doll fanfest
Ethan não sabia se de fato havia alguém que pudesse controlar o destino, mas se tivesse ele diria apenas uma coisa: obrigado. Aquela atração dos namorados parecia o local perfeito para os garotos que tinham tanto para ser dito. O mais velho esticava a mão no famoso "você primeiro" e deixava o ruivo quase tão vermelho quanto o próprio cabelo, adentrando o brinquedo.
Ambos começavam a viagem em silêncio, apenas apreciando os adereços que enfeitavam o local e também pensavam no que dizer. Diversas vezes as palavras chegavam a quase surgir, mas logo desapareciam num suspiro profundo e uma sensação de frustração. Eles eram amigos, então por que era tão difícil?
- Esse... é um lugar bem calmo e legal, não acha?
- Sim. Muito bonito e pouco movimentado
E lá estava ele novamente: o silêncio. No entanto, sendo algo não combinado, ambos reduziam a velocidade dos movimentos da perna para que tudo aquilo durasse mais tempo. Com isso, Ethan sentia que, seja lá o que ele fosse falar, o outro estava pronto pra ouvir.
- Naquela hora que eu ouvi a notícia da irmã da Brenda, aquilo me afetou mais forte que tudo - começou o garoto, mas evitando contato visual. - Você sabe que eu não tenho irmãos, nem tios... basicamente meus pais são minha única família de sangue... mas - continuou, agora se virando de fato para o outro. - Eu te considero da minha família. Desde o início eu estava lá pra você e quando você cresceu fez o mesmo por mim. Eu... só queria dizer obrigado e... que perder você... seria... o pior dia de toda minha vida
- Agradeço por me contar isso. Sei o quão difícil era pra você falar sobre sentimentos - respondeu com um doce sorriso.
- Mas você sabe que sempre tem um "mas", certo? - brincou. - Quando éramos crianças, era só você e eu. Por muito tempo eu te via como um amigo mas, quando cresci, comecei a entender algumas coisas sobre... eu mesmo - ele fazia uma pausa e parecia aliviar a tensão esfregando as mãos. - Foi quando eu notei que sentia algo a mais - finalizou, aparentemente querendo dizer algo mais, porém temeroso demais pra prosseguir.
- Eu também me sinto diferente com você - comentou antes que um silêncio surgisse. - Eu não vou mentir, sempre me senti seguro quando estávamos perto, mas isso evoluiu. Não era apenas segurança, havia uma força que me fazia querer estar com você e, principalmente, me dava uma energia boa - ele desviou o olhar para as próprias mãos também, desejava ter sua fiel garrafa d'água para não chorar com o que viria a seguir. - Quando você me disse que ia viajar e passar um bom tempo fora, eu senti como se tudo fosse embora junto. Busquei forças no que eu podia, mas no fundo do meu peito, eu esperava seu retorno... e você voltou
- Lamento que tenha se sentido assim
- Tudo bem, foi bom por um lado. Eu gostava de quem eu era com você, mas também aprendi a ser apenas o Charlie. Além disso, você também parece ter se aprimorado como Ethan
- Sou muito grato por minha vida. Os ensinamentos eram incríveis e as possibilidades infinitas. No entanto, havia um problema com as pessoas que eu conhecia... todas eram esnobes, falsas... mas principalmente, nenhuma delas era você
Com apenas um sorriso bobo, ambos recuperavam um pouco a cor vermelha, mas ainda era claro ver que estavam corados. Respirando fundo, quase como num coral, ambos diziam: "Eu..." mas não continuavam.
- Desculpa, pode falar
- Não, você primeiro
- Juntos então
- 1
- 2
- Eu te amo
Charlie colocava a mão na frente da própria boca, talvez surpreso com o que acabara de dizer ou com o que acabara de ouvir. Já Ethan, possuía um sorriso sincero e um olhar de alívio.
- Então, o que será de nós agora? - questionou retirando a mão da boca.
- Eu não sei, mas estou disposto a descobrir... e você?
- Também estou
Mais uma vez aqueles sorrisos se abriam e os olhares sinceros se encontravam. Numa parte mal iluminada do túnel os garotos sentiam o toque dos lábios um do outro, mas era difícil saber quem deu o primeiro passo pois no fim, ambos desejavam aquilo. Foram apenas segundos, mas foi o suficiente para deixá-los realizados.
No entanto, aquilo não finalizava ali: Clamperl havia se soltado sozinha da Pokébola, disparando um jato de água que se dividia em dois e formava um coração. Ainda atrás da dupla, o pequeno Bulbasaur fazia o mesmo com as vinhas. Com tanto apoio, o ruivo agora se aconchegava grudando os ombros. Agora, apenas o destino seria capaz de revelar o que aguardava aquele relacionamento.
- Acho que já chegamos ao fim, ao menos não vejo nada por perto. Está pronto pra voltar?
Charlie olhava em volta do parque com uma leve vontade de ficar, mas havia coisas que o esperava em Hoenn, então se não tivesse mais nada a ser visto, era hora de ir embora.