6 - Vermilion

Lucario não parecia nenhum pouco confortável em meio a tanta gente. Will tentou animá-la, mas séria como sempre, não deu importância as graças de seu treinador. Ele, sem saber o que fazer, preferiu observar a maravilha que era aquela ilha artificial. O Carateca parecia impressionado com a capacidade humana, o que recursos e força de vontade não eram capazes de construir?

Seu tio, Blade, estava lá para lembrá-lo de manter a compostura. Como representantes da Avengers, eles deviam corroborar a imagem séria e organizada da mais nova instituição que crescia cada vez mais nos seios de Slateport.

- Essa camisa de dentro está meio apertada. Mas ainda bem que a jaqueta ficou boa – Quando vestiu aquele uniforme pela primeira vez, Will ficou vermelho feito pimentão. Mas com o passar do tempo começou a ficar mais à vontade com ele, chegando a sentir orgulho de sua vestimenta. Ele fazia parte de algo, seu grupo cada vez mais parecia uma grande família.


A camisa trazia o símbolo típico no naipe de Espada no peito e esse era repetido nas costas da jaqueta, revelando sua Divisão na Sociedade. Qualquer um que o visse com aquela roupa, até então, acharia que ele era um fã daquele naipe do baralho. No entanto, nos ombros da jaqueta, o emblema da sociedade estava estampado, confirmando sua posição como membro do grupo.

O Carateca levantou os olhos para o seu tio ao lado que parecia procurar alguém na multidão. Assim como Will, ele vestia o uniforme oficial da Avengers, contudo, a roupa parecia cair muito melhor nele. – Não consigo encontrar o Merle! – Comentou Blade, taciturno.

- Bem, vamos diminuir o número de pessoas então. Se pegarmos a balsa para Vermilion, será mais fácil encontrá-lo.

Qual deveria ser a reação de alguém ao ver o tamanho do estrago de sua cidade natal? De pé na embarcação, vendo a sua cidade tomar forma no horizonte, Will estreitou a vista e segurou as lágrimas. Foram várias as lembranças que passaram em sua mente, umas trazendo sensações mais fortes do que outras. Quanto mais próximo ficava de seu destino, mais uma raiva sem sentido crescia em seu peito. Ele queria vingança, queria bater de volta, mas a quem ele culparia? Conteve seu ímpeto e respirou fundo, ciente de que não cabia a ele resolver o problema do mundo. Só podia mover uma pedra de cada vez.

Lucario ao seu lado pareceu compartilhar de todo o seu sofrimento, seu poder especial lhe permitia isso. Ela o tocou no braço e não disse nada, mas aquele simples gesto foi a coisa mais importante no mundo que ela poderia ter feito por ele.

Já com os pés no solo, Will parecia melhor, mesmo que não tivesse de fato superado aquela revolta. Agora era o momento de se agarrar a ideia de fazer sua região renascer do caos. Distraído, Blade o chamou apontando para um rapaz que tinha a insígnia da Avengers pendurada na mochila. Ambos caminharam até ele.

- Olá! – Enquanto se aproximava, chamou a atenção do loiro e acenou, tentando parecer animado. – Eu sou Will, o Ás de Espada. Você deve ser o Merle, correto? – Estendeu a mão para cumprimentar o companheiro. Blade fez o mesmo logo em seguida, se apresentando com sua voz grossa. – Eu sou o Danniel, mas pode me chamar de Blade. Capitão dos Espada.

O Carateca se virou, olhando para a destruição presente e complementou. – Parece que teremos muito trabalho pela frente. Obrigado por ter se juntado a nós! – E aquelas palavras foram carregadas de sinceridade, não apenas ditas por um líder da Avengers, mas também por um morador que via sua cidade definhando.

- Nós compreendemos, não se preocupe com isso. – Afirmou Blade analisando a postura do loiro sem o mínimo de constrangimento. Mas fosse qual fosse o seu julgamento, ele não transpareceu. O negro era um homem de poucas expressões, mas seus olhos pareciam sempre estar avaliando a pessoa a sua frente.

- Sim, você terá outras oportunidades de conhecer todo mundo. – Respondeu o jovem que diferentemente de seu tio, tinha uma atitude bem mais descontraída - Foi até bom você vir conosco. Acredito que entre os membros da nossa divisão só faltava eu conhecer você pessoalmente.

Will olhou ao redor procurando por um guia ou responsável que estivesse organizando os voluntários, mas sem muita sorte, voltou sua atenção para a conversa com Merle. – Então você é natural de Hoenn... Antes de as autoridades nos mandarem evacuar Kanto, eu também nunca tinha deixado minha Região. E cara, minha cidade parece completamente de cabeça pra baixo. – Disse pesaroso olhando o estado do lugar – Não faço nem ideia em que parte da cidade nós estamos. – E como se estivesse se esquecido de algo, ele apresentou sua Lucario. – Ah, essa é a Katana, uma ótima rastreadora. Além de ter um faro apurado, sua espécie é capaz de rastrear a aura dos seres vivos. Eu a trouxe justamente para uma possível missão de resgate.

Vendo que Will não respondeu a dúvida de Merle, Blade interviu. – Fique tranquilo, eles não cobrarão nada da gente que não esteja dentro de nossas capacidades. Provavelmente vão querer saber o que costumamos fazer e que tipo de Pokémon trouxemos para suporte.

- Isso! E não esqueça que estamos aqui formando um time, se precisar, nossos Pokémon também lhe ajudarão – Confirmou o Carateca voltando a procurar por um responsável.

- Bom! – Disse, achando divertido a menção de carregar peso – Agora entendo o porquê de você ter escolhido a Divisão Espada. Isso vai facilitar as coisas para nós.

- Podem ficar aí conversando, deixem que eu procuro pelo responsável desse lugar. – Blade fez questão deixar os dois jovens se conhecendo e se afastou atrás de informação. Estava procurando por algum Ranger ou o responsável em distribuir o trabalho.

- Ele é sempre assim, não gosta muito de ficar parado. – Comentou, fazendo questão de apontar a pró-atividade de seu Capitão. – Eu li sua ficha, tenho algumas informações básicas sobre você, Merle. Mas me diga, Qual a sua história? O que está achando do grupo? Estamos dentro da sua expectativa? – Will bombardeava o outro rapaz de perguntas, até que surpreso, como se só reparasse agora, ele lembrou de perguntar. - E cara, cadê o seu uniforme? Achei que a Cindy tinha distribuído todos logo depois que a encomenda do Matthew chegou... – O uniforme não era obrigatório dentro da Sociedade, mas em situações como aquela, facilitava bastante na divulgação do nome da Agência. Will mesmo tinha planos futuros de só usar a jaqueta quando fosse preciso. - Queremos aproveitar o uniforme para facilitar a divulgação da imagem do Grupo em Tohjo.

Will arregalou os olhos surpreso, sem acreditar no que ouvia. – Sério, cara? Uma pena... Os membros que seguissem a orientação do conselho iria receber uma estrela do grupo. Você voltaria para Hoenn como Agente Classe B. – Ele deu de ombros imaginando se o uniforme era assim tão importante, afinal o que mais importava era ajudar Tohjo. – Bem, você está aqui. É isso que importa. Quando voltarmos tentarei convencer os outros a lhe promover...

Merle prosseguiu falando mais sobre ele. Algumas coisas o Carateca sabia, no entanto, era uma novidade o fato de ele trabalhar em um barco de pesca. – Legal! Você deve ter um equilíbrio e tanto, já que trabalhou no mar. – Will imaginou se o companheiro teria alguma paixão por aquela profissão, mas não sentiu entusiasmo em suas palavras e por isso não resolver não perguntar. – Sim, se precisar de ajuda, não deixe de pedir. Apesar de querermos contribuir para a sociedade, a gente se reuniu principalmente para nos ajudarmos...

O Carateca fora interrompido pela voz de um homem que passava instruções com um megafone aos voluntários. Ele se virou na direção do sujeito e percebeu que era um Ranger. – Finalmente, parece que o trabalho vai começar... Vamos lá! – Will deu um tapinha no ombro de Merle o chamando para se moverem em direção a cúpula. Enquanto seguia a rua principal, procurou por seu tio, mas ele não estava realmente preocupado. Blade deveria ter ouvido, mas se não fosse esse o caso, ele com certeza seguiria o fluxo de pessoas quando as visse se deslocando.