[Missão] Um passo nas negociações...

Laranjinha e Acerola

Sexta-Feira - 21:15 p.m.

Acerola ouvia atentamente o que Ayzen dizia, mas era claro pela sua expressão que não estava gostando nada do rumo das palavras do Ranger. Ela tinha um gênio muito forte e sua personalidade explosiva não contribuía para que tivesse compreensão da situação. Era radical, extremista em suas ações e pensamentos e era óbvio que nenhuma palavra iria contornar isso — É claro que é ilegal! Óbvio! Muita coisa é, é só andar pelas ruas com os olhos abertos. Mas isso não faz mal a ninguém! Se você tivesse ido lá teria visto com seus próprios olhos, algo que o Diretor nunca fez é claro. Mas sabe quem vai lá? Os Oficiais e ainda acham que estão com direito de mandar e desmandar — Ela falava, quase levantando-se, gesticulando e tudo mais.

— O problema de tudo não ser resolvido é que pessoas veem a situação assim como você, preto ou branco, legal ou ilegal e escolhem tomar a decisão mais fácil, sem ver os motivos das pessoas. É muito fácil acabar com o Baile de três adolescentes, é uma "Missão" fácil, difícil mesmo é você apontar os erros dos seus próprios colegas, coisas muito mais impactantes e ruins. Sim, ruins! Você sabe bem disso, se não sabe é porque está vivendo muito dentro da sua própria bolha, Senhor Ranger! Argh! Eu estou SECA! E cansada... Não sabe o quanto é difícil viver por aqui ultimamente... — Finalizava Acerola, respirando profundamente e abaixando a cabeça, desarmada — Será que você pode pelo menos me comprar um refrigerante? Eu não consigo tomar um há dias, porque não tenho dinheiro! Pelo menos isso... — Questionou a garota, jogando-se contra o travesseiro, de olhos fechados. Como Ayzen reagiria a tudo o que foi dito? ◄

Laranjinha e Acerola

Sexta-Feira - 21:22 p.m.

Difícil. Realmente era complicado para o Ranger lidar com uma situação dessas. Obviamente ele já tinha pensado em vários problemas que a própria Corporação tinha, mas uma coisa é conhecê-las e outra muito diferente é poder resolvê-las. Deixar seu cargo ou parar de cumprir missões não resolveria a situação de ninguém, muito menos a própria. Ou seja, não havia saída fácil. Mas enfim... Todo esse dilema moral até fez o jovem lembrar de uma de suas colegas de Sociedade e certamente faziam com que sua mente fervilhasse de informações, muito mais do que o normal e saudável para uma noite. Talvez o pedido por uma bebida vindo de Acerola fosse o escape que ele precisasse para sair e respirar.

Como o Ranger descobriu em sua saída pelos corredores é que precisavam colocar máquinas de maneira mais homogênea. Só havia uma lá bem perto da recepção e essa hora da noite qualquer caminhada era uma grande maratona. O jovem Cadete pegou algum refrigereco qualquer da máquina e retornou para o quarto, após contornar dois corredores e abrir a porta novamente. Assim que entrou... Bem, não havia ninguém... Teria entrado no quarto errado? A janela estava aberta e a cortina esvoaçava para o lado de fora...

No parapeito da janela, uma figura conhecida. Era um Scraggy, com suas chamativas colorações alaranjadas e amarelas, segurando o que seria sua... pele extra. Ele fez uma cara feia para Ayzen e então saltou da janela, deixando claro qual havia sido o desfecho de Acerola. Se o Ranger corresse até a janela até conseguiria ver a menina e o rapaz que conheceu mais cedo correrem desesperadamente já bem distante. Até poderia correr atrás deles, mas não parecia ser possível alcançá-los. Talvez o Pokémon, quem sabe? Enfim, faria diferença? Parece que a noite se encerrava para o Cadete e o final de semana ainda prometia muito mais. O que Ayzen, com seu refrigerante em mãos, faria então? ◄

Laranjinha e Acerola

Sexta-Feira - 21:31 p.m.

Apesar dos pesares, Ayzen não estava tão surpreso com a fuga de Acerola. Na verdade, dentro de si provavelmente sempre imaginou que isso ocorreria, mas não queria aceitar apenas. Enfim... A noite caía e o dia seguinte prometia ser tão agitado quanto este. O Cadete mal tivera tempo de um jantar digno, então refrescou-se com o refrigerante abandonado e partiu até a recepção, notificando as Enfermeiras sobre a fuga da menina. Em seguida, passou no Centro Pokémon e recuperou seus companheiros, antes de pegar um lanche e ir relaxar e dormir, encerrando finalmente aquele dia...


Sábado - 07:15 a.m.

Logo de manhã, já no sábado, Ayzen recebia uma notificação da Base Ranger em seu aparelho de comunicação. Algo um tanto inesperado, principalmente por solicitar um Relatório Parcial da Missão e questionar se apoio era necessário... Será que houve algum contato dos Policiais, do Diretor ou de qualquer outra pessoa aos Ranger para uma denúncia ou qualquer coisa do tipo sobre o próprio rapaz? Seria algo difícil de dizer. Entretanto, sendo incomum ou não, era algo que necessitava ser respondido: um dos muitos deveres do Cadete como Ranger.

Após o Relatório, Ayzen deveria se programar para o dia. Haviam dois pontos interessantes, um deles era o Encontro com a Professora Adrielle às 15 horas no StaryuBucks para conversarem melhor sobre os três alunos. Devido às situações extremas da última noite seria compreensível não ir, mas quanto mais informações tivesse, melhor resolveria o caso. Depois, haveria de ver finalmente na prática como funcionava o tal "Mandela". Aliás, era necessário saber que horas o tal Baile começava, talvez a Professora pudesse dar essa informação, mesmo que não fosse tão fácil assim, pelo menos enquanto ela não confiasse plenamente no Ranger. O que o Cadete faria então? ◄

Laranjinha e Acerola

Sábado - 07:45 a.m.

Depois de manter a sua rotina fitness, o Cadete Kitshomo retornou ao Centro Pokémon, nesta manhã ensolarada de sábado para averiguar as novidades. Não havia recebido mensagem de qualquer envolvido em sua Missão, mas curiosamente possuía uma nova notificação da Base Ranger, a qual rapidamente reportou através de seu utilíssimo Ranger Pad - que agora pensando bem, provavelmente possuía uma tecnologia de criptografia muito mais avançada do que os PokéNav convencionais, sendo a melhor opção para "mensagens internas".

Após enviar tudo o que tinha a dizer, a única resposta que obteve foi um: "Relatório Recebido. Fique atento para possíveis novas ordens". E então, o aparelho apagou-se, ficando em Stand-By. Ayzen então aproveitou para fazer um lanche e algumas mudanças em seu time, retornando para tomar um banho e relaxar lendo os documentos oferecidos pelo Diretor sobre cada um dos alunos. Dentre as informações haviam coisas interessantes: os três tiravam notas boas, mas tinham mais faltas do que a média, eram transferidos de Tohjo após as inundações e dois - Acerola e Pitú - tinham pais desempregados.

Observando adiante, era notável que haviam advertências sobre brigas envolvendo os três, mas em nenhum dos relatos eles haviam iniciado a discussão ou até as agressões físicas, nos últimos meses tornaram-se populares entre os demais colegas, provavelmente pelas festas que organiza e chegaram a apresentar um projeto cultural junto da Professora Adrielle, mas que não foi aceito pelo Diretor por achar incompatível com a política educacional da Escola. Maiores detalhes não foram dados...

A pesquisa acabou durando bastante tempo e quando deu por si, já era hora de se arrumar e partir para o Encontro, Profissional é claro.


Sábado - 3:14 p.m.

Buscando chegar mais cedo do que o combinado, Ayzen prontificou-se a um adiantamento social de 5 minutos, adentrando a Cafeteria e aguardando a chegada da Professora. É bem verdade que ela se atrasou bastante, aproximando-se de quinze minutos de espera. Será que o Ranger deveria seguir a regra da Sala de Aula e cancelar tudo se tiver pelo menos quinze minutos de atraso? Enfim... Antes que tomasse qualquer decisão precipitada, a mulher chegou, completamente diferente do que ele havia visto em seu ambiente de trabalho, seja pela maquiagem ou pelas roupas menos sóbrias, apesar de serem tão comuns quanto a de qualquer outra pessoa — Perdão pelo atraso, mas eu acabei recebendo uma ligação de última hora quando ia saindo de casa e... Enfim, como está, tudo bem depois de todo o susto de ontem? ◄

Laranjinha e Acerola

Sábado - 3:20 p.m.

Depois de se desculpar e questionar sobre a noite de ontem, a Professora ouviu atentamente o que Ayzen tinha a dizer, inclusive sobre o fato da garota ter fugido do Hospital na companhia de seu amigo Pitú, e de Scraggy é claro, o aparente mascote mal encarado do trio. A cada palavra a Professora torcia um pouco os lábios em silêncio, mas era notável o desconforto e um tanto de vergonha pela atitude das "crianças" que tanto defendia. Entretanto, nada disse, apenas esperou que o Cadete terminasse para que tomasse alguma reação. Em seguida, assim que avistou o garçom, o chamou e solicitou um Café, Preto. Extraforte. Mesmo por trás de toda a maquiagem era notável seu cansaço, provavelmente de noites sem dormir.

— Eu só peço que... Não pense o pior desses jovens. Eles sempre tiveram esse julgamento, mesmo antes de tomar medidas tão incompatíveis com o que a Sociedade espera deles. Você deve ter pesquisado e sabe que eles são de Tohjo, famílias que sofreram com a inundação. Paulo é filho de fazendeiros que perderam tudo e agora com a reconstrução, não há terras para todos. Sabe o que fizeram? Construíram uma Universidade de Criação e estão vendendo Lotes para Criadores. Isso é lucrativo, apenas isso, mas existem mil desculpas para a alavancagem econômica da região, Sacrifícios necessários! — Explicava a mulher em um tom bastante politizado.

— Paulo quer virar Criador para voltar com os negócios dos pais da forma que é possível, mas é tudo bem caro e se você não sai pelo mundo em Jornada não consegue muito dinheiro. Ele sabe disso, mas não quer se afastar da família... Já Alice sonha em ser Coordenadora. Ela ama a música e queria que os Contests fizessem parte da Competição Escolar, mas o Diretor foi contra por não acreditar em Contests como algo viável em relação a Batalhas, que ocupam toda a grade extracurricular. Ela criou o Baile Funk como uma espécie de Contest das Ruas, algo menos chique, digamos assim... Isso atraiu bastante jovens que contribuem com uma entrada simbólica — Explicou Adrielle, pausando para respirar profundamente e beber um gole do café que havia acabado de chegar.

— Nessas festas o Paulo tem usado conhecimentos de internet pra tentar produzir algumas coisas que só Criadores conseguem, mesmos em habilidade. Ele é bom nisso, mas são produtos ilegais, entretanto é a principal renda do trio. Já o Caio, bem... Ele foi diagnosticado com Asperger. Os pais ainda tem o emprego, mesmo em Hoenn, mas nunca conseguiram lidar com o jeito dele. Não o compreendem. Paulo e Alice foram quem deram uma mão ao garoto e envolveram ele nisso tudo. Sabe o que é finalmente ver alguém sorrir depois de tanto tempo sem abrir os lábios nem para falar? Bem, sem contar que os três - apesar da bagunça generalizada e sujeira - tem conseguido chamar a atenção de outros jovens para saírem de Bailes mais "perigosos" e com drogas para virem para o Mandela deles. Só que nem todos esses jovens são tranquilos e às vezes a confusão foge d alçada deles e é aí que os problemas acontecem com a Escola. A Polícia obviamente não vai fazer a segurança do "Evento", apesar de consumirem os "produtos" de Paulo e frequentarem de vez em quando o Mandela. O Diretor, odeia tudo isso que eles fazem. Ele é conservador e acha que todos os jovens que não saíram de casa aos dez anos são vagabundos sustentados pelos pais. Uma visão limitadíssima e que acho perigosa...  — Concluiu a Professora, após uma longa explicação.

— Entenda, os três não sabem o que é uma autoridade firme e confiável. É natural que tenham fugido, pois se não fugissem voltariam à estaca zero. O fato do Baile ser bom para a Comunidade é o que trouxe tanto ódio desse grupo criminoso contra eles e por isso correm risco de vida. Eu também entendo sua Missão e que não pode fazer milagres, mas apesar das Leis, os três tem feito o melhor que podem para trazer o melhor para as pessoas ao seu redor, então eu vejo na prática algo que não posso dizer que é completamente errado. Entende? — Deu então outro grande gole no café e suspirou — Faça uma visita hoje à noite e veja com seus próprios olhos. Se possível, dê uma força a eles para controlar os "convidados" mais exaltados e acho provável que a Escola não vai ser tão afetada. Vai ver que nem tudo é ruim!— Dizia ela, quase suplicando, mais agitada. Ela até mesmo segurava as mãos de Ayzen sobre a mesa... E bem, depois de tanta informação, o que o Cadete faria? ◄