Eu toda boba elogiando o talento dele com tiro, e Ayzen só dizendo que tinha boa mira. Sério que ele ia tentar aplicar essa?! Se me dissesse, sei lá, que aprendeu com o pai quando criança, me convenceria com mais facilidade. Mas eu só ri, um pouco debochada, enquanto assistia ele recuperar seu lugar atrás de mim, tirando a jaqueta.
Quando ele encostou a pele, macia e quente, no meu braço, foi inevitável desviar o olhar para o hipnótico bíceps, marcado pela manga da camisa. Aproveitei para subir um pouco mais os olhos enquanto ele ensaiava a mira comigo. Assim, meio de lado, vi seu maxilar tensionar, concentrado, seus lábios úmidos se moveram devagar quando sussurrou e... Podia passar horas perdida naqueles olhos, agora que eu podia ver cada pigmento deles: azul, verde, dourado.
Okay. Eu disse que ia me concentrar na aula, então foco! Mas como ter foco com os toques nos lugares certos? Com minha respiração descompassada, minha garganta seca, as mãos suando, os olhos vendo tudo em azul, verde e dourado, impressionados?! Eu, de novo, só deixei que ele me conduzisse naquele tiro. E foi! Deu certo! Acertei mais um alvo!
– Isso!!! – comemorei, a adrenalina me fazendo sair do lugar e dar saltinhos, como se eu tivesse nocauteado um inimigo na batalha –
Pic, acho que vamos levar pelo menos um prêmio pra casa! – por casa, entenda Centro Pokémon mais próximo.
Fiquei tão empolgada que arrisquei uma dancinha. Nada demais, uma reboladinha de cintura e ombros, apenas. Minha Togekiss comemorou e o de Ayzen fez o mesmo, contagiado pelo ritmo
ragatanga. Ao fim, ergui a palma da mão num
high five com meu amigo-instrutor de tiro.
– Eu acho que você tá me enganando com esse papinho de boa visão. Não é possível! – ria, mais a vontade pra encarar aqueles olhos, ao menos por uns instantes –
Bom, agora vamos ver se eu fui boa aluna. Se eu acertar você vai ter que me contar onde aprendeu atirar desse jeito. Hahaha! – debochando da proposta, claro, obviamente eu não esperava que ele aceitasse.
Eu realmente me concentrei. Sem tanta distração já que ele não estava mais colado em mim. Só deixei que a memória das minhas sensações me guiasse: a distância e flexão exata dos joelhos, a altura em que ele sustentou meu braço, o ponto exato em que ele pressionou minha cintura e meus ombros, os segundos em que seus sussurros coordenaram minha respiração. Quase podia sentir o peso do dedo pressionando o meu no gatilho, por aquela fração de segundos até o jato sair da arma e atingir o alvo.
– A-hááá!!! – perfeito! Mais uns saltinhos pra comemorar –
Me encara. Se prepara. Que eu vou atirar bem na sua cara! – gente, o que é isso? Eu dei uma reboladinha com uma mão no joelho e tudo? Acho que preciso parar de ensaiar tanto pra Contests... –
Okay, agora eu tô empolgada!E eu tava. Até demais. No meu excesso de gestos e falta de senso, segurei o gatilho sem querer, disparando água para vários lados, inclusive em Ayzen, molhando sua camisa branca. Não preciso dizer que fiquei em choque com minha estupidez. Meu ânimo passou na hora, meus olhos arregalados eram tudo que alguém veria porque eu cobria a boca com as mãos na mesma hora.
– Ayzen! – eu só sabia olhar para a camisa molhada –
Me perdoa... Eu sou muito desastrada... – mas em algum lugar naquele choque tinha espaço para eu me sabotar com um riso reprimido. Espero que ele não tenha visto. Mas se ficar puto comigo, também é compreensível... Até os Togekisses nos olhavam naquele momento tosco. Apesar de o dele parecer se divertir com a cena.