[04] How does a moment last forever?

Já vi treinadores desajeitados nesse mundo, mas a minha ultrapassa todos os patamares. Conseguiu acalmar a plantinha, então ao menos metade da missão estava concluída, porém falhou miseravelmente na sua tentativa de convidá-la para uma batalha. E não posso culpar o pequeno Pokémon, Yoshiro realmente não foi nada específica. Nem eu teria entendido que era essa a intenção, se não estivesse acostumado com o jeito atrapalhado dela.

A garota pareceu bem envergonhada ao notar que não tinha se expressado direito. No quesito capturas, Yoshiro é tão inexperiente quanto Lariel: todos os Pokémons do time ou foram chocados de ovos, ou escolheram segui-la por livre e espontânea vontade. Ela nunca batalhou com um selvagem sem ter sido atacada primeiro, então não sabia ao certo como tomar a iniciativa. Obviamente não vai forçar a plantinha a lutar, contudo, se ela não for um pouco mais assertiva, nunca se fará entender.

- Uhn, bem… na verdade… - Tentou corrigir sua fala, no entanto, foi interrompida pelo doce canto do Pokémon perdido. Era uma melodia alegre e amistosa, que agradou nossos ouvidos e tirou de Yoshiro toda a coragem. Como poderia chamá-la para batalhar, quando estava diante de um serzinho tão amável? Ela não conseguiria refazer seu convite agora, tenho certeza…

“Você é a treinadora mais meia boca que eu já vi. Sabe disso, né?” Vendo que deixar aquilo nas mãos de Yoshiro era uma péssima ideia, resolvi dar um empurrãozinho. “Deixa eu te mostrar como é que se faz.” Aproximei-me da menina e comecei a bater minhas patas no bolso dela, até conseguir tirar uma Pokébola de lá. Apertei o botão central, tal como tantas vezes vi os humanos fazerem, e libertei por conta própria o monstrinho que estava lá dentro.

Com o típico brilho escarlate, um pequeno lagarto ígneo tomou forma. Ele olhou ao redor, curioso pelo ambiente novo, e sua atenção logo recaiu sobre a cantora. Fascinado pelo som, correu até ela - quase tropeçando nas próprias pernas no processo - e começou a bater palmas, mostrando o quanto tinha apreciado sua canção.

- Hephaestus…? - Yoshiro pareceu meio confusa no início, porém logo deixou-se levar pela empolgação do filhote e aplaudiu também. - Você tem uma voz linda! Eu queria conseguir cantar assim, haha. - Sorriu para a florzinha, estendendo uma mão para acariciá-la. - Mas… eu posso te fazer um pedido, por favor? Este aqui é o meu Hephaestus. Eu prometi que iria ajudá-lo a evoluir, mas ele está comigo há pouco tempo, ainda não tivemos nenhuma batalha juntos… e não quero que o primeiro adversário dele seja alguém muito grande ou assustador, entende? Ele ainda é um filhotinho… - Hesitou por um momento, incerta sobre como continuar. Ah, só peça logo, humana! Não temos o dia todo! - Então… você poderia ser a primeira oponente dele? Por favor.

Yoshiro juntou as mãos em frente ao corpo e baixou a cabeça, praticamente implorando à plantinha. Que vergonhoso... vou apenas virar pro outro lado e fingir que a treinadora não é minha. Aliás, ela se distraiu tanto pedindo permissão pra lutar que até se esqueceu de dar os comandos… ai ai, será eu preciso mesmo fazer tudo por aqui?

“Ei, Hephy, você sabe usar o Flamethrower, né?” Chamei-o da forma mais abreviada que pude. Ora, quem mandou Yoshiro dar um nome tão complicado pra ele?

“Flame… o quê?” O Charmander coçou o queixo e inclinou a cabeça, claramente confuso. “É um trava-língua?”

“Sabe cuspir fogo?” Simplifiquei, e ele respondeu com um empolgado aceno de cabeça. “Ótimo. Quando ela aceitar lutar, você vai usar esse ataque duas vezes, entendido?”

"Roger!" Bateu uma das mãozinhas na cabeça, prestando continência quase como um soldado faria, e esperou pelo momento de colocar meu pedido em prática. Ele nem estranhou o fato de a ordem ter sido minha, não de Yoshiro. Crianças são mesmo fáceis de convencer...