O som das unhas arranhando a rocha fria enquanto corria me dava certo conforto: não havia humano ao lado do ser que vinha, o que podia significar infinitas coisas, mas nenhuma delas era tão extrema quanta a maldade humana. Eu acredito que um pokémon possa até vir a praticar atos mórbidos, mas eu já tive essa discussão interna antes: se há algo que possa vir a ser mal, este é o ser humano.
Ouvir apenas passos qadrúpedes correndo em minha direção me dera conforto.
Quando este se aproximara com jeito, já entendi a estranheza do ato e deixei de fingir. Emiti um gemido meio tristinho e cogitei ser um selvagem do bioma; talvez um lobo da montanha. Quando mais próximo, reconheci pelo meu faro: que não era nada comparado com o d'ela. Era Hati, que tão rápido quanto me achou, me libertou.
Era tão recíproco quanto. Se não fosse irracional, eu a lamberia também.
Numa risada tosca, tentei passar meus braços (ainda) amarrados por trás de seu pelo, e só quando não consegui, a pedi para que me libertasse. Ela só me desamarrou para que eu lhe desse um abraço, e depois de emitirmos um bocado de barulho, reparei que não deveríamos fazer. Durou muitos minutos aquele carinho, até eu enfim me recompor: eu mal havia entendido que tinha sido raptada, e agora, eu precisava entender.
Depois desse momento, a canina sentou no chão e me encarou ainda meio boba. Eu, ainda num espelho eufórico, sentei no chão e a encarei tão boba quanto. Falando em voz baixa, num tom meio retórico, perguntei "Como chegou aqui?". Sabendo que ela não conseguiria "falar" comigo, decidi pensar com meus próprios miolos o que isso significava.
Se a canina, carregando minha bolsa, chegara aqui sozinha, provavelmente não há tantos guardas por perto. Isso é um bom sinal.
Olhei em volta por um instante e tentei me localizar onde diabos eu estava e o choque de realidade foi um bocado grande; talvez tenha sido por muito pouco que o rapto não tenha se tornado algo pior. Estremeci, mas não era hora de pensar no pior. Levantei de uma vez só e fui até as prateleiras. Eu continuava a sussurrar coisas e falar comigo mesma, pensando certas formas "certas" de sair dali...
... afinal de contas, eu estava ali por ter entrado da forma errada.
"Se não há muito guardas por perto, talvez eles demorem perceber que eu fugi, mas certamente vão perceber", pensei em primeiro momento, já olhando os objetos de tortura mais de perto e os examinando, "certamente não é um maluco, é uma organização, porque havia muitas pessoas lá. É minha última memória, então tem que ter Grunts por aqui..."
Era um caminho ok de se pensar.
"E se eu fui arrastada até aqui, acho que a melhor forma de ganhar tempo é fazer algum guarda pensar que eu não fugi..."
É, talvez isso me dê algum tempo. Da bancada de itens de tortura, peguei só um Bisturi. Eu já pretendia pegar um mísero estilete para ter uma arma de mão; já entendi que andar desarmada aqui não é uma boa ideia. Ainda assim, pegar todos os itens será óbvio demais. Com o bisturi, fiz um pequeno corte no braço, que poderia ter doído mais, mas com o tanto de raiva, dor de cabeça e pressão alta que eu estava, a dor era o menor dos incômodos.
Quando o sangue começou a derramar, deixei que algumas gotas caíssem no chão. Depois disso melequei minha mão direita e manchei a parede de um vermelho bordô, esfregando e "limpando" meu sangue, como se estivesse me apoiando ora ou outra na parede para andar. Depois disso, peguei da minha mochila duas flanelas, amarrei forte o corte com uma e depois improvisei uma máscara com a outra. Peguei o "gás de sabe-se lá o quê" com a mão Direita (limpa) e joguei na bolsa.
Só ai eu comecei a correr:
- Tu consegue farejar Nicholas?! - Mesmo com aquele Bisturi e aquele Gás, Nicholas e seus Pokémons ainda eram as melhores armas. Ainda assim, Hati me olhava um bocado preocupada por causa da minha obra de arte ali atrás - ... Não gostou? Sei lá, eu vi num filme. Eu já fui raptada tantas vezes que já to pegando prática... quando é um grupo grande assim, eles vão achar que foi um Grunt que me bateu, me estuprou e me carregou, e vão ficar de treta interna pra me achar. Certeza que é super comum esse tipo de coisa acontecer entre eles.
A canina continuou me olhando meio torta mas depois só assentiu com a cabeça. A verdade é que tudo aquilo foi, provavelmente, inútil, mas só correr não me parecia a melhor das hipóteses, porque vamos lembrar: eu não estou aqui para fugir. Se eles cometeram o erro de me botarem dentro de onde eu já precisava estar, talvez seja útil que eles pensem que eu estou machucada, enfraquecida ou quiçá morta.
No mais, fomos. Sairíamos daquele lugar e iríamos atrás de Nicholas sem fazer mais barulho.
Ouvir apenas passos qadrúpedes correndo em minha direção me dera conforto.
Quando este se aproximara com jeito, já entendi a estranheza do ato e deixei de fingir. Emiti um gemido meio tristinho e cogitei ser um selvagem do bioma; talvez um lobo da montanha. Quando mais próximo, reconheci pelo meu faro: que não era nada comparado com o d'ela. Era Hati, que tão rápido quanto me achou, me libertou.
Era tão recíproco quanto. Se não fosse irracional, eu a lamberia também.
Numa risada tosca, tentei passar meus braços (ainda) amarrados por trás de seu pelo, e só quando não consegui, a pedi para que me libertasse. Ela só me desamarrou para que eu lhe desse um abraço, e depois de emitirmos um bocado de barulho, reparei que não deveríamos fazer. Durou muitos minutos aquele carinho, até eu enfim me recompor: eu mal havia entendido que tinha sido raptada, e agora, eu precisava entender.
Depois desse momento, a canina sentou no chão e me encarou ainda meio boba. Eu, ainda num espelho eufórico, sentei no chão e a encarei tão boba quanto. Falando em voz baixa, num tom meio retórico, perguntei "Como chegou aqui?". Sabendo que ela não conseguiria "falar" comigo, decidi pensar com meus próprios miolos o que isso significava.
Se a canina, carregando minha bolsa, chegara aqui sozinha, provavelmente não há tantos guardas por perto. Isso é um bom sinal.
Olhei em volta por um instante e tentei me localizar onde diabos eu estava e o choque de realidade foi um bocado grande; talvez tenha sido por muito pouco que o rapto não tenha se tornado algo pior. Estremeci, mas não era hora de pensar no pior. Levantei de uma vez só e fui até as prateleiras. Eu continuava a sussurrar coisas e falar comigo mesma, pensando certas formas "certas" de sair dali...
... afinal de contas, eu estava ali por ter entrado da forma errada.
"Se não há muito guardas por perto, talvez eles demorem perceber que eu fugi, mas certamente vão perceber", pensei em primeiro momento, já olhando os objetos de tortura mais de perto e os examinando, "certamente não é um maluco, é uma organização, porque havia muitas pessoas lá. É minha última memória, então tem que ter Grunts por aqui..."
Era um caminho ok de se pensar.
"E se eu fui arrastada até aqui, acho que a melhor forma de ganhar tempo é fazer algum guarda pensar que eu não fugi..."
É, talvez isso me dê algum tempo. Da bancada de itens de tortura, peguei só um Bisturi. Eu já pretendia pegar um mísero estilete para ter uma arma de mão; já entendi que andar desarmada aqui não é uma boa ideia. Ainda assim, pegar todos os itens será óbvio demais. Com o bisturi, fiz um pequeno corte no braço, que poderia ter doído mais, mas com o tanto de raiva, dor de cabeça e pressão alta que eu estava, a dor era o menor dos incômodos.
Quando o sangue começou a derramar, deixei que algumas gotas caíssem no chão. Depois disso melequei minha mão direita e manchei a parede de um vermelho bordô, esfregando e "limpando" meu sangue, como se estivesse me apoiando ora ou outra na parede para andar. Depois disso, peguei da minha mochila duas flanelas, amarrei forte o corte com uma e depois improvisei uma máscara com a outra. Peguei o "gás de sabe-se lá o quê" com a mão Direita (limpa) e joguei na bolsa.
Só ai eu comecei a correr:
- Tu consegue farejar Nicholas?! - Mesmo com aquele Bisturi e aquele Gás, Nicholas e seus Pokémons ainda eram as melhores armas. Ainda assim, Hati me olhava um bocado preocupada por causa da minha obra de arte ali atrás - ... Não gostou? Sei lá, eu vi num filme. Eu já fui raptada tantas vezes que já to pegando prática... quando é um grupo grande assim, eles vão achar que foi um Grunt que me bateu, me estuprou e me carregou, e vão ficar de treta interna pra me achar. Certeza que é super comum esse tipo de coisa acontecer entre eles.
A canina continuou me olhando meio torta mas depois só assentiu com a cabeça. A verdade é que tudo aquilo foi, provavelmente, inútil, mas só correr não me parecia a melhor das hipóteses, porque vamos lembrar: eu não estou aqui para fugir. Se eles cometeram o erro de me botarem dentro de onde eu já precisava estar, talvez seja útil que eles pensem que eu estou machucada, enfraquecida ou quiçá morta.
No mais, fomos. Sairíamos daquele lugar e iríamos atrás de Nicholas sem fazer mais barulho.
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O Mahiro é o melhor do mundo <3