(013) — 'tis the damn season

Karinna alimentou os Swablu, embora sua vontade mesmo fosse libertá-los. Os pequenos comeram as frutas com voracidade, aparentemente eles não se alimentavam a muito tempo. Infelizmente agora eles provavelmente seriam contrabando da organização. No caminho para a floresta ela passou pelo outro Rocket que ainda estava amarrado e desacordado. Ele provavelmente desmaiou depois de tantos chutes.

A Rocket não precisou andar muito para acabar tropeçando em outro corpo e para sua surpresa era justamente o homem que ela batalhou a poucos minutos. Ele estava de costas e uma grande poça de sangue saia de sua garganta. Do lado estava um Zoroark que a garota já conhecia bem.


- Ah, Karinna! - Margo apareceu enquanto puxava outro corpo pelas pernas. - Nos ajude a levar os corpo para lá. - Outra garota de cabelo azul também puxava um corpo em direção à clareira. - Desculpe a demora, encontramos mais deles durante o caminho. - Proferiu a jovem de cabelos prateados enquanto passava por Karinna.

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Com os machucados voadores alimentados, seguimos na direção da floresta em busca do porquê de tudo ter ficado tão quieto de repente. Com Starmie iluminando o caminho, não tardou para que eu tropeçasse sem querer em um corpo jogado no chão; por sorte, não caí, mas assim que virei para observar direito, se tratava do homem com quem batalhei. Sua garganta estava dilacerada e o sangue escorrendo dentre a relva que agora servia de seu túmulo — um leve sorriso surgiu no meu rosto, não somente pelo meu sadismo, mas porque conheço exatamente o Pokémon capaz de fazer isso.

— Tsc, tsc... Já chegou matando, Margo? — dei uma risada, finalmente encontrando a loira atrasada — Que demora, viu? — reclamei, dando uma piscadela de brincadeira para Margo e acenando para a Rocket que a acompanhava — Oi, mocinha. Como você tá bonita! Vejo que continua afiada como sempre! — me aproximei, acariciando a cabeça da noturna; sempre serei grata à Pokémon por ter salvo minha vida pelo menos duas vezes em um mesmo dia — Tudo bem... — estalei os dedos, sinalizando para que Starmie utilizasse seu Psychic para carregar o corpo que faltava — Ah, esse aí tem um Pangoro e um Swellow, dá pra pegarmos e vendermos, não sei; pega as Pokéballs dele e leva pra sede.

Seguimos para a clareira, onde encontrávamos novamente os Swablus enjaulados e o Rocket desacordado. Suspirei, colocando as mãos na cintura e sinalizando com a cabeça para que Gyoza soltasse o corpo no chão.

— Os bichos estão bem ferrados. Tem alguns que tão quase morrendo, aí dei umas berries pra eles comerem pra ver se melhoram. — cruzei os braços — O que fazemos agora?

Forina Valley

- Bem, eu não tenho outra opção, né. - Margo respondeu, olhando para os corpos mortos. Já a Zoroark pareceu gostar do afago de Karinna. Quem diria que um Pokémon mortal pode ser tão dócil também?

- Ah, essa aqui é a Emília, ela já é um Operador. Aquele desmaiado ali é o Jhon, ele também está fazendo suas missões de entrada… Embora não tenha se saído muito nem na de inteligência, acho que deviam ter dado essa para você. - Margo suspirou, ela já havia reunido os três corpos no meio da clareira e então liberou seu Swinub e Marowak. - Cavem um buraco fundo o suficiente para  enterrar esses três.

Quando Karinna falou dos Swablu Margo também foi até as gaiolas para verificar eles. - Por Arceus, que crueldade. Acho que podemos fazer algo por eles, mas temos que esperar ela chegar. Você pode revistar os corpos e recolher as esferas, temos que entregar os Pokémon deles pra ela também. Mas os itens que acharmos são nossos.

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— Sem problems. — respondi Margo, fitando as gaiolas dos Swablu; me pergunto se teríamos alguma utilidade para os que estavam severamente debilitados, se não, eu pegaria todos para cuidar até que melhorassem — Assim que acabarem essas, vou correndo pegar outras. Bom manter a "sorte", eu acho. — dei uma leve risada, sinalizando as aspas com as mãos — Bom, vou revistá-los, então. Acho que tiramos a sorte grande, eles parecem ter bastante Pokémon.

Enquanto Swinub e Marowak aguardavam que eu revistasse os contrabandistas antes de enterrá-los, parei para pensar em como a morte já não me afeta. Na primeira vez, ainda junto com Margo, quando ceifei minha primeira vida com minhas próprias mãos, senti como se fosse morrer: era um sentimento tão pesado que jamais esquecerei a experiência, mas igualmente delicioso. Hoje, não sinto nada. Nada. Acho que só o prazer de ver o sangue escorrendo do corpo alheio... Me acostumei com isso depois de já ter feito diversas vezes ou só me tornei uma pessoa ainda pior?

— E você? Tem focado em missões durante esse ano? — perguntei para a loira, retirando os itens de cada contrabandista e jogando-os em uma pilha; depois, fiz o mesmo com as Pokéballs — Pronto, pode pedir pros seus pequenos enterrarem. — levantei, ajeitando minha roupa — Como dividiremos?

Forina Valley

Margo observava com um sorriso no rosto enquanto Karinna trabalhava. Ela estava surpresa como a garota não se incomodava com os corpos e os saqueava alegremente. - Não posso fazer missões. - Ao dizer isso Margo evitou o olhar de Karinna, admirando o chão. - Estou responsável pelas missões dos Grunts, como pode ver.

Ao reunir os itens Karinna encontrou as esferas com os Pokémon, esferas vazias e alguns poucos itens. Aparentemente os contrabandistas não tinham muitas coisas com eles por motivos óbvios. - Acho que esses dois aqui são os mais valiosos, acho que você pode ficar com eles. Os Pokémon irão para a organização e a Emilie pode ficar com o resto. - Margo então pegou os dois itens e entregou para Karinna.


Oh, acho que cheguei na hora certa… Eu amo saquear cadáveres depois de uma luta sangrenta. - Uma voz feminina proferiu alto, embora a pessoa que falou ainda não estivesse visivel.

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— Quem mandou ser boa no seu trabalho? Agora tem ficar de babá de bebês criminosos que nem eu. — gargalhei, dando um último "chutinho" nos contrabandistas para serem enterrados — Esses dois? Tudo bem.

Margo entregou os dois docinhos para mim, os quais guardei quase de imediato na bolsa. Enquanto assistia Swinub e Marowak aperfeiçoarem as covas improvisadas, voltei minha atenção para os Swablus engaiolados, aproveitando para dar mais uma frutinha para os mais debilitados; dava para ver nos olhos dos pequenos que eles não sobreviveriam por muito tempo se não fossem cuidados o mais rápido possível. Senti meu coração apertar ainda mais, mas não podia simplesmente pedir para levá-los comigo, afinal, agora eles eram produtos da organização.

— Huh? — uma voz ecoou da floresta, muito provavelmente de Emilie, quem Margo havia mencionado anteriormente — Tudo deles está ali, pode ficar a vontade. — comentei, apontando para os pertences dos malfeitores — Os Pokémons da Margo já enterraram eles.

Forina Valley

Karinna se enganou pois não era Emilia que estava falando. Ela não demorou para descobrir isso pois logo apareceu uma mulher magra, de cabelos negros na altura do ombro e apesar do ambiente usava um vestido longo. Mas o que mais chamava sua atenção era a enorme Serviper enrolada no seu pescoço e tronco.  Ao lhe ver tanto Margo quanto Emilie fizeram uma leve reverência.

- O que você tem pra me dizer, Margo? - A mulher perguntou ao se aproximar, sem olhar para Karinna em nenhum momento.

- Eliminamos todos os contrabandistas, no total eram 6. Já enterramos os corpos e recuperamos os Pokémon deles, de itens eles não tinham nada de muito valor. Aqui é onde eles mantinham os Swablu até que fossem levados para outro lugar. - Margo fez uma pausa enquanto pensava. - Karinna se saiu muito bem em sua missão, lidou com alguns contrabandistas sozinha. Já o Jhon foi encontrado enquanto coletava informações, capturado e espancado.
A mulher olhou em volta, passando seus olhos por Karinna e então notou o jovem no chão ainda desmaiado. - Ah, um fracasso… - Ela se aproximou dele vagarosamente, enquanto a Seviper deslizava pelo seu corpo até o chão. - Eu odeio fracassos. Ao menos ele servirá de lanche. - A Seviper então começou a envolver o corpo de Jhon e o apertar. Não é preciso dizer que com a dor ele despertou e começou a gritar, embora não tenha durado muito tempo.

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E assim que a voz ecoante se revelou da floresta, eu me calei. Pode-se dizer que até mesmo prendi a respiração, com medo de que pudesse incomodá-la; pelas reverências de Margo e Emilie, aquela se tratava de alguma Rocket de alto escalão. Com as pernas bambas fiz o mesmo e, sinceramente, dava para perceber sua importância somente pelo modo como falava e se portava, com tanta elegância que nem parecia fazer parte da organização.

Calada estava e calada fiquei. A mulher perguntava as coisas à Margo e, então, decidiu ceifar a vida do outro Grunt como se não fosse nada. Como eu disse anteriormente, mortes já não mais me assustam, mas o requinte de crueldade de deixá-lo se tornar comida para sua Seviper era algo que... Nem sei explicar. Assistir enquanto a cobra quebrava os ossos do homem e o matava em segundos era, no mínimo, assustador. Engoli seco, grata por pelo menos ter feito o meu trabalho corretamente... Ou poderia ter sido eu.

Agora era aguardar para ver o que iria fazer.

Forina Valley

Enquanto a Seviper comia Jhon, a mulher finalmente se virou e com um sorriso estranho no rosto se aproximou de Karinna. - Hm… - Sem dizer nada ela segurou o queixo da garota com sua mão esquerda, ao mesmo tempo em que avaliava seu rosto. - Você é Karinna, certo? Margo me falou muito de você. - Ela então soltou o queixo de Bley, embora ainda estivesse muito próxima dela. - Ah, você não deve saber quem eu sou. Pode me chamar de Miss B, sou um dos administradores Rocket e a única mulher entre eles. - Ela então se afastou abruptamente e começou a rodar Karinna como se avaliasse seu corpo. - Você realmente tem potencial… Imagino pelo que tenha passado até aqui.

Se Karinna olhasse para Margo, ela veria um olhar que queria dizer “apenas aguente, por favor”. - Eu espero que você não faça igual aquela idiota… - Meio que escostando seu corpo nas costas de Karinna, Miss B apontou para Margo. - ...e seja um agente de Campo. Será um desperdício se você trabalhar para aquele nerd anêmico igual a Margo ou para o velho gagá igual emília. - Ao ouvir isso, tanto Margo quanto Emilia deram uma breve risada. - Não é nossa culpa, Miss B. Nós não sabiamos. - Margo respondeu se sentindo injustiçada.

- Não me decepcione… - A Rocket sussurrou no ouvido de Karinna antes de se afastar de vez. - Margo, você fez um bom trabalho. Vou pedir para o Mr. D acabar com seu castigo, acho que já ficou tempo suficiente. Talvez agora que seu namoradinho é pupilo dele ele facilite mais as coisas para você. - O tom de voz de Miss B era debochado, ela estava claramente tentando irritar Margo. - Obrigado. E ele não é meu namorado, somos apenas amigos. - A jovem de cabelo prateado respondeu com um sorriso, não caindo nas provocações. - E tem diferença? Aliás… É bom você avisá-lo para parar de brincar de treinadorzinho e começar a trabalhar ou eu mesma irei atrás dele. Ele escolheu trabalhar para mim e não aceito homens preguiçosos. - Uma expressão de preocupação genuína apareceu no rosto de Margo, ela provavelmente sabia o que aconteceria se Margo fosse atrás do seu amigo. - Eu irei avisá-lo. - Foi tudo que respondeu.
- Pois bem, acabamos por aqui. Libertem ou capturem os Swablu, não temos interesse neles. Já foi o suficiente eliminar contrabandistas que não trabalham para nós. Não esqueça de limpar todos os vestígios. E não falhe novamente, Margo... - Ela falava ao mesmo tempo que se aproximava do Seviper que já havia terminado sua refeição. Miss B apenas retornou para esfera e sumiu em meio a floresta.

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Por fim, acabei me tornando o centro das atenções. Assim que a mulher se aproximou de mim, pude sentir minhas pernas tremerem, tamanha a imponência que exalava de seu corpo. Engoli seco, ouvindo cada palavra como se fossem sílabas que precisaria me lembrar pelo resto da minha vida... E, honestamente, talvez eu precisaria mesmo.

— Si-sim, senhora.

Foi tudo que consegui dizer em meio as diversas frases que Miss B direcionou para mim; meus olhos voltaram-se para Margo, que praticamente dizia sem precisar vocalizar que eu escutasse tudo com muita atenção. A malfeitora ainda sussurrou um belo "não me decepcione" no meu ouvido, o que por muito pouco não me fez desmaiar ali mesmo como uma mocoronga. Despedindo-se com sua serpente recém-alimentada, Miss B sumiu em meio a floresta, sabe-se lá em qual direção, já que evitei até mesmo olhá-la de costas. Não sou cagona, mas acho que até mesmo um olhar meio torto é o suficiente para ela mandar sua Seviper se alimentar do seu corpo.

Eu que não vou dar esse mole.

...

— Ufa, achei que fosse ter um troço. Quero ser que nem ela quando crescer. — brinquei, fitando Margo e Emilie — ... Namoradinho, é? Não me diz que é o Nicholas? — me aproximei da loira, dando um leve empurrão em seu ombro direito — Bonito. Tá aprovado. — voltei minha atenção para as gaiolas dos Swablu, ainda apreensiva quanto ao estado físico dos pequenos — Ela disse que podemos capturar, né? Vou levar esses três mais machucados comigo. — tentei abrir a gaiola, mas o fecho era extremamente forte; não queria pedir a ajuda das meninas, então, liberei Ramen e Polaris uma vez mais — Me ajudem aqui, rapidinh-

Antes que eu pudesse terminar a frase, um brilho envolveu o corpo dos dois, praticamente iluminando aquela parte da floresta por inteira. Estava feliz por suas evoluções, mas aquilo poderia chamar atenção de transeuntes. Ou PIOR, poderia fazer Miss B voltar e me matar com sua Seviper. Sem pensar duas vezes, peguei um dos panos da gaiola e joguei em cima de Rufflet e Cubchoo.

— Mamãe ama vocês mas preciso fazer isso. — sussurrei em baixo do pano; poucos segundos depois o brilho cessou e pude retirar o pano de cima de Braviary e Beartic — Obrigada. — eu queria surtar e agarrá-los e pular de felicidade, mas precisava me conter na frente das duas Rockets — Polaris, você pode abrir essa gaiola aqui? Acho que se você puder o cadeado já é suficiente. — a gélida assim o fez e saquei três esferas bicolores, uma Friend Ball e duas Pokéball; a esverdeada capturei a Swablu do meio, a mais ferida, com as outras duas servindo para os demais voadores — Pronto. Podemos liberar os restantes. — guardei as esferas, voltando minha atenção para Margo — Ainda tenho que pegar uma amostra da pedra antes de voltar para o HQ. — suspirei, levando minha mão direita até o ombro da loira — Se cuida, tá, sumida? Manda um abraço pro Nicholas. — acenei para Emilie também, retornando Beartic no processo e caminhando na direção da pedra com Braviary, que pegaria uma amostra da pedra pra mim — Nos vemos por aí.

Forina Valley