Unbroken

Will ouviu a resposta de Kanata com interesse, mas quando chegara o momento que ele mais esperava, Gabite interrompeu a jovem com um rugir incomodado. Entretido na conversa o treinador só percebeu os Remoraids quando Maegor rosnou para o desafio, doido para contra-atacar a provocação da qual Will apenas torceu o nariz e deu de ombros. – Eu não tenho interesse em peixes. Mas se quiser ensinar uma lição a esses folgados é com você, Maegor. – O jovem Dragão não precisou de nada mais para se decidir, seu olhar determinado já dizia tudo o que precisava. – Acho melhor você tirar o Power Anklet ou pode ter dificuldades na luta, vamos trocar pelo Lucky Egg. – Assim que o treinador fez a troca, Gabite saiu em disparada para confrontar os provocadores, obrigando Will a gritar ao lhe desejar boa sorte. Virou-se para assistir a luta de frente e respondeu finalmente a menina prestativa.

- Novata ou não, você já deu o primeiro passo e é isso o que importa! Se esforce e tenho certeza que Mestre Chuck irá notá-la... Também sou um Karateka, mas gosto de aprender técnicas de diversas artes marciais para adaptá-las ao estilo de cada um dos meus Pokémon, sejam do tipo fighting ou não. – Ele passou a mão no cabelo afastando a franja dos olhos e prosseguiu. – Veja o meu Gabite. Ele é bípede e possui uma cauda que o ajuda bastante no equilíbrio, mas não tem mãos. Apesar disso consigo ensinar a ele técnicas de Karatê, mesmo que suas pernas curtas dificultem seus chutes... Entretanto – Levantou um dedo indicador para dar ênfase a seu argumento – Ele é ótimo em aplicar técnicas de Judô e Sambo. Seu centro de gravidade baixo ajuda bastante. Você tem que ver os Iron Head dele.

Antes que Will pudesse continuar ele sentiu a sua mochila se mexer e não perdeu tempo em tirá-la das costas para abri-la quando deduziu o que seria. Mais uma vez ele quase perdia um novo nascimento... Mal ele abriu o compartimento onde o Egg estava e um lagartinho saltou para o seu colo. Ergueu-o bem alto, dando as boas-vindas ao pequeno Helioptile que logo depois ficou empoleirado na sua cabeça e ombros para observar o mundo.

Mais à frente, perto da água, observou quando o seu Gabite saltou entre os remoraids para aplicar um Earthquake. – Ele é esperto, em desvantagem numérica, golpes em área são mais efetivos. Vamos chegar mais perto pra ver... – Maegor não facilitaria, sabia que persistiria no Earthquake se fosse necessário.

Ele sabia que aqueles “peixes” não representavam perigo para o seu Dragão, por isso deu liberdade ao predador terrestre para lutar como quisesse. Contudo, mesmo que ele fosse mais forte, ter um peso atrapalhado a sua locomoção poderia causar um enorme prejuízo na luta. Os adversários já possuíam a vantagem numérica, Will não daria a eles também a vantagem da iniciativa, logo não pensou duas vezes antes de tirar o Power Anklet do seu Pokémon. Felizmente, Maegor fora esperto bastante para atacar em área, dando a ele uma vitória tranquila.

- Sim, chamam a espécie dele de pseudo-lendário... Acredito que seja por causa da raridade. São difíceis de encontra-los por aí, poucas pessoas os treinam. Eles são bem fortes, mas enquanto não chegam em sua última forma, são tão normais quanto qualquer outro Pokémon. A maior dificuldade em treiná-los é a demora para faze-los alcançar o seu potencial máximo. – Enquanto respondia Kanata ele acariciou com o lagartinho que ficava pulando de ombro em ombro, curioso, para olhar em todas as direções. – Mas convenhamos que esses Remoraid não são um desafio assim tão grande... Acho que vou aceitar o seu convite, sempre é bom conhecer outros estilos de Karatê com um Mestre. Sendo um faixa preta o seu pai pode me ensinar algumas coisas interessantes.

Will calou-se de repente, espantado. Ao olhar de relance para a água viu Maegor jogar um dos Remoraid na areia da praia e agarrar outro com as garras, caminhando pra fora d’água e preparando-se para comer o Pokémon que trazia consigo. – Já volto Kanata – Ele saiu em disparada na direção do Dragão para impedir o seu Pokémon de fazer o peixe de banquete.

- Solte esse Pokémon agora, Maegor. Ele não é comida! – O Dragão fitou o treinador sem entender, ele tinha vencido, ele tinha direito de se alimentar do mais fraco se quisesse. Mas Will bateu o pé mostrando firmeza. – Vamos, solte-o! – Pois o danado em desafio levou o peixe para mais perto da boca e mostrou os dentões, pronto para dilacerar a carne. – Você não vai me desobedecer. Não admito isso entre os meus Pokémon. Você come bem desde que se juntou a nós e enquanto não estiver passando fome na selva, não permitirei que coma outro Pokémon. – Percebendo o quão sério Will lidava com o assunto, Gabite jogou o Remoraid na areia próximo do outro e saiu de perto com a cabeça baixa, acanhado. O treinador ajoelhou próximo dos peixes e viu as marcas das garras deixada pelo seu Pokémon quando esse os tirou da água. Não pensou duas vezes antes de jogar uma Premier Ball em cada um para capturá-los. – “Quando você salva uma vida se torna responsável por ela” – Lembrou-se das palavras de seu avô e esperou pela confirmação da captura. Se fosse necessário, caso a captura não funcionasse, usaria uma Great Ball em segundo plano.

O Rotom Phone não esperou por sua pesquisa, só em se aproximar ele relatou tudo o que sabia da espécie e o Karateka descobriu que ao evoluírem eles deixavam de ser peixes e viravam polvos. – “Parece que encontrei bons ajudantes pra fazenda”. – Ele ainda procurou pelo terceiro Remoraid, mas não o viu por perto.

Logo depois voltou para perto de Kanata pronto para partir. – Antes de passar na sua casa podemos dar um pulinho no Centro Pokémon? Quero fazer uma troca rápida no meu time. – Maegor olhou para ele desconfiado, mas Will o tranquilizou logo depois com um sorriso e algumas palavras reconfortantes.

- Certo! Eu vou em um pé e volto no outro – Despediu-se de Kanata e tratou de resolver os seus assuntos, voltando ao Centro Pokémon depois de todo o imbróglio envolvendo Gabite.

- Por favor enfermeira Joy, tenho dois Remoraid feridos que precisam de cuidados... Meu Gabite pegou pesado demais com eles, quase os comeu. – Correu até a atendente assim que resgatou os Pokémon aquáticos no Storage e entrego-os aos cuidados da enfermeira para um tratamento. Ansioso com o estado dos dois, aguardou caminhando de um lado para o outro do Centro Pokémon. Maegor durante toda a espera observou bem o estado de espírito do treinador e entendeu o comprometimento do mesmo em preservar vidas.

Quando eles retornaram, Will fez questão de abraçá-los e dar as boas-vindas, só para ser abençoado com o fenômeno da evolução. Aparentemente, os dois peixinhos ficaram tão felizes por terem suas vidas salvas que desencadearam aquele feito. – Parabéns aos dois... Quem diria, acho que agora vocês conseguem viver fora d’água, né? Tenho um lugar especial para vocês. Bem-vindos a família. – Agora que ele tinha os seus escravões trabalhadores do campo, não tinha mais necessidades de caçar Krabbys, o que seria uma pena não poder salvar alguns da panela de alguém. – Acho que podemos ir ver o pai da Kanata – Pelo menos esperávamos.

Após uma mudança na equipe, focando dessa vez em Pokémon do tipo lutador e desequipar os itens dos antigos Pokémon da party, ele voltou ao lugar combinado para se encontrar com Kanata.

- Obrigado mais uma vez, Enfermeira Joy! Não sei o que seria de mim sem você. – Depois de se despedir, Will e Maegor saíram do Centro Pokémon só para darem de frente com Kanata os esperando do lado de fora. – Desculpa a demora, Kanata. Precisei curar os Remoraid e acredite ou não, ambos evoluíram... Acabei perdendo a noção do tempo. - Um pouco constrangido pela demora, ele juntou as mãos em súplica, faltando só abaixar a cabeça para um pedido mais formal.

Após o reencontro, seguiu a jovem por uma estradinha que o levou a uma residência mais afastada. A princípio imaginou uma casa humilde, mas surpreendeu-se com o que viu. – Fiuuuu! – Assobiou impressionado. – Vocês têm um belo lugar aqui e, o melhor, isolado.

Pego de surpresa pelo sarcasmo, o jovem só não respondeu à altura por estar na casa do homem e principalmente por ser ele o interessado naquele encontro. Controlou a língua e abaixou a cabeça em respeito, imaginando se aquele homem tinha se tornado um estrangeiro durante o período difícil que Tohjo passou. – Eu sou um Treinador Pokémon, estou sempre viajando e busco conhecimento nas artes marciais para adaptá-las aos meus Pokémon. Vim a Cianwood devido ao renome que os Mestres daqui possuem internacionalmente, principalmente o Mestre Chuck. Quando conheci sua filha na praia, descobri que o Senhor é faixa preta em Karatê. Por isso estou aqui, você pode me mostrar alguns golpes enquanto me fala um pouco sobre as tradições da cidade?

Percebendo sua indelicadeza em não se apresentar, ele curvou o tronco inclinando a cabeça antes de continuar. – Me chamo Will Allstar, faixa preta Shodan do Karatê estilo Allstar de Vermilion.

O homem de fato trazia um preconceito enraizado no peito, um desprezo por cidades grandes evidente no timbre de sua voz. Seria simplesmente uma revolta pelo capitalismo somado a compulsão que tomou o mundo pelo consumo desenfreado? Ou teria algo mais, algo relacionado a ausência da esposa? Will ouviu quieto e se esforçou para não reagir as palavras do patriarca, seja o que fosse, não cabia a ele julgá-lo.

Antes que o pai de Kanata se retirasse, uma proposta fora feita, uma que Will muito desejava, batalhar contra um Mestre marcial. Seria ele um Especialista em Lutadores ou um treinador mais eclético como o próprio jovem de Vermilion? O Karateka se curvou e juntou as mãos a frente do corpo, fazendo a palma esquerda envolver o punho direito. – Espero aprender muito com você. Fico grato pela oportunidade.

Agora a sós com Kanata, ele brincou: - Seu pai é um homem bem intenso – Não sabia se a tentativa de aliviar a tensão havia funcionado, mas pelo menos ele ficou mais relaxado. Em resposta, Kanata colocou em sua mão um saco com 3 doces. – Obrigado! Isso significa que Mestre Kazuya é bem forte, não é? Parece que encontrei o que vim procurar em Cianwood.

Gabite arregalou os olhos ao ver os doces, mas Will foi bem claro em dizer que ele já havia comido o suficiente alguns dias atrás e enquanto ele não aceitasse escovar os dentes como deveria, não comeria mais doces... Dessa vez, deu os três Exp Candies a sua Lucario, a mais fraquinha em level, coitada, no grupo atual.

- Podemos ir. – Will tirou todos os seus Pokémon das pokébolas e acompanhou Kanata até a quadra de batalha. Chegando lá, admirado com o trabalho bem feito da arena, se curvou em respeito a ela – “Osu” – Os seus Pokémon sentaram sobre os calcanhares em postura de Seiza enfileirados lado a lado as suas costas, no aguardo. – Estou pronto!