever a situação. Tudo era tão louco que era também quase que inacreditável. De qualquer forma, assim que Thomas falou com Ralts, a pequenina pareceu acordar. Bem, acordar talvez não fosse a melhor palavra, já que ela fez exatamente o oposto disso. Saindo do transe, ela parecia confusa, mas também animada por ver o treinador, mas antes de fazer qualquer coisa, apenas caiu e dormiu.

... Okay.

Depois disso, eles provavelmente conseguiriam voltar ao Centro Pokémon com certa tranquilidade. A tempestade parecia estar passando também (felizmente, não era o segundo round contra o Boss final Kyogre). Assim que entrasse no quarto, Thomas veria que seus pokémon teriam feito um ótimo trabalho na tarefa de cuidar de Illíada.

A garota estava deitada na cama do treinador, com Abel no colo, a lã do elétrico agarrada às mãos da jovenzinha. Seu semblante, mesmo adormecido, parecia carregar um pouco de preocupação, mas ela estava melhor do que antes. E de alguma forma, assim que a fadinha entrara no quarto também, Illíada pareceu melhorar imediatamente, de alguma forma.

Bem, dizem que Ralts possuem capacidades especiais de sentir os sentimentos, e de proteger seus treinadores, não? Talvez fosse isso, afinal. Mesmo com as duas estando a dormir, a presença de uma tranquilizava a outra, quase que inconscientemente. Era bom ver que tudo tinha dado certo, no final, e que não passara de um grande susto.