[Villain] – Lilycove City –

...Oh.

Bem, se cinquenta novatos haviam falhado em uma situação simplória como aquela em que estava metida (apesar de que, hm, parando pra pensar, talvez apenas houvesse tido um pouco de sorte ao ir de encontro com o trio momentos antes de adentrar o terreno do galpão onde eram armazenados os equipamentos e materiais separados pela equipe), até que fazia um pouco de sentido a frustração para com os Grunts mas, acima de tudo, também se justificava um pedaço da falta de cautela dos responsáveis pelos caminhões. Não que fosse entrar em detalhes com o homem, longe disso, até porque tinha uma galera pra alcançar e uma missão pra terminar antes de poder se jogar na cama e fingir de morta até o dia seguinte.

Por isso, não parou para pensar duas vezes quando enxergou o bueiro aberto e os vestígios de caixotes quebrados se espalhando por seu interior, além do claro desaparecimento parcial das mercadorias: A moça se deixou cair para o subterrâneo com um deslizar rápido, olhando em volta com certo desgosto diante da escuridão inevitável daquele lugar. Mais uma vez, então, ela liberou rapidamente o canídeo tricolor de sua esfera, apoiando uma das mãos sobre o sarcófago de Navi com delicadeza, a respiração se prendendo por uns dois segundos por conta do odor que pairava no ambiente. Graças aos céus ainda tinha sua máscara, mas...

— Lawrence, é com você. — Disse, estalando os dedos ao apertá-los em punho. — Concentre um Aura Sphere na sua palma e ilumine o caminho; Quero que procure as auras de mais duas pessoas, provavelmente. Temos que encontrá-los o mais rápido possível, ouviu? — Pontuou, olhando de um lado para o outro para tentar perceber mais algum tipo de rastro que pudesse estar pelo meio do caminho. — Você precisa mostrar o caminho. Preciso de você. — Acrescentou, os orbes acinzentados volvendo-se para o bípede cavaleiro.

Era o que podia fazer, certo?

O Avalugg não vai entrar na batalha, tá? Foi só pra tentar dar uma "segurada" narrativamente Q

Foi com certa felicidade que a moça enxergou as claras (quer dizer, tanto quanto possível) pegadas por sobre o piso escuro e meio... Lamacento? Aguado? Ugh, fosse como fosse, um balançar de cabeça discreto fez o favor de espantar os pensamentos acerca disso pois, particularmente, tinha quase a certeza de que não queria descobrir, levando em consideração o lugar onde estavam. A parte boa do rolê era justamente que tinha uma pista de por onde ir e, sem pensar duas vezes, os passos rápidos guiaram-lhe na direção denunciada pelos pés dos ousados rapazes, que ironicamente abandonaram seu terceiro componente para trás sem sequer parar para pensar duas vezes, ao que tudo indicava.

Bando de traidores.

Infeliz ou felizmente, porém, o que calhou de ocorrer foi que seu caminho logo foi interceptado não por peças menores de gangue, mas sim por selvagens que zanzavam pelos esgotos na pior hora possível (estariam dormindo antes que a dupla passasse por ali? Era difícil dizer). Infelizmente, o freio veio de maneira obrigatória, o canto dos lábios se torcendo em desgosto ao perceber que não haveria como passar sem, hm, botar aquele bando de frágeis elétricos pra "dormir".

...Que assim, fosse, então.

Sem tempo para hesitações, a moça recuperou rapidamente algumas de suas pokéballs, puxando-as e arremessando mais três companheiros em campo. Talvez fosse algo meio bruto de se fazer com pobres selvagens que estavam tendo seu habitat invadido de uma das maneiras mais abruptas possíveis mas, ora, que poderia fazer?

— Ryo, Ariel, não temos tempo pra isso. Limpem o caminho com Duplo Earthquake, os dois! — Ordenou, enquanto já se preparava para ativar a Mega Evolução de sua gramínea desde o começo, afinal, não tinha motivo algum para não fazê-lo. — Avalugg, espalhe gelo pelo chão, paredes e teto para tentar absorver um pouco o impacto dos terremotos nas estruturas. — Disse ao terceiro monstrinho, uma ideia rápida puxada da mente pela lembrança de desabamento ocorrida nas entranhas do Monte Pyre por conta dos violentos tremores causados por seus pokémons. Tinha consciência da periculosidade da situação mas, bem, se demorasse muito para seguir em frente, poderia acabar perdendo de vez a pista dos malfeitores (ou seriam benfeitores? Afinal, ladrão que rouba ladrão...).

Não teriam como resistir muito.
...Né?

Felizmente, não foi preciso muito para que conseguisse lidar com os selvagens que se punham em seu caminho - em realidade, uma única investida violenta de Ariel havia sido mais que suficiente para varrer os elétricos que tão inocentemente a abordaram naquela bela noite enluarada. Apesar da pressa, porém, a ruiva foi incapaz de evitar arremessar duas Pokéball's em direção aos inconscientes bichinhos: Uma no Pikachu mais à esquerda, a outra no Magnemite que, de algum jeito, contrastava com aquele, uh, ambiente e grupo, se parasse para pensar bem.

— ...Realmente, só pra atrapalhar... — Suspirou. Os orbes acinzentados percorreram mais uma vez o chão dos túneis, o canto da boca se torcendo enquanto tentava identificar por onde deveria seguir. E essa seria verdadeiramente sua única preocupação, não fosse aquela sensação latente de que alguma coisa pularia em seu pescoço à qualquer momento e, apesar de que isso era normalmente o que acontecia independente de se existisse ou não algum perigo real, bem...

Não se ignora esse tipo de sentimento, sabe?

— ...Lawrence. — Chamou, com certa rispidez, o rosto volvendo de um lado para o outro enquanto os pés recuavam em dois passos curtos. — ...Onde estão? Revele o caminho. — Pediu novamente - afinal, se tinham ou não companhia, o canídeo responsável pela identificação de auras seria o parceiro ideal para analisar e lidar com, não é verdade?

...Esperava que sim, pelo menos.

Talvez o detalhe mais constante de sua aventura surgisse exatamente quando se encontrava pelo menos em um nível abaixo da terra pois, hah, era capaz de se recordar de no mínimo quatro oportunidades recentes em que havia sido/ameaçado ser soterrada por sabe-se lá quantos quilos de rocha demolida. Parando para pensar, era até meio que cansativo e irritante mas, oh, como poderia simplesmente evitar se embrenhar em ambientes os quais os astros celestes eram incapazes de alcançar se, huh, todos os seus objetivos e necessidades pareciam constantemente se afunilar para suas vísceras?

Lawrence, oh, Lawrence; Por que é que você teve de simplesmente fazer chover tantas pedras por sobre suas cabeças?

...

Já estava acostumada com a escuridão: De certa forma, era impossível não, considerando a maneira como as sombras espreitavam e sussurravam pecados aos seus ouvidos quase que vinte e quatro horas por dia. Então, não chegava a ser uma grande surpresa que em momento algum o temor de se encontrar nele, tão de repente - ora, pouca coisa se recordava, aliás, além da latente (e ainda existente!) dor de cabeça que pulsava na boca de suas têmporas. O grunhido discreto veio com a mesma pancada que as vagas lembranças do desmoronamento: Recordava-se não de muito, mas do suficiente para que as memórias de retornar seus pokémons e das esferas de energia estourando contra seus opositores ainda estivessem frescas no consciente. Os ombros se retesaram de maneira quase sórdida quando as pálpebras enfim libertaram os orbes acinzentados, os músculos chorando ardência e dores que já há algum tempo não incomodavam.

— ...Mwnf... — Escapou da garganta, suave, as pálpebras se apertado por mais um instante antes que as palavras do homem acomodado no banco da frente servissem de alarme para trazê-la de volta (de vez, dessa vez) à consciência. O corpo se remexeu, incômodo, e o lábio inferior teve de ser mordido para suprimir um gemido dolorido que, de outro modo, não se intimidaria de apresentar. — ...Eu... — Disse, devagar, balançando a cabeça com sutileza e volvendo a atenção para a janela, ainda tentando situar ao certo a própria localização.

— ...Ugh, eu odeio esses lugares frágeis. — Resmungou, apoiando o rosto na mão e esfregando as sobrancelhas, devagar, a respiração indo e vindo e o cérebro processando as "informações" passadas, quase entrelinhas, por seu, hã... Superior? — ...Bem, como eu vim parar aqui? — Quis saber, só para se certificar. — E os outros? — Emendou. Sabia que o homem provavelmente não estaria lá interessado em seu bem-estar...

Então, nem se preocupou em informar.

— ...O teto desabou. — Comentou, encolhendo os ombros com discrição. Não precisava falar a parte de que, uh, meio que era culpa de seus pokémons, né? — As coisas às vezes parecem de papel por aqui. — Suspirou, esfregando a bochecha com uma das palmas, a atenção volvendo para os arredores em busca dos próprios pertences.

Pois é.

Claro - tinha praticamente lidado com o trio e descoberto o plano de ação dos dito cujos sozinha mas, hah, ela quem havia quase estragado a operação por conta de um desabamentozinho qualquer dos esgotos. Quer dizer, veja bem, poderia até ter colaborado para o fato mas, uh, não era como se realmente tivesse culpa da estrutura que sustentava toda uma cidade ser uma porcaria, né? Uma esferazinha de energia de nada e tudo já vinha abaixo, veja só se pode...

— Eu não tenho medo dos meus próprios pokémons, se é o que está sugerindo. — Retrucou, ríspida, revirando os olhos com discrição - e hipócrita, também. Podia até estar afirmando isso com toda a pança mas, uh, não era nem necessário explorar tanto assim o seu passado para desvendar o trauma que havia passado com seu pokémon bússola-pedregulho; Claro, as coisas estavam bem melhores atualmente, mas a verdade era que ainda não tinha lidado por completo com aquela sina silenciosa que a perseguia em passos pesados.

Ainda tinha uma promessa que precisava cumprir, afinal.

— Tenho quase certeza que se não fosse pela minha "atuação", vocês ainda estariam que nem baratas tontas naquela rua... — Resmungou em baixo tom, desencostando do banco devagar e buscando os trajes mencionados pelos homens. Os dígitos escorregaram pelo tecido de neoprene que cobria seu corpo e, por um instante, hesitou - entretanto, porém, contudo e todavia, não tinha tempo para fazê-lo, Despiu-se, o olhar baixo e a mente tentando escapar da situação, o incômodo inevitável pela companhia no processo e a consciência de que não teria como evitá-la.

Foi com paciência que dobrou a roupa de mergulho e o casaco que vestia, enfiando-os imediatamente na mochila que carregava, mantendo-se apenas com as peças íntimas; Um latejo na têmpora fê-la parar com o trabalho por alguns segundos, as pálpebras se apertando e a respiração indo e vindo em uma tentativa de mandar embora aquela sensação sórdida. Engolindo à seco, Chase voltou-se aos próprios pertences e os revirou por algum tempo, em busca dos pacotes praticamente minúsculos que haviam sido entregues para si - paciente, alocou-os em torno do sutiã, e foi só aí que a ruiva se deu ao luxo de vestir o uniforme de entregadora oferecido pelos criminosos, enfiando o boné na cabeça de qualquer jeito e ajeitando o macacão e a mochila atrás das costas.

— ...Belos superiores. — Deixou escapar em um sussurro assim que os homens começaram a brigar, revirando os olhos e segurando o pacote falso que fazia parte da, uh, fantasia. — Obrigada pela carona, "meninos". — Disse, revirando os olhos e puxando a maçaneta do carro antes que precisasse ouvir alguma resposta ríspida, pulando para fora do veículo e fechando a porta. Então, olhou em volta para que pudesse se situar; Precisava ir para o galpão mas, oh, qual seria mesmo o melhor caminho para fazê-lo?