Big TV _White Lies

Pois então vamos nos ver livres um do outro; pode ser?! Faz páginas que começo-mas-não-começo essa missão e agora me vejo obrigada a estar nela. Era a segunda vez em que tudo isso ocorria; a segunda vez que meu destino era fadado a cruzar com a queda de luz. Cruzei os braços, coloquei uma das mãos no queixo e pensei: se ha um horário padronizado, talvez o caso em questão tenha algo a ver com rotina. Veja bem, quando peguei isso aqui, vi na descrição se tratar de um "pokémon misterioso", apesar de achar isso uma grande balela. Se fosse de fato um pokémon raro ou estranho, já teria sido caçado por... bem, por caçadores. Como obviamente não deveria ser a questão, ignorei esse fato.

... ainda assim me volta a questão da rotina. Não há como dizer que é esporádico se há um horário tão bem definido. Olhei ao James, abri um sorrio idiota, expressei um meio-pensamento e esperei que ele tivesse algo a acrescentar:
- Já faz tanto tempo que até já se adaptou, né?! - Disse, apontando aos freezes, que claramente estavam em uma temperatura mais baixa que o normal, antecipando a queda de energia - É incrível como a gente sempre se adapta. Ok, James, eu vou dar uma olhada ao redor, ok?! Fazer umas perguntas, você já ouviu algum barulho enquanto isso acontecia? Explosão, som, sei lá...

Era um palpite; uma coisa era fato, rotinas são programações. Só há dois tipos de seres que programam: humanos e pokémons. Ainda que fosse algum experimento ou estudo, era inegável que seria programado por um humano; no aspecto de pokémons... bem, chega a ser hilário o quão metódico esses pequenos podem ser. Olhe Regin, por exemplo! Além de catar cada quinquilharia que vê no chão, nomeia, cataloga e organiza. Os horários delas também são assim; ela sempre fica revoltadíssima quando perturbo seu calendário.

No mais, esperei a resposta e saí da loja. Até esse ponto, não vi necessidade de ir até a base de lançamento do foguete, mas se nada de interessante visse ali, iria pular para dentro do ônibus e ir ao centro da missão. Saber se ali também faltava (ou faltara) energia quando o Centro sofria podia ser de um bom avanço nas teses.

Bem, eu não tive mais respostas. Eu não sei te dizer porque; só sei dizer-lhe que ficar ali já não me adiantava de nada. Olhei para o relógio dourado de pulso que carrego, vi os ponteiros me avisarem do inevitável: o tempo passou. Eram nove e quarenta e oito e eu já tinha me delongado demais; fora a fuga sutil velhinha que me avisou que já dava, eu precisava seguir minha missão.

Devo admitir que fazer isso sem Nicholas me dava certa insegurança, não por achar que não era capaz, mas por achá-lo extremamente qualificado... o ver em ação sempre que aquece, sabe?! Não me sinto insegura sem ele, mas certamente sou mais confiante com ele pelas redondezas. Pois bem, com ou sem ele, iria! Dei de ombros, nem sequer pedi licença a moça que fugiu de mim, dei um breve aceno ao dono da lanchonete, passei pelo Centro Pokémon, dei lembranças à Joy, fui até o ponto de ônibus e enfim peguei o ônibus para o centro de distribuição de energia; precisava ver de fato o que iria acontecer.

Ao chegar lá, me apresentaria como Winnie Freda, da Requiem; a tal encarregada pelo serviço contratado. Pediria algum tipo de relatório, antes de mais nada eu precisava saber a onde procurar... uma cidade é muito grande; não há como se achar o baderneiro-rotineiro sem nem saber por onde começar. Se me permitirem uma dica, ficaria lisonjeada; caso contrário, poderia levar alguns dias para entender a situação.

... e se a comunidade continuar sem muitas informações, talvez minha investigação seja ainda mais difícil do que imaginaria ser. No mais, ajeitei os óculos na cara e retornei meus pokémons; não queria pagar mais de uma passagem só por tê-los ali.

Provável que você ache ridículo quando eu te contar que no Espírito Santo chamará "Energias de Portugal - Espírito Santo". Sim, nossa distribuidora é privatizada por uma empresa de lisboa; o que torna tudo uma piada pronta. No mais, a gente usa EDP para fingir demência ou disfarçar. Pois bem, desci no local em questão, passei pela porta elétrica (dã) transparente, atravessei o salão vazio, passei pelos funcionários corriqueiros e procurei algo que parecesse ser uma recepção.

Encontraria? Não sei ao certo, mas posso afirmar-lhe que, independente de achar ou não, ali eu teria as informações certas. Caminhei por trás dos painéis e tentei olhar por entre os ombros e braços dos empregados. Procurei nos relógios datas, localizações e, claro, amperes. Procurei entender o impacto e centralizar as coisas ao norte e o sul e, acima de tudo, procurei ser notada.

Pigarreei.

Pigarreei mais uma vez, mas desta vez mais alto.

Pigarreei uma terceira vez, procurando os olhos dx recepcionistx em questão. Ao fim, busquei as vistas de algum funcionário que me notasse, nem que fosse com um curto incômodo. Queria caminhar até o alvo, lançar um breve sorriso meio, tímido e ajeitas as madeixas rosas. Gostaria de mexer o nariz coçando a garganta, mostrar as covinhas magras, ensaiar uma voz meiga e então perguntar:
- Ei, tudo bem? - e bastava de perguntas até então - Sou Winnie Freda, me contrataram para resolver isso...gostaria de saber mais sobre - Eu apontaria para toda aquela bagunça causada por apagões e falhas de transmissões.

Meu chute era assertivo, mas convenhamos, não tinha muito como dar errado. Apresentar-me à empresa que me contratou era o mínimo que eu poderia fazer; além disso, eles não perderiam muito mais de seus tempos sem procurar uma resolução... querendo ou não, eu PRECISO admitir que eu estou completamente atrasada. Eu não só enrolei um dia inteiro, como também uma manhã; esse problema já deveria ter acabado.

Provável que baseada nessa presa, a recepcionista não me perguntou nada, apenas abriu um belo de um sorriso esperançoso e me levou ao topo do prédio. Ga-ti-lho; fora no alto de um prédio desses que perdi para Anabel. O próprio elevador me fazia suspirar incomodada! Ainda assim não parei; e nem pedi por escadas. Segui a moçoíla para o destino óbvio até, enfim, chegar em seu chefe. Com os vários indicativos que me deram, entrei.

Não, eu não apenas entrei, entrei e sentei na cadeira que parecia estar a disposição. Tentei rodopiar no eixo da própria cadeira, testando sua capacidade giratória (ou não). Fiz também para olhar o entorno e tentar descobrir algum café - ou biscoito - para me sustentar. Sem lá muito sucesso, acabei por repousar minha vista cansada, ansiosa e hiperativa no semblante daquele homem e, quando o fiz, estendi minha mão para um apertar.

Não sei porque diabos um aperto de mão tem alguma significância, mas se fazem assim em todos os filmes, eu devo ter que atuar o gesto, né?! No mais, dei-lhe a mão esquerda, já que sou canhota. Apertaria a dele com certa leveza e, ao fim do ato, falaria frases curtas:
- Bom dia, eu sou Winnie - Pausei, por um longuíssimo período. Eu esperava que ele falasse mais que eu, afinal, eu que estava sendo contratada e o problema era, literalmente, dele. Não meu - Você pode me passar as áreas que isso começou a acontecer? As datas? As frequências? As pistas que tem? Eu tenho uma teoria, mas ficaria mais fácil se você me disser o que está pensando sobre.

Ele certamente já tentou fazer algo a respeito; se não fosse nada "ilegal" ou "antiético", acredito que não se importará de me contar seus tramites.

Particularmente, não estou muito acostumada com apertos de mão; desculpe por isso, milorde. Na verdade, nem me rememoro a última vez que fiz isso, se é que já fiz alguma vez. Nem em desafios de ginásio eu posso dizer que essa formalidade é comum; talvez Watson tenha mostrado a mão para mim. Ele e mais ninguém.

O mundo dos homens empresários é um tanto quanto distinto do meu; vê-lo pedir algo à Scheila me dava um certo calafrio; porque diabos ela obedeceria seu patrão ao pedir algo para outrem? Percebe o absurdo dos fatos? Por conta de um salário, a moçoila responsável pela recepção precisa, dã, me recepcionar. Ela não me conhece; não sou em nada importante à ela, ainda assim, meu bem estar se torna sua obrigação.

... por outro lado, eu poderia me acostumar com isso.

Sorri com apenas um dos lados do lábio, emiti um "obrigada" à secretária e peguei com bastante cuidado e carinho a xícara de café que me era de direito. Assoprei a borda por um tempo e dei um longo - e quentinho - gole, próximo do final da fala de Zachary. A pausa fora dada, enquanto eu engolia o líquido amargo que recebia com bastante apreço:
- Hmmm, eu perguntei em volta, e pelo que eu entendi, existem horários comuns que isso acontece né?! - Era retórico, eu já imaginava que a resposta fosse sim, então continuei o pensamento - Acho que vocês já estão bem preparados sabendo disso.... como era quase rotineiro, eu cogitei ser algum humano ou pokémon... primeiro eu pensei ser uma máquina ou algum aparelho irresponsável de alguém, que deve lidar de tempos em tempos, para fazer algum trabalho repetitivo... mas como você me disse que o problema se moveu... bem, não vejo como ser algo tão sério assim. Acho que é algum pokémon órfão. Mais cedo vi dois pikachus se alimentando da energia do Centro Pokémon, talvez seja um elétrico que não conhece nada por aqui e... bem, ta se escondendo em transformadores elétricos - Fui bem, mas bem sincera. Apesar de não ter certeza de como funciona a distribuição de energia em Mossdeep, acredito que haja um ponto central que tem sido danificado. Era sobre isso que queria perguntar - Você não tem encontrado mais cabeamento danificado que o normal? Eu queria saber mesmo é onde você tem encontrado isso, se é que está...