Em busca de algo pra fazer

Quando reparou que pediu demais, Rodrigo só esperou o ponto anterior se esvair. Não era lá a melhor forma de se fazer "sair de um ponto", mas com um dupla tão silenciosa, ele sabia que daria certo. Num certo momento, eles só pararam de falar sobre expressões. O assunto correu um pouco mais livre pela temática de batalhas e ali ele se certificava do algo que todos (digo TODOS, até Luthien) sabiam de alguma maneira: há um excesso de segurança quando o assunto é Kirlia.

Numa dessas, o homem falou em voz alta:
- Já pensaram em batalhas de Contest?! - Era um questionamento importante. Gabriel não tinha o perfil contesteiro, mas... - Batalhas de Contests são boas pra se habituar com a ideia de lutar. E da um bom treino! Da pra perder o medo - Não tivera pudor quando falou a palavra medo, mas quando disse, disse olhando para Gabriel, deixando bem claro que Rodrigo entendia "medo" como um sentimento do treinador, e não da pokémon.

Um certo preconceito foi exposto na fala de Gabriel. Não que Rodrigo não esperasse essa resistência, na verdade ele queria que ela emergisse para que ele falasse algo óbvio:
- Uma experiência ruim? Mas por quê?! - Parara ai, mas não dera um tempo de resposta. Apenas deu um suspiro longo e encarou Luthiem com certo incomodo. Se por um lado Gabriel não tinha coragem de por a pokémon em batalha, por outro ele não cogitava formas alternativas de treino... - Uma experiência ruim para a pokémon ou para o treinador?

Era uma pergunta pertinente, que logo o fez caçar um cartão em suas gavetas. Tirou dele um pequeno cartãozinho azul, com uma fita no centro. Dou a Gabriel (que a essa altura deve já estar cheio de cartões). No centro o nome do antigo Contest Hall da cidade, em letras pequenas, uma pequena descrição: "Clube da Luta".
- São só batalhas... - A fala ficara no ar. Era difícil dizer se Rodrigo quisera dizer que batalhas de contest são só batalhas, e por isso não são ruins, ou se ele quis dizer que o "Clube da Luta" no antigo Contest Hall apenas batalhava.

Quando Gabriel se mostrou desconfortável com a ideia, Rodrigo tinha certeza de que ele não fazia ideia do que se tratava uma batalha de Contest. Ele não queria fazer o papel de "ensinar" um treinador método algum, mas sentia que era isso que tinha que fazer:
- Você não sabe nada sobre Contests... né?! - Não era uma pergunta sincera, afinal de contas, não era um problema não saber - Desculpe, achei que você soubesse um pouco sobre... é um pokémon nativo de Hoenn, essas coisas são comuns lá. Enfim, o Contest tem três fases, a apresentação visual, a artística e a fase de batalhas. Se você nocautear um pokémon, na fase de batalha de contest, você perde ponto. O objetivo é fazer combos de golpes, sabe?! Normalmente são batalhas mais saudáveis, que terminam em empate. Esse clube se reúne toda a semana para treinar os combos em batalha e ensaiar novas estratégias.

Nesse exato momento ele parou e olhou para Kirlia com certo receio:
- Você gostaria de tentar?! - Rodrigo percebera que a conversa ficara presa entre ele e Gabriel, e isso preocupava o psicólogo.

Rodrigo coçou a cabeça. Talvez fosse inocência dele achar que oferecer um ambiente seguro à Kirlia fosse uma boa ideia. Gabriel certamente sentiu um incômodo com sua proposta e Luthien reagiu a isso. Era difícil saber se a "complicação" viera de sua própria análise ou da análise do desgosto de seu treinador. Bem, não era papel do homem pensar demais (muito menos sugerir demais) algo do tipo, então deu de ombros e já começou certo encerramento:
- Oh, está dando 11h. Já já eu preciso abrir o consultório - Disse, olhando para o relógio de pulso - Mas ainda tenho alguns minutos... Gabriel, você pode me explicar como isso aconteceu?! - Questionou, de uma forma um tanto quanto vaga. Quando se tocou disso, refez a pergunta - Assim, eu já vi muitos pokémons extremamente inteligentes aprenderem bem o português, humanoides principalmente, mas Kirlia é nova e ela está vocalizando, não fazendo telepatia. Você pode me explicar o que fez?

Nesse exato momento, Luthien também olhou a Gabriel, como se também tivesse interesse em sua resposta. Apesar de estar lá, a psíquica não tinha certeza do que diabos acontecera para dar naquilo.

Rodrigo arqueeou a sobrancelha. Luthien faria o mesmo se tivesse uma sobrancelha. A resposta do garoto não era impossível, mas parecia pouco convincente. No fim, Rodrigo levantou e foi ajeitando a sala, já indicando certo 'fim de expediente' para a dupla:
- Mas afinal, você realmente queria que um pokémon seu falasse?! - Indagou. Não era mais uma pergunta sobre a Kirlia, mas sobre Gabriel - ... e por quê queria isso?!

Ao ouvir a história, Kirlia olhara para seu treinador e tentara vocalizar alguma coisa, mas se conteve. No fundo ela queria perguntar "porque eu", de tantos outro pokémons mais antigos e mais fortes que Gabriel tinha consigo.

A porta do consultório estava aberta e Kirlia ainda não sabia se deveria levantar. Rodrigo indicara com as mãos a saída em um gesto cavalheiro: "vocês na frente". Era uma forma sutil de 'expulsar' nossos protagonistas. Falariam enquanto iam para a porta de saída.