[DUNGEON] A primeira prova absoluta de que Tyrant Torres é um péssimo namorado

Ainda um pouco apreensiva, fiquei surpresa quando o elevador realmente se abriu com o cartão que Ty passou. Aquilo era bem impressionante, pelo menos para mim. Meio intrigada, me aproximei lentamente do elevador.

Pude ver que por dentro ele era bastante destoante do resto da mansão. Era no mínimo bizarro. Talvez realmente fosse uma atração? Será que eu estava zangada com meu namorado sem um bom motivo? Talvez aquilo fosse o elevador da Staff, que deveria ser escondido ou secreto?

— Eu não sei se deveríamos estar aqui. — Falei, sem olhar para trás, apenas inclinando o corpo para a parte de dentro do elevador, deixando me levar pela curiosidade...

Até sentir algo empurrando meu bumbum e me jogando para dentro.

Quase cai de cara no chão, mas consegui impedir isso esticando as mãos e amortecendo a queda. Irritada, olhei para o lado e vi Arthur, que sorriu para mim com uma feição extremamente irritante.

— A-arthur... Por que você me empurrou?

Ele parecia não se importar muito com a pergunta e apenas ficou encarando o botão do elevador, provavelmente pensando em como ativar aquela máquina. Seu grande dedo indicador começou a se aproximar do botão.

— Você não ouse. — Foi tudo o que falei.

Ele pareceu relutante de início, então ficou parado. Em seguida, sorriu e deu de ombros, se virando de costas para o botão, como se tivesse desistido da ideia. Suspirei, mais aliviada, começando a me levantar do chão.

— Não deve ser bom visitantes entrarem nessa área, Arthur. — Virei na direção do símio, me deparando com o fato de que o botão havia sido pressionado. — VOCÊ TÁ DE BRINCADEIRA!

Estiquei o braço na direção do sensor, enquanto Arthur me puxava para liberar o elevador. Eu honestamente não acho que temos chances de impedir um símio de dois metros de sair dali de dentro, e deixar Arthur sozinho naquele estabelecimento seria uma PÉSSIMA ideia.

— S-solta, Arthur! Solta! SOLTA!

Ele começou a assoviar, e a única coisa que pude fazer foi olhar para Ty de forma apreensiva, torcendo para que existisse um sensor naquele elevador e para que eu não morresse cortada no meio.

— Uh... T.-ty... Ahn, amor... O que eu faço...? — Perguntei, tentando mascarar o fato de que meu Pokémon havia acabado de fazer uma grande besteira e que agora eu era a culpada da situação.

Bem, se me conforta, acho que em cinco minutos o próprio Ranger teria apertado o botão, mas ai eu estaria na posição de dar um esporro, e não na de tomar um...

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O elevador abriu, dessa vez de um jeito normal sem que a porta caísse e quase nos esmagasse como tentaram fazer da outra vez. A passos lentos entrei no elevador e vi que era um bem comum, não havia nada de especial, apenas os botões para subir e descer. Toko veio atrás de mim ainda desanimado com a falta de flores, permanecia cabisbaixo e suspirante. Abaixei e afaguei sua cabeça.

-Não se desanime. Saindo daqui, te arranjo umas flores bem bonitas.

Toko olhou para mim e deu de ombros, esticou suas costas e e levantou a cabeça. Acho que consegui animá-lo um pouco com minha simples oferta. Quando resolvi esse problema, outro apareceu.

-Quê?

Arthur e Karen entraram no elevador, não tinha problema nenhum, exceto que Arthur entrou no elevador. A mocinha estava gritando, foi aí que percebi o que realmente estava rolando. Aquele maldito macaco apertou o botão da descida e Karen tentava manter a porta aberta enquanto lutava contra Arthur que a puxava.

Que belo dia para ele querer aprontar uma dessas, não? Eu não posso deixar as coisas desse jeito. Segurei o braço de Arthur que segurava Karen, só esqueci que ele tinha outro e para me tirar de lá não foi difícil. Mesmo com uma certa resistência, o macaco não teve dificuldade em me afastar.

-O que... Que tipo de vitamina você anda dando... Pra ele beber?

Duas certezas aqui: a primeira era que eu estava cansado depois da luta, a outra era que nós perdemos e o elevador iria descer sabe-se lá pra onde. Karen agora perguntava o que fazer.

-Então... Que tal castigar esse macaco quando sairmos daqui? Acho que ele faz essas coisas porque sempre fica por isso mesmo...

Agora... Para onde nós iríamos?

Ty sugeria que eu desse uma bronca em Arthur por ser tão arteiro. Oras, eu não posso fazer isso. Quer dizer, eu já faço isso. Já fiz muito. Não adiantou de nada.

— Como você quer que eu brigue com ele, se vocês ficam sendo implicantes um com o outro? Você é um humano, Ty. Ele é só um Pokémon. Você tem que ser
maduro nesse tipo de situação.

Foi a última coisa que consegui dizer, antes de tudo literalmente virar um caos. Eu não tenho memórias claras do que aconteceu. Quer dizer, até tenho, mas essas memórias são naturalmente confusas. O elevador abruptamente começou a cair. Parou. Ouvi um grande barulho de impacto quando ele parou. Olhei para trás, para ver se estávamos bem.

— T-ty... — Foi tudo o que consegui balbuciar.

Ele estava parado, inconsciente. Olhei para todas as direções possíveis, meio desesperada. Para fora do elevador, um estranho laboratório com líquidos esverdeados que pareciam ácidos de desenho animado. Arthur me encarava, levemente preocupado. Toko também estava ali.

— O-o que eu faço, Arthur...? — Perguntei para o símio, que friamente agarrou o corpo do Ranger e colocou para fora do elevador. — V-você não pode fazer isso! Temos que deixar o corpo parado! — Exclamei, me levantando e seguindo o símio.

Ele olhou para mim como quem diz "Eita, foi mal" e largou o corpo no chão de novo. Para nossa sorte, não jogou em nenhuma poça daquele... Ácido, ou seja lá que é aquela coisa verde.

— A-ARTHUR! — O símio deu um pulo de susto, mas não pareceu necessariamente arrependido. Comecei a fungar um pouco e rapidamente me aproximei do corpo de Ty, apoiando sua cabeça em minhas pernas. Ah, Arceus, eu nem sei se posso fazer isso. Espera, será que eu tenho dois pedaços de bambu e algumas camisas pra fazer uma maca? Provavelmente não. — Ah, droga... Eu... O que eu faço?

Não sei quanto tempo fiquei nessa, mas alguns minutos se passaram. Minutos suficientes para que Arthur se sentasse próximo de mime começasse a batucar algumas músicas, enquanto eu apenas encarava o rosto do Ranger, que parecia desacordado ainda.

— Q-que ideia idiota de vir aqui... — Sussurrei, com os olhos começando a se encherem de lágrimas.

O que eu faço?

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Espera aí! E não tenho culpa de nada disso! É o macaco que sempre implica comigo por algum motivo e eu nem faço nada, só deixo pra lá. Ela tem que parar de arranjar desculpas pra passar pano pro Arthur.

-Não venha colocar a culpa em mim! Você sabe que- não consegui completar minha frase. Na verdade, eu não tive a chance de completá-la. Aquele maldito elevador começou a balançar e a descer numa velocidade absurda. Não dava para me segurar em nada e então... eu apaguei.

...

Parece que eu fiquei desacordado por algum tempo, sentia uma dor... ou não sentia? Não conseguia entender o que era, mas eu parecia estranho, não conseguia me mexer como queria... Estaria meu corpo pesado? Mas ele parece tão leve... EU NÃO TÔ ENTENDENDO NADA! Uh... espera, acho que estou conseguindo enxergar algo mais à frente...

-Mas que porra é aquela?

Tentei falar, mas minha voz não saiu. Por algum motivo, Arthur estava carregando meu corpo e após uma leve orientação de Karen ele o largou fazendo a mocinha falar seu nome em voz alta.

O que é que tá acontecendo? Será que... Será que eu morri? Não pode ser... Ai! Que isso? Por que eu tô sentindo que estão me rolando? É assim que um pneu se sente? Aquele é... Toko? Por algum motivo ele tá me movendo... Ele morreu também? Acho que não, porque ele puxou seu braço... Ei! Espera aí! Meu corpo tá deitado com a cabeça nas coxas ela? ALGUÉM ARRUMA UM JEITO DE ME COLOCAR DE VOLTA LÁ AGORA! NÃO POSSO PERDER ESSA CHANCE DE DEITAR AS COXAS DELA! ALGUÉM DÁ UM JEITO NISSO!

Enquanto me lamentava, Toko tentava animar Karen... Ele estava me batucando com seu bastão. Não meu corpo, mas eu mesmo. O que estava acontecendo? Karen estava certa... que ideia idiota de vir aqui.

Eu estava completamente em choque. O que eu deveria fazer? Como reagir ao fato de que Ty estava desmaiado? Ok, vamos nos acalmar, Karen. Ele não está sangrando. Sua cabeça não está sangrando. Mas e daí? Ele pode ter quebrado algo e você não está vendo, sua burra!

— Se você me ama você vai acordar agora, tá? — Falei para o corpo do meu namorado.

AAAAAAAAAAA NÃO FUNCIONA, NADA FUNCIONA, O QUE EU FAÇO?! E SE ELE MORREU MESMO? EU JÁ SOU VIÚVA? GENTE, EU TENHO DEZOITO ANOS!

ESPERA!

Aproveitando que ele já estava deitado em minhas pernas, me abaixei um pouco e da forma mais cuidado que pude, encostei minha orelha em seu peito. Queria ver se conseguia ouvir seus batimentos. Eu não entendo nada de saúde e coisas do gênero, mas uma pessoa com o coração batendo está viva. Isso eu tenho certeza.


Enquanto eu me desesperava, Arthur parecia tranquilo. Ele continuava batucando seu coco, mas parecia estranhar os sons que ele fazia. Como se o coco não estivesse tão oco assim. Como se tivesse... Desafinado.

— Para com essa barulheira, Arthur. Estou tentando me concentrar.   — Falei, ainda com a cabeça encostada, tentando ouvir seus batimentos.

O símio suspirou e cruzou os braços, emburrado. Pelo menos ficou quieto; agora eu poderia escutar direito se havia algum tipo de resposta ou não...

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Ai! Para com isso! Tinha que ser aquele macaco batucando seu coco! Espera... Ele tá batucando o coco... Eu tô sentindo as batucadas, logo... EU VIREI O COCO DELE? MAS O QUE É QUE TÁ ACONTECENDO AQUI? COMO ISSO FOI ACONTECER? EU NÃO QUERO VIVER DESSE JEITO! NÃO DEVE TER COISA PIOR DO QUE SER CARREGADO POR ESSE MACACO DE UM LADO PRO OUTRO.

Pelo menos não era uma batucada dupla, já que Toko parou um pouco antes de Arthur começar, mas não era menos pior com um só. Bem, acho que ele parou quando Karen pediu para poder ouvir meus batimentos... Mas se eu sou o coco, será que o coco sou eu? E será que ela vai ouvir o som de água de coco no lugar do coração? Não tô entendendo mais nada, sinceramente, só queria poder voltar pra lá e... espera! Ela tá se espremendo no meu corpo? EU DEFINITIVAMENTE PRECISO VOLTAR PRA LÁ AGORA MESMO! ALGUÉM FAÇA ISSO! EU NÃO POSSO PERDER ESSA CHANCE! TOKO, ME AJUDE!

Que súplica idiota, é claro que ele não... Quê? Toko voltou e me pegou? Ele... Ele entendeu? Mas eu não posso falar nada, a não ser que o coco... Será que por ser natural de um Passimian, outro pokémons podem entendê-lo? Acho que não, é uma possibilidade bem idiota. Mas seria muito bom se pudesse. Pelo menos meu macaco estava me levando até onde eu queria e... começou a me empurrar contra a lateral do antigo eu. Não estou sentindo nada, mas tenho certeza de que meu braço já estaria doendo a essa hora.

Não deu certo, então ele só desistiu e me deu outra batucada, só que um pouco mais forte que o normal, o bastante para um eco de dentro de mim sair pelo furo e ser audível aos demais.

-Ai!

Toko se assustou e me largou, nesse momento fui rolando até uma das poças de cor estranha. Aquilo... Aquilo vai ser meu fim, não é? Perdi meu corpo original, agora vou me afogar sendo um coco num líquido estranho e provavelmente corrosivo... Adeus, galera...

...

Ah... Toko veio atrás de mim e impediu que eu caísse lá, ainda me levou de volta pra Karen e me deu umas batucadas. Tentei respondê-lo.

-Ai! Ai! Para! Para com isso!

Ele parou. Acho que descobrimos como fazer eu falar.

Eu estava ficando louca?

Espera, essa é uma pergunta honesta. Dizem que o paradoxo da loucura é o de que você não está ficando louco se tem receio ou medo de estar ficando louco. Isso significa que, por enquanto, eu estava sã. O problema é que eu tenho quase certeza de que estou ficando louca.

Vamos por partes.

Parei de ouvir os batimentos de Ty e comecei a encarar seu rosto. Ele ainda parecia desacordado. Olhei para os lados. Vi Toko, Arthur, o coco... Olhei para meu corpo. Olhei para trás. Olhei ao meu redor...

— E-eu estou ficando louca mesmo...? — Indaguei para mim mesma, cabisbaixa.

Olhando o rosto do Ranger, não pude deixar de me sentir mais ressentida ainda por ter deixado Arthur entrar naquele elevador. É tudo culpa minha? E eu tinha acabado de dizer que ele deveria ser o o maduro da situação...

Mas eu juro que ouvi sua voz.

— Isso não tem graça, se você estiver brincando comigo.   — Murmurei, olhando ao meu redor novamente.

E, de novo, ouvi sua voz.

Não era bem a sua voz. O timbre era semelhante, mas parecia ecoar e em um tom diferente. Mais agudo; quase caricato. Parecia um desenho animado... Era muito estranho. Mas era definitivamente a voz de Tyrant Torres.

A direção do som era misteriosa. Eu não fazia ideia de onde vinha, mas sabia que vinha dali de perto. Arthur? Toko?

— Gente, se vocês podem falar, eu falaria pra abrirem o bico agora. Se isso for uma piada igual no Doll FanFest, eu vou ficar bem irritada. Eu vou raspar a cabeça do Ty aqui mesmo.  

Sem respostas. Arthur deu de ombros e apontou para Toko. Toko, levemente aflito, apontou para o coco e deu outro golpe nele. Foi nessa hora que eu constatei.

— Eu realmente estou ficando louca.  

Não podia ser. O coco estava falando. E não era qualquer fala. Ele era exatamente como o Ty. Algo naquilo era muito, muito estranho e familiar. Eu não sabia o que havia acontecido até então, mas... De algum modo...

— Ty, eu juro que se isso for uma pegadinha e você colocou um gravador ou sei lá dentro desse coco, eu juro que eu acabo com você!   — Zanguei com o Ranger, sem respostas.

Suspirei.

Ainda abaixada, me aproximei do coco e de Toko. Acariciei sua superfície e comecei a encarar o fruto por alguns segundos. Após isso, dei um leve toque nele. Sem resposta.

— S-será que só funciona com golpes mais fortes...?

Dei um soco no coco.

— É só uma teoria, mas... V-você está ai, Tyrant Torres...?

Ok, eu realmente estava ficando louca...

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