007 — Nadando

O Criador era um adolescente que acabava de aprender muitas coisas com o mundo real, mas o que se aprendia em casa era realmente um milagre para todas as situações. Enfim, levando Audino para um outro local que fora referido por Thalia, o Criador alterava as ordens.

- Azumarill faça o que eu te disse antes, porém fique atento a temperatura dela. Assim que ela esfriar um pouco mais, retire os panos e deixe que o corpo dela faça o resto. Não quero trocar uma ânsia e febre por um resfriado - disse, ainda preocupado, mas seguiu a liderança da Aprendiz do GYM.

O brinquedo de Yveltal era o próximo: o lendário noturno, conhecido por ser a representação da morte era por si só capaz de dar arrepios no ruivo, mesmo que fosse apenas um brinquedo em réplica. Diferentemente do anterior, Ivysaur hesitava e logo era notado pelo treinador.

- Tudo bem sentir medo, pode ficar fora desse aqui - disse recolhendo o Pokémon. - Alias, eu não consegui dizer antes mas... seu Bisharp é muito bonito. Sua Vullaby parece bem cuidada. E agora seu Skuntank é uma espécie bem interessante - concluiu enquanto prendia o corajoso Dartrix, que voltava a ter as penas limpas e o peito estufado.

Charlie conhecia a fama de Yveltal mas não esperava que a experiência do brinquedo seria igual. Se ele não estivesse tão dopado pelo súbito ataque de adrenalina, poderia dizer que teve uma experiência extracorpórea onde assistia o próprio corpo ser lançado e o Lendário apreciando o "show".

Quando o brinquedo parou, sua primeira tentativa de se manter em pé era falha. Na verdade, ele parecia um Ditto se desmanchando no chão. Dartrix se aproximava do garoto e dava algumas leves bicadas na cabeça do ruivo, que ao toca-lo para afasta-lo, sentiu o coração acelerado da ave. Talvez ele fosse melhor em esconder sentimentos do que parecia.

- Talvez o remédio não fosse uma má ideia, mas agora já foi né? - disse, se recompondo. - Bom, nesse caso vou me trocar e checar Audino. Nos encontramos nos quiosques, creio que me lembro do caminho

Charlie parecia ter recuperado as forças assim que teve uma oportunidade de rever a amiga, então correu na maior velocidade que alcançava. Ele rapidamente despiu as roupas e já colocou as brancas, o que não era difícil, pois eram largas e entravam com bastante facilidade. Se aproximando da bípede lilás, ele colocou a mão sob a testa dela.

- Acho que estamos na reta final. Continue com essa força que eu sei que possui. Assim que terminamos te levo até o Centro. Prometo - disse, depois beijou os dedos e tocou na bochecha dela. - Bom trabalho pra você também Azumarill, vou recompensa-lo por isso - concluiu, fazendo um rápido afago na fada antes correr até o quiosque.

Charlie estava tão feliz com aquela parte publicitária que pareceu até esquecer os últimos momentos de medo e desespero que tinha passado. Thalia de fato não era uma pessoa ruim, na verdade era alguém que o ruivo por vezes olhava e agradecia a uma entidade superior por ter a honra de conhecê-la. Talvez aquele trabalho não tivesse sido feito pra ele, mas estava feliz por estar no lugar errado.

Frente ao Tártaro, o garoto sentia o clima bem mais bizarro com os efeitos especiais e algumas sensações estranhas também. Ele estava um pouco mais calmo pois temia os demais brinquedos pela altura, contudo não podia evitar as paranoias de apenas imaginar o que encontraria lá dentro. Focando na fala de Thalia, ele arregalava os olhos.

- O remédio não era para nos ajudar, como ele pode te barrar de entrar? - comentou, recebendo o capacete e vendo Dartrix recuar pela primeira vez. - Bom... eu fiz uma promessa não é? - continuou, se sentindo trêmulo e arrepios por todo o corpo. - Não vou te forçar a fazer isso Dartrix, mas acho que tem alguém que se sairia bem nesse desafio

O garoto retirou mais uma das Pokébolas do bolso e colocou bem perto da boca, olhando fixamente para o item.

- Dracovish imagino que esteja eufórico para se libertar e... será. Mas, por favor, se comporte

Liberando o Pokémon, ele tentaria leva-lo para dentro. No entanto, caso o dragão de água desobedecesse, ele retornaria o Pokémon e iria sozinho para não traumatizar os demais.

- Que Arceus me guie e Xerneas me mantenha vivo - disse, fazendo um "X" na frente do peito.

O ruivo mal podia imaginar que estava prestes a conhecer um de seus piores pesadelos naquele local. Em partes, ele estava preocupado de a iluminação não captar sua reação, mas dependendo do que fosse acontecer era melhor que não fosse gravado. Acordando de um sono que não sabia ter tido, ele avançou pelas salas ansioso.

As cenas eram horríveis e não havia como reagir de outra maneira: chorar e se desesperar. Ethan era a única pessoa que o ruivo ainda confiava que jamais o abandonaria após a morte dos pais. Seria realmente Dracovish capaz de fazer aquilo? Ele tentava se recompor quando a imagem pútrida do melhor amigo surgiu em sua frente. Ele sentiu seu estômago remoer e o coração suprimir. Estava no inferno e nem havia morrido.

- Desculpa. Me desculpa de verdade - pensou, mas não disse. Não tinha forças, não tinha coragem, não tinha nada.

Do lado de fora, aos pés da equipe, ele desabava mais uma vez. As lágrimas se misturavam com o vômito e os pulmões do garoto inflavam e desinflavam tão rápido que parecia que ele estava tendo um ataque. Ajoelhado, com as duas mãos no chão ele buscava a segurança de uma luz. Dartrix tentava se aproximar e recebia a mão do ruivo barrando-o. Talvez ainda precisava absorver tudo que viu.

Charlie se sentava enfim, bebendo a água que era trazida e ainda tentava manter os olhos abertos. Tinha medo de que caso fechasse, visse novamente aquelas cenas. No entanto, seu pensamento quase desapareceu por completo após o relato de Thalia. Aquele brinquedo era perigoso demais para qualquer um, mesmo aqueles que desejam provar uma adrenalina excessiva. Ele estava feliz de saber que não teria muito mais daquilo.

Indo para um banheiro próximo, molhando o rosto e se recompondo, ele foi apanhar Audino e Azumarill antes de bater a foto. Queria que todos estivessem juntos. Com um sorriso de alívio e animação pelas novas amizades, ele marcava o fim de sua missão naquele local.

Levando todos os Pokémon para o Centro, ele recebia a mensagem de Thalia e abria o sorriso com lágrimas no rosto a cada palavra. De fato, ele era emocional, não tinha vergonha. Além disso, ele foi até o Computador para ter um rápido encontro com o Pokémon presenteado. Ele era rosa, tinha uma aparência peculiar, igual a Thalia. Alisando a cabeça do novo Pokémon, ele checava mais das informações na Pokédex antes de retribuir a mensagem.

- "Eu quem lhe agradeço. No começo, me senti um estranho num lugar errado, mas quer saber? Eu jamais poderia estar mais feliz por ter errado em toda a minha vida. Passamos apenas um dia e uma incrível noite juntos, mas conhecer você foi algo memorável. Espero que no futuro eu possa revisitar esse parque - maior é claro - e descobrir como você está. Obrigado pelo presente, aliás, para que jamais eu seja capaz de esquecer, irei nomeá-lo de Fearless.
Ps: Quando eu voltar, quero a história completa do seu passado :}"