Talvez seja, de fato, paranoia. Mas, oh, não o julguemos; sempre matutando acerca dos eventos ocorridos em seu retorno a Kanto, permeava o consciente de Nicholas a ideia de que estava sendo observado a todo segundo e em todos os lugares possíveis por aquele maldito rocket de alta patente. Jirachi quando se fizera presente diante de seus olhos, revelou, em visão, a identidade daquele que declarou guerra contra si: James Henderson, ou apenas o Hendo, como Nico o conhecia — foi aí que o louro questionou sua sanidade mental. H citara também o nome de Emma, o anjo da guarda que estava sempre recorrendo ao mais humano lado presente no âmago do kantoniano, e quase como uma fobia, o treinador não poderia imaginar a garota nas mãos novamente da organização criminosa.
Melindrosa, vil: essa era a vida de um treinador agora renegado por parte dos rockets. Ainda mais se os criminosos sabiam o nome daquela vida que Nicholas mais prezava.
A mulher então descia as escadas, reiterando de que estava tudo bem. Ademais, vendo o perfil dos mais jovens à sua frente, indagara se eram treinadores andarilhos sempre tão corriqueiros nos continentes, recebendo, como resposta, um suave movimento vertical das cabeças em sinal afirmativo. Desceu das escadas com toda a cautela e, por isso, vagarosa; os treinadores, casualmente, jogavam a alça de suas mochilas para cima.
Assim que chegara próximo a ambos, estendeu a sua mão, apresentando-se como Lanette. Emma foi a primeira a erguer sua mão direita em cumprimento cordial.
— O prazer é nosso. Eu sou a Emma e esse é o Nicholas — sempre um sorriso gentil e faceiro adornava a face tão angelical da kalosiana, que se apresentara, apontando, casualmente para o louro. Nicholas cumprimentava-a também.
Lanette tomou a palavra para si, explicando o que estava fazendo no telhado. Inferia que, há poucos meses atrás, um casal de Swablu selvagens fizeram um ninho no teto de sua casa, tendo dois filhotes; o primeiro aprendera a voar, e lançou-se aos ares e ventos do destino com seus pais, enquanto o último jazeu ali, requerendo os seus cuidados. Como a loira não encontrou o último pássaro, levantou duas hipóteses: ou finalmente bateu suas asas e partiu ou apenas caiu do ninho, calcorreando por aí, indefeso, entrando nas vísceras da rota cento e catorze, onde pode residir perigos inimagináveis para um filhote.
Pelo seu tom de voz, não apenas Lanette parecia esperar pela pior das hipóteses — interpretaram desse modo os treinadores —, como pedia um singelo auxílio na busca do filhote.
— Ai, meu Arceus, coitadinho... — Emma compadecia-se com o filhote de ave, transparecendo preocupação.
— A gente procura ele, sem problema. Se ele ainda não sabe voar, não deve ter ido muito longe — Nicholas, sempre calmo, exprimira. Os orbes cerúleos corriam de um canto a outro em observação mais superficial. De imediato, arqueou uma das esferas bicolores que carregava sempre consigo, materializando o seu pássaro psíquico ao seu lado. Xatu, teso, apenas saudava aos presentes ao repetir as sílabas de seu nome. — Fica tranquila, mais tarde a gente volta com as boas notícias.
Com um singelo gesto, tamanha era a conexão entre Nicholas e sua ave que o psíquico parecia entender o que faria. Ascendeu aos céus, com os olhos sempre atentos a cada detalhe no perímetro, estando pronto para avisar o seu mestre no momento em que visse algo que o chamasse atenção — Xatu tinha o recurso do teleporte, tornando a tarefa ainda mais fácil.
— Pode ficar sossegada, Lanette. O Xatu do Nico é excelente pra buscas aéreas e pra várias outras coisas. A gente vai dar uma voltinha atrás dele e voltamos mais tarde, tá bom? — teve a ousadia de tomar as mãos da mulher para si, juntando as duas a frente de seu corpo e pressionando, em gentil prisão de carne aprazível. Os olhos anis da kalosiana não só inspiravam confiança, como também transparecia aquela sutileza e bonança intrínseca a Emma.
Soltou-as, morosa, afastando-se após uma saudação balançando a mão destra. Nicholas e Emma começavam a se afastar gradualmente da casa; nos céus, a ave psíquica do louro sobrevoava o perímetro ao seu alcance em movimentos circulares, vigilante e tenaz, pronto para avisar seu mestre no menor dos sinais do pássaro pequeno — seja nos ares, seja em terra firme. A direção da dupla parecia onde outrora estavam os treinadores, e a kalosiana lançava um olhar de desconfiança para o louro.
— Não me diga que você tá indo fazer o que eu tô pensando que você vai fazer — não mexia muito os lábios, em sinal daquela suspeita de outrora, lançando um olhar de juíza a Nicholas.
E subitamente, ambos os braços do kantoniano enlaçavam-na por detrás. Lépido, o rosto de Nicholas avançou próximo à bochecha de Emma, finalizando a ofensiva com um longo beijo estralado em sua bochecha, diminuindo o passo da dupla conforma calcorreavam; continuou a olhar para frente com um riso convencido tingindo os finos lábios róseos.
— Relaxa, Emma, vai dar tempo de fazer tudo: a gente luta com os caras e o Xatu ajuda a gente do céu. Novatos fazem isso, não é? E se a gente é novato, nada mais justo do que um combate também — completava Nicholas.
Emma perdia-se em riso manso. Sua mão direita adentrou as madeixas douradas do kantoniano, e desviando, sutil, sua atenção para o seu próprio rosto angelical. Em avanço gentil, os dois lábios encaixavam-se em demorado e terno selinho até que tornavam a olhar para a frente.
— Você não tem jeito mesmo, né? Mas é bom você lutar junto comigo, se não vou ficar bem chateado com você, senhor moço.
Antes de uma busca por um espaço que ora pode ser pequeno, ora pode ser grande, Nicholas e Emma queriam satisfazerem-se em um único combate antes de prosseguirem na busca por Swablu. Contavam com a disciplina e a atenção de Xatu no céu para isso.
Não tem como dar errado, não é...? Quer dizer, espero que não dê.
Contagem de posts no Daycare (janeiro):
Bronzor: 08; Grimer: 08.