[Gym Battle] Vs. Gwen #22

Eu tô morrendo em todos os sentidos possíveis, e quero apenas cair e deitar e sumir no meio da cama, então peço perdão pela péssima qualidade do texto desde já. Digamos apenas que Ren continuou escutando a líder, concordando com o que ela dizia. Realmente, fazia sentido. Biologicamente falando, uma adaptação assim tão rápida e fácil por parte dos Pokémon — inclusive com as regional forms — parecia ser bastante improvável. Haver uma força por detrás disso tudo... Engenhoso.

— Eu penso algo semelhante em relação os tipo fada, também. Antigamente, tínhamos Pokémon que, por exemplo, tinham fraqueza a golpes lutadores. Então, assim de repente, uma Wigglytuff passou a ser afetada apenas normalmente por estes tais movimentos — citou ele, novamente recordando-se da aula que dera em Rustboro. Discutir hipóteses era legal, até. — Kalos tem uma lenda sobre um ser místico e poderoso, que dá vida a todos em seu redor, mas que esteve desaparecido por muito tempo. O fato de as fadas terem vindo à tona tão repentinamente, juntamente do fenômeno da Mega Evolução, fez com que alguns nativos começassem a questionar-se: poderia o Pokémon mítico ser responsável por tais fatos?

... Ele hesitou, passando a olhar para seu Clefable com um olhar mais doce. — Há alguns anos atrás, meu Hoku poderia ser considerado "normal". Hoje, é de conhecimento geral que ele faz parte das fadas. Contudo, eu não acho que isso foi uma mudança aleatória e sem sentido — comentou ele, dando um exemplo prático ao usar seu próprio monstrinho. — Gosto de pensar que era um gene dormente que sempre esteve ali, sempre foi parte de seu ser. E que ele acabou acordando, junto do acordar de uma outra coisa...

— Hoku, prossiga com a mesma sequência de golpes que usou na última vez. A prática leva à perfeição, não? Quem sabe a sorte não decide nos ajudar desta vez, também — disse por fim, dando suas ordens.

Hoje eu tô morrendo também, talvez um pouco mais que antes, e agora não tenho o que enrolar mesmo então eu que lute. Ou melhor, meu Clefable que lute né. Enfim, Ren apenas ouviu o que Gwen tinha a dizer e concordou, balançando a cabeça. Provavelmente, ele falou algo bastante interessante também, mas que não sei se sou capaz de descrever. Peço desculpas novamente, mas meu cérebro não está nem um pouco afim de funcionar, hoje ele sofreu bastante pressão. O jovem apenas fitou seu Pokémon, e deu suas ordens (pela primeira vez em muito tempo, diferentes). — Duplo Moonlight. As luzes de Alaska pararam de brilhar, mas ainda podemos tentar brilhar por ela.

Ele olhou para o teto, um pouco desconcertado. A água voltava a pingar, mas tão rápido quanto surgia, também cedia seu lugar para a areia (novamente). O fluido continuava ali, sempre ali. Mas ele repetidamente dava seu lugar. Deixava-se ser sobrescrito e superado. Mesmo assim, parecia não se importar muito, sempre regressando no fim. Água, persistente e paciente água. É realmente inspirador assisti-la, não? Assume tantas formas, simboliza tanta coisa. Mas no fundo, é sempre a mesma.

...

Sempre a mesma, não importando pelo que passe.

Será que os humanos seriam capazes de fazer algo semelhante? Ou mesmo os Pokémon? Será que era possível ser atingido pelas pessoas e ambiente sem... mudar? Será que tinha como manter-se intrínseco a si mesmo? Até onde a tal da resiliência era capaz de ir...?

Talvez sejam as perguntas erradas. Talvez, seja um conceito errado. Vai ver, no final de tudo, não era a pessoa que conseguia manter-se inteira e verdadeira a sua essência, após facetar tanta calamidade. Eram os feitos que modificavam a essência, conseguindo contê-la no formato de uma pessoa. Algo incrível por si só, vista a facilidade com a qual a alma parte e quebra.

Mas... Será que essa forma realmente mantinha-se em perfeita silhueta? Será que, por entre furos e rachaduras, a alma não... partia? Nesse caso, partir de ir-se, deixar de estar aqui. Sinônimo de vazio, antônimo de esperança. Se é assim, por que a essência continuava deixando-se ser modificada, perdida e sofrida? Não seria mais fácil apenas trancar-se, guardar cada gota perolada de ser que corre pelas veias? Se ninguém vê, ninguém rouba, ninguém sai, ninguém sofre.

Ao mesmo tempo, ninguém sorri, ninguém aprecia, ninguém ama.

É, provavelmente isso tinha muito a ver, mesmo. Amor. Abstrato, tão em metamorfose quanto a própria alma, nem um pouco incólume. Talvez por isso que ele se mistura e se funde tão profundamente dentro desta: são semelhantes, metades de um completo. Ao menos, até que outra rachadura seja criada, e essa alma preenchida volte a ser esvaziada. E então, é missão do amor encontrar mais de si mesmo para preencher a alma, enquanto preenche a si mesmo. Quero dizer, pelo menos por enquanto a alma existir.

...

A vida age em ciclos, não? Este pode muito bem ser um desses: quebrar, doer, amar, completar e mais uma vez quebrar. Inconstante, imprevisível, imparcial e plural. Existem muitas formas de amar, de completar. Da mesma fora que são diversas as formas de quebrar. E Ren não tinha certeza se queria que seus Pokémon aprendessem mais sobre estas últimas, assim como ele uma vez aprendeu.

Ele piscou. Tudo isso veio à partir de água, gelo e areia. A mente humana certamente é... confusa. Felizmente, o coordenador voltou a si no exato momento em que Gwen falava com o mesmo. — Meu sobrenome...? Sim, isso mesmo — disse ele, ainda assim demorando alguns poucos segundos para processar o que ouvira, além de dar sua resposta. — Não tenho certeza, mas acho que ouvi minha avó falar dele uma vez, quando muito pequeno. Algo relacionado com mente, ou coração...? — completou então, mas sem passar muita confiança. Mesmo assim, era até um pouco engraçado, seu sobrenome poder ter como significado o próprio conflito que o jovem tinha em si. Mente ou coração.

Ren fitou a areia novamente, afastando-se um pouco para não ter seus olhos afetados, muito menos suas roupas sujas. — Areia... Pergunto-me se o deserto também é assim, cheio de mudanças e pluralidades? — murmurou ele, falando consigo mesmo. — Talvez algum dia eu vá visitar o deserto, afinal — continuou, delirando um pouquinho mais, por motivos de sim. Ao reparar o que estava fazendo, corou um pouco. — Ah... Desculpe. Hoku... Não quero ver você quebrado. Use seu Stored Power, até quando conseguir. Prometo que vou dar meu máximo para completar qualquer rachadura que possa ter... É egoísta de mim, mas posso pedir de você o mesmo?

— A mudança é sempre necessária, não acha? Nada pode ser infinito. Às vezes, ela só está esperando por nós para surgir e acontecer. Isto é, se nós mesmos não formos os seus próprios emissários — disse por fim, em resposta ao breve comentário feito pela líder. Ele suspirou. Realmente, resiliência era algo complicado demais. Pouco a pouco, ele reparava que nada era perfeito, como supostamente deveria ser. Passara grande parte de sua vida dentro dos contos de fada, então sonhar sempre fora seu refúgio seguro.

... Mas até mesmo os sonhos e suas visões tinham limites. Até os domínios mágicos e rosados de Hatterene, Sr. Lee e aquele curioso monstrinho esverdeado houveram de acabar (ao menos para Ren), em algum momento. Eles defrontaram o passado e garantiram-lhe um vislumbre do futuro, contudo, havia um ponto até o qual o coordenador enxergava. E adianto que não era muito distante. Ainda era incapaz de visualizar muitas coisas, e certamente não fazia ideia de como chegar em um tão brilhante felizes para sempre.

Se é que isso realmente existia, afinal.

Os dizeres da morena tornaram a ecoar em sua cabeça. Palavras inteligentes, de fato, mas apenas para aqueles que eram capazes de compreendê-las em seu total. Para ser sincero, Ren temia não ser. Ele ouvia e conseguia captar o que lhe era dito, mas não tinha certeza se era esperto o bastante para segui-las. — Mas no fim das contas, não é isso que eu vou fazer de qualquer forma? Perder-me em dunas infinitas de uma mesma coisa. De um mesmo eu, do qual não consigo correr ou alcançar — disse, após pensar um pouco. — Além disso... Quem sabe as areias não saibam me contar uma história, também?

Ele sorriu, pensando na ideia. — Não sei se conseguiria encontrar fadas ou mitos no meio delas, muito menos se seria perspicaz o bastante para entender os contos de terra que elas trazem, mas... Talvez elas disponham-se a contar-me contos de vida. Vida que correu e enraizou-se em si, um ponto no qual tanto as fadas quanto a terra podem concordar — prosseguiu então, dizendo estas palavras vagas, e ouso dizer, até mesmo um pouco sem sentido. — Afinal, não é neste ponto que ambas se encontram? A vida floresce sobre a terra, e são as fadas quem espalham as histórias que sobre ela veem.

Dito isso, ele voltou a prestar atenção em Gwen mais uma vez. A moça certamente tinha palavras interessantes para proferir. Assim que terminou, aproximou-se de seu Clefable, e assim, sem mais e nem menos, retomou-o para sua Poké Ball. — É por parte de pai. Do marido de minha avó, para ser mais exato. Talvez por isso ela soubesse um pouco da etimologia do nome — respondeu ele, um pouco reflexivo. Mirou a esfera de seu monstrinho, na parte avermelhada, mirando seus próprios globos violáceos naquele distorcido reflexo. — Você certamente percebeu, meu cabelo é tingido. A cor original é uma tonalidade escura de preto.

— Além disso, acho que tenho mais de minha mãe que da família de meu pai em si. As feições faciais, o porte físico, das mãos até os pés. De meu pai, apenas os cabelos negros, felizmente não mais presentes, além dos mesmos olhos que minha avó — respondeu por fim, ainda um pouco perdido nos pensamentos. Um homem com o mesmo sobrenome, é...? Ren não conhecia nenhum outro Hughes por aí, mas o quão baixas seriam as chances de Gwen ter encontrado seu pai em uma exploração?

Só então ele percebeu que havia recolhido seu Pokémon de uma batalha oficial sem dizer mais nada. Ele hesitou, fitando o chão, antes de erguer o olhar novamente. — Desculpe. Estava um pouco... pensativo. Não sei se é necessário enfatizar em palavras, mas acho que já está claro que já basta, esta luta — disse por fim, guardando a esfera em sua bolsa. — Não estava sendo muito... agradável. Sei que nem tudo é rosas, mas acho que gostaria de não promover o sofrimento prolongado desnecessariamente.

— Ainda assim... Acho que gostaria de conversar mais um pouco — confessou, olhando para a líder com certa expectativa. Ele tinha ciência de que era um tanto quanto empáfio de sua parte, pedir e fazer aquilo depois de tanto drama, mas não era como se tivesse muito mais a perder. — Posso tentar ajudar com as goteiras, se precisar.

Não era como se ele estivesse comparando a areia para com o infinito Da vida. Apenas a sua própria vida. Acho que chega a ter uma diferença, não? De qualquer forma, Ren apenas concordou, sorrindo com os dizeres de Gwen, enquanto acompanhava-na até a recepção. Realmente, ele não estava muito afim de tratar de goteiras, apesar de achar que devesse fazer algo para ajudar a líder depois de, bem, jogar o tempo deles fora. No entanto, limitou-se a mordiscar um biscoito, enquanto tornava a ouvir a mais velha.

Wind Hughes...? O nome não balançava nenhum sino na cabeça do coordenador. Decerto, a informação acerca os monstrinhos específicos que treinava também não acabava ajudando. O especialista não fazia ideia de quem era aquele homem, mas podia concordar com a morena: eles não eram lá muito parecidos. Ren não tinha certeza se conseguiria ir assim tão longe por algo. Não apenas por ser mole, mas também por que preocupava-se com seus monstrinhos, também. Ainda assim, era fácil apontar para os erros alheios...

Mas será que ele conseguiria notar erros também quando chegasse sua hora de olhar para o espelho?

Ainda assim, no meio do "discurso" da líder de ginásio, algo pareceu chamar a atenção do rapaz. Encontrar Rayquaza...? Ele lembrava de ter visto algo do tipo, em algum lugar. — Eu... Eu vi uma vez, em um livro, que existe uma torre. Uma torre tão alta que toca o firmamento, no mais escuro de seus azuis. E que ela era o lar de um ser ancestral, um guardião dos céus, que repousava em seu topo — comentou, pensando um pouco. Talvez os mitos de fato acabem por encontrar-se com a realidade, em algum ponto. Nem que seja de conto de fadas para lenda urbana.

Ele riu um pouco com a continuação, mais especificamente, ao ouvir sobre o aluno desafiando o tal do Wind. — Lunático, é? Um adjetivo ironicamente cabível para alguém que buscava alcançar o espaço — brincou ele, notando o uso das palavras. Não tinha certeza se fora proposital, mas achara interessante mesmo assim. Ademais, Ren não deixou outro fato passar em branco, fazendo questão de ressaltar outra citação de Gwen. — Mitos de ruínas...? — perguntou lentamente, saboreando as palavras em sua boca. — Será que pode me contar um pouco sobre isso? Prometo que eu vou embora logo em seguida. Já deve estar cansada de mim enrolando e falando sobre histórias, afinal.