Pokémon Mythology RPG
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Ato 03 — Libertação.

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Com a cabeça encostada sobre o vidro fumê do veículo, o treinador divagava sobre o que foram esses dias malucos. Nem mesmo o dia em que se sentiu mais esperto possível conseguiria predizer sobre os acontecimentos passados que o levaram até mesmo a ter a mobilidade reduzida por conta de um tiro na perna. Ainda mais excêntrico, encontrara uma garota deveras inocente que viu ternura nos olhares inexpressivos do cotidiano de Nicholas; e o mais engraçado: ele sentiu que a outrora desconhecida garota acalentava seu intrínseco, a ponto de sepultar todo resquício de sombra iminente.

A exceção de Nincada — capturada da maneira mais “à moda antiga” —, os demais membros de sua equipe tinham alguma ligação especial com o louro: seja por gratidão ao salvar sua vida ou por uma conexão sobrenatural que conectava as duas almas insolitamente. Ironicamente, Nicholas nunca foi alguém muito sociável, e atraíra pessoas para si em ínfimos dois dias; se alguém o dissesse que uma cruzada pelo mundo aguardava tantas agradáveis surpresas, pessimista — ou realista — como é, o treinador nunca acertaria.

Em meio aos seus devaneios, permitiu-se retirar do mundo imaginário, agora fitando a garota no banco ao seu lado. Como ele, Emma encarava as ruas de Rustboro com sua mão apoiada sobre seu queixo. Sua respiração — outrora caótica, ao encarar a figura grisalha de seu progenitor —, os movimentos cíclicos de seu tórax normalizara, com apenas um suspiro mais longo descompassado hora ou outra; poderia ser por finalmente ter encontrado um “salvador” ou poder ver as ruas corriqueiramente outra — Nicholas jamais saberia. O louro sentia uma pequena chama ardendo em seu âmago, mas não por motivos atrozes, e sim uma pontada de esperança; quiçá, experimentando um pouco do “amor” que já há tanto tempo não lhe era familiar.

Arqueou seu corpo para trás, morosamente, com os orbes anis bailando pelo interior do automóvel.

— Me diz que a gente realmente não fez aquilo — soprou quase inaudível para Emma, encarando-a de relance com um sorriso sereno adornando o semblante.

Fora uma loucura, de fato. Debandar do hospital naquele estado fugindo do pai da garota lhe recordava de alguns episódios de sua infância, como quando ousou entrar escondido no laboratório de Oak — deu tudo errado. Voltava sua fronte para o teto do carro, processando os acontecimentos pouco a pouco. Sua perna já não latejava como outrora; o movimento ainda era restringido por não estar completamente cicatrizado, contudo, era nítida a sua melhora.

Taciturno, acompanhado de suas memórias e tentativas vãos de entender racionalmente todo aqueles primeiros dias de viagens, o automóvel seguiu viagem para o norte da metrópole. Traçara um roteiro mínimo do que fazer na rota cento e quinze; entretanto, as forças do destino eram poderosas o suficiente para distorcer todo e qualquer planejamento — por mais minucioso que seja — feito pelo treinador.

O automóvel chegara ao seu destino enfim. Nos confins ao norte da cidade, no limiar entre o exterior, pararam. Despediram-se do motorista os jovens, descendo do carro e já rumando a abertura que os levava para a rota cento e quinze.

— Eu vi no pokénav que é possível conseguir algum pokémon aquático por aqui; e um tipo grama também é necessário — exprimiu, apoiando seu corpo sobre a muleta esquerda, deixando a mão livre para arrumar as alças de sua mochila anil e singela. — Se nada der errado, acho que dá pra gente explorar aqui sem problema nenhum. Não conseguimos fazer isso lá atrás, então a gente faz agora.

Suas palavras eram afáveis no fim das contas. Eram raras as vezes em que se sentia à vontade para poder descontrair a atmosfera; com Emma ao seu lado, já constatou o quanto a mesma lhe era de confiança, então, podia deixar de ser um pouco menos carrancudo — era seu traço característico e nunca sumia de fato, apenas amenizava-o.

Andaram alguns passos para frente, já sentindo os pés pisar na terra batida, indicando que estavam em território inóspito mais uma vez. Rustboro lhes fora hostil durante esses dois dias, contudo, estavam mais uma vez à mercê do destino e das forças da natureza; esse é o destino de um treinador andarilho como os dois, afinal. Os olhos do treinador ziguezagueavam de um lado para o outro, sentindo a ventania tentar lhe arremessar para trás. Tendo de se manter em pé com as muletas eximiamente, resmungou:

— Minha perna tem que melhorar logo. Eu me sinto um completo inútil com essas muletas. Pensou se eu tiver que atravessar algum campo lamacento ou montanha? Arceus me livre.

Em meio às suas reclamações, a dupla se dirigia para a rota cento e quinze seguindo os planos do louro feitos ainda no hospital. Arceus parecia ter conspirado — até então — contra qualquer tranquilidade em relação à vida daqueles dois; se ele pudesse se redimir nesse momento, é inenarrável a sensação de felicidade que percorria os nervos dos iniciantes.

Que comece a busca por novos companheiros, então.

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Route 115


Era uma vez uma garota. Beleza infindável, com majestosos cachos dourados, tendo estes a envolver plenamente o alvo de sua face. Globos que reluziam tal como safiras, buscando lançar algum relance de luz em meio ao caótico oceano de escuridão que a envolvia. Cadeados e barras de ferro, juntamente da tão famosa torre.

Engaiolada.

Até que um dia...

Ela encontrou uma saída. Precipitada, talvez ainda mais que a chuva. Impremeditado, nunca antes sequer cogitado. Tal como o pássaro preso que era, abriu as asas para voar, enfim vendo uma luz ao fim do túnel; uma ilha em meio ao mar de caos; o horizonte sempre tão distante.

E caiu.

Sempre tão imersa nos mundos que encontrava dentro das sílabas, das suas tão reconfortantes palavras, esqueceu-se que não tinha asas para voar. A mágica não está ao seu favor, pronta para ajudar. Fantasia, misticismo... são todos confrontados diretamente com ossos quebrados da dura realidade.

Ainda assim, sua visão não era equivocada em inteiro. Afinal, idealizado ou não, todos os sonhos vêm da mente. E esta, apesar de ilusória e embaidora, possui um ínfimo fundo de verdade. Não haveria um "felizes para sempre", ah, de maneira alguma. E certamente, era um choque para alguém tão conformado com o mundo onírico.

Mas é claro, não era impossível encontrar uma saída. Um fim eterno de rosas, dias ensolarados e alegria definitivamente é apenas pensável, e não sairá nunca do fabulizado. Talvez um "aproveitaram o melhor de si por enquanto durou" seja mais adequado. Sim, muito melhor.

De qualquer jeito, imagino que os últimos acontecimentos estejam fazendo a dupla de agora treinadores refletir um pouco sobre o assunto. Obviamente, não exatamente assim, mas pensavam, à sua própria forma. Finalmente teriam algum tempo para apenas sentir a brisa adentrar seus pulmões, calma e maviosa. Ou ao menos achavam.

Emma, digna de ser chamada princesa, sorriu com os ditos do passível jovem. — Acho que eu gostaria de dizer que não... mas infelizmente, não acho que posso — comentou ela, com voz doce e afável. Ela mexeu em seu laço carmim, que estivera consigo ao longo de todos os acontecimentos do último dia. Gozado, pensar em como o laço estava inteiro... Diferentemente do rapaz.

Além disso, não seja tão duro consigo mesmo. Você sabe muito bem que é tudo, menos inútil — protestou a jovem, dando um fraco soquinho no ombro de seu namorado, acariciando-o logo em seguida, para ter certeza de que não o havia machucado. — E bem, não sei de pântanos, mas acho melhor ficarmos longe dali, então — disse Emma, apontando para um ponto do relevo.

A Rota 115 era um cenário digno dos livros favoritos da donzela. Na região em que ela apontava, algumas montanhas rochosas, ligeiramente altas. A brisa carregava um quê salgado, que percorria por entre os cabelos da moça. As árvores, à distância, eram grandes e vistosas. Até mesmo a grama parecia brilhar de forma especial.

Até mesmo a imensa esfera de gases incandescente que pairava no céu parecia brilhar especialmente. E claro, para fechar o cenário dos sonhos com uma chave de ouro, precisava haver o singelo canto dos pássaros. Mas... Por quê aquilo mais lembrava uma criança chorando do que uma melodia natural? Definitivamente, era algo a se questionar.





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Última edição por Renzinho em Qua Set 02 2020, 07:30, editado 1 vez(es)

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Sendo dotada de árvores compactadas em um terreno considerável e somado ao mar fechado que banhava a região, a brisa salgada da rota cento e quinze dava as boas-vindas à dupla itinerante. Os olhos cerúleos do rapaz ziguezagueavam ao seu redor, buscando algum ponto de referência de acordo com o que vira outrora ao recorrer à tecnologia adquirida recentemente — vale ressaltar, fundamental no resgate da loura que agora o acompanhava. Traçara planos para poder operar em um curto lapso de tempo e ainda sim seguir ao continente próximo à terra natal, afinal, lembrara-se daquele vislumbre e sons informativos acerca do que ocorreria no National Park; pouco sabia Nicholas sobre a localização, e sendo um aventureiro, nada mais justo que adentrar os confins de uma terra vizinha.

Mal pensou sobre isso e sentiu o ínfimo impacto das ternas mãos de Emma sobre seu ombro. Torceu o nariz mediante seus dizeres e ergueu a sua sobrancelha esquerda; simultaneamente, um sorriso breve pincelava os finos e róseos lábios do treinador, sem graça.

— Obrigado pela parte que me toca — respondeu prontamente, volvendo sua cabeça para frente. Movimentou sua cabeça horizontalmente para lá e para cá, em negação; de fato, não havia nada de desgostoso diante de seu semblante, afinal, um riso ainda era visível.  

Seguiu o dedo indicador da treinadora até um relevo mais acidentado em uma direção da rosa dos ventos que nem ao menos tentou decifrar. Pensou nas possibilidades em explorá-la de imediato. Todavia, já tinha premeditado um roteiro para, quem sabe, conseguir uma exploração pacífica do terreno.

— Se tudo der certo, a gente dá um pulinho depois — exprimiu, dando alguns passos à frente. — Vamos indo em frente. Li no pokénav que a oeste tem um mar que podemos explorar.

Nicholas ia com suas muletas adiante. Como um flash, o informativo acerca do National Park recorreram às ternas memórias que jaziam em seu interior: de sua terra natal. O dilúvio infindável o forçou vir para Hoenn, e seja para o bem ou mal, passou por experiências que jamais pensou que viveria — um bom exemplo é levar um tiro em sua coxa; a chance de acontecê-lo é bem menor se considerar uma rotina pendular  de Pallet à Viridian trabalhando como um singelo aprendiz em um pokémarket. Enquanto no hospital, durante seu tempo ocioso, pesquisou sobre o destino de Kanto, finalmente liberta das águas que trouxeram sua ruína; agora, não mais.

Depois de o soído das gotas de água chocando-se contra qualquer superfície e o estrondo de trovões tanto açoitarem seu consciente, finalmente, a pequena cidade em que Nico nascera estava livre. Voluntários partiram do continente de Hoenn para ajudar em sua reconstrução; o louro não se informou acerca do acontecimento, afinal, sentiu-se no dever de resgatar Emma das mãos dos rockets. Seu arrependimento, contudo, era ínfimo comparado ao regozijo de seu âmago. Seu cérbero passava as imagens como um flash de um jovem garoto de lisas e douradas madeixas açodando alegremente para lá e para cá, em movimentos pendulares com um pequeno Growlithe.

Suas lembranças não perduraram muito tempo, e sobrevieram rapidamente as preocupações e indagações cujas Nicholas jamais seria capaz de responder. Seus pais partiram antes do garoto para a terra de Hoenn, pois o mesmo usou de suas reservas monetárias para comprar passagem aos seus progenitores, a fim de que se mantivessem em terras seguras. Outra pergunta permeava o cérebro do rapaz: quanto a Henderson?

Nicholas e James Henderson, o “Hendo”, conheceram-se ainda na escola. Encurtando a história: se tornaram bons amigos e o segundo teve de se mudar para Saffron com os pais. Antes de partir, prometeram que se encontrariam em outra ocasião como treinadores já consagrados para uma revanche — Nico com seu Growlithe de estimação vencera Hendo e seu Mewoth. Desde o início da torrente que assolou Kanto, o louro jamais tivera notícia alguma do mesmo, quiçá sabe se ainda estava vivo. Sendo terno ao seu âmago aqueles momentos que passara em sua infância ao lado daquele que, agora, sabe-se lá o paradeiro.

Uma brisa infimamente veemente despertou-o. Não delongou em volver à realidade.

— Vamos indo à oeste, então — soprou, sereno, esperando que a loura o acompanhasse.

Antes de partir, arqueou a esfera bicolor de Natu. Nicholas liberou o seu pássaro psíquico para que o seguisse durante aquela caminhada e fosse seus olhos, afinal, não se pode baixar a guarda em momento algum — principalmente depois de quase morrer na mão de bandidos.

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Route 115


Chegava a ser triste, a forma com a qual Nico precisava manter-se sempre de olhos abertos. Será que ele não poderia ter um momento de paz depois de tanta coisa? Aparentemente não. E ele estava preparado, ou ao menos considerava-se, para isso. As coisas não tinham sido fáceis desde quando colocara seus pés naquela terra tropical e selvagem.

E não parecia que seriam, tão cedo assim.

Por falar em locais desconhecidos, aparentemente o rapaz havia escutado rumores, anúncios e divulgações sobre um evento especial no National Park. Poderia ele não saber ainda, mas bem, talvez fosse ali onde enfim teria um descanso. Uma tarde no parque de diversões...? Provavelmente, Emma iria gostar bastante disso. Ah, e eu tenho certeza de que haverá uma roda gigante lá. Só falando, mesmo.

Contudo, talvez fosse melhor pensar no futuro, bem, no futuro. Se acabasse por perder-se em memórias e lembranças dos dias que já passaram, era capaz de que Nico tropeçasse em sua muleta, caísse, e começasse a rola morro abaixo, para então afogar-se no mar. Não parecia um destino muito agradável, depois de passar pelas mãos de Rockets, evitar dilúvios e tudo mais.

Bobo...! — Emma sussurrou, rindo brevemente, já sabendo que o loiro provavelmente escutaria. Ela balançou a cabeça para o que Nico dizia até então, concordando com tudo, mas assim que ele dirigiu-se para oeste, ela segurou a manga do rapaz. — Espere, Nico. Eu... Eu acho que ouvi alguém chorando. — disse, apontando para o norte.

Ah sim, desculpe. Talvez eu não tenha sido claro o bastante da última vez. Não, não era um canto de pássaros. Era um choro juvenil, que estragava completamente o ar de conto de fada que havia até então. Quem sabe, valesse a pena ir verificar o que era. Ou não. Tenho certeza que apenas ir para onde se quer é muito mais fácil.





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Aéreo diante de seus pensamentos passados, o louro nem ao menos se tocou da aura fúnebre causada por aquele soído que veio ao norte. As primeiras palavras ditas por Emma o fizeram volver ao mundo real lepidamente, se tocando, enfim, do choro adiante. A garota requisitou que aguardasse e exprimiu sobre aquele ruído que incomodava não apenas os ouvidos, como também a alma. Sempre cauteloso, Nicholas cogitou simplesmente deixar aquilo para lá e seguir ao seu destino, curto e grosso; todavia, duvido que Emma o deixaria fazê-lo — isto é, se não o arrastasse junto espalhafatosamente, como manda seu bom coração e personalidade.

Inúmeras possibilidades se passavam na mente de Nicholas: fosse um fantasma utilizando de um recurso para atrair humanos em sua emboscada; gravadores apenas replicando o som a fim de que houvesse aproximação de terceiros e nesse momento malfeitores atacassem sorrateiramente — como diz o manual do bom ladino. Quiçá, as lembranças sórdidas dos poucos dias que desembarcara nas imprevisíveis terras de Hoenn não fizeram bem ao intrínseco do treinador, e logo pensava coisas que nem ao menos pareciam fazer sentido.

Realista ou pessimista? É uma linha tênue, se tratando de alguém que passou pelo limiar entre a vida e a morte após resgatar a treinadora que tanto lhe era terna.

Natu jazia em seu ombro, absorto, demorando um pouco para perceber que seu treinador o olhava com sua corriqueira feição inexpressiva. Bastou um simples acenar com a cabeça para que o pássaro psíquico adotasse postura de guarda, com seus olhinhos passeando por todo o perímetro e sempre pronto para avisar no primeiro sinal de perigo que visse; era uma criatura com inteligência em demasia, afinal.

— Eu vou na frente então, tome cuidado com a retaguarda — exprimiu, sereno, mudando o rumo de seus passos morosos para o norte, a provável fonte do choro desconhecido.

Os passos do treinador eram morosos e cautelosos. A chance de haver qualquer bandido ou possivelmente um buraco — como na rota cento e um — eram desconhecidas para Nicholas. Estaria sempre tomando o cuidado necessário com cada avanço que seus pés em conjunto com as muletas faziam, rumando a fonte daquele soído sepulcral.

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Já era hora. Como ele poderia esperar que eu fizesse algo que o fizesse ter algum rumo — que não indo imediatamente para onde quer — sem antes parar e ouvir os lamúrios dos injustiçados? Não há como. Quer dizer, na verdade há como, mas não seria nem um pouco tão legal quanto.

A mente de Nico ia a mil. Céus, será que há algo mais suspeito que alguém chorando no meio de uma rota qualquer? Até que havia. Mas o rapaz de cabelos amarelado não tinha suas faculdades mentais no melhor estado possível. Eu não duvidaria caso um dia desses, o loiro simplesmente saísse por aí falando que havia visto um Arceus passeando por aí, trazendo consigo o julgamento final.

Com sua câmera em infravermelho ligada sobre seu ombro, ele finalmente sentiu-se seguro para continuar. Emma seguia o namorado, mantendo-se relativamente afastada, mas não muito. Entraram dentro das gramíneas de grande porte que se encontravam na parte central da Rota, seguindo o som. Misturado à soluços e balbúcios gaguejantes, não foi muito difícil.

A voz infantil parecia ter dificuldade em projetar-se, como se já estivesse naquela situação há um tempo. O desgaste das cordas vocais parecia real demais para ser uma gravação. Tudo bem, com a forma na qual os aparelhos eletrônicos desenvolvem-se atualmente, poderia ser uma possibilidade, mas carambolas! Não poderia ser apenas uma criança qualquer que perdeu a mãe?!

Algum pouco tempo depois, percorrendo por entre a grama, eles alcançaram um grande carvalho negro, onde a grama ia perdendo o volume gradualmente. Sentada, com as costas encostadas na árvore e as mãos cobrindo os olhos, estava uma garota de porte pequeno, cujas longas madeixas castanhas quase alcançava o solo.

Ora ou outra, ela percorria com sua mão um trajeto. Levantava-a do chão, onde estava cerrada, para levá-la até os olhos, impedir que lágrimas secassem e continuassem por percorrer seu rosto. Parecia tão absorta no que fazia que nem mesmo notara a aproximação deles. Não era tão pequena quanto se esperaria de uma garota chorando, deveria ter cerca de onze anos.

Mas isso não impediu Emma de sentir pena. A loira queria aproximar-se, colocar as mãos nas costas da jovem e perguntar docemente: "o que houve?". Contudo, ela preferiu aguardar, lançando um olhar tristonho para Nico. Parecia pedir o aval e opinião do treinador. Afinal, era ele quem tinha as armas para identificar todos os males presentes no mundo, pois não?

Garota :






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O ruído sorumbático que se propagava, fraco, vindo de uma figura infantil sentada sobre a copa de um vasto carvalho negro. A grama, outrora alta, diminuía de tamanho gradativamente até chegar àquela localização da rota cento e quinze, já desviado do caminho traçado posteriormente por Nicholas. Precisaram andar pouco mais até terem a visão nítida da garota que ali jazia, melancólica, em choro soluçante.

O ar em volta da dupla parecia um pouco mais pesado que o normal. A atmosfera se personificava, de tal modo que aquele repetido choro, que se perpetuava entre o sibilo manso do vento como uma lamuriosa melodia entoada das mais amarguradas almas residentes no Hades. O olhar da loura na direção do treinador dizia mais do que qualquer palavra poderia dizer; um claro pedido não-verbal para se aproximar da frágil figura infantil absorta em sua tristeza.

Paranoia ou cautela? Como dantes, uma linha tênue separava os dois conceitos na tão fria mente de Nicholas. Durante sua expedição na rota cento e um, foi mostrado ao mesmo que até mesmo uma paisagem digna de retratos dos mais famosos artistas pode ser um perigo: ora, Emma poderia ter perdido a sua vida por um descuido natural da tendência humana. O treinador não queria arriscar tudo novamente e sentir o mélico e frio abraço de seu ódio, residente nos confins de sua alma.

Encarou o chão por alguns segundos antes de tomar uma decisão — a mais óbvia possível, claro; contudo, ainda relutava no final das contas. Ínfimos segundos se passaram de quando a dupla se entreolhou, até que o louro tomava uma iniciativa enfim. Com a palma da sua mão voltada à Emma e um singelo aceno de sua cabeça, pedia para que a mesma aguardasse alguns segundos até que ele averiguasse. Não obstante, sua feição séria solicitava cautela da treinadora.

Em passos morosos, dirigiu-se à criança sorumbática perdida em meio à rota cento e quinze. Achegou-se da mesma. Seu semblante era inexpressivo e os orbes cerúleos sempre atentos em qualquer sinal não-verbal que fosse transmitido naquela conversa sucinta.

— Ei — soprou afavelmente, buscando que a chorosa criança voltasse sua atenção para sua figura. —, o que faz aqui? E o que aconteceu com você?

Absorta em seus lamentos, Nico buscou fazer perguntas singelas e óbvias, além de diretas, para saber o que ocorrera com a pobre criança. Com sua atenção voltada completamente à mesma, Natu se encarregava de olhar os seus arredores, sempre com olhares mais atenciosos à loura, um pouco atrás do treinador. Caso não sentisse ameaça alguma vinda da menina de longas madeixas castanhas, pediria para que Emma se aproximasse também.

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Se as almas vinham do Hades eu já não sei. E como eu poderia, afinal? Ninguém me garante que os lamentos não provinham do Reino de Hela, ou ainda então, que não seriam os gritos de terror dos espíritos que encontraram seu fim em Ammit, o devorador, depois de anos perdidos no esquecimento do Duat.

Tudo bem, já era de conhecimento geral que ficar à presença de tantos murmúrios chorosos não era legal.

Mesmo perante uma cena tão tenebrosa, Nico preferia manter-se frio, calculista. Estou certo que ele não pensaria duas vez caso as coisas tomassem um rumo completamente inesperado. Direto e eficaz como uma flecha, disparou uma restrita saraivada — esta, no entanto, de palavras. Com uma sequência cristalina de questionamentos, proferiu ditos à sombra que prendia-se à árvore.

A garota levantou o rosto, inchado e avermelhado. Suas íris cinzentas envolviam as pupilas vazias. Parecia até que, caso desse um passo em falso, Nico desapareceria na imensidão de vácuo que os olhos na jovem retratavam. Olhou na direção do loiro, mas não parecia estar focando-se diretamente na imagem deste. — Eu... Eu... — ela travou.

Sua voz era rouca, dava a impressão de arranhar sua garganta ao projetar-se. Aquelas duas palavras — ou uma, se preferir — foram proferidas desconexamente, como se ela tentasse formar uma frase, mas não se lembrasse como. Ela pendia a cabeça de um lado para o outro, e tinha levado as mãos ao cabelo, tentando pensar.

Se de fato havia um monstro devorador de almas por aí, certamente ele havia tido um encontro com a moça. Subitamente, suas pálpebras tremeram, e seus globos, arregalaram-se. Ela começou a puxar sua madeixas, em agonia. — Clefable...! Clefable! Você precisa me ajudar! Ela... Ela sumiu!!!

Parecia desesperada. Sua voz passara de rouca para mais estridente que um pássaro estinfálico. Lágrimas começaram a tomar seus olhos novamente, agora em velocidade quase que irreal. A figura tentou levantar-se, mas gritou mais alguns dizeres incompreensíveis, tropeçou e caiu ao chão. E ali ficou.

Emma parecia assutada, como se tivesse visto um fantasma, mas olhou para Nico em busca de apoio. — Você... acha que ela está bem? Ela não acabou de desmaiar, acabou? Além disso... O que diabos foi isso?! — questionou, demonstrando que estava de fato amedrontada. Ainda assim, parecia querer ajudar a jovem de alguma forma.





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A vista turva e pungente dos olhos cinzentos buscava a silhueta do louro, balbuciando o pronome pessoal, sinal de que iria falar algo, pensou Nicholas. Sua voz era lancinante, como se estivesse perdida em seus lamentos a horas infindáveis debaixo da sombra daquele carvalho esparso aleatoriamente na rota cento e quinze. Diante das palavras incongruentes, Nico semicerrou suas pálpebras e estreitou sua visão na direção da menina, agora, em movimento pendular, forçando seu cérebro a se relembrar dos acontecimentos.

E veio a reação. De fato, súbita e inconclusiva, deixando ainda mais interrogações na mente do treinador.

As mãos exíguas e pálidas da garota pressionavam suas longas madeixas em agouro, e suas pálpebras tremiam simultâneo ao abrir repentino dos orbes cinzentos. Nicholas franzia o cenho de imediato, interpretando aquilo como uma ameaça — ora, foi um acontecimento abrupto demais, que fizeram o treinador levantar ainda mais sua guarda. A voz outrora tímida agora se tornava estridente, alcançando intensidade sonora ímpar a ponto de incomodar os tímpanos da dupla observadora. Bramia chamando por Clefable, e dizia que a mesma havia sumido; desconexo, de fato.

As lágrimas transbordavam de seus olhos infantis como um rio em sua enchente e seguia o seu curso natural, neste caso, o chão — bendita gravidade. A garota tentou projetar seu corpo para cima, transmitindo todos os seus lamentos naquele bramido que reforçava ainda mais os agouros que uma alma penada poderia ter. Em descuidado ínfimo, a criança agora se projetava ao chão, estatelando contra o solo coberto pelas gramíneas.

Diante da queda, o treinador aguardou algum tempo curto para que a criança se reerguesse e contasse o que acontecia de maneira mais clara. Fora em vão, pois continuou ali, jogada sobre o chão.

Emma disparou inúmeras indagações, claramente assustada — não era pra menos. Ainda assim, sua voz meiga transpassava seu altruísmo; a primeira pergunta feita pela treinadora era sobre o estado de saúde da criança. O louro manteve seu olhar intacto na figura inerte estatelada sobre o tapete de relva, erguendo seu pescoço para olhar o redor e perceber algum sinal excêntrico. Feito isso, voltou a sua atenção para a menina prostrada sobre o chão.

— Não sei... — respondera enigmaticamente, com a voz soando deveras baixa, audível apenas à garota. — De qualquer modo, recue um pouco. Vou tentar descobrir o que se passou ou tentar acordá-la.

Terminando as suas palavras, as janelas anis se dirigiam ao pássaro psíquico repousado sobre seu ombro. Em mensagem não-verbal, Nicholas requisitava que Natu utilizasse seus poderes paranormais para tentar detectar qualquer tipo de ameaça ou energia incomum das redondezas. Sendo ele um pokémon sensitivo, quiçá seus poderes poderiam revelar algo ao treinador. Em caso de insucesso, restaria a Nicholas tentar cutucar a garota no chão e esperar alguma resposta.

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Realmente, inesperado. Por mais evidente que fosse, o fato de que algo de errado estava acontecendo ali, provavelmente nunca passara pela cabeça de Nico que a jovem iria simplesmente surtar e cair ao chão daquela forma, desfalecida. Loucura ou sobrenatural, provavelmente não tinha tanta importância assim.

Certo, talvez não fosse exatamente assim.

Quer dizer, havia esta segunda possibilidade. E o loiro tinha suas ferramentas para identificá-la. Não era sempre que ele podia bancar uma de médium, ainda mais com seu hábil e prestidigitador pássaro vidente.

O mais perturbador? O fato de que Natu de fato parecia pressentir que havia algo de errado. Seus grandes olhos observavam incessantemente o grande carvalho negro, sem piscar um único momento. Como se ele fosse estranho, de alguma forma, mas o psíquico não soubesse dizer o por quê.

Sem respostas, por enquanto. Talvez de fato, o ideal fosse checar o estado da outra jovem. Nico cutucou a moça, coisa que fez Emma franzir o cenho. — Seja mais gentil. Talvez funcione melhor — murmurou ela, aproximando-se. Tentando comprovar seu dito, ela mesma chacoalhou gentilmente os ombros da morena, ainda que segurasse firmemente a mão do namorado enquanto o fazia.

Impressionante notar que parecia ter dado relativamente certo. A figura no chão murmurou algo indistinguível e revirou-se. Lentamente, a jovem levantou-se, exibindo um semblante extremamente confuso. — Onde... Onde eu estou? — conseguiu perguntar, parecendo melhor — e mais sensata — do que momentos atrás.

Ei...! Você está bem? Estamos na Rota cento e quinze — respondeu Emma, que parecia um tanto quanto aliviada em ver que a desconhecida tinha recobrado a consciência. Esperemos que isso signifique que ela não teria ataques de loucura novamente. — Sou Emma. Qual o seu nome?

Meu nome...? Eu sou... Sofya. Ah, minha cabeça está doendo... O que estou fazendo aqui? — ela perguntou, como se não conseguisse lembrar de nada que havia ocorrido anteriormente. Isso certamente era bastante peculiar, por assim dizer. Natu parecia ter baixado a guarda, estando mais relaxado do que qualquer momento desde quando aproximaram-se da jovem.





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