6 - Vermilion

Katana se prontificou a levar a mãe e dois filhotes que não queriam se soltar desta. Sem tempo e temendo o pior, Will não questionou, agarrou o Pichu restante e o passou ao companheiro loiro empurrando-o na direção que a Lucario tomava. Restando apenas o pai dos roedores aos seus pés ferido, o Carateca o pegou no colo e correu atrás do grupo. – Fique tranquilo, amiguinho. Iremos tirar sua família daqui.

Katana era um exemplo a ser seguido: forte, determinada, inteligente e com uma mente aguçada para tomar decisões em meio ao risco. Will não hesitou um segundo sequer em entregar sua vida as decisões da sua Lutadora. Quando finalmente saíram, passando por mais dois sufocos, era visível a expressão de alívio em seu rosto. Entregou o Pikachu ferido ao Joel e desabou sentado longe do perigo.

- Sim, já pensei muito em virar Ranger. Mas gosto da minha liberdade de treinador... Esse foi um dos motivos de me tornar membro da Avengers. – Apontou para o emblema costurado no braço do colete. Acenando positivamente para o engenheiro quando ele comentou o estado do Dojo. – Lá dentro está bem caótico. Não vai demorar muito para tudo desabar. Pode ser daqui uma hora ou um mês, mas é inevitável.

Will olhou de relance para o seu avô que acenou entendendo o que seu neto queria dizer. Ele e Blade estavam lado a lado, seja lá a conversa que tivessem tido, parecia que chegaram a um entendimento. O mais jovem da família Allstar se levantou e caminhou até a sua Lucario, dando-lhe um abraço e agradecendo pelo bom trabalho. Depois se aproximou de Merle e esticou o punho para um cumprimento típico entre lutadores. – Você tem “coragem” – enfatizou a palavra que destacava um membro da Divisão Espada. – Mandou muito bem lá dentro. Valeu pela ajuda.

Quando se virou viu seu avô e tio caminhando até a entrada do Dojo, os dois se curvaram em posição de respeito típica do Karatê, saudando o lugar que tanto lhes serviu. Will se apressou a segui-los, repetindo o gesto como se desse adeus a um amigo.

Drake se virou, arrastou filho e neto de perto do prédio e olhou para o Engenheiro. – Pode derrubar!

- Sim – respondeu ao Loiro com a voz pesarosa, era impossível não sentir tristeza, ver aquele lugar em ruína era como ver um amigo em estado terminal. – E pensar que esse lugar é mais velho do que eu... Foram bons os momentos que passei aqui, mas um dia o reergueremos.

Drake caminhou até eles e posou as mãos nos ombros de cada um, apertando com afeto. – Vocês dois foram incríveis lá dentro, estou muito orgulhoso. Saw e Buzz os agradecem. – O homem, sendo um mestre, estava acostumado a falar com “estranhos” como se os conhecessem. – Mas o manterei vazio por um tempo. – O grande homem cruzou os braços para contemplar o trabalho do engenheiro e sua equipe. – Decidi que irei aproveitar um pouco a minha aposentadoria. Vou aproveitar o momento para visitar velhos amigos – Will sabia bem a quem ele se referia, seus antigos Pokémon que voltaram ao mundo selvagem e outros Mestre de Artes Marciais que ele conheceu durante suas viagens.

O dia se encerrou com dor, mas a noite lhe trouxe novas oportunidades. Durante as semanas seguintes, Will, Blade e Drake trabalharam com afinco junto de seus Pokémon. Faziam de tudo, como Joel. Para eles não tinha tempo ruim. Cada um deu seus Pokémon se destacaram, mas aquele que mais brilhou, literalmente, foi Electabuzz que antes da energia ser reestabelecida, teve que carregar um gerador na área. O Pokémon se forçou tanto que no final evoluiu para um Electivire. Desde que Will conseguira o item Electirizer, Hyperion não o deixava de lado por nada. Pouco a pouco, o bairro em que trabalhavam foi reerguido.

As noites daqueles dias foram tomadas por conversas animadas, conheceu diversos voluntários, estreitou laços com Merle e sua equipe Pokémon, aprendeu mais sobre as viagens de seu tio e descobriu o quanto seu avô se importava com Vermilion. A cidade já começava a exalar vida e o tempo dos Avengers ali ia chegando ao fim.

Will se via cada vez mais na dúvida, continuaria por Hoenn ou retornaria para a terra que prometera a si mesmo se tornar um campeão?

O Dojo de seu avô voltou a ficar de pé, a estrutura era muito semelhante a anterior, mas, talvez pelo fato de ser nova, parecia ainda mais magnífica. Drake voltou a se instalar em sua propriedade assim que foi permitido pelas autoridades, auxiliando diversas pessoas pelo bairro, ficaria por Vermilion enquanto a cidade precisasse, depois faria suas viagens curtas pelo continente para rever os amigos, sem nunca abandonar o novo Dojô.

- Continue firme com seus planos, meu neto. Mas não deixe de visitar o seu avô. – Despediram-se cedo naquele dia, com a promessa de que voltariam a se ver quando pudessem. Drake e Danniel reataram a antiga relação de pai e filho que tinham como se nunca tivesse existido uma ruptura. Mas como um membro da Avengers, ele voltaria para Hoenn.

O dia da partida finalmente chegara, Will sentia o acumulo do cansaço, mas estava extremamente feliz, não demoraria e logo regressaria a sua terra. Encontrou Ellie e Joel antes de partirem, fazendo questão de lhes darem um abraço de despedida.

- Obrigado! Fizemos o que era possível. – Coçou a cabeça envergonhado e depois estufou o peito de orgulho - Mas quem deve agradecer sou eu. Como um morador de Vermilion, agradeço pelo apoio de vocês. – Aquelas palavras tinham se tornando rotina durante as noites no refeitório, sempre que conhecia um voluntário, fazia questão de agradecê-los.

Despediu-se dos dois para se ver sozinho com Blade e Merle. – Cara, nós mandamos muito bem! Acho que fizemos uma ótima divulgação do nome da nossa Sociedade. Vai ser muito interessante montarmos uma Base aqui! – Falou com os dois, dirigindo-se ao loiro depois. – Espero ouvir grandes histórias sobre você, Merle! Estarei torcendo pelas suas vitórias. Quando voltarmos a Hoenn e tivermos um tempinho, vamos fazer uma batalha Pokémon.

- Vocês só pensam nisso mesmo – Blade riu ao ver a empolgação de ambos, depois passou um braço pelo ombro dos dois e os arrastou para o transporte que os levariam a ilha artificial. – Vamos, vamos voltar!