[Gym Battle] Vs. Gwen #22

Quanto por cento de visitantes de Gwen iam até ela querendo ouvir histórias e desafiando-a apenas como uma desculpa? Bem, podia ser 0,00001 por cento ou sei lá, não sei contar. Meu ponto é que essa porcentagem existia, uma vez que o próprio Ren estava lá por este exato e específico momento. Se bem que talvez, vender alguns panos velhos que ele tinha consigo poderia ser uma boa ideia também...

Concentração, Ren! Não era como se você pudesse pegar o pano da sua Mimikyu que ainda nem nasceu e você ainda nem sabe que existe e vendê-lo por aí, né? Enquanto a recepcionista Rebeca anotava inquietamente as coisas no seu papel, o coordenador parou para pensar no quão ridícula sua ideia era. Ele fora até ali para... ouvir histórias? Céus, onde ele achava que estava, na biblioteca do jardim de infância? Pelo menos, a desculpa de desafiar o ginásio parecia ser boa o bastante.

... Falei cedo demais.

Em meio ao ressurgimento das forças primordiais do océanos sobre a própria Mountrock, nem mesmo o ginásio local conseguia sair ileso. Imagino que mandar uma força-tarefa de Torkoal e Ninetales até ali não fosse ajudar muito, né? Raposa ígnea nenhuma foi capaz de salvar seu continente natal, anos atrás. Se nem mesmo fita isolante estava resolvendo o problema, as coisas estavam mesmo feias. Desconfio que até mesmo os deuses do mundo antigo reverenciavam-se perante o poder daquele tão poderoso bem. Nunca ouviu falar da Idade da Fita?

Mesmo assim, a pergunta da morena acabou pegando o jovem de surpresa. Sinceramente, ele não estava morrendo de amores pela ideia de ter aquela batalha. De qualquer forma, estava chovendo lá fora, e Ren definitivamente não queria encarar um toró daqueles. Isso não significava, é claro, que falar que ele tinha ido até ali só pra perguntar sobre histórias dos achados arqueológicos ou coisa do tipo seja menos vergonhoso.

Ele sentiu suas bochechas corarem. — Bem, eu não tenho assim, certeza, mas... Acho que estou mais disposto a tomar chuva aqui dentro que tomar banho lá fora — respondeu ele, um pouco sem jeito. É, isso não deixava de ser verdade, apesar de também não ser exatamente o motivo completo. Depois de chegar até ali, a criança dentro de si simplesmente não queria ir embora sem seu conto de fadas. Infantil, talvez — mas até que é bom, alimentar esse infante vez ou outra; principalmente depois de ter sido mantido reprimido por tanto tempo.

Ele então dirigiu seu olhar para os baldes no chão da arena. Aquilo certamente parecia ser uma receita para o desastre... Malditas gotículas de água acumuladas na atmosfera terrestre em demasiado excesso (sim, bem pleonástico). Além disso, uma outra coisinha começou a incomodar Ren. Bem, a narradora já havia citado isso, mas não era como se o meu personagem soubesse disso, e eu não tenho coisa melhor pra dizer. Então o coordenador arregalou os olhos, dirigindo-se para a líder novamente. — Os achados das expedições! — exclamou ele, em sobressalto. Sim, Ren Hughes, um amante das artes arqueológicas. Quem diria?

Bem, eu diria. Afinal, todos aqueles bens traziam consigo uma boa história (menos uma pedrinha ou outra que havia caído em meio aos sítios de escavação)... E bem, eu já disse que aquela coisinha de cabelos rosados — não, não era Winnie e nem Karen — estava sedenta por seu era uma vez. Mesmo que isso significasse chuva, lama, batalhas ou ser indelicado, de alguma forma.

OFF escreveu:Oi amorrrrrr!
Eu acho que você me narrou mas não me narrou, foi só uma batalha numa rota do Loki pra eu ensinar um TM antes do Contest que nunca aconteceu. Saudades :<
Enfim, espero que a gente possa fazer um negócio lindo. Quero dizer, lindo já tá, com vc aqui. Aliás, desculpe, mas não tô com um pingo de paciência pra ir atrás de um template aqui pelo celular.

E vamos de apanhar.

Sabe, uma coisa curiosa de utilizar-se do ponto de vista pessoal de um indivíduo, o decorrer da narrativa pode decorrer-se com certa... incerteza. Por exemplo, algo que o personagem pode ter como uma certeza absoluta, no final das contas, pode acabar como sendo algo totalmente diferente. Até que fazia sentido, não? Os indivíduos tem conhecimento apenas daquilo que os cercam. As informações adicionais, todas as entrelinhas e pormenores, apenas um observador externo de longa data poderia saber.

Além disso, adianto que falta de sinceridade também não era um fato assim tão explícito. Ren queria sim saber um pouco mais sobre artefatos — por literalmente motivo nenhum —, mas também falava honestamente sobre não ter certeza do que fazer. Veja só: como bem fora notado pela líder de Mountrock, o coordenador andara passando por vários ginásios ultimamente. Contudo, até então, ele não sabia exatamente o por quê. De alguma forma, pensava que cada líder poderia trazer algum ensinamento, algo de especial. O especialista não iria apenas batalhar por este único fator em si, não é mesmo?

No fim de tudo, era apenas uma criança tola com saudades das histórias de ninar que outrora ouvia, e agora estava perdida no mar de caos que sua própria mente construíra.

Mas novamente, isto era como Ren se sentia. Não havia como outros indivíduos alheios terem noção de tais fatos. E isso, para variar, tornava tudo e todos suscetíveis à confusão. Como bem acontecera para com Gwen. Para ser sincero, o rapaz também fora pego de surpresa pela entonação da morena. Engoliu em seco, e por um minuto, cogitou acompanhar Rebecca e deixar o recinto. Contudo, sua curiosidade — vide, estupidez — era maior.

Ele abriu e fechou a boca repetidamente, sem saber exatamente como proferir uma resposta. Será que tinha feito alguma coisa de errado? Aparentemente, a subjetividade não era bem-vista por todos, afinal. Além disso... Como diabos a mulher tinha acesso aos dados bancários do jovem apenas de ler uma ficha manuscrita?! Acho que tem algo muito estranho, nesses ginásios por aí. Isso estava escrito no contrato? Espere, ele ao menos assinara um contrato em algum momento?!

É, sei lá. De qualquer forma, meu ponto era a confusão e hesitação estampadas na face do coordenador. "O que é que tem?". A pergunta ressoou na mente dele algumas várias vezes enquanto o rapaz tentava compreendê-la. Ele franziu a testa, e então soltou uma completamente perdida resposta. — Eles... Eles estão bem? — questionou, referindo-se às preciosidades. Era interesse genuíno, sabe? Mas o semblante... estranho da líder ainda deixava-no nervoso.

Ele suspirou. — Sendo sincero, eu vim até aqui por outro motivo. Sabe, sempre gostei muito de ouvir histórias. É um legado da minha avó na minha vida, imagino. E por isso, sempre me interessei bastante nas descobertas da área. Acho incrível ainda conseguirmos ter contato com artefatos de civilizações antigas e tão diferentes... — murmurou ele, pensativo. Falar da avó era sempre uma coisa que o deixava assim, reflexivo. — Por isso... Não gostaria de pensar que essas coisas possam estar sofrendo com a chuva ou algo do tipo. Eu acho que meio que esperava poder ver a história de cada um deles de perto, algum dia, sabe?

Ele riu, sem jeito. Suas bochechas estavam queimando, vermelhas. Manteve o olhar baixo, mirando o chão úmido enquanto podia. — Desculpe — exprimiu em seguida, cabisbaixo. — Foi apenas uma tolice minha, e quis inventar de desafiar o ginásio apenas para não ter que falar isso tudo. Parece que acabei passando ainda mais vergonha dessa forma. Talvez seja melhor eu ir agora, então — concluiu por fim. A chuva lá fora estava pesada, de fato. Mas naquele momento, parecia ser uma alternativa melhor que ser continuamente constrangido por si mesmo, sem saber exatamente o que estava fazendo, e muito menos os motivos disso.

... Não fez sentido nenhum, né? Talvez seja melhor assim mesmo. Eu não entendo a mim mesmo, Ren não se entende, e nenhum de nós consegue se fazer ser entendido.

Acho que foi compreensível. Realmente, na correria de cada dia que nos é dada hoje, às vezes acabamos por ignorar as necessidades alheias — mesmo que sejam as nossas próprias. Confesso que, provavelmente, já fazia um bom tempo desde que Ren não se olhava atentamente em um espelho. Talvez por isso que estivesse evitando Lilycove, e consecutivamente, sua mestre Lisia. Além de estar com uma missão atrasada para entregar, ele também... não estava nas melhores condições, por assim dizer. E não queria que a líder de fadas visse seu aprendiz daquela forma.

... Talvez fosse melhor ficar longe dos Contests enquanto ele não superasse tudo isso — seja lá o que isso seja.

Mas ainda assim, creio que eu não chamaria exatamente de cerimônia. Era tudo uma literal e absoluta confusão. Uma contradição surreal de pensamentos e ações. Céus, eu não sei mais o que dizer, por que também não faço ideia do que está acontecendo. Enfim a hipotenusa. O rapaz olhou para o chão enlameado, e em seguida, fitou a líder em sua frente. Depois, dirigiu seus globos violáceos até seus pés. Os tênis estavam surrados e sujos de lama. Provavelmente, estavam em estado semelhante mesmo antes de pisarem aquela arena.

É Ren, acho que você de fato precisava cuidar um pouco mais de si. Em todos os sentidos possíveis, provavelmente, uma vez que você travou mais uma vez com a próxima pergunta de Gwen. Ele movimentou os lábios repetidamente, em um tremor irritantemente inconstante. — Não... — ele sussurrou, parecendo estar incerto. "Não quero". Seria tão fácil falar aquilo, desistir e sair dali... E provavelmente, ele estava realmente cogitando a ideia, levando em consideração suas próximas palavras murmuradas. — Não sei.

Mas é claro, como já faziam há um bom tempo, memórias voltaram à mente do rapaz, atormentando-o. Ele recordou-se de Brawly, o gentil treinador de lutadores que só queria cumprir sua função e descansar feliz. Roxanne, a professora e pesquisadora que apoiava-se em dados científicos para ter sua base. Wattson, a voz da experiência que descreveu o futuro como incerto, mas altamente recompensador para aqueles que mantinham-se fiéis a si mesmos. Até mesmo Flannery, que parecia um pouco estranha, mas aparentemente adorava os embates. Finalmente, sua mente parou em Kanto, Cerulean. No curioso Takushi, que esclareceu alguns... pontos em branco.

Ele não poderia correr para sempre. Sabe, sempre que se enfiava em uma batalha, Ren acabava inconscientemente lembrando-se de seu pai. Dos tempos que passara em sua casa burguesa & de classe alta. Abusos psicológicos, até mesmo físicos. A visão de monstrinhos inocentes acabando machucados. Amigos feridos. Não era como se todas as imagens viessem à cabeça, mas involuntariamente, a sensação chegava até ele. Materializava suas garras intangíveis em volta do jovem, apertando-o, sufocando-o.

Tirando o ar dos pulmões, arrancando seu coração.

Mesmo que tenham falado a ele que precisava enfrentar e encarar, defrontar o passado e tudo quem ele era... Não era uma coisa fácil de se decidir, de fazer. Mais ainda, não era uma coisa fácil de expressar. Ren mordeu os lábios, franzindo o cenho novamente. Bem, Gwen já sabia que o treinador em sua frente era estranho, provavelmente louco e certamente muito suspeito. Não era como se houvesse muito mais a perder ali, certo?

"Tentar é o mínimo que se pode fazer". O coordenador não sabia quanto tempo iria viver. Mas sabia que decisões usualmente eram carregadas pela vida toda. Será que ele acabaria por arrepender-se eternamente, se deixasse aquele ginásio, naquele momento? Para ser sincero, não fazia ideia. Ainda assim, a ideia não parecia nada interessante. Argh, eu nem sei mais o que estou tentando dizer.

O fato é que ele recuou um pouco, olhando para a saída, ainda pensando no que fazer. Mas logo tornou a olhar para a outra direção; novamente para o chão diante de seus pés. — Eu... Eu não me importo com a lama. Se não vou ouvir histórias, acho que posso pelo menos... tentar ser como todo mundo é — concluiu por fim, dando sua (ainda enigmática) resposta. No final das contas, era assim, não? As pessoas eram coagidas pelo fato social, e acabavam agindo de acordo com o que era dado como "normal". Rendiam-se às incertezas, pelo simples fato de não saberem exatamente como prosseguir.

Da mesma forma que Ren.

Um (outro) suspiro melancólico foi ao ar. Ren balançou a cabeça negativamente, enquanto balançava nervosamente os braços. — Oh não, muito pelo contrário. Eu inclusive prefiro ir ao campo eu mesmo, deslizando ou não, se isso significar que meus monstrinhos estarão em condições melhores que a minha — proferiu então. Por mais que tivesse sido uma sentença de teor supostamente negativo, o coordenador demonstrava que concordava, em partes, com a líder de ginásio. — Não quero que eles conheçam dor e solidão como eu já conheci. Não me importo muito em me enfiar nisso tudo de novo, mas... Talvez justamente por isso que tenho tantas dúvidas. Por medo de que eles encarem o que não quero que vejam.

...

Gwen parecia, também, travar algumas dessas batalhas dentro de si. Aparentemente, não tão confusa quanto a do especialista em feéricos, mas certamente, uma existente. Tal como a Terra, a mulher parecia ter mais de um estado de espírito: na maioria das vezes, encantada com o sol, deixando fauna e flora enraizar-se em seu ser. Contudo, vez ou outra, também causava terremotos e cuspia magma — talvez não tão intencionalmente, mas o fazia. E quem era Ren para julgá-la, afinal? Ao vê-la ali, um pouco cansada e até estressada, mas ainda assim disposta a aceitar aquele desafio, ele tomou uma decisão.

Ele também iria tomar um partido, mesmo que momentâneo, naquela batalha que já estava sendo travada.

A morena havia liberado um monstrinho. Aparência gozada, um pouco esquisito: parecia ser do tipo trapalhão, de olhar assim. Entretanto, aparências enganam. O terrestre certamente estaria tão pronto quanto sua treinadora, para o que der e vier. Ren também queria isso para si: um laço forte, a certeza no meio do caos, a confiança em um no outro. Além disso... aquela chuva estava realmente começando a irritá-lo. Ele selecionou cuidadosamente uma das três esferas que trazia consigo, liberando sua escolhida. Assim que as quatro patas azuladas tocaram o chão, o rapaz exibiu um sorriso.

— Alaska — disse ele, cumprimentando a Ninetales. Aproximou-se cuidadosamente, dando um abraço na mesma. — Desculpe por tanta... indecisão, Gwen. Espero que eu consiga encontrar meu fio de Ariadne no meio deste tão vasto labirinto, mesmo que isso signifique encarar um minotauro — proclamou, ainda falando com a líder, antes de passar sua atenção à sua Pokémon. Ele alisou a macia pelugem da vulpina, tentando agradá-la um pouco. — Você acha que pode me ajudar nessa busca, meu anjo? Prometo que darei meu melhor para que nada de ruim aconteça, e mesmo que as eventualidades nos atinjam, tentarei resolver tudo em seu conforto o mais rápido possível.

Não sei se sou apto a ditar assim as vontades e ações da monstrinha gélida, mas confesso que espero que ela tenha concordado. A Ninetales já tinha um bom vínculo com Ren, o suficiente para confiar nele e aceitar suas instruções. Mas é claro, dando seu toque próprio. O jovem conseguiu esboçar um último sorriso antes de dar seus comandos. — Obrigado. Assim sendo... Comece com Aurora Veil. Faça seu belo jogo de luzes, fortaleça suas estruturas no frio brilhante. Em seguida... Use o Freeze-Dry. Essa chuva está sendo um pé no saco. Congele tudo, vejamos se não conseguimos fazer essas goteiras pararem com o frio.

A primeira pergunta da mulher fora prosseguida por um confuso “que?” de Ren, que não conseguiu entender bulhufas. Além disso, o jovem gostava de coisas cheirosas. Não à toa, vez ou outra liberava sua Comfey aleatoriamente enquanto pensava, apenas para acariciá-la e poder relaxar um pouco com os doces odores de suas flores. De certo, a líder provavelmente estava captando outrod tipos de aroma, mas às vezes, como diz minha mãe, “vai ver eu tô sentindo demais”.

E é claro que Alaska acabaria escorregando e sujando-se toda. Sinceramente, não sei nem como o próprio treinador dela ainda não havia tropeçado e comido lama. Ainda assim, eles precisariam de um bom banho depois — e a Ninetales não aceitaria menos que um trabalho digno de si, com direito a sais de banho, escovas, massagens & tudo que há de bom (quem sabe, até um elemento X). Mas com sorte, a perspectiva de receber um tratamento de beleza depois incentivasse a vulpina...

Ren sorriu, agora mais espontaneamente. — Não é muito difícil de perceber, né? Chega até a ser clichê. O aprendiz de Lisia, encantado com Contests, treinador de fadas, que não consegue nem dar ordens de forma usual — comentou, rindo um pouco de si mesmo. Mas em seguida, balançou a mão, tentando "dissipar" aquilo. — Acho que não faz diferença, afinal. Sinto-me mais confortável fazendo assim, e acho que meus Pokémon acabam divertindo-se mais, também.

Após o desenrolar da rodada e das ordens de Gwen, voltou a ser a vez do coordenador. — Muito bem então. Alaska, quero que prossiga fria com seu Freeze-Dry, quantas vezes for necessário. Não deixe tudo isso tirar sua concentração, e lembre-se: eu estou aqui com você — disse por fim, tentando dsr mais suporte à monstrinha, enquanto aguardava pelos resultados.