Convite do passado

  — Caçando digletts que estavam causando baderna na cidade, o que eu não consegui concluir, alias...!

  Ame olhou para os donuts. Pensar em comer agora não lhe agradava, não tinha fome e nem vontade. Seu pensamento sobre o quão cheios de açúcar estavam foi interrompido quando a oficial perguntou sobre Ruth. "Onde estava?", um sorriso amargo de nervoso ao lembrar de Ruth dando um tiro na própria garganta, o que atravessou sua cabeça e fez sangue espirrar nela, surgiu na face da coordenadora.

  — Bem do lado dela.

Off: Somos dois cansados, Thito.
Vamos tentar ser mais práticos agora, pinp pong de pergunta e responde, o que acha?

  "Do meu ponto de vista? Ta."

  — Ruth e eu fomos olhar o celeiro depois de eu ter capturado alguns digletts no terreno dela, eu tinha tido a impressão de ter visto alguém antes, por isso nós fomos lá. A Beatriz ficou na casa com os pokemons dela. Quando entramos no celeiro, tinha um cara vestido com roupas pretas com um R nelas, ele estalou os dedos e a Ruth estourou os próprios miolos.

  Ame sentia raiva só de lembrar do que houve, ela teve de fazer uma pausa pra não soar nervosa, Barbara podia não gostar de uma reação assim.

  — Depois disso, começou uma batalha, o cara tinha um hypno e usei a minha Froslass. Ele falava muita merda, eu tava me estressando e então eu cansei e decidi... Que se dana-se tudo, "eu vou te matar" foi o que eu pensei, dai eu sai do celeiro e mandei meu Flareon queimar ele todo. Não foi algo racional.

Off: Por enquanto, né, porque precisa recarregar depois do rocket carnicento.

  Rir de nervoso era uma reação comum da coordenadora, mesmo que no momento, Ame estivesse muito cansada pra sequer sentir nervosismo. Ela só estava farta de tudo aquilo e sem paciência também.

  — A senhora é a delegada e não sabia que diggletts fugiram da fazenda e que estavam causando tumulto pela cidade? Que isso foi anunciado online com uma recompensa? Também não sabia que tinha gente indo na fazenda da Ruth pra vandalizar tudo por causa dos pokemons e que ela tinha de andar armada pra afugentar essa gente? — Ame perguntou sem esconder o escarnio na sua voz cansada.

  Ela pos um cotovelo na mesa e apoiou seu queixo na mão, olhando pra Barbara com a mesma "vivacidade" que esta lhe dava.

  Depois do seu deboche/desabafo, Ame suspirou fundo, recontou como tudo aconteceu (porque foram para a fazenda, a ida ao celeiro, Ruth sendo forçada a se matar, a luta, o incêndio, como ela mandou seu ivysaur fazer o rocket de porrete no chão até quebrar sua cara, de como ele foi debochado e imbecil mesmo depois disso tudo) e acrescentou:

  — Eu nunca vi aquele bosta na minha vida, mas essa não é a primeira vez que eu quase morri pra um rocket maldito ou que eu já vi gente morrendo pra eles. Segundo o que ele próprio falou, o meu pai tinha alguma relação com eles e por isso eles vieram me sequestrar. A minha mãe talvez esteja em perigo agora, aquele cara talvez não esteja sozinho, mas sinto que a senhora não ta muito a fim de me ajudar, só quer uma confissão pra fechar o expediente, não importa de quem, né?

  Calma no limite, Ame só desatou a falar e reclamar do quanto ela estava irritada, frustrada, triste, de como a cara de bunda de Barbara não estava lhe deixando acreditar que ela era capaz de identificar o real culpado ali. As perguntas só se amontoavam ("Ele falou que eu a matei? Ótimo, como eu a matei? Ele tem provas? Ele tem identidade? Um álibi melhor do que estar vagando ali na hora errada e no lugar errado? Ele entrou no celeiro porque era só um nobre herói errante? O QUE DIABOS EU GANHARIA MATANDO UMA FAZENDEIRA QUE EU CONHECI HOJE???"). Tudo isso pra terminar com Ame respirando em lufadas, com raiva, querendo sair dali e continuar a bater aquele rocket contra o chão, de preferencial um de concreto, e depois coloca-lo exposto num posto pra todos os seus amiguinhos verem com quem estavam lidando.

Off: ...

  — Eu estou calma! — Respondeu a garota, respirando fundo logo depois e baixando o tom.

  Quando Barbara perguntou do seu pai, Ame levou um tempo pra responder.

  — Eu não sei o que o meu pai tem de relação com os rockets, eu só sei que antes de Johto afundar, nós... Ele tinha uma confeitaria e vivia trabalhando, fazendo viagens pra arrumar fornecedores, como ele falava.

  "Mamãe achava que ele tinha um caso" Ela quase disse, meio sorriso surgiu no seu rosto ao pensar isso. Era tão pouco lembrança boa que tinha que só sobrava as ausências, os momentos de sermão e as reclamações da sua mãe pra lembrar.

  — Ele não ficava muito em casa, só na confeitaria ou viajando, mas eu lembro de um dia onde ele tava de folga, eu tinha voltado da escola com o pokemon de uma colega, queria que fosse meu inicial.  — Ame contou isso ainda sorrindo, mas isso não durou até o final, ela continuou: — Foi a primeira vez que vi ele nervoso, e a minha mãe gritando como ela não queria que sua filha virasse uma ladra, que estava cansada, então o papai decidiu que eu tinha de morar com minha tia, pra estudar culinária, pra que isso não se repetisse.

  A coordenadora teve um longo momento contando da sua jornada até vir pra cá em Vermillion com um restaurante perfeito onde atualmente morava. No meio disso, ela contou da vez onde um estranho robo (ou pessoa de armadura robotica) que também era um rocket tentou mata-la em Kanto e ela só sobreviveu porque um ex segurança que ela desconhecia a protegeu, a troco da própria vida. Depois disso, Ame enfim pegou um donut da caixa, tava frio e era bem o que pensou: doce demais.

  — Eu nem lembrava dele, mas o meu pai o tinha contratado pra cuidar de mim quando criança. Isso já tem mais de um ano praticamente. Hoje não é o dia mais insano da minha vida, mas esta sendo o mais estressante, sabe? Acho que sempre fui um alvo de azar, talvez por isso, meus pais nunca tentaram falar comigo depois que fui embora. Não faço ideia de onde minha mãe esta, eu jurava que ela tava morta depois do diluvio.

Off: Respondia sua mp antes de ler o post aqui. =///=

  Estar praticamente proibida de deixar Vermillion não afetou a jovem de cabelo azul mais do que a ideia de que a policia ia tentar conseguir alguma informação a mais sobre a sua família. Informações reais e não só coisas vagas que um qualquer disse enquanto tentava sequestra-la.

  Ame aceitou a carona, mas invés de ir pro seu restaurante, dormir no seu quarto, ela pediu pra ser deixada no centro Pokémon, iria dormir lá nos próximos dias. Ia avisar a equipe da sua infeliz situação e dar a Beatriz outra folga, pois esse dia com certeza não podia ser chamado de folga.

  Antes de pedir um quarto a enfermeira de plantão, Ame foi até um dos computadores do centro. Se ela tinha de ficar o tempo todo em alerta, ela precisava ter seus melhores pokemon consigo.

Off: Vamos pra uma paradinha marota no centro! Atualiza pra mim, favor, Thito (=w=)/ Tabe e Sableye pro storage, Galvantula e Mime pro box.

Ah, como fica a questão dos digletts? Ainda falta uns dois.