XXXI - Dois aborrecentes numa jornada perigosa só pra tentar provar pra todo mundo que não precisam provar nada pra ninguém

A batalha de Timothy prosseguia, bastante equilibrada deve se dizer. O velho parecia satisfeito com o desempenho do garoto, enquanto Chris estava apreensivo: qualquer erro poderia significar o fim da batalha - e do tal segredo, seja lá o que fosse. Só lhe restava apoiar o parceiro:

-Boa Timothy, Saki! Não desistam!

Um suspiro moderado de alivio escapou por entre os lábios de Timothy ao perceber que sua cartada mais confiável se mostrou efetiva. Chandelure foi derrotada com um novo tremor de terra, fazendo de Saki a vencedora. Dava para ver que não foi tarefa fácil, todavia: Seu semblante parecia bastante cansado.

- Muito bem, Saki! Obrigado. Vamos dar um jeito nisso - Já se preparava para prestar assistência à sua Pokémon, quando recebeu das mãos daquele homem misterioso um rolo de papel, visivelmente desgastado, uma aparência bastante antiga. O que, em um filme de aventura, chamariam de pergaminho.

- Olha aqui, Chris... Eu não entendi se isso é algum tipo de frase em um idioma antigo, ou uma senha, ou algo que a gente tem que entregar pra alguém... Moço, tem mais alguma cois- - Foi interrompido pela Klefki que os acompanhava, apontando com as suas chaves que o adversário de antes havia sumido de vista com seu Chandelure. Pegou seu Pokénav e tirou uma foto da inscrição que o pergaminho tinha, antes de entregá-lo para Chris, para que examinasse melhor.

- O que acha que pode ser? Será que a gente só segue pro próximo ponto no mapa? - Perguntou para o colega, enquanto Valentine se aproximava de Saki, aparentemente a parabenizando pelo desempenho. Enquanto Chris pensava, tratou de recuperar as energias da sua Pokémon, com sete frascos roxos de propriedade curativa. Como a Rhyperior era grande e parruda, acabava precisando de um pouco mais do que o normal. - Pronto, agora você só precisa descansar um pouco. Muito obrigado, querida - Agradeceu à Pokémon com um afago, antes de retorná-la à sua cápsula para que repousasse. Enquanto isso, aguardava um veredito do seu colega, a Staraptor aguardando ao seu lado.

A batalha não foi nada fácil para Timothy e Saki, mas estava encerrada, como recompensa, um prêmio bem esquisito era dado na forma de um papel escrito com símbolos ilegíveis. Estranho, tudo muito estranho. Ou melhor, estranho não, misterioso. Isso, misterioso. Mistérios são legais. Com esse pensamento Chris cumprimentava o companheiro:

-Isso aí Timothy! Sabia que conseguiria! Viu só velho...

Porém, antes que Chris pudesse terminar sua provocação o velho havia sumido. Mistério. O jovem olhou para Timothy descarregando potions em Saki e se perguntou "será que trouxe o suficiente?".

Tudo agora parecia muito misterioso, mas uma coisa era - mais ou menos - garantida:

-Bem, vamos para o próximo ponto do mapa. é nossa melhor pista.

Novamente a dupla e seus pokémon eram tomadas pela monótona vista aérea das planícies desérticas de Shimmer até que localizassem o próximo ponto indicado no mapa, qual fosse, o trono. Desceram, mas não viram nada de anormal, porém um adorno chamou a atenção de Chris:

-Então, talvez não seja exatamente igual, mas essa espiral não lembra um pouco os símbolos do papiro? Ou eu tô viajando? - disse tentando deslizar a palma da mão pelo símbolo que decorava a cadeira.

Chris pareceu preocupado com a quantidade de recursos que Timothy precisou empenhar para recuperar Saki, mas ele não se importava tanto com isso. A maioria dos seus outros bichos requeriam menos poções para uma recuperação satisfatória ou estavam munidos das próprias técnicas de recuperação. Bem, talvez se arrependesse também mais tarde.

Nunca se sabe.

Voltando ao ritmo de voo e a primitiva tentativa de triangulação daquele espaço que parecia ser idêntico em todas as partes, até que não custaram muito para topar com o próximo ponto naquele mapa que tinham. A tecnologia fazia maravilhas, de fato; jamais se localizariam direito sem os Pokénavs.

Apesar de terem localizado o ponto específico, não parecia ter nada os aguardando por ali. Timothy quase orientou a sua Staraptor a seguir em frente, não fosse por um puxão da Klefki, chamando a sua atenção para o solo com o apontar das chavinhas.

No fim das contas, no meio de toda a areia, havia um assento enorme de pedra, com inscrições semelhantes às do papel que encontraram antes. Não parecia lá muito confortável, mas era um trono deveras imponente. Parecia ficar sob o topo de um altar, em um monte de areia mais alta.

- Parece mesmo... - Pontuou, olhando para a imagem que tinha tirado do Pokénav mais cedo. Enquanto Chris mexia diretamente no trono (e provavelmente acabaria pagando com um susto ao contato da pedra exposta ao sol à pino na pele), tentou avistar alguém nas redondezas. Se tinha um trono ali, a pessoa que se sentava nele não devia ter ido muito longe.

Sem maiores consequências o toque de Chris sobre o trono de pedra pareceu ativar algum mecanismo que acabava por invocar do mais absoluto nada três pokémon que não pareciam muito felizes com seu chamado. Chris cerrou os dentes, e num reflexo disparou duas pokébolas para a frente materializando Tsunami e Loki.

-Sem tempo para explicar, vamos logo com isso - olhou para Timothy, confiante - Tsunami, duplo surf. Loki, use Light Screen e em seguida Fake Tears no Cafagrigus.

Ocupado com a verificação, Chris custou um pouco a perceber o efeito do seu toque ao trono; acabou ativando algum tipo estranho de mecanismo, que fez com que as linhas talhadas no monólito se contorcessem e brilhassem com intensidade, chegando a rivalizar com a luz do sol. Enquanto isso, Timothy avistava as figuras que se projetavam do solo, ao que seu colega se afastou.

A cadeira de pedra deu lugar a um caixão bastante desproporcional, que providenciou um momento de mistério entre os garotos, mas Timothy matou a charada rápido quando os olhões vermelhos se projetaram, a boca cheia de dentes se abriu por entre o listrado e mãos sinistras tentavam apalpar o próprio ar; tratava-se de um Cofagrigus, Pokémon comum nos desertos de Unova.

Ao seu lado, uma criatura igualmente exótica, em pares; uma criatura enorme, cheia de olhos avermelhados, sem dúvidas um pesadelo para o tripofóbico. Seu corpo parecia ser feito de algum tipo de argila, e as inscrições de seu corpo eram tão misteriosas quanto as de Cofagrigus. Uma olhadinha rápida na Pokédex chamou aqueles bichos de Claydol.

- Relaxa, acho que a gente tá seguindo o roteiro - Sorriu para Chris, liberando sua Gastrodon. Valentine, que já estava com vontade de lutar depois de assistir da retaguarda, aproveitou que sua melhor amiga havia sido chamada para a peleja e não tardou em se colocar ao lado de Shelly, Tsunami e Loki. Se preocupou com a estratégia que utilizavam, mas com o Grimmsnarl os protegendo, não teria maiores problemas.

- Shelly, ataque com Surf duas vezes! Você ataca o Cofagrigus com Brave Bird também, Valentine. Repita o ataque se não for suficiente! - Pediu para as suas Pokémon, confiante que conseguiriam vencer com alguma celeridade. Não tinham a tempo a perder, com tantos pontos no deserto para localizar.