[Missão de Sociedade] Wait for Me to Come Home

Ren preguiçoso e prolixo. Qual a motivação que o fez seguir em frente sem olhar para o lado? Talvez a ânsia de chegar logo no ginásio e encontrar sua mestra, ou quem sabe sentir-se um pouco mais seguro em um lugar conhecido. Não sabemos, mas houve outra movimentação no mesmo lugar da anterior. Quando Ren já estava no alto, quase sem visão para o local de onde esteve, ele viu que uma pilha de concreto veio a baixo. Ufa? Ele deve ter sentido alívio por ter saído de lá antes. Sim. Só que alguém não teve a mesma sorte. O que? ...Tinha alguém nos escombros. Um líquido vermelho escorria pelo concreto, manchando as ruas de vermelho...

Era melhor olhar pra frente.

Em tempo record estavam em frente ao ginásio. A aparência da construção estava muito melhor que o restante dos prédios da cidade, justamente por estar mais afastado de outras construções, o que impediu participar do efeito dominó! Mesmo assim as portas ainda estavam fechadas e boa parte das vidraças estavam em cacos. Sim, ele estava fechado. No entanto havia uma grande tenda branca bem em frente com uma fila se formando e dando a curva. O cheiro que vinha de lá dentro era de aconchego e vida. E as luzes um convite a uma ação de afeto. Ren podia tentar invadir o ginásio, visitar a tenda ou ficar em posição fetal pensando demais em "consequências" de escolhas. O narrador ta aceitando qualquer coisa.

TURURU - tocava a flautinha na cabeça de Ren Hughes.

Por mais que o narrador estivesse bêbado, o líquido derramado era realmente sangue, não vinho (só pra ficar claro)! Só que talvez o inconsciente do protagonista preferiu reter algumas informações, simplesmente porque era menos difícil só seguir em frente. Quem nunca? Que atire a primeira pedra, oras!

O rapaz tinha uma forma única de lidar com as situações. Alguns não conseguem pensar ou por em palavras o que sentem, mas o rapaz tinha uma linha de pensamentos muito bem organizada. Diga-se até de muitas teorias, tantas que podiam deixar ele próprio confuso. Era como se os momentos que passasse com Lisia tivessem feito dele um aprendiz das filosofias. Talvez o mundo das artes e experiências mágicas tinham muito a se refletir mesmo. E a realidade era o material de estudo mais cruel, quando o mundo dos palcos e o feérico era... utópico? A sensibilidade da maioria das pessoas que transitavam esses lugares devia ser a mesma que a de Ren... Difícil de aguentar cenas atordoantes.

Pois sim, o ginásio!

Ren tomava a melhor decisão. Acho. Quer dizer, se preocupar com o próximo era mais importante no momento, mas ainda tinha que encontrar sua turma. Foi ai que ele decidiu entrar na tenda, vendo que estavam muitas mesas e cadeiras organizadas para caberem o máximo de gente possível no lugar que estava quente e bem iluminado com o aroma de boa comida e gente boa.

A primeiro momento, nos primeiros segundos, ele não avistou nenhum rosto conhecido, mas antes que pudesse dar mais um passo para dentro da tenda, alguém o interceptou, segurando-o pelo braço, dizendo:

- Ei, tem que enfrentar a fila como todo mundo rapaz! - Falava alto o homem da fila, da qual foi completamente ignorada pelo jovem aprendiz.

Ele estava furando fila na visão dos pacientes moradores da cidade. Podia julgar o julgamento deles sem nem ao menos ter pedido licença? Acho que não. Ao menos ele teve sorte e uma mão "amiga" segurou ele pelo braço livre. Com um sorriso no rosto, Chaz, o Top Coordenador e rival da mestre do rapaz, tentava acalmar o senhor e adjacentes a ele na fila.

- Sinto muito senhor, mas houve um mal-entendido. Este jovem é voluntário, só está atrasado. - Disse ele com uma voz calma e charme que eram difíceis juntar com a aparência de badboy que montavam as revistas de fofoca, talvez pela situação e/ou por ser uma figura pública com alguma relevância.

Ninguém questionou o rapaz, pelo contrário, se desculparam com Ren pelos olhares e pré julgamentos. Chaz pediu licença e acompanhou Ren pelo interior da tenda. - Desculpa por isso. Lisia ta muito ocupada como representante da cidade e me pediu pra ficar na chefia do lugar enquanto ela estiver fora. - Ele fez uma pausa para falar com alguns idosos, sendo gentil, entregando mais sorrisos e palavras carinhosas aos demais antes de prosseguir caminhando com o jovem. - Me lembrei de você do último Contest que teve em Mu Island. Fui o jurado especial e me lembro de Lisia ter comentado que o vencedor do concurso era aprendiz dela. Espero não ter entendido errado. Está aqui para ajudar, certo? Estamos precisando de toda ajuda possível.

A expressão de Chaz se fechou quando ouviu Ren falar algo tão duro sobre a líder e especialista em Fadas. - É injusto dizer isso. Ela está fora por um bom motivo. A ideia de montar esse lugar para trazer um pouco de conforto para os moradores da cidade foi de Lisia com parte do próprio dinheiro. Agora ela deve estar conversando com representantes de outras cidades buscando recursos e apoio. - Ele olhou sério para Ren e ficou em silêncio por alguns segundos constrangedores; passando até por cima do elogio que havia tecido. - São nos momentos mais difíceis que descobrimos com quem podemos contar.

Ele suspirou firme e procurou se recompor. Provavelmente algumas frustrações acumuladas foram depositados em Hughes pelo comentário. Era sabido que Chaz era o maior rival de Lisia, mas os blogs de fofoca também diziam que ele tinha uma quedinha pela Top (o que nunca foi confirmado por ele).

- Espero que Lilycove possa contar com você. - Ele pegou um avental e mostrou onde estava a mesa com as panelas e outros voluntários. - Sopa e afeto. Pode parecer bobo, mas um sorriso e uma ação gentil podem dar esperanças para quem perdeu muito com o desastre. Ser um coordenador é mais que entreter as pessoas... É se conectar a elas.

Chaz precisava se retirar para verificar alguma coisa ao ser convocado, então Ren agora ficava só. Tirando os outros voluntários e as pessoas que estavam aguardando na fila. Tinham panelas, conchas, descartáveis e a pompa extra de utensílios necessários. Não devia ser tão difícil servir sopa... Certo? Mas e quanto a "se conectar a elas"? Ren tinha o necessário para suprimir suas necessidades e servir de verdade ao outro? Pensando dessa forma parecia um desafio grande demais para um aprendiz.

JesusMariaJosé! Alguns tamanhos de post assustam até os NPCs que estavam jantando tranquilamente na tenda erguida para ajudar moradores e outros que estava por Lilycove necessitando daquela atenção especial. Era triste ver uma cidade tão rica e influente nos acordos regionais e internacionais como Lilycove daquele jeito. Provavelmente estavam misturados todas as classes, etnias e gêneros. Quem se gostava e quem não se suportava. Subjetividades naquele momento pouco importavam porque fome e frio eram fatores de sobrevivência e é preciso garantir ao menos isso se quiser ter uma chance de recomeçar…

Enfim. A novela!

Ren e Chaz tiveram um desencontro de opiniões, se assim pode ser chamado o que aconteceu, deixando aquele clima tenso entre os brotheres. Talvez com Cass e os outros aprendizes Ren tivesse maior liberdade de opinar, mas essa intimidade lhe faltou com o eleito a Top. Gafes acontecem, não é mesmo? O importante era se redimir e que outro jeito melhor que mostrar serviço?

Pois bem, o trabalho nem era assim tão complicado. Ser gentil e encher um prato com sopa pronta. Só isso. Quer dizer, quem dera! Ren teria alguns desafios, mas antes disso aquele papo corriqueiro “tudo bem? de nada! espero que goste” e outras palavras afetuosas. Os idosos eram aqueles que mais gostavam de falar e nossa, como falavam! Só que o primeiro desafio de Hughes surgiu quando uma criança, uma menina com aspecto seguida, mas bem educada, aparecia com olhinhos pidões, meio que envergonhada, tirar uma dúvida com o guri.

- Tio.. pode repetir?

E agora? A fila ainda estava grande e a panela meio cheia, meio vazia… O que ele faria?

A calmaria não duraria pra sempre. Era até esquisito o serviço ser tão simples, apesar de ter que se doar, não só tempo como também de espírito para os outros. Só que o dilema que foi posto pro jovem resolver, confesso, foi cruel. Mas Ren sabia como ninguém que furar fila deixava qualquer um mal humorado, ainda mais quando a barriga estava roncando. A solução que teve, por mais que controversa, foi tirar do próprio bolso e doar pra menininha.

Como Chaz estava ocupado do outro lado da tenda, não parecia que Ren teria problemas, afinal, as coisas eram dele e ele dava pra quem bem entendesse né? Enquanto a Alcremie preparava algo mais apetitoso com aqueles ingredientes pra menininha, o aprendiz tinha como dar seguimento ao trabalho. No entanto, quando ele estava para servir, foi chamado por alguém que ainda não tinha percebido.

- Ei… aquilo foi muito legal da sua parte. Não sei o que faria se ela pedisse pra mil - disse a pessoa que trabalhava como voluntário ao lado do jovem.

Era um rapaz alto com olhos grandes de cor de mel. O sorriso era tão largo e brilhante que fazia qualquer um querer morar dentro dele. Do sorriso. Bem, os ombros largos e o estilo tribal dava a ele um porte de grande homem apesar de parecer ser um moleque da idade de Ren. Ele usava um sasaco preto e calças caqui com um avental rosa que amenizavam o tamanho todo que poderia fazer ele parecer perigoso.

- Pode me ajudar a trazer outra panela? A minha ta acabando. - Ele pedia pro outro. - Sou Malik aliás, e você?

É mesmo, eles estavam sem tempo nem para fazer crachás. Isso seria super útil.