04 - O último desejo de um homem apaixonado!

Com a saída de seu pai, a moça do caixa logo questionava Galvanis a respeito do teor da carta. Como o jovem não tinha aberto, ele apenas suspeitava, assim como todos os que ouviam a história. Ele respondia, mas sem dar muitos detalhes para a desconhecida, que apesar de conhecer Ellie, não precisava saber mais do que aquilo.

Logo o sr. Yama retornava com um grande saco de pães. Ele os havia embalado de forma perfeita a garantir a segurança da mercadoria. O de Ellie, vinha em uma embalagem separada, com alguns enfeites fofos. Era nítido o sentimento do homem. - Aqui está. È por conta da casa. Só tenha certeza de entregar isso para a sra. Ellie em mãos, e diga que estou esperando seu retorno. - Ele dizia sorrindo timidamente.

- Ô pai, só vai se iludindo muito... Ela já é quase comprometida de novo, e nem te dá muita bola quando vem aqui. - A filha dizia para já começar a baixar a bola do velho. - E rapaz, muito obrigado por fazer esse favor. Volte sempre.

Como Galvanis não precisava pagar pelos pães, ele pegava o pacote e seguia para completar sua missão. Ele se despedia do povo simpático da padaria e descia a rua em direção ao endereço. Ele seguia na direção informada por Yama, e logo chegava na esquina da rua das Orquídeas. Mas agora, que lado era? Ele olhava para o número da primeira residência, a que ficava bem do seu lado esquerdo, número 50. Olhando os próximos números, ele percebia que eles decresciam para aquele lado, então só precisava continuar seguindo para a esquerda.

Para sua sorte, a residência de número 46 da rua das Orquídeas estava logo ali. Finalmente havia chegado, e poderiam enfim entregar a carta. Como um típico bairro suburbano, a maioria das casas seguia o mesmo padrão de construção, mas com pouca variação de cores e decoração. A casa de número 46, não era tão diferente das outras, exceto pelas flores muito bem cuidadas à frente das janelas dos andares superiores, coisa que só tinha ali. A caixa de correio dizia: “Docter”, e ficava atrás de uma cerca que chegava pouco mais alto que os joelhos de Galvanis.

Ao perceber que havia chegado ao endereço que tanto procurava, o jovem obse4vou um pouco o local antes de tentar iniciar um contato. Era comum aquelas certas terem um portão apenas para impedir a passagem de pokémon selvagens ou impedir que os domésticos saíssem. A campainha ficava bem ao lado da porta de entrada, e Galvanis deveria ir até lá para tocá-la. Mas como ele não era da região, e não conhecia os costumes do local, decidiu por apenas chamar do lado de fora da cerca, tentando não ser mal educado.

Ele chamou dando ênfase aos nomes que conhecia, mostrando assim que não se tratava de um estranho. Ou pelo menos era o que pareceria para quem estivesse do lado de dentro. Apesar do chamado, ainda não havia resposta do interior da residência. Assim, ele repetiu o chamado mais uma vez, batendo palmas e chamando os nomes.

Não demorou muito para que alguém aparecesse, só não vinha da residência dos Docter. Uma senhora que passeava com seu Skitty, via o jovem chamando naquela casa, e se aproximava amigavelmente. - Bom dia meu jovem. – Ela dizia. - Está procurando por James? Este horário ele está no trabalho, mas costuma almoçar em casa. Eu sempre o vejo chegando por volta das onze e trinta. A esposa dele também está no trabalho, bem provavelmente, mas só volta no fim do dia. Mas tem uma senhora morando com eles, acho que mãe do James, mas ela não sai sozinha, e nem abre a porta para ninguém. – Ela contava com bastante confiança. Se Galvanis fosse um bandido, estaria de mão cheia agora. - Ah! Mas não pense que sou futriqueira... Só sou uma pessoa muito observadora. Se quiser esperar, James não deve demorar para chegar. Eu moro do outro lado da rua, naquela casa ali. – Ela apontava.

Como não tinha muito que fazer, Galvanis poderia esperar na companhia da senhora fofoqueira do bairro, ou tentar chamar por Ellie mais uma vez, mesmo sabendo que poderia ser uma tentativa infrutífera.

A mulher via o saco da padaria nas mãos do jovem, e aproveitava para comentar algumas coisas. - Vejo que está vindo da padaria. Você é o novo garoto de entrega do Sr. Yama? O último foi demitido por dar de cima da filha dele. Aquela lá é uma rodada, e a culpa foi do coitado. Mas longe de mim ficar falando coisas que não sei a procedência, só estou contando porque eu vi. Mas vamos lá, entra pra tomar um chá, que vou te contar umas coisas que vai precisar saber e vai ficar trabalhando nessa padaria. - Sem nem esperar a resposta de Galvanis, ela já deduzia tudo, e o convidada para sua casa.

Apesar de ser uma senhora bem inconveniente, ela acabava dando algumas informações bastante úteis para o jovem. Mas ao começar a falar sobre assuntos bastante desinteressantes à Galvanis, ele logo recusou o convite de esperar na casa da senhora. Ao contrário de Agatha, aquela senhora era um tanto irritante. Ela não se considerava fofoqueira, mas ficava óbvio que não deixava de cuidar da vida de toda a vizinhança.

- Não seja um jovem mal educado.Vai ser só uma xicrinha. - Ela insistia. Na verdade parecia sedenta para tirar as informações da presença de Galvanis ali. Mas como ele sabia muito bem disso, ele logo mostrou um lado mais seco, para afastar a idosa. - Tá bom então. Fique aí. - Ela fez uma expressão bastante desgostosa, e saiu com sua pokémon em direção a sua casa. Provavelmente só tinha saído para ver do que se tratava.

Como teria de esperar um pouco, uns 40 minutos para ser mais exato, Galvanis decidiu passar um tempo com seus pokémon. Assim, ele procurou um local com uma sombra fresca para poder liberar todos eles. Havia uma árvore grande no lote de uma das residências, mas que deixava uma grande sombra que chegava até o meio da rua. Era o local perfeito para ficar, já que poderia permanecer na calçada e não era longe da casa de Ellie. Ao se afastarem dali, Kinney acabou percebendo uma movimentação na janela do segundo andar da casa dos Docter, mas como já sabia que a senhora que estava sozinha não atenderia a porta, preferiu ignorar no momento.

Galvanis, ao chegar ao local à sombra da árvore, logo liberou o restante de sua equipe. Agora ele poderia aproveitar e dar o lanchinho especial aos outros, ou apenas continuar guardando para mais tarde. Todos os pokémon pareciam animados por estarem do lado de fora, mas cada um tinha sua própria personalidade.

Logan preferia se afastara um pouco mais dos outros integrantes da equipe, já que preferia não ser incomodado. Rolf, por outro lado, agia como um cão de guarda, se esgueirando ao redor de Galvanis e olhando os arredores. Lucy já era do tipo adorável, sorrindo para tudo e todos, e logo procurava um local ao sol, para fazer sua fotossíntese diária. Por fim, Cassidy, a primeira coisa que ele fazia era procurar um lugar para se sentar, e cruzava as pernas para “meditar”. Todos sabiam que ele iria dormir, mas ele preferia fingir estar meditando.

Kinney continuava a observar a janela, e percebia que por trás da cortina, alguém a olhava de volta. Será que seria Ellie? Talvez, já que ela havia ouvido seu nome ser chamado. Assim, ela finalmente decidia mostrar a Galvanis o que estava olhando. Ela emitiu um som, sem se virar, e fez um movimento com seu braço, o chamando para se juntar a ela. Assim que ele se aproximasse, ela apontaria a janela.

Como era o momento perfeito para distribuir os lanches, Galvanis não demorou em abrir o pacote maior da padaria, e liberar aquele delicioso aroma de geleia de Bluk Berry e pão fresquinho. Aquilo fez todos os seus parceiros mudarem de atitude, menos Kinney, que estava concentrada com outra coisa.

Depois de distribuir o quitute para os outros pokémon, ele finalmente reparava o que sua parceira de mais tempo estava fazendo. Quando ela o chamou, ele logo se juntou em sua observação, mas sem os sentidos apurados, ele não conseguia ver muito bem. Por ser metade do tipo Dark, Kinney conseguia ver perfeitamente por trás da cortina da janela, mas Galvanis também poderia ver concentrando um pouco mais a sua visão. O contorno de uma senhora, o observava por uma gretinha da cortina bege. Mas logo que reparou que o jovem a estava olhando, ela abriu um pouco a cortina para tentar ver seu rosto.

Por ter ouvido seu nome ser chamado, aquilo devia ter despertado a curiosidade de Ellie, e assim ela tentava ver se era um rosto conhecido. Mas era um estranho, e aquilo deixava a senhora ainda mais perplexa. Assim, ela puxou a cortina completamente, e acenou para Galvanis. Em seguida fez um movimento indicando que ele fosse até a porta, sumindo de vista em seguida.

Kinney sorriu animada, já que pode ser de grande ajuda naquele assunto em que parecia não ser capaz de ajudar. Então foi a primeira a correr de volta em direção à casa, deixando com Galvanis o trabalho de chamar os outros.

A Weavile já estava esperando à porta, quando ela esta se abriu. Também já tinha dado tempo de Galvanis e os outros a alcançarem. A senhora que tinha idade aproximada aos 65 anos, abria a porta com bastante cautela. E deixando ainda a tranca de segurança presa, ela colocava o olho na greta e perguntava: - Quem é você? E o que deseja de mim? – Sua voz repassava uma nítida desconfiança.

Galvanis e Kinney estavam bastante animados com a provável conclusão daquela aventura. Assim, eles e os outros pokémon da equipe seguiam em direção à porta. Galvanis chegava logo depois de sua inicial, e começava a falar com a idosa. Quando ele questionava sobre a identidade da senhora, ela apenas confirmava com a cabeça, ainda fazendo uma expressão desconfiada. Em seguida ele se apresentava, confirmando as suspeitas da senhora. Mas quando ele tocava naquele nome que lhe trazia uma lembrança nostálgica de tão distante no passado, ela tentava disfarçar um sorriso enquanto reproduzia uma estranha expressão de dúvida. Mas ela preferiu não confirmar nem “desconfirmar” ainda, esperando para ouvir o restante do que o jovem tinha à falar.

Mas sem falar muito mais, Galvanis apenas comentou sobre a carta e a estendeu par que a senhora a pegasse. Ele fazia uma reverência, educada, o que deixava Ellie bastante constrangida por não ter pego a carta imediatamente. Assim, ela rapidamente estendia sua mão esquerda para fora, e pegava o envelope. - Só um momento por favor. – Ela se projetava para trás e fechava a porta por um instante. Dava para ouvir o som do papel do envelope sendo aberto com bastante cuidado, e em seguida a carta sendo aberta. Um silêncio permaneceu por alguns instantes e logo em seguida a porta foi aberta, por uma Ellie bastante chorosa. Sem dizer nada, ela apenas sinalizava para que Galvanis e seus pokémon entrassem.

O que estava escrito na carta? Isso Galvanis poderia nunca saber, mas era suficiente para que Ellie chorasse como um bebe, sem que o jovem conseguisse entender se ela estava triste ou feliz. Ela permaneceu daquela forma por mais um tempo, apenas gesticulando para o jovem que lhe entregara aquela carta. Ela estava sem palavras.

Convidando-o para se sentar no sofá, ela se sentava exatamente a seu lado, segurando suas mãos enquanto as lagrimas escorriam de seus olhos. No fim, a parte que parecia ser tristeza ia embora, deixando sobrar apenas um grande sorriso no rosto da senhora, mas sem que as lagrimas se extinguissem.

Era um clima bem estranho, e que deixava qualquer um, um pouco constrangido. Kinney se aproximava e colocava suas mãos sobre as mãos da senhora e de seu treinador, mostrando consolo.

- Desculpem por isso. Mas nunca pensei que ele estivesse me esperando por todo este tempo. Fiquei triste por não ter tido forças para lutar por meus próprios desejos, mas... mas... – E ela começava a soluçar novamente depois de finalmente ficar mais calma. Era o esperado, mas ainda nem tinha chegado a notícia mais preocupante.