[Gym Battle] Vs. Gwen #22

As bochechas de Ren coraram instantaneamente. Por que? Ora, assim que a líder do ginásio de Mountrock citou o evento acontecido no National Park de Johto — mais especificamente, a atração de escavar —, o coordenador lembrou-se de um certo rapaz loiro que encontrara lá. Kouta, um dos trabalhadores do parque. O especialista em feéricos exibiu um grande sorriso ao recordar um pouco mais de suas experiências na outra região. Passara ótimos momentos lá, com Yoshiro e todos os outros.

...

— Ah, hm... Eu... — ele hesitou de novo, mas desta vez, por que estava engasgando-se com risadinhas e sorrisos. — Fui sim! — disse por fim, conseguindo desenrolar sua língua. Ele lançou um olhar à boneca que ganhara lá, e então deu continuidade à sua fala. — Foi uma experiência adorável. Os funcionários eram bastante... prestativos, e minha Pokémon conseguiu se divertir muito! Até conseguimos achar algumas coisas diferentes: uma Nugget, além de dois pedaços diferentes de fósseis!

Isso levou o jovem a um outro pensamento. Ele não acabou ficando com aqueles pedaços, mas trocou com alguns outros treinadores — ah, mas não acaba por aí! Em uma visita que fizera em Rustboro, descobrira algo bastante interessante, por assim dizer. — Eu até consegui combinar os pedaços depois, junto com alguns pesquisadores da Devon Corp.! Eles trouxeram de volta à vida um bichinho bastante curioso e fofinho... Ah, você já encontrou muitos fósseis por aí? Se não me engano, estes meus eram da região de Galar — respondeu por fim, devolvendo à líder um outro questionamento.

Clefable estava tendo certa dificuldade em lidar com Sandslash, mas Ren confiava que o monstrinho seria capaz de fazer o que era preciso. Depois que saíssem dali, ele veria de dar um descanso aos pequeninos. — Obrigado pela ajuda, Hoku. Eu sei que as coisas podem parecer assustadoras quando nos sentimos assim, tão minúsculos nas tempestades da vida... Mas é nestas horas que precisamos enxergar uma luz, confiar em nós mesmos e naqueles em que amamos. Cosmic Power e Moonlight — ordenou por fim, torcendo para que desse certo.

Ai mas é sério isso? Ele acerta tudo, ele faz tudo, ele mata meu time todo, que ódio desse bicho infernal. O pior de tudo? Ele não deixa nem mesmo eu ficar com meus stacks em paz — tipo assim, ele acerta o move com 60 de accuracy e ainda ativa efeito secundário de 50%? Céus, talvez seja a hora de eu me juntar a uns certos treinadores por aí e rezar por um monstro mítico inserido em lendas. Não que tenha dado muito certo para eles também, mas vai saber.

Deixe-me ver... Ren não conhece muitos monstrinhos que se encaixem na descrição, mas por um instante, um vislumbre veio em sua mente. No mesmo parque que Gwen citara, dentro do Dreamy Lake, o coordenador encontrara-se com um pequeno ser esverdeado, que batia as pequenas asinhas animadamente. Um ser mágico, que habitava um lugar mágico, dentro de um tempo mágico. Vai ver ele emprestava seu poder mágico também, pra me DAR UMA AJUDINHA PELA PRIMEIRA VEZ POR QUE TÁ DIFÍCIL.

Enfim, isso é apenas eu, e não o rapaz. Ah, o aprendiz de Lisia estava muito ocupado ouvindo as palavras da líder para pensar em qualquer coisa desse tipo. — Acho que entendo — comentou ele, por fim. De fato, os fósseis também estavam longe de serem sua parte favorita na arqueologia. Olhe, eles concordavam em alguma coisa! — Eu consegui um bichinho até que simpático. Ele tem um rabo meio esquisito, mas também é meio que um passarinho amarelo bonitinho. É fofinho, acho, mas não sei se ele gosta tanto de mim... — respondeu então, pensando em seu Dracozolt.

Por fim, ele riu e sorriu. Abriu bem a boca, e deixou seus dentes à mostra como se não houvesse amanhã (ou pandemia que iria tapar sua boca). — Ah, nisso eu concordo também. Uma das coisas que eu mais gostava na escola era estudar as sociedades antigas. Sabe, os moradores do deserto, os fundadores da democracia, os primeiros povos do oriente... Coisa do tipo — disse por fim, recordando-se de suas aulas. — Eu acho simplesmente incrível descobrir mais sobre a cultura e os costumes daqueles que vieram antes de nós.

Suspirou então, lembrando-se que ainda precisava continuar com aquela desgrama de batalha. — Hoku, Cosmic Power e Moonlight de novo. Não há muito mais o que fazer aqui — ordenou, enquanto dirigia um último olhar à moçoila. — Ainda assim... Não sei se consigo recordar-me de alguma antiga sociedade ou povo que vivia aqui em Hoenn. Ao menos, não que meus professores tenham julgado como importantes o bastante para citarem.

Ren franziu o cenho brevemente, antes de então lembrar-se de que realmente falara de algo do tipo. — Ah, sim...! Acho que era algo sobre uma família real daqui da região. Já li uma coisa assim em um conto de fadas, mas nunca encontrei nenhuma comprovação científica ou histórica. Na verdade, chega até a me incomodar um pouco, parece até que Áztlan é o único lugar de Hoenn que tem uma cultura diferente, aparentemente por motivo nenhum — comentou por fim, citando também a cidade dos dragões. Se aquele continente era realmente tão uniforme a ponto de não ter achados sociais tão significantes, então por que havia todo um povo completamente diferente?

... Além disso, parece que realmente, fazer algumas breves preces para seres superiores também não era de muita ajuda aqui. Quero dizer, ao menos não literalmente. No sentido figurado, o coordenador tinha uma opinião um pouco diferente. — Hoku, use Cosmic Power e Moonlight outra vez. Pode ser difícil de enxergar a lua, no meio desta tempestade, mas uma das únicas certezas que podemos ter é que... — ele hesitou, como se só então tivesse parado para ouvir com atenção o que dizia. — ... Ela estará sempre lá no alto, vigiando e guardando. E nessas horas de escuridão, tudo o que nos resta é acreditar.

O problema das goteiras parecia resolvido, em partes. Ainda assim, Ren ainda tinha um problemão bem em sua frente: dar um jeito de contornar aquela batalha infernal, para poder voltar a surtar mais tarde.

... Ah, a vida, tão doce vida.

No momento, sou Sandslash. Estou gritando, seja lá para quem, "alguém me tira daqui por favor". Clefable também estava indiscutivelmente exausto, cansado daquela sequência impossível de apanhar e apanhar, recorrendo sempre aos astros para tentar a sorte e uma possível virada de jogo. Um suspiro. Batalhas não eram fáceis, mesmo. Em momentos como este, Ren conseguia lembrar-se de uma das razões pela qual preferia os contests: precisava sim de muita criatividade, e era extremamente cansativo também, mas ao menos, as batalhas eram meramente estéticas e demoravam apenas quatro minutos.

... Quanto tempo ele já estava ali, com Gwen? Ele não tinha certeza, mas quando voltava-se para o embate, certamente parecia ser uma eternidade. — Eu... Eu sinto muito, meu anjinho. Não queria que você ficasse assim, tão cansado e penando tanto. Ainda assim, se quisermos tentar levar a melhor aqui, nosso único caminho é continuar com Cosmic Power e Moonlight — disse o rapaz, também triste por seu monstrinho. Para alguém não nativo do planeta, terra certamente estava virando uma palavra aterrorizante. — Afinal de contas, ainda temos mais um monstrinho para encaramos.

Dito isso, a líder de Mountrock parecia ter respostas para as fúteis dúvidas do treinador. Ele concordou, balançando a cabeça, como que dizendo que fazia sentido. — Não existiram muito lugares pelo qual uma dada realeza não passou, né? Acho que já era de se esperar... — comentou, lembrando-se novamente do livro que lera. Uma família nobre, detentora da chave dos portões do céu. Poético, não? Deve ter sido uma mensagem escrita por um antigo poeta religioso... provavelmente. O culto de Arceus já existia há milhares de anos. Não seria surpreendente ver alguém escrevendo trechos literários repleto de figuras de linguagem para demonstrar a adoração ao tão poderoso criador.

...

— Você se importaria de me contar uma? — perguntou ele, tentando exibir um sorriso (apesar de não ter muito sucesso). Ao se dar conta de que estava sendo um tanto quanto vago, tratou de adicionar mais conteúdo à sua fala. — Uma história, eu digo. Disse que gosta das escavações que contam histórias de pessoas e povos. Eu... Eu acho que gostaria de conhecer uma também, se não tivesse problema — completou então. Tentava não transparecer, mas Ren estava um pouco nervoso. Gwen não estava no melhor de seus dias, e apesar de seu humor já ter melhorado, ele temia que pedir algo egoísta poderia ser... indelicado. — Eu gosto de lê-las e ouvi-las, as histórias. Às vezes, quando o real é cruel e estressante, ir ao plano do imaginário me acalma um pouco. Mesmo que esse tal imaginário tenha sido real um dia.

...

De fato, Gwen não sabia lidar muito bem com fadas ou qualquer tipo de coisa contada por elas, mas a mulher definitivamente tinha umas especialidade bastante marcada. "Contos de terra", é? Ah sim, ela era realmente boa naquilo. Em apenas alguns poucos minutos, a líder dera uma verdadeira aula de geografia, história e até mesmo um pouco de teologia. Foi impressionante. Ren manteve-se em silêncio a maior parte do tempo, ouvindo atentamente os detalhes citados por ela. Nem tudo aquilo se encontrava em livros didáticos, e havia muita coisa que fazia tanto sentido que o coordenador não sabia como nunca desconfiara.

Além disso, não era como se ele fosse o único espectador. Hoku podia estar cansado sim, recebendo golpes e tudo mais, mas assim que ele ouvira as palavras Meteor Falls, o feérico passou toda a sua atenção para a morena. Ren notou isso, e então sorriu. — O que foi, docinho? Você veio daí? Se não me engano, foi uma senhora de Lavaridge que te achou pela região, ainda enquanto um ovo, certo...? — perguntou ele, recebendo uma espécie de confirmação em seguida. Fato que, obviamente, apenas creditava ainda mais Gwen e sua palestra. A cidade de Flannery realmente tinha algo conectado com todos aqueles outros lugares ao seu redor.

E bem, apesar de o coordenador não ser exatamente um especialista nas lendas dos Regis, fazia sentido. Aulas de geografia e livros de mitologia de uma senhora de idade — quem diria que esses dois um dia complementariam um ao outro de forma tão excelente? Ah, e por falar em aulas, isso fez com que ele se lembrasse também da aula que dera no colégio de Rustboro. Grande parte daquilo fora um pouco de especulação e divulgação de hipóteses, nada comprovado, mas também relacionado com as teorias acerca de seres lendários. Afinal, se suas lendas permaneceram em nossos meios até os dias atuais, eles certamente haviam feito algo de significativo.

Ademais, ela também citara uma história que toda criança de Hoenn conhecia ao pé da letra. Ao menos, a parte fantasiosa. Groundon, Kyogre e Rayquaza, o trio progenitor de Hoenn. Os dois primeiros estavam envolvidos em uma furiosa batalha, até que Rayquaza apareceu para intervir e salvar o dia. Faria sentido que outros seres também aparecessem para interferir, separando essas tão poderosas forças. — Você acha que os Regis ainda podem estar por aí, aguardando por um momento no qual serão necessários novamente? Os alagamentos em Tohjo foram preocupantes, para dizer pouco. Se fosse a manifestação de uma força primordial, talvez os titãs continentais acordassem de seu sono, onde quer que estejam.

Ele suspirou. Essa conversa era um tanto quanto nostálgica. Fazia com que Ren lembrasse das tardes que conseguia passar com sua vó, lendo livros, bebericando chá e acariciando sua Sylveon. Ele sorriu uma outra vez. — Acha que consegue prosseguir, amor? Quando acabarmos, prometo que também vou contar histórias para você, enquanto comemos alguma coisa bem gostosa! Se sim, quero que use mais uma sequência de Cosmic Power e Moonlight, por favor — pediu por fim, repetindo as mesmas ordens de antes. Era exaustivo só pensar em ver o Clefable repetir aqueles movimentos, mas não havia muito mais a fazer.