Tony seguia em sua abordagem amigável com o venenoso, tentando mantê-lo calmo e tranquilo, sem oferecer riscos à ninguém. Até Shellos, ou melhor, Godofredo foi colocado no plano de ação, armado com uma colher de sopa.

O aquático arriscava repetir o movimento do venenoso, mas os dois não tinham o mesmo ritmo. Não só isso, a ideia de que os dois compartilhassem comida também não foi bem aceita pelo Grimer, que abocanhou as frutas assim que pôde, deixando nada além de migalhas para Godofredo, que olhou com uma expressão típica de "É sério isso, cara?!" para Tony.

– GRWAHAHAHAHA! – o gelatinoso se divertia com a reação do outro Pokémon.

Grimer também recusou a mão estendida de Tony, ainda bastante apreensivo com tanta aproximação. Entretanto, aceitou a ideia de acompanhá-lo para fora do restaurante. Isso por si só já era uma vitória, pois encerraria o problema interno e, com sorte, permitiria que o salão pudesse ser aberto, desde que limpo à tempo.

Do lado de fora, na seção dos lixos, a caçamba dos orgânicos foi apresentada ao invasor gosmento, e obviamente ela estava recheada. Só que, ao que tudo indicava, aquilo também não era do interesse de Grimer, que só olhou para o lixo por um instante, deste para Tony, depois para Godofredo... Aí começou a chorar. Literalmente.

De repente, resmungando, saiu caminhando para contornar a grande lixeira, batendo sua colher agora na calçada do Lua Nova. Grimer seguia se arrastando rente à parede, olhando para um ponto mais acima de sua cabeça. Tony, obviamente, veria as coisas mais depressa e num ângulo melhor: um duto de ar aberto, bem lá em cima, mais alto que as janelas que davam para o salão casual. Agora ficaria, no mínimo, mais evidente como o Grimer gargalhador-chorão-faminto tinha entrado no restaurante.

Aquela versão de Mau, ao que parece, era muito mais criteriosa com o que comia. E seu ritmo constante batendo o talher, finalmente, poderia parecer mais claro à Tony quando Grimer o fez num dos vidros da janela, enquanto escalava a parede. Era um som parecido com das pessoas tilintando suas taças antes de anunciarem grandes coisas... Espera, eu disse que ele estava escalando? Ah, é, ele estava. Provavelmente entraria de novo pelo mesmo duto, como da primeira vez.

Off escreveu:

KKKKKKKK feito! Temos um Godofredo na área! XD

Tony - Restaurante Lua Nova - Manhã nublada

As únicas coisas capazes de desviar Grimer de seu trajeto foram mesmo o tilintar no copo e o saquinho de biscoitos. Uma refeição requintada estava sendo ofertada afinal, vinda de Pewter, lugar que o Pokémon nunca tinha visitado.

Assim, o roxo se permitiu escorrer pela parede de volta até o chão, deixando o vidro da janela um pouco melecado, mas dos males o menor. De novo, batucava sua colher no chão e gargalhava, olhando atentamente para os doces que Tony usava para atraí-lo. Sendo assim, podemos concluir que aquele elo estava estabelecido: Grimer iria onde o especialista o levasse, desde que mantivesse o saquinho à vista.

Agora, o outro problema é: como Tony vai levar Grimer até o Chef Gusteau? Quer dizer, a princípio o gastrônomo deve estar circulando pelo restaurante atendendo as pessoas. Não que um venenoso ali dentro seja realmente impróprio, mas provavelmente vai chamar atenção por ser o único Pokémon à vista, além de Godofredo. O que também está longe de ser uma grande preocupação, num mundo de treinadores. Mas, qual é o resultado da equação "faminto + comida"? Fica aqui a dúvida...

Tony - Restaurante Lua Nova - Manhã nublada

Fazendo o caminho de volta para a entrada de funcionários, aos fundos do Lua Nova, a cena de Tony sacudindo um saquinho de biscoitos para um Grimer risonho poderia divertir muitas pessoas menos, obviamente, as vítimas do Pokémon.

Àquela altura os funcionários já estavam bem. Ainda conservavam alguma palidez, mas não roxa; não vomitavam e até já conversavam entre si. O chá também tinha sido substituído por água - já que nada alcoólico era permitido no horário de trabalho. Mesmo assim, os garçons não viam o venenoso com bons olhos, e Alfred era sempre muito sereno para manifestar qualquer coisa.

Foi um dos ex-intoxicados que se prontificou a ir chamar o Chef, que chegou em alguns minutos e se surpreendeu com a presença do Grimer. Gusteau pareceu bem animado com a apresentação do degustador e logo voltou para o restaurante, disposto a preparar uma boa e rápida refeição para o gelatinoso. Depois, quem puxou Tony para uma conversa foi o sério Alfred.

– Senhor Tony, é um prazer. Desculpe-me não o ter recebido adequadamente mais cedo. Eu sou Alfred Pennyworth, o meître de Lua Nova. – para a classe do homem formal não havia aperto de mão, mas sim uma reverência – Veja, muito me alegra a ideia de alimentar o Pokémon como se fosse o cliente mais criterioso! Porém, devo confessar que o que me preocupa é o futuro breve. Não me entenda mal, mas pense se é uma boa ideia incentivar Grimer a se manter por perto para receber comida... Ele pode ser um pouco imprevisível, não?! – daí fez um gesto para indicar os outros recém afetados.

Naquele mesmo instante, surpreendentemente, o cozinheiro abriu a porta trazendo em mãos um prato com comida bastante colorida. Parecia uma salada cheia de ingredientes frescos, com verduras, legumes e frutas, além de um tempero bastante aromático.

– GRWAHAHAHAIMER! – gargalhou o roxo, automaticamente atraído pelo aroma que o vento carregava.

– Tony! O pessoal da reserva! – logo atrás do Chef vinha Morty, nervoso, lembrando ao Lobo dos clientes da grande reserva feita para um dos salões do restaurante. Será que já tinham chegado?

Aquele anúncio arrancou vários suspiros de surpresa dos outros quatro funcionários reunidos ali nos fundos do Lua Nova. Os garçons e o Chef começavam uma conversa paralela e apressada, aparentemente tentando se organizar. Alfred analisava cada detalhe de suas roupas, abotoava o terno, ajeitava a gravata... E o Gimer se rastejava na direção de Gusteau e seu prato apetitoso, batucando sua colher no chão.

Tony - Restaurante Lua Nova - Manhã nublada

Diante do exposto pelo Lobo, Alfred apenas assentiu com a cabeça e, em seguida, voltou para dentro do restaurante levando consigo com outros garçons. O meître voltaria com uma pequena pilha de roupas para entregar ao especialista, que desejava estar à caráter para atender no salão.

– Boa sorte, senhor. Estarei recepcionando os clientes. – disse antes de deixá-los.

Quando Tony entrou para se vestir, Gusteau ficou sozinho com o venenoso para alimentá-lo. Desde os últimos eventos de alimentação, talvez não seja necessário enfatizar o quanto aquele Grimer comia depressa... Dito e feito, numa bocada ele engolia o prato com a salada completa. Se o Chef não tivesse sido esperto levando coisas adicionais para dar ao Pokémon, talvez aquilo tivesse se desenrolado num problema para o treinador.

– Senhor Tony, que bom que voltou! – disse o gastrônomo assim que o Lobo regressou vestindo o uniforme dos garçons de Lua Nova – Gostaria de ficar mais conversando com este grande apreciador de sabores. Mas, a cozinha me chama e eu preciso estar lá para melhor orquestrar a saída do almoço, sim?! Com sua licença...

Era um fato, com a nova leva de clientes o Chef responsável pelo cardápio deveria estar em seu posto para orientar os demais cozinheiros e manter o padrão de qualidade do restaurante. Assim, Tony estaria sozinho com Grimer quando lhe ofertou a Pokébola. O tilintar da esfera bicolor animou o gelatinoso, que fez questão de batucar nela também, antes de gargalhar.

Contudo, o Pokémon apenas olhava fixamente com aqueles grandes olhos brancos para o especialista. Ele podia simplesmente não estar entendendo completamente a proposta. Ou aguardando para descobrir se dentro da esfera haveria mais comida. Ou, em última hipótese, ele simplesmente não estava disposto a entrar na Pokébola.

Talvez uma abordagem mais direta fosse necessária para entender o propósito do Pokémon. Como tentar capturá-lo, ou arriscar uma batalha, vai que esse Grimer além de exigente com comida é também com treinadores, não é?!

Tony - Restaurante Lua Nova - Manhã nublada

Tony estava determinado a ter aquela versão comilona e exigente de Mau como seu parceiro, e também para diminuir os riscos de o Pokémon voltar a causar problemas no futuro, para o restaurante. Assim, a Pokébola voou pelo ar, girando na direção do venenoso.

Quando Grimer foi absorvido para dentro da esfera, teve a resistência padrão dos insatisfeitos: três giros da Pokébola. Isso tudo, provavelmente, porque ele descobriu que lá dentro não tinha tanta comida quanto gostaria. Ainda assim, aceitou seu destino, deixando para trás apenas a fama e a colher que tanto batucou por aí.

Capturou um Grimer Lv 24

Agora Tony estava livre para focar nos problemas menores do restaurante. Alfred, um dos primeiros funcionários da casa, seria sua bússola para saber o que precisava fazer para manter aquele sistema fluindo com a perfeição que os Lobos desejavam para o Lua Nova.

– Que bom que deu tudo certo, senhor. – o maitre comemorava, ainda que sua expressão serena não se alterasse (para nada, praticamente) – Estamos entrando em contato com alguns membros da equipe de limpeza. O ambiente casual precisa de uma higienização, então provavelmente só conseguiremos abri-lo pela parte da tarde, infelizmente. – num gesto sutil com a mão, Alfred direcionava o especialista até a área que tinha sido reservada, e que agora se enchia de vozes e uma música ambiente instrumental – Todos os convidados da reserva já chegaram. Precisamos de mais gente para anotar os pedidos, entregá-los na cozinha e realizar o serviço de cortesia, que Gusteau deve estar produzindo nesse instante. Aqui só Morty está bem o suficiente para atender. Deslocamos a dupla de recuperados para o salão privado, por enquanto. O serviço lá está mais tranquilo para eles.

Dito isso, Alfred entregava ao Lobo um bloquinho e uma caneta para anotar os pedidos. E ele próprio saía para caminhar pelo salão e averiguar os desejos dos clientes. Sua experiência era tamanha que ele nem precisava de nenhum recurso para lembrar alguns pedidos que foram feitos no meio do processo. Mas, parte do público apenas se dispunha a conversar com ele, como se fossem clientes frequentes.

Algumas das pessoas sentadas na área reservada tinham detalhes em comum. Pelo menos um terço delas tinham o mesmo pin em tons de amarelo e azul, preso na roupa, ao peito. Tony logo identificaria aquilo como a insígnia símbolo do Ginásio de Mauville, liderado por Wattson. O mestre de elétricos em si não estava ali, mas em compensação seus aprendizes foram em peso.

Outro terço das pessoas também tinha aquele mesmo perfil, exceto pelos pins que carregavam, no formato triangular inigualável da insígnia da chuva, do Ginásio de Juan, em Sootopolis. Eram seus aprendizes afinal. E, por fim, a última parcela dos convidados, que vestia-se muito bem, com ternos e gravatas. Eram homens e mulheres de negócios e suas pastas de documentos não deixava negar.

Era evidente que realmente uma reunião ocorreria ali e com pessoas importantes na comunidade Hoennense. Era a chance do Lua Nova mostrar o melhor serviço! Por sorte, tinha um dos sócios do restaurante em pessoa para isto.

Tony - Restaurante Lua Nova - Manhã nublada