Iter Criminis!

off:

Chase, oh, Natalie Chase; Onde é que você foi se meter, dessa vez?
Ou melhor: Por que você teve que inventar de fazê-lo, Karinna?

Eram essas as perguntas que pulsavam na consciência, ríspidas e inquietas, enquanto os orbes acinzentados - ou melhor, as lentes de contato esmeralda - cintilavam em frente ao espelho, analisando as feições pálidas e apreciando as bochechas pouco coradas, as madeixas rubras bem escondidas por detrás da tinta-spray temporária que cuidadosamente fizera questão de usar para tingir os fios de preto. Admito aqui que essa não era lá o maior ou mais incrível dos disfarces mas, digamos que... Para esse tipo de situação, certamente era melhor do que simplesmente dar a cara à tapa para sabe-se lá quem iria aparecer para aquela bendita tarefinha de Sienna.

Veja: Não era a primeira vez que tinha de lidar com as rebarbas de missões realizadas pela equipe, mas certamente seria a primeira em que teria de enfrentar ativamente um agente enviado especificamente para investigar o roubo do projeto misterioso da Santa Trindade Tecnológica (?) do mundo pokémon. Se tivesse que admitir, particularmente não se sentia muito segura com aquela situação - quer dizer, veja bem, um passo em falso e tudo poderia ir pelos ares não só para a organização criminosa, mas também em relação à sua própria identidade e, uh, a ideia de passar alguns anos trancafiada em alguma cadeia esquecida pelo continente era, sabe, desagradável para si.

E mesmo assim, aqui estava: Acorrentada a um destino que não lhe pertencia, forçada à colaborar em prol da única garantia (ainda que rasa) de proteção que poderia conceder para a loira de olhos marinhos e caminhos tortos.

— ...Você acha que ficou bom? — Deixou escapar a voz trêmula, sussurrada, a atenção desviando da superfície prateada para a imagem gelatinosa e flutuante de seu psíquico acompanhante. Um discreto e terno sorriso veio em reação à maneira duvidosa com a qual o animal a observou, de um lado e de outro, antes de estender seus braços molengas e indicar um joinha torto com os dedinhos de garra. — Ah, está sendo gentil. — Acusou, balançando a cabeça com discrição enquanto os dedos fisgavam a presilha anil da penteadeira, puxando parte da franja para a lateral e a prendendo por ali, deixando à vista um dos orbes esverdeados. — É diferente, me ver assim. — Murmurou, um suspiro suave em resposta àquela coloração de cabelo e olhos que não pertenciam a si mas, naquele momento, simplesmente calhavam de sê-lo. — Mas pelo menos deve ajudar em alguma coisa. — Balançou a cabeça, então, jogando as alças da mochila por sobre os ombros e respirando fundo, lento, devagar.

AVENGERS: Eis a sociedade responsável pelo contrato de recuperação do "artefato" roubado pelos Rockets. Recordava vagamente de ter enxergado o anúncio de trabalho há algum tempo, na rede social que disponibilizava contratações de treinadores para resolverem inúmeras problemáticas por aí. Na época, não havia dado muita atenção mas, sinceramente, se soubesse que futuramente acabaria tendo que adversar o bendito que pegasse a desgraça da missão, provavelmente teria trabalhado um pouquinho mais para tentar trazê-la às mãos de sua sociedade. Claro, agora era um pouco tarde demais para chorar o leite derramado; Restava-lhe, então, ir em busca do personagem possivelmente caricato de uma guild com a nomenclatura mais clichê impossível.

— Você sabe o que fazer, não sabe? — O olhar passeou com gentileza pela expressão alegre de seu alienígena, um sorriso ameno brincando no rosto diante de seu rápido assentir. — Vamos tentar fazer isso rápido. Eu não gosto de ficar metida nesse tipo de coisa. — Murmurou, colocando com delicadeza uma das madeixas negras por detrás da orelha, dirigindo-se ao computador do Centro Pokémon ao, enfim, abandonar o quarto no qual estava hospedada — Espero que seja algum cabeça de vento, pra facilitar minha vida. — Suspirou, deixando em segurança os filhotes que carregava consigo para trazer à equipe dois de seus fiéis companheiros. Não levou muito tempo nisso, e nem teria motivo para fazê-lo - então, assim que se certificou de que estava tudo certo, abandonou o ponto eletrônico e, enfim, dirigiu-se às ruas: Provavelmente valeria a pena sondar a sede da Corporação de Sienna em busca de mais informações, afinal, querendo ou não aquele deveria ser um dos possíveis pontos de partida para alguém contratado pela empresa. Ou será que enviariam tudo por e-mail? Não acreditava muito nessa possibilidade mas, sinceramente, vai saber.

Quão difícil é encontrar (e reconhecer!) alguém no meio de uma investigação?
Esperava que não muito.
Duvidava que muito, aliás.

off:

Sinceramente, não tinha motivo algum para esperar qualquer coisa diferente.

Digo isso não por alguma dificuldade que a ruiva acabou por encontrar no caminho (quer dizer, mais ou menos), mas pela percepção quase que imediata do detector de metais caprichosamente posicionado próximo à recepção da sede dos laboratórios de Sienna e, além dele, a maneira quase bruta que um segurança próximo se moveu para interceptar o caminho do rapaz que se aproximara. Mesmo que distante, a visão daquela situação fê-la erguer com discrição uma das sobrancelhas; O moreno não parecia agressivo e, sinceramente, se eles pretendiam averiguar todos os que apareciam por perto daquele jeito, ugh...

— ...Tá bom. — Murmurou, balançando a cabeça com suavidade - os orbes volveram para o flutuante companheiro por um instante apenas. — Divirta-se. — Sentenciou, puxando as alças da mochila por sobre os ombros e apertando os dedos sobre elas, os ombros se ajeitando de maneira confortável e os passos apressando em projetos de saltitos para o interior do prédio, na direção da recepção. — Ah, ei, olá! — Cumprimentou, com certo desajeito, as pessoas ao... Redor? — Bom dia! Desculpa interromper, mas... — Sorriu rapidamente na direção do rapaz de jaqueta e do segurança, antes de enfim volver a atenção para a recepcionista e...

...inevitavelmente, bater os olhos na insígnia brilhante sobre o balcão, que denunciava "AVENGERS" em letras garrafais.

Admito; Por um instante, perdeu o fio da meada. Quer dizer, estava esperando que não fosse difícil se deparar com sabe-se lá que agente estaria sendo enviado para trabalhar naquele caso de roubo mas, ora, também não estava imaginando que seria simplesmente ridiculamente fácil. Não precisava de muito para ligar o emblema ao altíssimo homem ao seu lado e, sinceramente, aquilo já complicava para seu lado de uma maneira quase patética - afinal, se calhasse de acontecer algo físico que precisasse lidar por si só, não teria como bater de frente com aquele projeto de parede ao seu lado.

Oh-oh.

Então, sobre o silêncio: Ele pode ser constrangedor, se jogado de qualquer jeito. É por isso que junto também vinha Kaleo, o belíssimo Reuniclus, fazendo o que fazia de melhor: Se jogando nos outros e tentando iniciar uma amizade. Foi com seus bracinhos molengas e seu riso infantil que o psíquico distanciou-se da treinadora, flutuando entre segurança e Allstar, rodeando-os e até mesmo puxando um pedaço de roupa aqui e ali, de um e de outro, em uma brincadeira boba de um filhote que deseja atenção. Até mesmo aproveitou as pernas separadas do lutador para passar por baixo, veja só!

— ...eu- — Piscou, e a mente pareceu voltar aos conformes diante dos barulhinhos e dos risos divertidos que já conhecia bem. A parte boa de tudo aquilo era que não precisava de um teatro - era simplesmente a personalidade de seu pequenino, e era exatamente por isso que o trouxera consigo. — Kal! Não é pra atrapalhar os outros, não tá vendo que eles tão ocupados? — Censurou o bichinho, dando um tropecinho pra frente pra agarrar seu gosmentinho em um abraço apertado, um riso bobo escapando dos lábios quando o pokémon-célula deu-lhe uma "cabeçadinha" na bochecha, escapando do enlace em pouquíssimos segundos. — Desculpa, gente! — Pediu aos homens, inclinando-se em mesura tímida antes que o rosto voltasse na direção da recepcionista. — Ahm, eu, moça, eu só queria uma informação, na verdade. Será que você tem como me ajudar?

...e talvez devesse falar o que era, mas...
Vamos deixar as coisas se assentar, sim?

A parte boa: Ao que tudo indicava, ninguém havia desconfiado a análise silenciosa que os olhos fizeram ao bater na superfície do emblema exposto sobre o balcão. Isso por si só fazia com que se dispensasse a necessidade de quaisquer desculpas (esfarrapadas ou não) que pudesse ter que criar para oferecer e, bem, era fato que facilitava mil vezes a sua vida, independente do quão básica aquela questão pudesse parecer.

A parte ruim: Mesmo com todo aquele projeto de confusão/distração causado naturalmente por Reuniclus, as atenções dos funcionários pareciam extremamente afiadas para o momento, o que a levava a crer que o culpado daquilo era justamente o furto realizado pelos companheiros de organização. Não só isso; Com aquela simples cena, também havia sido capaz de perceber que o próprio moreno, aparente agente que deveria interceptar, não era bobo nem nada. Quer dizer, sabe como é, tinha bem consciência de um olhar atento/desconfiado quando via um - ela própria vivia os lançando contra Karinna, que sempre queria sair passando a mão em tudo. Uma dor de cabeça, isso sim...

— Você acha? — Perguntou ao treinador, um sorriso tímido, gentil, brincando pelo rosto. — Ele adora fazer amizade. Por incrível que pareça, não é sempre que a gente tem um pouquinho de paz andando por aí... — Comentou, um riso relaxado escapando, os dedos se esticando para afagar a superfície gelatinosa do pokémon, que rodopiou e se manteve observando o lutador com interesse genuíno. — ...Foi um prazer conhecer, também, hã...! — Começou, mas se deu conta de que... Não tinha ideia do nome do bendito? Enfim, o fato é que o psíquico deu um... Abraço alegre e apertado no punho estendido do rapaz. Quer dizer, ele até podia ter socado - mas ninguém o ensinara ainda esse tipo de cumprimento, sabe?

Não precisou pensar muito, infeliz e felizmente; Não demorou para que o rapaz fosse levado pelo segurança para sabe-se lá onde, e restou que os dentes se pressionassem com discrição na parte interna das bochechas. Aparentemente, teria que esperar - mas com o cuidado de não ficar plantada ali, só pelo caso da criatura ir embora por outra saída ou algo do tipo. O fato é que: A atenção virou na direção da recepcionista, o corpo se inclinando um pouco contra o balcão, tão relaxado e despretensioso quanto possível.

— Ah, então... — Pausa. Pensa. Pensa rápido. — ...eu ouvi dizer que vocês trabalham com mega stones por aqui, é verdade? Uma amiga minha tava querendo descobrir se a dela era de verdade, mas ela não sabe bem como fazer... — Ok. Tava ótimo. O próprio Reuniclus, aliás, flutuou bem sobre o balcão, encarando a secretária com seu rostinho divertido, espiando o que é que tinha por trás do móvel - pura curiosidade, admito.